sábado, março 22, 2008

Um Vendedor de Livros.


















Remexendo com os velhos papéis amarelados das páginas avulsas de minhas memórias deixadas num canto das gavetas desarrumadas, é verdade, algumas delas, até com poeira, estão. Nada que uma soprada ou um pano, não dê jeito. Aliás, estes registros são mantidos deste jeito, pois é assim, que consigo dar uma ordem neles. De uns tempos prá cá, criei o blog Esquinas do Tempo, um espaço reservado para outros escritos, pelo menos imagino que sejam identificados como contos, ou crônicas quando abordo assuntos pertinentes ao meu clube do coração, o Vasco da Gama.

Manter este blog imagino que seja um dos mecanismos que engendro para resgatar através dos fragmentos colados em minhas lembranças, um modo de me encontrar com o tempo, de voltar para trás, com um recurso de um retrovisor, olhar para um passado que transformo em presente. Gosto de me ter como leitor e espectador diante desta tela. Quando mergulho em busca de fragmentos, mesmo que em superfície, ou nadando no raso, procuro ser um sujeito bem intencionado, com o firme propósito de recuperar narrativas, cujo cenário ajudei a meu modo, a fazer. Sou um carpinteiro deste momento, vou traçando e rabiscando trajetos e pontes imaginárias para ligações com o meu tempo de vendedor de livros. Um simples vendedor de livros cuja história não provoca nenhum interesse e se for manifestado algum, provavelmente a sugestão seria à lata de lixo da história. Ir direto, sem pestanejar para o esquecimento, ou em sua tradução moderna, ser deletado.
O vendedor de livros, se não configurar como livreiro ou editor, a tendência é ser rotulado de pouca importância, um sujeito pelo lugar que ocupa no elo da comercialização. Editores e Distribuidores não reconhecem por várias razões a importância de um vendedor de livros, neste caso, de um "pracista", um vendedor externo, um profissional do livro, que representa editoras ou distribuidoras com atuação nas praças das cidades, para os vários tipos de comércio. Por outro lado, há editores ou distribuidores que mantém vendedores por muitos anos, atuando por muito tempo na mesma empresa. Fiquei por quase cinco anos na Paz e Terra, saí para caminhar com as próprias pernas, resolvi montar uma distribuidora, a Obra Aberta, localizada na Cinelândia, na Rua Álvaro Alvim, 48, em cima do cinema Pathé, fechado nos anos 90, transformou-se em um templo religioso. Outra editora que fiquei por algum tempo, foi a Edições Achiamé, também tive várias passagens, como divulgador, pracista e distribuidor.
A começar pela mídia carioca, durante este tempo de militância como vendedor, nunca consegui localizar ou identificar alguma reportagem com vendedores, seja interno ou externo. são sempre os mesmos livreiros e editores. Distribuidor também muito pouco, quando muito, os poucos legitimados pela mídia, que exercem o dublê de editor/distribuidor. Às vezes é necessário dar uma pausa para um cafezinho, sair do assunto, não totalmente, pois quero falar sobre vendedores, vendedores de livros, seja de ilusão ou de transformação.
No Rio de Janeiro, diferente do que os jornalistas classificavam como livrarias, geralmente vinculavam aos badalados livreiros e editores, tratados para o público leitor com se existissem apenas estes. Pequenas ou grandes eram depreciadas, ignoradas pelos jovens jornalistas.

Confesso que com esta declaração de partilhar meus escritos com outro espaço como Esquinas, além de breves comentários em blogs sobre futebol, acabo por deixar ao relento o blog Quitanda, este espaço que reservei para narrar de algum modo minha trajetória no mercado de livros. Claro que não incide a culpabilidade do tempo em que fico dedicado ao Esquinas, tem também o que me traz grande felicidade, a maior delas, que é a presença de meus dois netos. Ramom, o mais velho, demonstra, é visível, ser um garoto criativo, inteligente, esperto até demais. Mudou de escola, até que enfim, faz natação e bagunças de toda natureza. O mais novo, quer dizer, Ricardo, é mais centrado, obedece mais, comportamento que até o momento posso dizer como diametralmente oposto ao irmão. Se assemelham em alguns momentos na bagunça, características de crianças sadias.Claro que em Ricardo observa-se traços de uma criança inteligente, mas por outro lado, há uma predisposição para chorar, fica sensibilizado com a negativa, contrariado, cai em prantos. Grita de alegria e de raiva. Enfim, unidos, bagunçam com o coretos dos avós. Dos pais não quero nem falar, pois, a convivência diária com a bagunça, são as verdadeiras testemunhas. Mas isto tudo, é vida. Faz parte da dinâmica do aprendizado.
Como o propósito deste texto é narrar minha passagem no mundo dos livros, tive que me manter sob uma camisa de força para não fugir do que pretendo. Falar de meus netos, obrigatoriamente me conduz a extensas narrativas, a um blá blá interminável. Coisas de avô que gosta de rascunhar, mesmo que tenha como fio condutor a convivência com os netos. Assim vou costurando um texto que apresento aqui ou em Esquinas do Tempo, faço mesmo de modo esparso. Vou prosseguindo e produzindo meus textos enfaixados sob o campo da memória, diria mesmo, singulares, pois estão no âmbito de minhas reminiscências, todos produzidos com vínculos em minha vivência, como foi o texto ficcional que publiquei com o título de "Lino e seu avô - Uma amizade sem fim." Aproveitei a idéia de rato de biblioteca e rato de livraria para construir um história de um Ratinho e suas relações de amizade com o avô. Bem como o texto está cada vez maior e cansando os meus dois leitores, acho melhor e prefiro mesmo deixar para uma próxima oportunidade e voltar a escrever ou falar sobre vendedores de livros. Até breve.

* Berenice Barreto Fernandes - Conhecida como Beré ou Berenic. Arte Naïf - Para maiores detalhes consultar o excelente site Artcanal

















segunda-feira, março 10, 2008

Editoras e Livrarias - Um Papo.

















Atualmente nem nos sebos tenho passado para xeretar algo de interessante para ler. O jornal impresso também desisti de ler, apenas pego emprestado com a vizinha o caderno de classificados para localizar alguma oportunidade de trabalho, aliás, estão cada vez mais escassas, mais ainda, quando a idade é superior aos cinqüenta anos.

Fico em casa como se estivesse internado, diante do computador, fico horas pesquisando, mergulhado na leitura da produção intelectual das ciências sociais. Voltei após longos invernos a ficar interessado em minha área de formação acadêmica, que abandonei para me dedicar ao mundo dos livros. Claro que pela atividade que exercia com os livros, obtinha informações do que as ciências sociais estava produzindo. Fui distribuidor e editor na cidade do Rio de Janeiro e o perfil da empresa, era alinhado com as editoras universistárias.
Algumas destas editoras em seus catálogos havia algum conhecido do meu tempo de estudante, ou de quando atuei como profissional de divulgação editorial nas universidades. Lembro que fui divulgador de editoras com uma tintura de esquerda nos anos 80, trabalhava com distribuidores ou diretamente com os editores. Haviam editoras que eu não considerava como de esquerda, por exemplo: Ibrasa/Ibrex, Papelivros, Documentário e outras que agora não lembro. Eram representadas pela Vários Escritos, um distribuidor que representava também: Alfa-Ômega, Summus/Ágora, Avenir, Vega. Divulguei pela Quadrelli, as editoras Brasiliense, Global e Alhambra. Fui divulgador das editoras Paz e Terra e Edições Graal. Bons tempos eram aqueles, em que eu tinha bastante editora para divulgar como a Hucitec e Livramento, representadas pela Século XXI, e finalmente as Edições Achiamé.
Foi um trabalho de suma importância para as editoras, um momento de interação entre editor e autor/professor que passou de alguma forma atuar como um agente de vendas, ao indicar títulos para adoção. Para a Brasiliense neste período foi uma mão na roda, estavam arejando a o catálogo e lançando diversas coleções, como os Primeiros Passos. Uma época de efervescência cultural, títulos e mais títulos eram lançados.
A Brasiliense surgiu no inicio dos anos 40 com vários sócios, dentre eles: Caio Prado Júnior, o pai de Caio, Lenadro Dupré, Hermes Lima e Arthur Heládio Neves. Monteiro Lobato foi um dos seus sócios.A editora Brasiliense detinha os direitos da obra de Monteiro Lobato desde 1945. O autor, amigo de Caio de longa data assinou antes de morrer um contrato de validade "ad infinitum", até cair em dominio público, o que não aconteceu. Outro dia li pela internet que houve uma disputa judicial com os herdeiros de Lobato e a Brasiliense , que acabou perdendo os direitos, quem saiu beneficiada foi a Editora Globo que passa a publicar todos os títulos de Monteiro, com nova apresentação visual da obra do grande autor da literatura infantil.
Caio Prado passou o bastão para o seu filho Caio Graco Prado nos anos 70. A editora passou por um período em que esbarrava com o cerceamento dos militares e os segmentos conservadores, tanto que em 1964 fecharam a Revista Brasiliense editada desde 1955 e dirigida por Elias Chaves Neto. Quem examinasse o catálogo da editora poderia identificar uma produção de esquerda. Luiz Schwarcz atuou na editora, passando por estagiário até ser diretor editorial, cuja saída em 1986, montou a sua própria editora, a Companhia das Letras. Caio Graco fundou em 1978 com Claudio Abramo o jornal Leia Livros, deixou de funcionar nos anos 90. Hoje a editora está sob os cuidados da filha Yolanda Prado, a Danda, que assumiu a editora após a morte do irmão Caio Graco em 1992 em acidente de moto.
O mercado de livros mudou bastante, determinados espaços de exposição livros que assumem posição de destaque nos espaços de uma livraria, ou melhor, nas grandes livrarias, são comprados para que ocupem determinados lugares estratégicos, logo com maior visibilidade para o cliente. O preço varia entre um pedaço de vitrine, ou pilha de livros, tudo estabelecido pelos livreiros das grandes redes. Lembrei que nos anos 90 fui à Livraria da Vila, havia se mudado há pouco tempo para um novo local. Os donos eram um casal, lembro que o livreiro, de nome Aldo, fui apresentado por Marcus Gasparian. Nesta época estava em São Paulo.pela Paz e Terra, quando fui informado de havia um espaço na parede da loja, uma enorme loja, em que os espaços ocupados por propagandas das editoras, eram pagos.
A noticia que rolou na semana passada é que a Saraiva adquiriu a totalidade das ações da rede de livrarias Siciliano, criada em 1928 e a maior do país; mais os quatro selos editoriais: Arx, Futura, Caramelo, ArxJovem. Depois de longa negociação chegaram aos finalmentes. A Siciliano estava em crise financeira e familiar, envolvida em uma disputa judicial entre o senhor Oswaldo Siciliano e a filha mais velha. Volto a conversar sobre livros em próxima oportunidade.


* Adélio Sarro - Pintor, Escultor e Muralista