domingo, novembro 25, 2007

Deu nos classificados do jornal: Editora Vendo













Ontem, pensava na morte da bezerra, quando Marilene lia os classificados do jornal O Globo, leitura obrigatória para nós em busca de uns trocados para dar uma ajuda nas despesas. Ao abrir uma página nem sempre encontramos alguma coisa de compatível com o nosso perfil. Sabemos que a idade pesa um pouco nesta busca, às vezes são postas como barreiras de acesso para as oportunidades oferecidas pelo mercado. Continuamos na luta para conseguir este complemento, dentro de nossas limitações como profissionais.

Sou interrompido pela leitura de um anúncio encontrado por Marilene. Você conhece a Editora Nova Razão Cultural? Conheço, respondi. Está sendo colocada à venda. “Empresa de médio porte”, deste modo é identificada no anúncio. Não cheguei a conhecer a dona da editora, a escritora Clair de Mattos, sei que tem uma boa produção na área de literatura. Foi nos anos 80 que tive contato com um dos livros da escritora, nesta ocasião eu tinha a livraria Quarup, na Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema.

Freqüentava a minha livraria, a escritora e amiga Vera Moll, que lançava pela Antares o livro Teias de Aranha. Uma das poucas resenhas que escrevi, foi o seu livro, em um jornal de bairro de Ipanema. Em uma das nossas conversas mencionou o nome da escritora Clair de Mattos, que ela conhecia e que lançava um livro pela Antares. Lembro que fiz o pedido do livro de Clair pela Antares, aproveitei e comprei outros títulos da editora. Conheci, não lembro quem me apresentou a editora Maura Ribeiro Sardinha, uma das sócias da editora Antares, eu achava muito interessante o catálogo, que incluía alguns títulos premiados em literatura infantil, a editora era localizada na Rua Visconde de Pirajá, 82, depois parece que passou para o Jardim Botânico.

Vendi enquanto profissional do livro, alguns títulos de Clair de Mattos, não tenho muita certeza, se eu tive em mãos alguma obra de Clair, quando eu trabalhei pelas Edições Achiamé, do incansável editor Robson Achiamé Fernandes, mas lembro que ele fazia alusão a autora. Anos depois, quando voltei a morar em Copacabana, conheci uma livraria que Clair montou em Copacabana, altura do Posto 6, nos fundos de uma galeria. Uma loja espaçosa, mas com uma baixa freqüência de leitores/clientes, pelo menos foi o que constatei ao passar mais vezes pela loja. Tempos depois a livraria deixou de funcionar, cerrando as portas. Nos anos 90 fui distribuidor, criei a Obra Aberta, mas a Razão Cultural, depois, passou a ser Nova Razão Cultural, tinha um distribuidor. Fui também um dos compradores da Francisco Alves, Ipanema e Unilivros Cultural, em Ipanema, eu dava uma força para o autor nacional e comprava alguns títulos da autora.

Tempos depois de ter encerrado a distribuidora, fechei também a locadora Sagarana de fitas no Catete e parti em busca de trabalho, encontrei um anuncio da editora Nova Razão Cultural pedindo vendedores, me apresentei para o cargo, fui entrevistado em Copacabana, no oitavo andar, por uma moça que no decorrer da entrevista percebi que estava muito longe de ter um currículo igual ou parecido com o meu, mas detinha o poder de contratar um vendedor. Na conversa mostrei minha passagem como profissional do livro, terminada a entrevista, ficou de ligar, nunca ligou.

Fico chateado com pessoas que se acham o máximo no mercado de livros, arrogantes, que de posse de um cargo, ficam inchados. Não me foi dado nenhuma resposta, como um profissional experiente em vendas no varejo e no atacado; parece não preencher os requisitos para ser um vendedor de uma editora. Se fui, por exemplo: durante quatro anos vendedor da Paz e Terra, pracista no Rio de Janeiro de diversas editoras, criei uma distribuidora, e profissional com experiência na praça de São Paulo. Pior no caso da editora Nova Razão Cultural a pessoa que me entrevistou não conseguiu perceber se eu vendia em outras situações os livros da dona da editora, como não preencho o cargo para ser um vendedor pracista, são razões que desconheço.

Desconheço as razões que motivaram à venda da editora Nova Razão Cultural, prefiro apenas constatar que mais uma editora pode sair de circulação, o que é uma pena.



Alcir Dias: O artista nasceu em Jacarepaguá, em 1946. Formado em Belas Artes, professor do Colégio Pedro II, morador do bairro de Santa Teresa. Participou do Projeto no bairro da Lapa, em homenagem a Zumbi, intitulado "Celebração da Consciência Negra"organizado pelo Recordatório - Cultura, Educação e Artes









domingo, novembro 18, 2007

Papo sobre livrarias: descontos oferecidos













O mundo do livro sempre me despertou , desde garoto, uma curiosidade, uma vontade de me aproximar como leitor, pegar, examinar e ler. Em minha fase adulta, achei que poderia ingressar neste mundo, pela via comercial. Foi pela venda que dei os primeiros passos para a minha entrada neste universo. Circulei por algumas etapas nos diversos segmentos do mercado editorial, mas vou abandonar esta descrição, por estar inserida em muitos posts que publiquei neste espaço.

Na minha concepção, o blogueiro é uma atividade muitas vezes não remunerada, mas comungo da idéia de que é muito prazerosa e rica pelas oportunidades oferecidas. Uma das melhores, é a figura do leitor, seja na condição de anonimato ou da revelação de sua identidade, ou pelo espaço social que declara estar inserido. Eu identificava um leitor, aquele que tem por hábito a prática da leitura, a maneira de pedir um livro, seu conhecimento sobre livros, autores e até editoras, poderia haver outras configurações para o leitor, o de estar sempre comprando livros ou em busca de novidades. Sempre tive em mente respeitar o leitor, é o bem maior de quem atua com livros. Quando livreiro cheguei a emprestar livros, alguns foram convertidos em venda. Nunca criei dificuldades em vender livros, tanto para o leitor/comprador quanto para as livrarias quando fui proprietário da Obra Aberta.

Hoje quero comentar, a partir da leitura da coluna editada aos sábados no Segundo Caderno do jornal O Globo, de autoria do colunista Arnaldo Bloch, cujo titulo é: “Livreiros irados da Rio Branco.”publicado na página 12. Sua revelação de orgulho em ser carioca, está na existência da Livraria Leonardo Da Vinci, na Avenida Rio Branco, 185 localizada no sub-solo do edifício Marques de Herval, no centro da cidade.

A Da Vinci para inicio de conversa, é uma ótima livraria, com uma oferta variada de títulos; conheço como antigo profissional e leitor, os amplos espaços que ocupam os livros, melhor ainda, é uma livraria especializada em livros importados, com concentração na área de humanas. Em meu tempo de profissional do livro conheci bons vendedores, como: George Gould e Jorge Chaves naquela loja, tendo a frente à livreira Vanna Piraccini, proprietária da loja, que ainda tem como companhia os filhos. Recordo no momento o nome da filha Milena, soube que presidia a Associação Estadual de Livrarias (AEL-RJ).

A outra livraria que é mencionada no texto de Arnaldo Bloch é a livraria Camões, situada na parte lateral do Edifício Avenida Central, na Avenida Rio Branco 156, na verdade é localizada na Bittencourt da Silva, 12 especializada em livros portugueses, cujo responsável, é o livreiro José Manuel Estrela. A Camões é uma livraria pertencente à Imprensa Nacional Casa da Moeda de Lisboa, surgida entre nós lá pelos anos 70, criada com intuito de divulgar o livro e a cultura portuguesa. No momento em que chegava o jornalista, ele flagrou uma discussão de uma cliente com o livreiro, a respeito de desconto de 20% que pelas contas da cliente, não era deduzido em sua totalidade. Olhando daqui também concordo com a reclamação da cliente, se são 20% são 20% e não o arredondamento do valor do preço do livro em desconto, o que geralmente se atribui como o desconto oferecido. Em feiras do livro da época em que eu freqüentava nas duas condições, ou seja, de distribuidor ou leitor, fui testemunha desta prática em algumas barracas.

Pior do que este arredondamento está na conduta de diversos comerciantes de outros ramos em não devolver, não dar satisfação da inexistência de troco, quando o valor da mercadoria, é registrada pelos noventa e nove centavos. Algum sábio economista ou qualquer coisa semelhante convenceram os comerciantes, que a simples marcação em noventa e nove centavos, vai produzir no cliente uma compulsão incontrolável para consumir e nesta condição nem exigirão troco, aceitarão como normal, não ligarão que estão desrespeitando você, como consumidor. Ficam felizes por encontrarem mercadorias que possibilita a falta de troco.

Se há falta de troco por que insistir nesta prática generalizada que em principio para mim é desonesta. Eles mesmos não respeitam o valor anunciado, alteram e desprezam os centavos. Acham por bem passarmos enquanto consumidores por esta situação constrangedora, ou de sovina por cobrar o troco. Qualquer reclamação neste sentido ganha ares de censura de seu interlocutor que por sua vez ganha adeptos de seus pares, auxiliando com risinhos e deboches.

Não entro no mérito da cliente da livraria Camões em identificar o hábito praticado pelo livreiro como se fosse uma conduta do carioca, embora a identidade do livreiro, seja portuguesa. Acho que expõe uma conduta do comerciante, no meu entendimento de quem quer ganhar vantagens sobre o outro, mesmo que gere perda do leitor-consumidor-cliente. Uma das falas da cliente provocou no jornalista uma reação, como intervenção na situação em que envolvia o desconto, ele se viu afrontado quanto a concepção de judeu construída pela mulher, que parece ser nordestina, apontava como protagonistas destas cenas, a identidade do comerciante como judeu.

Arnaldo saiu dali, deixou os dois e voltou a Leonardo, para comprar o livro que motivou sua ida à livraria. Entregou o livro nas mãos da vendedora que ele classifica como uma das principais da casa. Dali para o diálogo estabelecido entre a vendedora e o jornalista, foi de um clima de desconfiança e de ira. Chegou o jornalista ser advertido por quem o atendeu que não tinha recebido o dinheiro pago pela compra do livro, indagando se ele pagou, o jornalista apontou onde tinha deixado o dinheiro, que ficou a frente do caixa.

Arnaldo neste caso, também como cliente está certo, se o livro havia dobras “esses sulcos feitos” por algum motivo segundo o autor, a melhor vendedora, se não tivesse autonomia para oferecer um desconto maior, conversaria com a proprietária mostrando as condições do livro e o desconto maior para ele, acredito seria oferecido. Antigamente algumas livrarias cediam para clientes especiais e sob forma de exame, levar livros com prazo para devolução. Há clientes que compram o livro e depois, devolvem alegando não ser este o livro.

A diminuição do valor do livro, geralmente afeta quem ganha comissão nas vendas. O livro pretendido por seu estado levaria a mesma situação que o jornalista passou, ao próximo cliente ao fazer a compra, ele solicitaria desconto, caso contrário, se houvesse negativa, ficaria estacionado na prateleira. Tudo depende da postura da livraria e do cliente.

Umas das condições do livro danificado ser comercializado pode acontecer se a edição estiver esgotado, neste caso o poder do comerciante (livreiro) pode prevalecer.Sou um sujeito com anos de estrada no mercado de livros, é de praxe entre os livreiros quando os livros estão comprometidos com alguma falha, se o cliente concordar em levar o livro, oferecer desconto maior. Claro que o livro importado requer mais trabalho, se foi um problema de acondicionamento no frete, poderia haver devolução para a editora. Recebia enquanto distribuidor, livros desta forma, tratava de imediato fazer a troca. Eu pegava o livro, trocava e depois passava pela livraria e deixava o novo livro. E a vida seguia.




Hermelindo Fiaminghi: Artista gráfico, pintor, desenhista, litógrafo, publicitário, professor, crítico e empresário; paulista nascido na capital, em 1920. Começou em 1935 como aprendiz de litógrafo na Editora Melhoramentos. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios, entre os de 1936 e 41. Conheceu Lothar Charoux. Trabalhou em indústrias gráficas, integrou o Grupo Ruptura, liderado por Waldemar Cordeiro.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Distribuidores de Livros: Uma Obra Aberta













" Um país se faz com homens e livros"

“Entre os mais humildes comércios do mundo está o do livreiro. Embora sua mercadoria seja á base da civilização, pois que é nela que se fixa a experiência humana, o livro não interessa ao nosso estômago nem a nossa vaidade. Não é portanto compulsoriamente adquirido. – O pão diz ao homem: ou me compras ou morres de fome; - O batom diz á mulher: ou me compras ou te acharão feia. E ambos são ouvidos. Mas se o livro alega que sem ele a ignorância se perpetua, os ignorantes dão de ombros, porque é próprio da ignorância sentir-se feliz em si mesma, como o porco com a lama. E, pois o livreiro vende o artigo mais difícil de vender-se.

Qualquer outro lhe daria maiores lucros; ele o sabe e heroicamente permanece livreiro. E é graças a esta generosa abnegação que a árvore da cultura vai aos poucos aprofundando as suas raízes e dilatando a sua fronde. Suprimam-se o livreiro e estará morto o livro – e com a morte do livro retrocederemos á idade da pedra, transfeitos em tapuias comedores de bichos de pau podre. A civilização vê no livreiro o abnegado zelador da lâmpada em que arde, perpetua, a trêmula chamazinha da cultura”.
Monteiro Lobato.
Hoje resolvi publicar, ou melhor, reproduzir o texto acima, mas confesso que não consegui identificar em qual publicação de Monteiro Lobato imprimiu esta definição de livreiro. Lembro que em forma de folheto, ganhei da ABL (Associação Brasileira do Livro) à época em que eu atuava em feiras de livros nas praças públicas de minha cidade. Quando li na ocasião, no inicio dos anos 80 e foi na data de nascimento (18 de abril) de Monteiro Lobato que a entidade que controla a feira do livro distribuiu o folheto para os participantes da feira na Cinelândia, Apareceu o livreiro Santana, dono de um sebo na Visconde de Inhaúma, próximo ao Colégio Pedro II , sempre trajando camisa social e gravata, talvez por representar a classe, era o presidente da associação de livreiros. Não sei qual o tempo em que presidiu e foi por muitos anos e nem a data de seu falecimento. E foi apenas deste modo, que largou a presidência da entidade. Foram criados movimentos de oposição e não obtiveram êxito; alguns deles foram cooptados,com cargos de direção.
Atuei na feira em barracas das Edições Graal e Achiamé no anos 80, na maioria das praças em que eram realizadas as feiras, que tinham por obrigação oferecer 20% de desconto para o consumidor, uma exigência da associação para que se pudesse utilizar as praças. Todas as barracas pagam um preço para expor na praça, que é cobrado pela entidade e que há variação de valor em função da praça. Há também um pagamento como filiação a entidade. Quando fui distribuidor no inicio dos anos 90, o dono da Irradiação Cultural, uma das maiores distribuidoras de livros no Rio, (uma soma imensa de editoras para fazer a distribuição) o que se poderia chamar de "concorrente" engavetou minha proposta de associado, usou das armas que dispunha para atingir um profissional do livro. Não teve a percepção de que o mercado não tinha dono, e achava que ele era um dos poucos a ter este privilégio e não permitia quem quisesse montar um negócio e trabalhar no ramo do livro. Eu que vim do livro, tenho toda a trajetória ligada ao ramo editorial. Como não havia muita editora com exclusividade de distribuição, estaria nesta condição aberto para quem tivesse distribuidora, oferecer na praça as editoras que representava. Havia casos em que editoras insatisfeitas com o gigantismo da distribuidora, abriam para outras distribuidoras.Era comum editoras possuírem na praça de uma mesma cidade outro distribuidor. Eu particularmente não aconselhava, cria um ambiente de desconforto e confusão para o livreiro. Creio que alguns editores gostavam de estimular esta concorrência, viam o circo pegar fogo. Vendi sempre muito bem, havia uma editora que eu vendia muito e tinha um perfil universitário com ótimos títulos em catálogo, era a Unesp. Fui atingido pela inadimplência. Cheguei a distribuir cerca de 50 editoras. Com a crise do mercado editorial algumas distribuidoras foram perdendo o gás, tanto eu (Obra Aberta) quanto a Irradiação Cultural, cerramos as portas. Uma distribuidora arca com a maioria das despesas da comercialização como frete, entrega da mercadoria para as livrarias, funcionários, todas as despesas de ecritório, passagens, tudo sobre os seus encargos, Fica muito difícil de sobreviver uma distribuidora, com 50% ou um pouco mais, dependendo do editor e fazer uma praça e repassar o desconto para as livrarias com 40%. Uma margem para trabalhar em torno de 10%. Nem sempre os livros de um catálogo circulam com rapidez. Muitos lançamentos não são repostos pelos livreiros. Vi livreiros que vendem os livros e criam a maior dificuldade em repor. Meus livros em estoque foram todos sob faturamento, não recebi sob consignação, embora, em alguns casos, eu enviava consignação para os livreiros. Volto ao papo em próxima oportunidade.

sábado, novembro 03, 2007

Quarup: Uma livraria de resitência










Em maio de 1983 fui entrevistado por Mara Caballero (1950-2003) pelo Caderno B do Jornal do Brasil. Ela fazia uma matéria sobre livrarias da zona sul, ou melhor, em Ipanema e Leblon. Lembro que expus minha preocupação com a sobrevivência da Quarup, localizada em um centro comercial de Ipanema. Quando a jornalista entrou, reiniciava a leitura antes interrompida de Maternidade e Sexo, de autoria de Marie Langer (1910-1987) psicanalista austríaca, naturalizada argentina e publicado pela Editora Artes Médicas, uma casa publicadora situada em Porto Alegre, surgida nos anos 70. A Artes Médicas Sul (Artmed) no meu entendimento como livreiro, sinalizava uma ótima produção editorial. Gostava da editora, publicava textos de educação, psicologia, psicanálise e áreas afins. Um ótimo catálogo com alto padrão de qualidade editorial. Sempre dei preferência para editoras com fundo editorial ou, as pequenas editoras progressistas, embora, em pouco número, faziam minha cabeça. Eu olhava desconfiado para editoras que se aproximaram como colaboradoras do IPÊS, o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, fundado em 1961, situado em 13 salas do Edifício Central, na Avenida Rio Branco, 156. Contando com a participação dos empresários e fundadores como: Antonio Gallotti ligado a Light e Augusto T de Azevedo Antunes da Caemi, com colaboração de escritores como José Rubem Fonseca, editores como Augusto Frederico Schmidt e dirigido também por Golbery do Couto e Silva. O grupo se alinhava a ideologia direitista presente em vários grupos sociais, com o propósito da derrubada do governo Goulart.

Interrompi mais uma vez minha leitura, quando Mara começou a fazer perguntas sobre as livrarias da zona sul. Minha livraria, aliás, comecei com dois sócios que depois abandonaram o barco. Dois exilados que voltaram ao Brasil e estavam dispostos a abrir uma livraria na zona sul. Juntou então a fome com a vontade de comer. Conheci os dois, Rogério e Jaime, quando trabalhávamos na Editora Achiamé, do meu querido Robson Achiamé Fernandes, que antes de montar sua editora, passou pela Editora da Fundação Getulio Vargas, como coordenador editorial. Gostava muito da Achiamé que começava a despontar com um bom catálogo na área de ciências humanas. Em sua produção editorial havia meus antigos colegas e professores do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Na ocasião eu atuava na área de divulgação editorial; circulava entres os departamentos das universidades, para apresentar as novidades e falar a respeito dos catálogos das editoras. Fui antes de montar a livraria, divulgador editorial como: Graal, Paz e Terra, Brasiliense, Hucitec, Summus e muitas outras editoras.

A Quarup foi criada logo após a inauguração da Dazibao em uma galeria. Nos anos 80, as pequenas livrarias estavam escondidas em centros comerciais. Com a minha formação de sociólogo, e os dois sócios exilados políticos, era o suficiente para dar uma tintura de esquerda para a livraria. Um ledo engano, não eram significativas à procura por livros de ciências sociais em uma área nobre da zona sul, havia uma tendência para área psi e de comunicação. A livraria de alguma forma abria espaços para formas alternativas de expressão, como a poesia intitulada de marginal. Nós viemos de experiência partidária. Quando os sócios saíram resolvi dar um outro desenho para a livraria. Concentrei na área psi e posters de Che, Chaplin, posters-poemas editados pela Civilização Brasileira, como os de Moacyr Felix, Ferreira Gullar, Thiago de Mello e outros poetas. Poesia e jornais alternativos, literatura infanto-juvenil, as ciências sociais, literatura brasileira compunham o acervo da livraria.

A morte da livraria começou a ser anunciada desde a sua inauguração, a opção em decorrência da grana foi estabelecer em um andar elevado e foi o determinante, uma vez que por falta de visibilidade e com pouca clientela, não era o suficiente para manter a livraria aberta. Clientes leitores-compradores davam preferência as livrarias localizadas em beira de rua. Nesta época lembro de algumas localizadas na rua: Francisco Alves,na Farme de Amoedo 57; Unilivros de Jorge Ileli, seu gerente Mario Jorge Matos em Ipanema, as lojas no Leblon, uma delas era sob os cuidados de Jorge Brito; Taurus no final do Leblon, do editor e livreiro Jorge Bastos, Tempos Modernos do Leblon, com filial em Recife, StudioLivros inspirada no modelo da Unilivros, com o mobiliário feito pelo mesmo carpinteiro. A Studio do livreiro Durval Garcia, ex-sócio da Entrelivros, com passagem pela Embrafilmes e assessorado pelo amigo jornalista e critico de cinema Valério Andrade para a gerência de vendas. A Studio deu de abrir filiais em diversos bairros.

Continua.