segunda-feira, setembro 24, 2007

Não fui à Bienal do Livro.

Não fui à Bienal do Livro. A falta de grana foi determinante para que a minha vontade fosse relegada, deixada de lado. Quem sabe, da próxima vez, aqui mesmo no Rio de Janeiro, naquele distante Rio Centro, reúna melhores condições financeiras e consiga finalmente fazer uma visita, comprar alguns livros que me interessam e rever pessoas conhecidas da época em que eu trabalhava com livros.
Mas o hábito de leitura permanece, leio o jornal e os livros acumulados que separo para uma leitura imediata. Tenho a mania de juntar os livros que pretendo ler, deixando-os em pilha, tortas, é verdade. Uns vão passando a frente de outros, assim por diante.
Pela manhã, como sempre faço, folheando o jornal O Globo, ao ler a coluna de Joaquim Ferreira dos Santos, encontrei uma nota a respeito da Editora do Autor, que desfazia de livros, de um galpão e uma referência aos antigos donos da editora. Citava Rubem Braga e Fernando Sabino, mas esqueceu de Walter Acosta. Pensei em escrever para o ilustre jornalista, informando da ausência de um dos sócios, mas abandonei a idéia. No entanto, no dia 21 de setembro, o jornalista reescreve a nota e coloca o nome do sócio ausente na nota anterior, desta vez grafando em negritos o nome de Walter Acosta. Melhor assim. Devem ter lembrado ao jornalista o nome do outro editor e que permanece até hoje com a editora. Walter continuou com a editora, Sabino e Rubem Fonseca se desligaram da sociedade, que durou cerca de sete anos. Sabino e Rubem Braga criaram a Editora Sabiá, que produziu quase cem livros. A editora chegou a ser sediada em Copacabana, no final dos anos 60, mais tarde nos anos 70, o seu catálogo foi incorporado à Editora José Olympio.
Fico contente por mais uma edição da bienal, a XIII Bienal Internacional do Livro, ter conseguido mobilizar um número imenso de público, que a cada ano, aumenta a freqüência. Muitos editores apontam que o pessoal que circula pelos estandes não traduz ou efetivamente produzem vendas. Concordo! Acho mesmo que são mais visitantes do que consumidores de livros, muitos vão para assistir palestras, outros, acredito que um número menor, compareça apenas para encontrarem com artistas, de preferência, atores globais. Lembro da presença de Xuxa e Castrinho em bienais passadas. Parece-me um efeito espuma. Há sempre recorde de público. Segundo a mídia estandes lotados. É verdadeiramente uma festa literária. Autores, público (estimado em 245 000), editores e livreiros comungando dos mesmos interesses.
Vi em foto publicada no jornal em matéria sobre esta bienal, uma livraria que trabalha com ponta de estoque, na verdade, um sebo, o sebo Beta de Aquarius do livreiro Antonio Augusto Seabra. Dono de um ótimo sebo na Rua Buarque de Macedo. Deve ter logrado sucesso, livros “novos” entenda, como ponta de estoque, com preço compatível com o bolso da ampla maioria dos consumidores de livros em nosso país.
Bienal também é espaço para chiadeira, editores e livreiros, são protagonistas deste cenário. Desta vez, li sem nenhuma surpresa que o livreiro, o badalado livreiro de origem ipanemense, reclamava que os editores davam descontos nos livros, provocando uma “sangria nas livrarias”. Achei estranho quando li, pois o livreiro Rui Campos, participou de bienais e até das feiras de livros nas praças de nossa cidade que oferecem desconto de 20 % , causando um desconforto em livreiros ao redor das feiras. Deve estar viciado em reclamar, pois, há tempos em que a bienal em fim de feira, faz este tipo de promoção. Acho mesmo muito legal estas promoções dando oportunidade de leitores se aproximarem de editoras e de seus catálogos, melhor ainda, com preços acessíveis.
Há livreiros que recusam diversas editoras, basta para isto, não corresponder aos prazos e descontos que impingem, para ter este ou aquela editora. Um livreiro que alcança um bom número de filiais é um forte candidato a estas exigências do mercado. Esta relação do mercado, livreiro e editor, muitas vezes, é deletada a figura do vendedor, pelas novas negociações entre as partes. A figura intermediária, que representa editoras, também é excluído desta relação, o chamado distribuidor. Um segmento por força das novas relações encontra-se em fase de extinção, livrarias assumem este papel, o duplo papel de livraria e distribuidor, um grande negócio. Volto a conversar em próxima oportunidade. Um abraço.
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Quirino Campofiorito - Nasceu em Belém, Estado do Pará, em 1902 e faleceu em 1993. Imagem: O Tempo, 1989, óleo sobre tela. (Coleção Italo Campofiorito - filho do artista) Foi casado com a artista plástica, ceramista, tapeceira Hilda Eisenlohr Campofiorito (1901/1997) . Em Niterói há no espaço Paschoal Carlos Magno, duas galerias em homenagem aos artistas Quirino e Hilda. Fonte de Consulta : Niteroi Artes
Pesquisando na internet sobre a produção editorial brasileira, acabei esbarrando ao acaso, no nome do artista que escolhi para mostrar para vocês. Sua intensa atividade ligada as artes, me fez descobrir um talentoso e brilhante artista. Sempre premiado, com passagem como aluno da Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro. Critico atuante de arte em O Jornal. Participou em diversos eventos e obtendo muitas premiações. Deu enorme contribuição as artes como professor, criador de associações, exposições, de um veiculo impresso de nome Bellas Artes. Afastado da universidade pelo Ato Institucional promovido pela ditadura militar. Autor de importantes livros sobre as artes e o artista nacional. Acho que vale a pena para quem estiver interessado no panorama de nossa arte, consultar mais informações sobre Quirino Campofiorito, teve importância de destaque e merece uma olhada no que ele produziu.

segunda-feira, setembro 03, 2007

De Livraria em Livraria : Memórias de um livreiro.









Sei que estou ficando mais velho, pra mim pode ser a credencial para que memórias antigas sejam mais bem lembradas do que as mais recentes. Assim com este exercício, vou reconstruindo a meu modo, com um olhar sobre o passado, uma história que serve de imediato de base para estruturar minha narrativa como profissional do livro. Quando eu fechei a Quarup situada no Top Center, em Ipanema, história que já andei contando em algumas postagens do passado; fui trabalhar na livraria Unilivros (Jorge Ileli) de Ipanema, na Rua Visconde de Pirajá, 207, tempos depois fui convidado para Francisco Alves (Carlos Leal) de Ipanema, na Farme de Amoedo, número 57. As duas empresas, anos depois, desativaram as livrarias, com várias lojas nos bairros da cidade, bem como as filiais em outros estados. Nos anos 90, a livraria Francisco Alves (1854), sobrevivia com dificuldades, passou a loja para o funcionário (gerente) Sebastião, com nova razão social, aproveitando o número de sua localização na Sete de Setembro, 177. Com ares de livraria e distribuidora, pouco tempo depois, Sebastião antigo profissional do livro, vindo da livraria Galáxia, não adquire mais fôlego para manter a desgastada livraria e sai do mercado.

Existiam no Rio de Janeiro poucas livrarias nos anos 80, aliás, é uma constatação um tanto óbvia. As que abriam, o ciclo de vida era curto, logo em seguida, deixavam de existir. Claro que a curta sobrevivência não está restrita as livrarias, as editoras eram atingidas, assim como as distribuidoras. Nascer e morrer empresas é uma constante.

Nos anos 70 há o surgimento de editoras. Algumas com um perfil ideológico mais definido. O editor Paulo Rocco, com passagem pela Francisco Alves e pela direção do SNEL, cria em 1975, sua própria editora, que leva o seu nome e com um catálogo priorizando o autor nacional, desponta em pouco tempo com bastante sucesso. Novos autores e títulos, uma profissionalização do setor que vai ganhar forma nos anos 80. Surgimento de um jornal mensal editado pela Brasiliense, um book review, sob os cuidados de Caio Graco Prado, Cláudio Túlio Costa e Cláudio Abramo. Circulou por muito tempo entre nós, o Jornal de Letras (1949) dos irmãos Condé (João, José e Elisio). As revistas literárias como a revista José (1976) dirigida pelo editor Gastão de Holanda, que nos anos 50, criou junto com outros intelectuais a editora O Gráfico Amador (1954/1961). Muitas revistas e jornais apareceram em vários períodos de nossa vida cultural. Havia uma proliferação de revistas como a Brasiliense (1955/1964), Revista de Cultura Vozes (1907), Debate e Critica(1973/1975), Civilização Brasileira (1965/1968), Escrita(1975/1988), Revista do Livro, editada pelo INL(1965/1972), Tempo Brasileiro (1962), as revistas publicadas pela Fundação Getúlio Vargas e diversos periódicos que foram editados ao longo dos anos.

Uma poesia inquieta estava no ar, nas ruas e livrarias. A censura tratava de reprimir manifestações artísticas, recolher livros, jornais e revistas.

Hoje houve uma alteração no panorama das livrarias, surgiram as megalivrarias (mega stores), algumas aproveitaram criaram o sistema de franquias, exemplo, a livraria Nobel (1943), com muitas franqueadas. As redes de livrarias paulistanas chegaram ou ampliaram seus locais de venda, como a Siciliano, Fnac, Nobel e a Saraiva. As livrarias inicialmente localizadas em nossa cidade, como: Entrelivros, Unilivros, Eldorado, Studiolivros, Francisco Alves, Freitas Bastos, Casa Mattos Papelaria, Sodiler, Vozes, Dazibao, uma boa livraria que havia expandido lojas em outros bairros. Estas livrarias foram fechadas, reduzidas ou trocadas de mãos. A livraria Eldorado Tijuca sobrevive hoje pelas mãos de Jovaldo e Isaque, profissionais oriundos das livrarias (Sodiler e Melhoramentos). A Sodiler transformou-se em LaSelva Bookstore, empresa também surgida no segmento de jornais e revistas. Da tradicional livraria Eldorado (Décio de Abreu) que esteve sob o controle de seu filho Ricardo, um grupo de antigos funcionários, se desliga da livraria e montam uma outra para acirrar a concorrência, uma vez que para livros didáticos e paradidáticos a Eldorado reinava soberana. Edeir e seu filho Antonio, criaram a livraria Galileu no inicio dos anos 90, abriram filiais ocupando o espaço de livrarias que cerraram as portas.

Em nossa cidade houve uma diminuição do número de livrarias, além de reduzirem bibliotecas, ainda bem, que a antiga biblioteca pública do Leblon, virou uma livraria, a Argumento, que era na Dias Ferreira, número 199 e foi para aquele local, ganhando um novo desenho, ampliando e convivendo com outros espaços e públicos. Argumento atualmente abriu novas filiais. No local da Freitas Bastos, no centro da cidade, assumiu a Ciência e Cultura, também com filiais. Há um crescimento da Travessa, do livreiro Rui Campos. Com esta nova configuração, houve ocupação de novos espaços e surgimento de redes de livrarias, mas será que houve aumento de leitores?

Claro que não ignoro as livrarias de Niterói, as que sobrevivem e as que não estão mais entre nós leitores e clientes, mas tiveram papel importante na formação de leitores, na comercialização e edição de livros, tampouco, as livrarias em outras cidades do interior do Rio de Janeiro, como a Veredas, da livreira Solange.

Até a próxima.

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Kennedy Bahia: (Patrick Maderos Kennedy Dito) Nascido em Valparaiso no Chile, em 1929, falecido em 2005. Tapeceiro chileno. Elegeu como tema de sua arte, a flora e a fauna amazônicas e o folclore da Bahia. Sua arte é de grande importância, uma referência no panorama das artes em nossa terra. Amigo de vários intelectuais, como Carybé, Jorge Amado, Carlos Bastos. Autor do livro "Uma arte, um esforço. uma luta", sem indicação de editor.