quinta-feira, dezembro 25, 2008

Começo de um balanço final










Voltei para escrever, talvez, o ultimo post do ano. Dar uma geral e preparar a faxina como costumo fazer no final do mês de dezembro. Começo por jogar fora o que escondi embaixo do tapete, arrumar os papéis e livros espalhados, enfim, organizar o caos. No momento, estou predisposto a encarar as tarefas que me incumbi de fazer. Quero dizer que, ainda cabe recurso, posso protelar para qualquer hora ou dia do próximo ano.

Desde que voltei a trabalhar com livros e nesta etapa, como livreiro de rua. Foi uma chance oferecida e pela qual tive oportunidade de agradecer ao livreiro Francisco Olivar, que em verdade, reconheço como incansável trabalhador do livro.
A outra chance e não se deve desperdiçar, foi a que se apresentou com o filósofo nietzscheriano Alberto Pereira - “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal” - uma proposta logo aceita, de tomar conta de seu pequeno espaço (minifúndio), vender os seus livros, enquanto, fica liberado para outras atividades, como por exemplo, a de livreiro virtual, naturalmente, que em troca colocaria os meus em exposição.
Ali, fiz diversas experiências, inclusive à de acompanhar os valores que Alberto estipulava em seus livros. Depois de resultados insatisfatórios, tive de fazer uma mudança radical, pelas características dos livreiros que me circundam, nenhum deles trabalhariam com livros comprometidos com a cultura libertária. Assim fui à luta, entrei em contato com Rafael, historiador e autor de um importante livro sobre a história do anarquismo, editado e esgotado pela Mauad. Recebi logo em seguida um convite do editor Robson Achiamé para um almoço, seria oportunidade de rever o querido amigo, colocar as conversas em dia, tomar conhecimento dos lançamentos editoriais que pululam na cabeça deste fantástico editor. Admiro muito Robson, um incansável editor, de muitos anos de estrada, muitas vezes superando as curvas perigosas para deslanchar nas retas, mas carregando na bagagem as imensas dificuldades de um pequeno editor em nosso país.
Naquele espaço do Largo da Carioca, estou sentado em uma cadeira que é usufruída por uma turma de bunda mole, todos assentam a buzanfa sem a menor cerimônia, claro que os amigos do cd, há um espaço cativo para eles, cedo para almoçar ou descansar um pouco da longa jornada vendendo cd em pé durante horas. Estou localizado do lado de fora da tenda, fico embaixo da marquise do Edifício Central, no meio da muvuca dos vendedores de cd, deste modo, estou sujeito a pisadas, nem sempre com as devidas desculpas por terem acertado o alvo. A vida que segue.
Meu retorno ao livro, depois que os amigos do livro souberam que estava de volta ao campo de batalha, muitos passaram para uma visita e por conta disto fui à Livraria Martins Fontes, em novo local que não conhecia, recebi as honras da casa, por intermédio de Sérgio, que aliás, conhece tudo de livro. Fomos colegas na Francisco Alves. Para minha alegria revi muita gente nesta nova fase de livreiro de rua. Assim, nesta nova condição vislumbrei o trabalho de venda de livros usados pela internet. Esta novidade foi à diferença. Renasci das cinzas. Hoje estou em três portais de venda de livros, em um deles, também trabalho com cd de músicas. Estou aos poucos galgando uma boa posição no ranking de sebistas, aferido pelo acervo em sua quantidade. Tenho um bom faro por livros de minha área, pudera, fui comprador de 3 livrarias por onde passei, além de ser dono de livraria em Ipanema nos anos 80, do modo que, tenho certa intimidade com a produção editorial publicada no Brasil.
Em minha trajetória no mercado editorial, além de minha bagagem intelectual, traduzida por leituras, auxiliar de pesquisa na faculdade nos anos 70, de minha intenção de estudar e inventariar as editoras de esquerda no Rio de Janeiro, de meus conhecimentos com autores e editores, de uma militância política nos anos 70, esbarro em meu caminho com pessoas totalmente desvinculadas do trabalho com livros, inescrupulosas, diria mesmo ignorantes, sem nenhuma leitura, sem nenhum preparo para lidar com a cultura letrada. São oportunistas, não é a toa que percebo ao analisar o perfil do trabalhador do mercado de livros, um absurdo, uma aberração, alguém que se diz livreiro, "sebista", classificar uma obra de Eça de Queirós como literatura brasileira, sem dúvida, é um atentado ao leitor que procura por uma obra do escritor. Exemplos de erros crassos são encontrados aos montes, até em cartazes que fazem para divulgar eventuais “promoções”, ou descrições como a encontrada: “Somos um cebo virtual que trabalha com vendas de livros usados de todos os generos”. Entendo que todos tem direito ao trabalho, de batalhar pela sobrevivência, mas que pega mal,uma pessoa que trabalha com livros, mal fala, mal escreve e mal lê, no mínimo uma contradição . Em nosso meio, pelo menos aqui em nossa cidade, não há uma escola para preparar, reciclar, oferecer cursos para um profissional do livro. Na verdade, houve um curso oferecido por uma oficina literária no Flamengo; em São Paulo, existe a Unesp. Olha a diferença! Como estou em cada ponto, aumentando um conto, paro para um intervalo, e volto no final do mês para um balanço final.

* Pintura de Tarsila do Amaral