terça-feira, dezembro 04, 2007

Uma Despedida para Helenoida Studart














Quando li a noticia da morte de Heloneida Studart bateu de imediato, fragmentos de lembranças dos anos 70 e 80. Heloneida foi escritora, teatróloga, ensaísta e jornalista, nascida em Fortaleza, em 9 de Abril de 1932, e faleceu em 3 Dezembro de 2007, vitima de parada cardíaca, na Casa de Saúde São José, aos 75 anos. Esta combativa mulher, que passou por prisões na época da ditadura militar que se instalou em nosso país; foi moradora do Leme e mãe de seis filhos, todos do sexo masculino.

Lembrei de imediato que fui seu eleitor e leitor. Aqui neste mesmo espaço da Quitanda escrevi sobre Heloneida e mencionei um dos seus trabalhos, “Homem não entra” como teatróloga, peça em que Cidinha Campos atuou como atriz. Escrevi o post em junho de 2005, intitulado: “A Militante Heloneida Studart“. Admirava a trajetória e os trabalhos de Heloneida, em sua atuação como mulher e cidadã.

Sua trajetória passa pelo engajamento ao movimento de luta pelos direitos da mulher brasileira, junto com Rose Muraro, que foi uma das suas amigas, criaram o Centro Brasileiro da Mulher, mais as sociólogas Moema Toscano, Fanny Tabak, Branca Moreira Alves, todas com livros publicados. Neste período dos anos 70, aumentei minha carga em leituras, estava tão atuante que fui associado ao CERU - Centro de Estudos Rurais e Urbanos da USP, da Revista Ciência e Cultura (SBPC), as publicações da Fundação Carlos Chagas, de São Paulo; leitor de vários jornais alternativos, também com a temática sobre as mulheres, como Brasil Mulher e Nós Mulheres. Tinha um grande interesse por estudos feministas, lia na ocasião os poucos livros publicados, recordo que o movimento editorial engatinhava com esta produção, aqui vejo o papel de suma importância de Rose Marie Muraro como editora por muito tempo da Editora Vozes e de outras casas publicadoras.

Eu procurava o livro Segundo Sexo, editado pela Difel em dois volumes, de autoria de Simone de Beauvoir, andava esgotado, como precisava ler e não encontrava, quem acabou me emprestando foi a escritora e novelista Glória Perez, fomos colegas da mesma faculdade, ela no curso de História, eu no curso de Ciências Sociais. Na ocasião fazia um trabalho para o curso de Antropologia, ministrado por Venúsia Neiva. Escolhi como objeto de investigação a prostituta, ou “mulheres da vida” como muitos chamavam as “trabalhadoras” do Mangue, um espaço denominado de baixo meretrício, localizado no centro do Rio de Janeiro. Estava empolgado e eu como homem fui senão o único, um dos poucos a se interessar pelo trabalho feminino. Tentei perceber o corpo como uma forma de expressão do trabalho informal, fui a campo, pesquisar e entrevistar algumas prostitutas, acompanhado por um grupo de colegas da faculdade.

Deste interesse parti para leitura de autoras como Eva Alterman Blay, um livro editado pela Ática, intitulado Trabalho Domesticado, em artigos, de Heleieth Safiotti , a sua tese publicada em livro, A Mulher na Sociedade de Classes: Mito e Realidade, editado pela editora paulista Quatro Artes e os vários artigos espalhados pelos periódicos; lia Carmem da Silva (1919/1985), inclusive os artigos publicados na Revista Cláudia, filava a revista de minha madrinha.

Como profissional do livro, atuando em livraria no final dos anos 70, lidei com a produção de Heloneida, fui testemunha de um livrinho chamado “Mulher - Objeto de Cama e Mesa”, obra que alcançou milhares de exemplares vendidos e foi publicado pela Editora Vozes, na coleção “Cosmovisão”, com introdução de Lauro de Oliveira Lima, educador cearense e autor de um título da mesma coleção.

Em 78 cravei meu voto em Heloneida como deputada estadual pelo antigo MDB, depois votei mais tarde quando passou para o PT, recordo que havia um escritório de sua campanha como deputada na Avenida Copacabana, próximo da Rua Prado Júnior, estampado com a cor rosa que a identificava. Tive como colega um dos assessores de Heloneida nos anos 70.

No momento tenho dois livros de Heloneida, um é O Pardal é um Pássaro Azul, um romance editado pela Civilização Brasileira e o outro é o que está em exposição na Galeria da Quitanda. O Estandarte da Agonia, um romance editado em 1981, publicado pela Editora Nova Fronteira, com capa de Victor Burton. O livro é inspirado em Zuzu Angel e faz parte de uma trilogia que a própria autora definiu como da tortura, que compreende os títulos: O Pardal é um Pássaro Azul e O Torturador em Romaria, editado pela Rocco, nos anos 90. Acho que Heloneida nesta ausência foi conversar com Deus e vai ser uma conversa sem fim...






domingo, novembro 25, 2007

Deu nos classificados do jornal: Editora Vendo













Ontem, pensava na morte da bezerra, quando Marilene lia os classificados do jornal O Globo, leitura obrigatória para nós em busca de uns trocados para dar uma ajuda nas despesas. Ao abrir uma página nem sempre encontramos alguma coisa de compatível com o nosso perfil. Sabemos que a idade pesa um pouco nesta busca, às vezes são postas como barreiras de acesso para as oportunidades oferecidas pelo mercado. Continuamos na luta para conseguir este complemento, dentro de nossas limitações como profissionais.

Sou interrompido pela leitura de um anúncio encontrado por Marilene. Você conhece a Editora Nova Razão Cultural? Conheço, respondi. Está sendo colocada à venda. “Empresa de médio porte”, deste modo é identificada no anúncio. Não cheguei a conhecer a dona da editora, a escritora Clair de Mattos, sei que tem uma boa produção na área de literatura. Foi nos anos 80 que tive contato com um dos livros da escritora, nesta ocasião eu tinha a livraria Quarup, na Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema.

Freqüentava a minha livraria, a escritora e amiga Vera Moll, que lançava pela Antares o livro Teias de Aranha. Uma das poucas resenhas que escrevi, foi o seu livro, em um jornal de bairro de Ipanema. Em uma das nossas conversas mencionou o nome da escritora Clair de Mattos, que ela conhecia e que lançava um livro pela Antares. Lembro que fiz o pedido do livro de Clair pela Antares, aproveitei e comprei outros títulos da editora. Conheci, não lembro quem me apresentou a editora Maura Ribeiro Sardinha, uma das sócias da editora Antares, eu achava muito interessante o catálogo, que incluía alguns títulos premiados em literatura infantil, a editora era localizada na Rua Visconde de Pirajá, 82, depois parece que passou para o Jardim Botânico.

Vendi enquanto profissional do livro, alguns títulos de Clair de Mattos, não tenho muita certeza, se eu tive em mãos alguma obra de Clair, quando eu trabalhei pelas Edições Achiamé, do incansável editor Robson Achiamé Fernandes, mas lembro que ele fazia alusão a autora. Anos depois, quando voltei a morar em Copacabana, conheci uma livraria que Clair montou em Copacabana, altura do Posto 6, nos fundos de uma galeria. Uma loja espaçosa, mas com uma baixa freqüência de leitores/clientes, pelo menos foi o que constatei ao passar mais vezes pela loja. Tempos depois a livraria deixou de funcionar, cerrando as portas. Nos anos 90 fui distribuidor, criei a Obra Aberta, mas a Razão Cultural, depois, passou a ser Nova Razão Cultural, tinha um distribuidor. Fui também um dos compradores da Francisco Alves, Ipanema e Unilivros Cultural, em Ipanema, eu dava uma força para o autor nacional e comprava alguns títulos da autora.

Tempos depois de ter encerrado a distribuidora, fechei também a locadora Sagarana de fitas no Catete e parti em busca de trabalho, encontrei um anuncio da editora Nova Razão Cultural pedindo vendedores, me apresentei para o cargo, fui entrevistado em Copacabana, no oitavo andar, por uma moça que no decorrer da entrevista percebi que estava muito longe de ter um currículo igual ou parecido com o meu, mas detinha o poder de contratar um vendedor. Na conversa mostrei minha passagem como profissional do livro, terminada a entrevista, ficou de ligar, nunca ligou.

Fico chateado com pessoas que se acham o máximo no mercado de livros, arrogantes, que de posse de um cargo, ficam inchados. Não me foi dado nenhuma resposta, como um profissional experiente em vendas no varejo e no atacado; parece não preencher os requisitos para ser um vendedor de uma editora. Se fui, por exemplo: durante quatro anos vendedor da Paz e Terra, pracista no Rio de Janeiro de diversas editoras, criei uma distribuidora, e profissional com experiência na praça de São Paulo. Pior no caso da editora Nova Razão Cultural a pessoa que me entrevistou não conseguiu perceber se eu vendia em outras situações os livros da dona da editora, como não preencho o cargo para ser um vendedor pracista, são razões que desconheço.

Desconheço as razões que motivaram à venda da editora Nova Razão Cultural, prefiro apenas constatar que mais uma editora pode sair de circulação, o que é uma pena.



Alcir Dias: O artista nasceu em Jacarepaguá, em 1946. Formado em Belas Artes, professor do Colégio Pedro II, morador do bairro de Santa Teresa. Participou do Projeto no bairro da Lapa, em homenagem a Zumbi, intitulado "Celebração da Consciência Negra"organizado pelo Recordatório - Cultura, Educação e Artes









domingo, novembro 18, 2007

Papo sobre livrarias: descontos oferecidos













O mundo do livro sempre me despertou , desde garoto, uma curiosidade, uma vontade de me aproximar como leitor, pegar, examinar e ler. Em minha fase adulta, achei que poderia ingressar neste mundo, pela via comercial. Foi pela venda que dei os primeiros passos para a minha entrada neste universo. Circulei por algumas etapas nos diversos segmentos do mercado editorial, mas vou abandonar esta descrição, por estar inserida em muitos posts que publiquei neste espaço.

Na minha concepção, o blogueiro é uma atividade muitas vezes não remunerada, mas comungo da idéia de que é muito prazerosa e rica pelas oportunidades oferecidas. Uma das melhores, é a figura do leitor, seja na condição de anonimato ou da revelação de sua identidade, ou pelo espaço social que declara estar inserido. Eu identificava um leitor, aquele que tem por hábito a prática da leitura, a maneira de pedir um livro, seu conhecimento sobre livros, autores e até editoras, poderia haver outras configurações para o leitor, o de estar sempre comprando livros ou em busca de novidades. Sempre tive em mente respeitar o leitor, é o bem maior de quem atua com livros. Quando livreiro cheguei a emprestar livros, alguns foram convertidos em venda. Nunca criei dificuldades em vender livros, tanto para o leitor/comprador quanto para as livrarias quando fui proprietário da Obra Aberta.

Hoje quero comentar, a partir da leitura da coluna editada aos sábados no Segundo Caderno do jornal O Globo, de autoria do colunista Arnaldo Bloch, cujo titulo é: “Livreiros irados da Rio Branco.”publicado na página 12. Sua revelação de orgulho em ser carioca, está na existência da Livraria Leonardo Da Vinci, na Avenida Rio Branco, 185 localizada no sub-solo do edifício Marques de Herval, no centro da cidade.

A Da Vinci para inicio de conversa, é uma ótima livraria, com uma oferta variada de títulos; conheço como antigo profissional e leitor, os amplos espaços que ocupam os livros, melhor ainda, é uma livraria especializada em livros importados, com concentração na área de humanas. Em meu tempo de profissional do livro conheci bons vendedores, como: George Gould e Jorge Chaves naquela loja, tendo a frente à livreira Vanna Piraccini, proprietária da loja, que ainda tem como companhia os filhos. Recordo no momento o nome da filha Milena, soube que presidia a Associação Estadual de Livrarias (AEL-RJ).

A outra livraria que é mencionada no texto de Arnaldo Bloch é a livraria Camões, situada na parte lateral do Edifício Avenida Central, na Avenida Rio Branco 156, na verdade é localizada na Bittencourt da Silva, 12 especializada em livros portugueses, cujo responsável, é o livreiro José Manuel Estrela. A Camões é uma livraria pertencente à Imprensa Nacional Casa da Moeda de Lisboa, surgida entre nós lá pelos anos 70, criada com intuito de divulgar o livro e a cultura portuguesa. No momento em que chegava o jornalista, ele flagrou uma discussão de uma cliente com o livreiro, a respeito de desconto de 20% que pelas contas da cliente, não era deduzido em sua totalidade. Olhando daqui também concordo com a reclamação da cliente, se são 20% são 20% e não o arredondamento do valor do preço do livro em desconto, o que geralmente se atribui como o desconto oferecido. Em feiras do livro da época em que eu freqüentava nas duas condições, ou seja, de distribuidor ou leitor, fui testemunha desta prática em algumas barracas.

Pior do que este arredondamento está na conduta de diversos comerciantes de outros ramos em não devolver, não dar satisfação da inexistência de troco, quando o valor da mercadoria, é registrada pelos noventa e nove centavos. Algum sábio economista ou qualquer coisa semelhante convenceram os comerciantes, que a simples marcação em noventa e nove centavos, vai produzir no cliente uma compulsão incontrolável para consumir e nesta condição nem exigirão troco, aceitarão como normal, não ligarão que estão desrespeitando você, como consumidor. Ficam felizes por encontrarem mercadorias que possibilita a falta de troco.

Se há falta de troco por que insistir nesta prática generalizada que em principio para mim é desonesta. Eles mesmos não respeitam o valor anunciado, alteram e desprezam os centavos. Acham por bem passarmos enquanto consumidores por esta situação constrangedora, ou de sovina por cobrar o troco. Qualquer reclamação neste sentido ganha ares de censura de seu interlocutor que por sua vez ganha adeptos de seus pares, auxiliando com risinhos e deboches.

Não entro no mérito da cliente da livraria Camões em identificar o hábito praticado pelo livreiro como se fosse uma conduta do carioca, embora a identidade do livreiro, seja portuguesa. Acho que expõe uma conduta do comerciante, no meu entendimento de quem quer ganhar vantagens sobre o outro, mesmo que gere perda do leitor-consumidor-cliente. Uma das falas da cliente provocou no jornalista uma reação, como intervenção na situação em que envolvia o desconto, ele se viu afrontado quanto a concepção de judeu construída pela mulher, que parece ser nordestina, apontava como protagonistas destas cenas, a identidade do comerciante como judeu.

Arnaldo saiu dali, deixou os dois e voltou a Leonardo, para comprar o livro que motivou sua ida à livraria. Entregou o livro nas mãos da vendedora que ele classifica como uma das principais da casa. Dali para o diálogo estabelecido entre a vendedora e o jornalista, foi de um clima de desconfiança e de ira. Chegou o jornalista ser advertido por quem o atendeu que não tinha recebido o dinheiro pago pela compra do livro, indagando se ele pagou, o jornalista apontou onde tinha deixado o dinheiro, que ficou a frente do caixa.

Arnaldo neste caso, também como cliente está certo, se o livro havia dobras “esses sulcos feitos” por algum motivo segundo o autor, a melhor vendedora, se não tivesse autonomia para oferecer um desconto maior, conversaria com a proprietária mostrando as condições do livro e o desconto maior para ele, acredito seria oferecido. Antigamente algumas livrarias cediam para clientes especiais e sob forma de exame, levar livros com prazo para devolução. Há clientes que compram o livro e depois, devolvem alegando não ser este o livro.

A diminuição do valor do livro, geralmente afeta quem ganha comissão nas vendas. O livro pretendido por seu estado levaria a mesma situação que o jornalista passou, ao próximo cliente ao fazer a compra, ele solicitaria desconto, caso contrário, se houvesse negativa, ficaria estacionado na prateleira. Tudo depende da postura da livraria e do cliente.

Umas das condições do livro danificado ser comercializado pode acontecer se a edição estiver esgotado, neste caso o poder do comerciante (livreiro) pode prevalecer.Sou um sujeito com anos de estrada no mercado de livros, é de praxe entre os livreiros quando os livros estão comprometidos com alguma falha, se o cliente concordar em levar o livro, oferecer desconto maior. Claro que o livro importado requer mais trabalho, se foi um problema de acondicionamento no frete, poderia haver devolução para a editora. Recebia enquanto distribuidor, livros desta forma, tratava de imediato fazer a troca. Eu pegava o livro, trocava e depois passava pela livraria e deixava o novo livro. E a vida seguia.




Hermelindo Fiaminghi: Artista gráfico, pintor, desenhista, litógrafo, publicitário, professor, crítico e empresário; paulista nascido na capital, em 1920. Começou em 1935 como aprendiz de litógrafo na Editora Melhoramentos. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios, entre os de 1936 e 41. Conheceu Lothar Charoux. Trabalhou em indústrias gráficas, integrou o Grupo Ruptura, liderado por Waldemar Cordeiro.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Distribuidores de Livros: Uma Obra Aberta













" Um país se faz com homens e livros"

“Entre os mais humildes comércios do mundo está o do livreiro. Embora sua mercadoria seja á base da civilização, pois que é nela que se fixa a experiência humana, o livro não interessa ao nosso estômago nem a nossa vaidade. Não é portanto compulsoriamente adquirido. – O pão diz ao homem: ou me compras ou morres de fome; - O batom diz á mulher: ou me compras ou te acharão feia. E ambos são ouvidos. Mas se o livro alega que sem ele a ignorância se perpetua, os ignorantes dão de ombros, porque é próprio da ignorância sentir-se feliz em si mesma, como o porco com a lama. E, pois o livreiro vende o artigo mais difícil de vender-se.

Qualquer outro lhe daria maiores lucros; ele o sabe e heroicamente permanece livreiro. E é graças a esta generosa abnegação que a árvore da cultura vai aos poucos aprofundando as suas raízes e dilatando a sua fronde. Suprimam-se o livreiro e estará morto o livro – e com a morte do livro retrocederemos á idade da pedra, transfeitos em tapuias comedores de bichos de pau podre. A civilização vê no livreiro o abnegado zelador da lâmpada em que arde, perpetua, a trêmula chamazinha da cultura”.
Monteiro Lobato.
Hoje resolvi publicar, ou melhor, reproduzir o texto acima, mas confesso que não consegui identificar em qual publicação de Monteiro Lobato imprimiu esta definição de livreiro. Lembro que em forma de folheto, ganhei da ABL (Associação Brasileira do Livro) à época em que eu atuava em feiras de livros nas praças públicas de minha cidade. Quando li na ocasião, no inicio dos anos 80 e foi na data de nascimento (18 de abril) de Monteiro Lobato que a entidade que controla a feira do livro distribuiu o folheto para os participantes da feira na Cinelândia, Apareceu o livreiro Santana, dono de um sebo na Visconde de Inhaúma, próximo ao Colégio Pedro II , sempre trajando camisa social e gravata, talvez por representar a classe, era o presidente da associação de livreiros. Não sei qual o tempo em que presidiu e foi por muitos anos e nem a data de seu falecimento. E foi apenas deste modo, que largou a presidência da entidade. Foram criados movimentos de oposição e não obtiveram êxito; alguns deles foram cooptados,com cargos de direção.
Atuei na feira em barracas das Edições Graal e Achiamé no anos 80, na maioria das praças em que eram realizadas as feiras, que tinham por obrigação oferecer 20% de desconto para o consumidor, uma exigência da associação para que se pudesse utilizar as praças. Todas as barracas pagam um preço para expor na praça, que é cobrado pela entidade e que há variação de valor em função da praça. Há também um pagamento como filiação a entidade. Quando fui distribuidor no inicio dos anos 90, o dono da Irradiação Cultural, uma das maiores distribuidoras de livros no Rio, (uma soma imensa de editoras para fazer a distribuição) o que se poderia chamar de "concorrente" engavetou minha proposta de associado, usou das armas que dispunha para atingir um profissional do livro. Não teve a percepção de que o mercado não tinha dono, e achava que ele era um dos poucos a ter este privilégio e não permitia quem quisesse montar um negócio e trabalhar no ramo do livro. Eu que vim do livro, tenho toda a trajetória ligada ao ramo editorial. Como não havia muita editora com exclusividade de distribuição, estaria nesta condição aberto para quem tivesse distribuidora, oferecer na praça as editoras que representava. Havia casos em que editoras insatisfeitas com o gigantismo da distribuidora, abriam para outras distribuidoras.Era comum editoras possuírem na praça de uma mesma cidade outro distribuidor. Eu particularmente não aconselhava, cria um ambiente de desconforto e confusão para o livreiro. Creio que alguns editores gostavam de estimular esta concorrência, viam o circo pegar fogo. Vendi sempre muito bem, havia uma editora que eu vendia muito e tinha um perfil universitário com ótimos títulos em catálogo, era a Unesp. Fui atingido pela inadimplência. Cheguei a distribuir cerca de 50 editoras. Com a crise do mercado editorial algumas distribuidoras foram perdendo o gás, tanto eu (Obra Aberta) quanto a Irradiação Cultural, cerramos as portas. Uma distribuidora arca com a maioria das despesas da comercialização como frete, entrega da mercadoria para as livrarias, funcionários, todas as despesas de ecritório, passagens, tudo sobre os seus encargos, Fica muito difícil de sobreviver uma distribuidora, com 50% ou um pouco mais, dependendo do editor e fazer uma praça e repassar o desconto para as livrarias com 40%. Uma margem para trabalhar em torno de 10%. Nem sempre os livros de um catálogo circulam com rapidez. Muitos lançamentos não são repostos pelos livreiros. Vi livreiros que vendem os livros e criam a maior dificuldade em repor. Meus livros em estoque foram todos sob faturamento, não recebi sob consignação, embora, em alguns casos, eu enviava consignação para os livreiros. Volto ao papo em próxima oportunidade.

sábado, novembro 03, 2007

Quarup: Uma livraria de resitência










Em maio de 1983 fui entrevistado por Mara Caballero (1950-2003) pelo Caderno B do Jornal do Brasil. Ela fazia uma matéria sobre livrarias da zona sul, ou melhor, em Ipanema e Leblon. Lembro que expus minha preocupação com a sobrevivência da Quarup, localizada em um centro comercial de Ipanema. Quando a jornalista entrou, reiniciava a leitura antes interrompida de Maternidade e Sexo, de autoria de Marie Langer (1910-1987) psicanalista austríaca, naturalizada argentina e publicado pela Editora Artes Médicas, uma casa publicadora situada em Porto Alegre, surgida nos anos 70. A Artes Médicas Sul (Artmed) no meu entendimento como livreiro, sinalizava uma ótima produção editorial. Gostava da editora, publicava textos de educação, psicologia, psicanálise e áreas afins. Um ótimo catálogo com alto padrão de qualidade editorial. Sempre dei preferência para editoras com fundo editorial ou, as pequenas editoras progressistas, embora, em pouco número, faziam minha cabeça. Eu olhava desconfiado para editoras que se aproximaram como colaboradoras do IPÊS, o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, fundado em 1961, situado em 13 salas do Edifício Central, na Avenida Rio Branco, 156. Contando com a participação dos empresários e fundadores como: Antonio Gallotti ligado a Light e Augusto T de Azevedo Antunes da Caemi, com colaboração de escritores como José Rubem Fonseca, editores como Augusto Frederico Schmidt e dirigido também por Golbery do Couto e Silva. O grupo se alinhava a ideologia direitista presente em vários grupos sociais, com o propósito da derrubada do governo Goulart.

Interrompi mais uma vez minha leitura, quando Mara começou a fazer perguntas sobre as livrarias da zona sul. Minha livraria, aliás, comecei com dois sócios que depois abandonaram o barco. Dois exilados que voltaram ao Brasil e estavam dispostos a abrir uma livraria na zona sul. Juntou então a fome com a vontade de comer. Conheci os dois, Rogério e Jaime, quando trabalhávamos na Editora Achiamé, do meu querido Robson Achiamé Fernandes, que antes de montar sua editora, passou pela Editora da Fundação Getulio Vargas, como coordenador editorial. Gostava muito da Achiamé que começava a despontar com um bom catálogo na área de ciências humanas. Em sua produção editorial havia meus antigos colegas e professores do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Na ocasião eu atuava na área de divulgação editorial; circulava entres os departamentos das universidades, para apresentar as novidades e falar a respeito dos catálogos das editoras. Fui antes de montar a livraria, divulgador editorial como: Graal, Paz e Terra, Brasiliense, Hucitec, Summus e muitas outras editoras.

A Quarup foi criada logo após a inauguração da Dazibao em uma galeria. Nos anos 80, as pequenas livrarias estavam escondidas em centros comerciais. Com a minha formação de sociólogo, e os dois sócios exilados políticos, era o suficiente para dar uma tintura de esquerda para a livraria. Um ledo engano, não eram significativas à procura por livros de ciências sociais em uma área nobre da zona sul, havia uma tendência para área psi e de comunicação. A livraria de alguma forma abria espaços para formas alternativas de expressão, como a poesia intitulada de marginal. Nós viemos de experiência partidária. Quando os sócios saíram resolvi dar um outro desenho para a livraria. Concentrei na área psi e posters de Che, Chaplin, posters-poemas editados pela Civilização Brasileira, como os de Moacyr Felix, Ferreira Gullar, Thiago de Mello e outros poetas. Poesia e jornais alternativos, literatura infanto-juvenil, as ciências sociais, literatura brasileira compunham o acervo da livraria.

A morte da livraria começou a ser anunciada desde a sua inauguração, a opção em decorrência da grana foi estabelecer em um andar elevado e foi o determinante, uma vez que por falta de visibilidade e com pouca clientela, não era o suficiente para manter a livraria aberta. Clientes leitores-compradores davam preferência as livrarias localizadas em beira de rua. Nesta época lembro de algumas localizadas na rua: Francisco Alves,na Farme de Amoedo 57; Unilivros de Jorge Ileli, seu gerente Mario Jorge Matos em Ipanema, as lojas no Leblon, uma delas era sob os cuidados de Jorge Brito; Taurus no final do Leblon, do editor e livreiro Jorge Bastos, Tempos Modernos do Leblon, com filial em Recife, StudioLivros inspirada no modelo da Unilivros, com o mobiliário feito pelo mesmo carpinteiro. A Studio do livreiro Durval Garcia, ex-sócio da Entrelivros, com passagem pela Embrafilmes e assessorado pelo amigo jornalista e critico de cinema Valério Andrade para a gerência de vendas. A Studio deu de abrir filiais em diversos bairros.

Continua.



sábado, outubro 20, 2007

Uma contribuição para o mercado livreiro.















O texto que publico neste espaço foi feito com o propósito de contribuir mesmo de modo tímido para a discussão do mercado de livros. A intenção de participar de um tema em que as pequenas livrarias estejam à beira da morte, partiu de uma leitura do Blog do Galeno que abordava o assunto com base em uma discussão que passava pela Associação Nacional de Livrarias (ANL). Imagino que eu esteja de alguma forma credenciado para participar de tais debates. Minha trajetória profissional está estritamente vinculada ao mercado livreiro, com características singulares de ser aqui no Rio de Janeiro, um profissional com nível superior e com passagens em diversos segmentos do mercado de livros. Trabalhei como vendedor em lojas, fui divulgador editorial para o segmento de universidades, trabalhei como barraqueiro (feiras de livros em praça pública), em estandes da bienal do Rio e São Paulo, fui proprietário da livraria Quarup (livreiro) em Ipanema, montei a editora e distribuidora Obra Aberta,com perfil universitário, atuei assessorando livraria, como a Poiésis de Denise Emmer, vendedor pracista da Editora Paz e Terra/Graal na praça do Rio de Janeiro e São Paulo, pracista de editoras e distribuidoras na cidade do Rio de Janeiro, atuei por um tempo como vendedor de sebo (livraria de livros usados) que até pouco tempo, era o único espaço em que não tinha experiência no mercado de livros.

Desde a criação da Quitanda o tema mercado de livros sempre esteve em pauta, mesmo que tenha sido produzido de modo esparso. Abordo o momento em que atuei no meio do livro, com assuntos concebidos por um viés de escritos baseados em observação e fragmentos da memória, naturalmente com os vínculos de minha experiência. Esta reconstrução da memória tem sido para mim um exercício, um desafio. Extraio assuntos pertinentes ao universo livreiro, que sejam de minha intimidade e gosto.Não me proponho a fazer resenhas de livros, cabe a um profissional mais qualificado, com as ferramentas de análises que eles optarem. O que está em exposição neste espaço foi um texto que foi inserido no Blog do Galeno sob forma de comentário.
A criação de meu blog, foi a verdadeira via que me abriu possibilidades como autor poder escrever o quer der na telha, claro que dentro da ética. Não tenho a preocupação imediata com um público, interesso sim, por leitores, aqueles que usando a curiosidade e uma lupa encontraram e identificaram este blog como veículo para a história do livro, de livrarias e editoras.Sei que a midia impressa não acolheria com interesse o que escrevo e os cadernos culturais tampouco, estes me parecem alinhados as grandes editoras e aos melhores autores, é disto que sobrevivem. Sempre ignoraram qualquer palavra de um pequeno livreiro ou pequeno editor. Nunca li durante este tempo, qualquer entrevista com um distribuidor ou pequeno livreiro sobrevivente no mercado de livro. Torço para que um dia qualquer e de um ano qualquer, jornalistas saiam um pouco das redações e circule pelos bairros a procura de pequenos livreiros antes que eles acabem.
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Acho que o segmento mais atingido durante longas datas, são os pequenos livreiros, verdade que muitos estão em processo de extinção. Com isto é atingida a figura do livreiro, um profissional dedicado ao livro, ao seu conhecimento, acervo e muitas vezes também sua clientela. Hoje parece que há um encantamento da mídia, de alguns segmentos da clientela com as megaslivrarias, estão seduzidos pelas variedades de produtos culturais oferecidos.Convém ressaltar que estão certas, conseguiram se modernizar e acompanhar os novos desejos de consumo dos leitores.

Lembro que nesta cadeia de vendas e circulação dos livros, outras categorias estão sujeitas a extinção, como distribuidores, pequenos editores e um profissional do livro sempre esquecido que é o vendedor pracista; algumas editoras preferem ignorar este profissional, deletando os das relações comerciais do mercado. Tenho uma longa trajetória no mundo dos livros e fui por muitas vezes testemunha das dificuldades de sobrevivência de alguns segmentos do mercado. Eu mesmo fui envolvido como distribuidor no Rio de Janeiro de editoras universitárias, em uma crise que atingiu livrarias, distribuidores, grandes e pequenos e editoras, que foram contaminadas pela crise vivenciada nos anos 90. Aqui no Rio , distribuidores foram fechando quase que um após o outro. Hoje mudou um pouco, livrarias assumiram o papel de duble,ora são livrarias, ora são distribuidoras e gozam do descontos destinados aos antigos distribuidores. Acho pelo que conheço muitas pequenas editoras nem se aproximam das megalivrarias Quem conhece livro, de imediato fotografa uma grande rede e percebe a ausência de diversas editoras.

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Aldo Bonadei : Aldo Cláudio Felipe Bonadei, nascido em São Paulo, em 17 de junho de 1906 e falecido em São Paulo, em 16 de janeiro de 1974. Pintor e destacado participante do Grupo Santa Helena.Pintor autodidata, manifestou seu interesse por pintura desde garoto, Pioneiro da arte abstrata Em suas atividades atuou como poeta, na moda e no teatro.Nos anos 50 atuou como figurinista na Companhia de Nidia Licia. Artista premiado em diversos salões de arte, presente em exposiçoões em nosso país e no exterior. Foi lançado um livro sobre o pintor, de autoria de Lisbeth Rebollo Gonçalves, volume da Coleção Debates, nº 232, da Editora Perspectiva, na série Artes, cujo título é: Aldo Bonadei: O percurso de um pintor. Lisbeth é também curadora da obra de Bonadei, promoveu no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, uma homenagem aos cem anos de Bonadei, em outubro. Fonte de consulta: Jornal da USP, artigo assinado por Leila Kiomoura, O texto da Profª e Drª Daisy Peccinini, FAAP


segunda-feira, outubro 15, 2007

Pequeno livreiro - um ser em extinção.














Não tenho visitado as novas livrarias, portanto, desconheço as modernas livrarias que aliadas ao bom gosto, combinam com inovações arquitetônicas, criando em seus espaços territoriais, novos lugares de sociabilidade no interior destas lojas. Parece que tem havido boa receptividade, dada a acolhida que a mídia faz sobre estas novas ou antigas livrarias convertidas em modernas. Os jornalistas efusivos reverenciam este novo comportamento no mundo dos livros. O consumo de livros parece existir apenas nos novos espaços, a impressão que passa vende-se livros como água, para usar uma expressão antiga do mercado editorial, onde são promovidos lançamentos, palestras e badalados eventos; veiculando que aquele local é o da moda. Fora dali, autores e leitores estão alijados do espaço cultural. Livreiros e editores de outros estados enaltecem a beleza desta ou aquela livraria. Creio que há uma boa disputa para ganhar visibilidade e conquistar algum quinhão no novo templo da cultura.
Algumas trataram de agregar uma concepção de grandeza aos seus novos espaços, batizando como megalivrarias. Contratam um pessoal qualificado para atender e consultar o terminal, constata-se que poucos possuem intimidade com a leitura, ou mesmo o livro em seus diversos formatos, casa publicadora, assunto ou autor. Os tempos mudaram, na verdade são outros, desarrumaram o conceito tradicional de livrarias, substituindo talvez pelos sofisticados supermercados da cultura, tal a diversidade oferecida, como dvds, cds, papelarias, exposições de artes e poltronas confortáveis. Não percebi com clareza se diminuiu os espaços de exposição ocupados pelos livros, até mesmo por limitações físicas de um imóvel, acredito que sim.
Acho que o livreiro deve encontrar os meios de sobrevivência, diversificando sua comercialização, procurando alternativas além das convencionais, oferecendo novas opções e produtos, se há público para tanto, que vá em frente.
Com minha experiência por mais de 20 anos, fui também livreiro posso dizer que a presença de público nas livrarias nem sempre é traduzido por compradores-leitores, muitos aparecem para ver as novidades e serem vistos, outros simplesmente apareciam para dar uma lida em algum livro. Eu identificava alguns leitores deste tipo, volta e meia, apareciam, liam e saiam, raramente compravam.
O que me leva a pensar, se conheço um pouco do mercado de livros, será que alterou tanto o comportamento dos leitores para que surjam cada vez mais livrarias desta natureza, para citar algumas, como: Livraria Cultura, Saraiva, Fenac, Argumento e Travessa. Deixo claro que não invalida a idéia que tenho delas como boas livrarias para determinados segmentos do mercado.
Sei que no passado muitas lojas tradicionais ou não, que vendiam apenas livros, passam hoje por situação preocupante, claro que não afeta a todas. Por um lado fico muito contente, melhor termos livrarias do que os templos religiosos e outros tipos de comércio.
Lembrei neste momento de Jorge Ileli, um dos maiores livreiros do Rio de Janeiro. dono da Unilivros Paulista, uma livraria na Barão de Itapetininga em São Paulo; famoso também por ser cineasta, dono da Entrelivros e Unilivros, sendo que possuía os melhores pontos de lojas da cidade, muitas delas bem amplas, como a do final do Leblon, que acabou sendo vendida nos anos 80 para a Drogaria Popular. Todas durante os anos seguintes foram vendidas, deixaram de existir até a segunda metade dos anos 90.
Convém registrar que no Rio e em Niterói, algumas boas livrarias que combinavam uma versão moderna, oferecendo um café no interior da loja como a Pasárgada, na praia de Icaraí, em uma casa de esquina, em Niterói; pertenceu ao ex-Secretario de Cultura de Niterói, livreiro, professor e pesquisador Aníbal Bragança, pioneiro em dividir estes espaços de sociabilidade. O livreiro Anibal foi um grande gerador de leitores, formador de um público ávido pela cultura e de um bom papo com um livreiro que conhece do oficio, desde dos anos 60 com a criação da livraria Encontro. A livraria Pasárgada de Aníbal estimulou iniciativas, como a Bookmarker na Gávea da livreira e jornalista Edna Pallatnick, seu espaço no fundo da loja, ou a Argumento de Marcus e Laura Gasparian, com a inauguração do Café Severino, um espaço gastronômico surgido na segunda metade da década de 90, quando a Argumento assume a antiga biblioteca do Leblon, ou a Marcabrú de um dos maiores críticos de literatura, professor, autor e livreiro Luiz Costa Lima, seu filho e a mulher Rebeca.
É verdade que preciso sair em tour pelos bairros conhecer as livrarias revestidas com as novas roupagens, dividindo os espaços com outros bens culturais de consumo. Acredito que hoje seja mais fácil de vender dado aos inúmeros atrativos sempre sedutores oferecidos para os leitores e congêneres, freqüentadores das livrarias. Lojas expandiram, houve investimento, como a LaSelva, Nobel, em compensação circula boatos de que a poderosa rede de livrarias Siciliano por uma questão de conflito doméstico pode ser passada adiante.
Na condição de ter experiência como pracista de editoras de ponta no mercado livreiro e ter sido distribuidor de livros de editoras com perfil universitário no mesmo mercado, fico muito confuso com este novo quadro que se apresenta dentro do panorama da venda de livros.
Um dado importante, o nível do consumo de leitura per capita por ano, é apenas para sermos generosos de 1 (um) exemplar para quem tem domínio da leitura e escrita em nosso pais. Megalivrarias sem dúvida despontam com sucesso, mas as pequenas livrarias que são importantíssimas neste elo de consumo e criação de leitores adultos, jovens e crianças muitas assumem um caráter individualizado no atendimento podem por desestímulos, encerrando seus ciclos de existência.
Acho que uma livraria deve ter uma concepção plural no atendimento. A figura do livreiro está diluída nas grandes redes, em espaços suntuosos; o antigo livreiro, conhecedor muitas vezes dos livros que compõe o seu acervo, desapareceu para dar lugar as sorridentes atendentes. Sobreviventes os pequenos livreiros e editores vão tentando arrumar novas formas de vendas, ganhando fôlego como podem, mesmo que percam os ares de livrarias de bairro.
Estou preocupado com a nova geração de leitores surgidos nas escolas principalmente as públicas, basta não saber ler que tem garantia de aprovação. Serão estes os futuros leitores? Se alguns com a mínima intimidade e interação com a leitura ou com os livros, passam a léguas de distância de uma livraria, o que podemos esperar deles?
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Francisco da Silva: Francisco Domingos da Silva, nascido em 1910, no Alto Tejo/Acre e faleceu no Ceará em 06 de dezembro de 1985- Sapateiro, Pintor, Desenhista e Ajudante de marinheiro.
Fonte de Consulta: Acrilica sobre tela. uma boa página sobre pintura brasileira

sábado, outubro 13, 2007

Quitanda : Uma Página sobre o Mundo do Livro.













Hoje sonhei que estava em uma livraria, não identifiquei o nome, apenas que tinha um enorme acervo de publicações de editoras brasileiras. Despertei com a imagem de ter atendido uma professora universitária e pesquisadora gaúcha, da obra de Monteiro Lobato. Procurava, me confidenciou, há muito tempo pelo biógrafo de Monteiro Lobato, para a sua surpresa, informei que a loja tinha um exemplar dos dois volumes da biografia. Está ali, a sua espera,apontei a sua localização no canto inferior da estante. Abriu um largo sorriso de felicidade. Informei o preço, achou barato, realmente estava. Com todo cuidado, como se estivesse achado uma pedra preciosa e rara, decidiu que levaria. Deixou pra mim um sorriso de agradecimento.
Deu tempo para conversar por alguns minutos sobre Monteiro Lobato. Disse que desde de garoto, fui leitor de Monteiro Lobato e que ganhei de presente de minha madrinha. Assim começou minha grande admiração e foi tanta que cheguei por um momento na época em que fazia ciências sociais, a iniciar uma pesquisar sobre a obra deste grande escritor. Falei que um dos meus professores do IFCS, o mestre Aluizio Alves Filho tinha a intenção de fazer uma pesquisa sobre a identidade de Jeca Tatu; que posteriormente foi editada sobre a forma de livro, com o título Metamorfoses de Jeca Tatu, editada pela Inverta, em 2003, que acabei vendendo para a pesquisadora.
O livro está tão presente em minha vida, em meu inconsciente, que acabei por decidir que este espaço fica dedicado ao livro e ao seu mundo. Para outros textos de minha parca produção intelectual, criei o blog Esquinas do Tempo.
***************************Edgar Cavalheiro (1911-1958) é considerado como o principal biógrafo e muito amigo de Monteiro Lobato (José Bento Monteiro Lobato, 1882 -1948) um dos nossos maiores escritores e pioneiro na publicação e distribuição de livros em nosso país. Edgar, autor de Monteiro Lobato: Vida e Obra em dois volumes, publicado em 1951 pela Brasiliense, com cerca de 900 páginas, posteriormente em 1955, foi editado pela Companhia Editora Nacional; estudioso da obra de Fagundes Varella (1841-1875), com edição pela Livraria Martins Editora, com ilustração de Belmonte (Benedito de Bastos Barreto, 1896-1947, um dos colaboradores do vespertino jornal paulista Folha da Noite, criador do Juca Pato, um dos nossos maiores chargistas). Juca Pato passou a ser uma premiação literária promovida pelo jornal Folha de São Paulo e a União Brasileira de Escritores (UBE), surgida em 1962. Seu primeiro contemplado foi Afonso Schmidt (1890-1964) como intelectual do ano.

Cavalheiro, participou da formação do conselho editorial da Revista Brasiliense, editada pelo historiador e editor Caio Prado Junior; junto com Raimundo de Menezes (org) publicou Histórias de Crimes e Criminosos - Uma Antologia de Contos Brasileiros, editado pela Companhia Distribuidora de Livros, São Paulo, 1956, 344 páginas, ilustração do artista italiano radicado em São Paulo, Mick Carnicelli (1893-1967). Uma de suas obras, Panorama da Poesia Brasileira, vol. II (Romantismo) foi editada pela Civilização Brasileira, em 1959. Obras primas da lírica brasileira, com notas de Edgar, publicado pela Martins, em 1957. Em parceria com Almino Rolmes Barbosa, criou uma série de antologias. Em Obras Primas da Lírica Nacional, seu parceiro foi Manuel Bandeira. Em 1944 foi autor de Testamento de uma Geração, livro de entrevistas com escritores modernistas. Prefaciou diversas obras de Monteiro Lobato. Publicou em 1955, a Correspondência entre Monteiro Lobato e Lima Barreto, editada pelo Serviço de Documentação do Ministério da Cultura. Edgar teve o seu nome ligado a uma premiação do Instituto Nacional do Livro, sendo um dos contemplados o historiador Sergio Buarque de Holanda, em 1958, com o livro “Caminhos e Fronteiras”, publicado em 1957, pela José Olympio.
Edgar presidiu a Câmara Brasileira do Livro, pela Editora Globo, no período de 1955 a 1957. Criado em 1958, como projeto de Edgar, o troféu Jabuti, foi desenvolvido por seu sucessor, o editor Diaulas Riedel, proprietário da Editora Pensamento. A mais tradicional e prestigiada premiação promovida pelo mercado editorial sob o patrocínio da CBL. Com o propósito de divulgar escritores, editores, livreiros, ilustradores e gráficos. O troféu foi criação do escultor autodidata Bernard Cid de Souza Pinto, ganhador do concurso em que disputaram 32 escultores de São Paulo. O primeiro ganhador do Jabuti, foi o escritor Jorge Amado, na categoria de romance com o livro Gabriela, Cravo e Canela, em 1959, editado em 1958 pela Livraria Martins Editora de São Paulo.

*Tikashi Fukushima - Pintor nascido no Japão, na cidade de Fukushima, em 1920 e faleceu em São Paulo, em 2001. Migra para o nosso pais em 1940, para a cidade de Pompéia e Lins, cidades no interior de São Paulo. No ano de 1946, muda para o Rio de Janeiro e passa a freqüentar a molduraria de Kaminagai, em Santa Teresa. torna-se seu assistente e aluno. Aprendeu a fazer moldura No período seguinte, na condição de ouvinte é aluno da Escola Nacional de Belas Artes. De volta a São Paulo, em 1949 criou uma oficina de molduras no bairro do Paraiso, no Largo Guanabara (Hoje - Estação do Metrô Paraíso). Ponto de encontro de artistas japoneses e "estrangeiros", como Arcanjo Ianelli. Criou o chamado Grupo Guanabara, nos anos 50. O artista deu importante contribuição ao panorama da arte Nipo-Brasileira. Membro de Comissão de Artes Plásticas da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e da Comissão de Artes da Fundação Brasil-Japão de Artes Plásticicas. Seu filho Takashi Fukushima (1950) é bem atuante, solicitado para exposições coletivas em nosso pais e no exterior. As obras dos artistas, pai e filho podem ser examinadas na web, algumas das fontes estão citadas abaixo. Vale a pena, para maiores detalhes e pesquisas.
Fonte de Consulta: James Lisboa - Escritório de Arte // Pitoresco (texto de Paulo Victorino) Anuário Artes&Artistas Ivo Zanini
Imagem exposta : Chuva, Leblon - óleo s/ papel






segunda-feira, setembro 24, 2007

Não fui à Bienal do Livro.

Não fui à Bienal do Livro. A falta de grana foi determinante para que a minha vontade fosse relegada, deixada de lado. Quem sabe, da próxima vez, aqui mesmo no Rio de Janeiro, naquele distante Rio Centro, reúna melhores condições financeiras e consiga finalmente fazer uma visita, comprar alguns livros que me interessam e rever pessoas conhecidas da época em que eu trabalhava com livros.
Mas o hábito de leitura permanece, leio o jornal e os livros acumulados que separo para uma leitura imediata. Tenho a mania de juntar os livros que pretendo ler, deixando-os em pilha, tortas, é verdade. Uns vão passando a frente de outros, assim por diante.
Pela manhã, como sempre faço, folheando o jornal O Globo, ao ler a coluna de Joaquim Ferreira dos Santos, encontrei uma nota a respeito da Editora do Autor, que desfazia de livros, de um galpão e uma referência aos antigos donos da editora. Citava Rubem Braga e Fernando Sabino, mas esqueceu de Walter Acosta. Pensei em escrever para o ilustre jornalista, informando da ausência de um dos sócios, mas abandonei a idéia. No entanto, no dia 21 de setembro, o jornalista reescreve a nota e coloca o nome do sócio ausente na nota anterior, desta vez grafando em negritos o nome de Walter Acosta. Melhor assim. Devem ter lembrado ao jornalista o nome do outro editor e que permanece até hoje com a editora. Walter continuou com a editora, Sabino e Rubem Fonseca se desligaram da sociedade, que durou cerca de sete anos. Sabino e Rubem Braga criaram a Editora Sabiá, que produziu quase cem livros. A editora chegou a ser sediada em Copacabana, no final dos anos 60, mais tarde nos anos 70, o seu catálogo foi incorporado à Editora José Olympio.
Fico contente por mais uma edição da bienal, a XIII Bienal Internacional do Livro, ter conseguido mobilizar um número imenso de público, que a cada ano, aumenta a freqüência. Muitos editores apontam que o pessoal que circula pelos estandes não traduz ou efetivamente produzem vendas. Concordo! Acho mesmo que são mais visitantes do que consumidores de livros, muitos vão para assistir palestras, outros, acredito que um número menor, compareça apenas para encontrarem com artistas, de preferência, atores globais. Lembro da presença de Xuxa e Castrinho em bienais passadas. Parece-me um efeito espuma. Há sempre recorde de público. Segundo a mídia estandes lotados. É verdadeiramente uma festa literária. Autores, público (estimado em 245 000), editores e livreiros comungando dos mesmos interesses.
Vi em foto publicada no jornal em matéria sobre esta bienal, uma livraria que trabalha com ponta de estoque, na verdade, um sebo, o sebo Beta de Aquarius do livreiro Antonio Augusto Seabra. Dono de um ótimo sebo na Rua Buarque de Macedo. Deve ter logrado sucesso, livros “novos” entenda, como ponta de estoque, com preço compatível com o bolso da ampla maioria dos consumidores de livros em nosso país.
Bienal também é espaço para chiadeira, editores e livreiros, são protagonistas deste cenário. Desta vez, li sem nenhuma surpresa que o livreiro, o badalado livreiro de origem ipanemense, reclamava que os editores davam descontos nos livros, provocando uma “sangria nas livrarias”. Achei estranho quando li, pois o livreiro Rui Campos, participou de bienais e até das feiras de livros nas praças de nossa cidade que oferecem desconto de 20 % , causando um desconforto em livreiros ao redor das feiras. Deve estar viciado em reclamar, pois, há tempos em que a bienal em fim de feira, faz este tipo de promoção. Acho mesmo muito legal estas promoções dando oportunidade de leitores se aproximarem de editoras e de seus catálogos, melhor ainda, com preços acessíveis.
Há livreiros que recusam diversas editoras, basta para isto, não corresponder aos prazos e descontos que impingem, para ter este ou aquela editora. Um livreiro que alcança um bom número de filiais é um forte candidato a estas exigências do mercado. Esta relação do mercado, livreiro e editor, muitas vezes, é deletada a figura do vendedor, pelas novas negociações entre as partes. A figura intermediária, que representa editoras, também é excluído desta relação, o chamado distribuidor. Um segmento por força das novas relações encontra-se em fase de extinção, livrarias assumem este papel, o duplo papel de livraria e distribuidor, um grande negócio. Volto a conversar em próxima oportunidade. Um abraço.
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Quirino Campofiorito - Nasceu em Belém, Estado do Pará, em 1902 e faleceu em 1993. Imagem: O Tempo, 1989, óleo sobre tela. (Coleção Italo Campofiorito - filho do artista) Foi casado com a artista plástica, ceramista, tapeceira Hilda Eisenlohr Campofiorito (1901/1997) . Em Niterói há no espaço Paschoal Carlos Magno, duas galerias em homenagem aos artistas Quirino e Hilda. Fonte de Consulta : Niteroi Artes
Pesquisando na internet sobre a produção editorial brasileira, acabei esbarrando ao acaso, no nome do artista que escolhi para mostrar para vocês. Sua intensa atividade ligada as artes, me fez descobrir um talentoso e brilhante artista. Sempre premiado, com passagem como aluno da Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro. Critico atuante de arte em O Jornal. Participou em diversos eventos e obtendo muitas premiações. Deu enorme contribuição as artes como professor, criador de associações, exposições, de um veiculo impresso de nome Bellas Artes. Afastado da universidade pelo Ato Institucional promovido pela ditadura militar. Autor de importantes livros sobre as artes e o artista nacional. Acho que vale a pena para quem estiver interessado no panorama de nossa arte, consultar mais informações sobre Quirino Campofiorito, teve importância de destaque e merece uma olhada no que ele produziu.

segunda-feira, setembro 03, 2007

De Livraria em Livraria : Memórias de um livreiro.









Sei que estou ficando mais velho, pra mim pode ser a credencial para que memórias antigas sejam mais bem lembradas do que as mais recentes. Assim com este exercício, vou reconstruindo a meu modo, com um olhar sobre o passado, uma história que serve de imediato de base para estruturar minha narrativa como profissional do livro. Quando eu fechei a Quarup situada no Top Center, em Ipanema, história que já andei contando em algumas postagens do passado; fui trabalhar na livraria Unilivros (Jorge Ileli) de Ipanema, na Rua Visconde de Pirajá, 207, tempos depois fui convidado para Francisco Alves (Carlos Leal) de Ipanema, na Farme de Amoedo, número 57. As duas empresas, anos depois, desativaram as livrarias, com várias lojas nos bairros da cidade, bem como as filiais em outros estados. Nos anos 90, a livraria Francisco Alves (1854), sobrevivia com dificuldades, passou a loja para o funcionário (gerente) Sebastião, com nova razão social, aproveitando o número de sua localização na Sete de Setembro, 177. Com ares de livraria e distribuidora, pouco tempo depois, Sebastião antigo profissional do livro, vindo da livraria Galáxia, não adquire mais fôlego para manter a desgastada livraria e sai do mercado.

Existiam no Rio de Janeiro poucas livrarias nos anos 80, aliás, é uma constatação um tanto óbvia. As que abriam, o ciclo de vida era curto, logo em seguida, deixavam de existir. Claro que a curta sobrevivência não está restrita as livrarias, as editoras eram atingidas, assim como as distribuidoras. Nascer e morrer empresas é uma constante.

Nos anos 70 há o surgimento de editoras. Algumas com um perfil ideológico mais definido. O editor Paulo Rocco, com passagem pela Francisco Alves e pela direção do SNEL, cria em 1975, sua própria editora, que leva o seu nome e com um catálogo priorizando o autor nacional, desponta em pouco tempo com bastante sucesso. Novos autores e títulos, uma profissionalização do setor que vai ganhar forma nos anos 80. Surgimento de um jornal mensal editado pela Brasiliense, um book review, sob os cuidados de Caio Graco Prado, Cláudio Túlio Costa e Cláudio Abramo. Circulou por muito tempo entre nós, o Jornal de Letras (1949) dos irmãos Condé (João, José e Elisio). As revistas literárias como a revista José (1976) dirigida pelo editor Gastão de Holanda, que nos anos 50, criou junto com outros intelectuais a editora O Gráfico Amador (1954/1961). Muitas revistas e jornais apareceram em vários períodos de nossa vida cultural. Havia uma proliferação de revistas como a Brasiliense (1955/1964), Revista de Cultura Vozes (1907), Debate e Critica(1973/1975), Civilização Brasileira (1965/1968), Escrita(1975/1988), Revista do Livro, editada pelo INL(1965/1972), Tempo Brasileiro (1962), as revistas publicadas pela Fundação Getúlio Vargas e diversos periódicos que foram editados ao longo dos anos.

Uma poesia inquieta estava no ar, nas ruas e livrarias. A censura tratava de reprimir manifestações artísticas, recolher livros, jornais e revistas.

Hoje houve uma alteração no panorama das livrarias, surgiram as megalivrarias (mega stores), algumas aproveitaram criaram o sistema de franquias, exemplo, a livraria Nobel (1943), com muitas franqueadas. As redes de livrarias paulistanas chegaram ou ampliaram seus locais de venda, como a Siciliano, Fnac, Nobel e a Saraiva. As livrarias inicialmente localizadas em nossa cidade, como: Entrelivros, Unilivros, Eldorado, Studiolivros, Francisco Alves, Freitas Bastos, Casa Mattos Papelaria, Sodiler, Vozes, Dazibao, uma boa livraria que havia expandido lojas em outros bairros. Estas livrarias foram fechadas, reduzidas ou trocadas de mãos. A livraria Eldorado Tijuca sobrevive hoje pelas mãos de Jovaldo e Isaque, profissionais oriundos das livrarias (Sodiler e Melhoramentos). A Sodiler transformou-se em LaSelva Bookstore, empresa também surgida no segmento de jornais e revistas. Da tradicional livraria Eldorado (Décio de Abreu) que esteve sob o controle de seu filho Ricardo, um grupo de antigos funcionários, se desliga da livraria e montam uma outra para acirrar a concorrência, uma vez que para livros didáticos e paradidáticos a Eldorado reinava soberana. Edeir e seu filho Antonio, criaram a livraria Galileu no inicio dos anos 90, abriram filiais ocupando o espaço de livrarias que cerraram as portas.

Em nossa cidade houve uma diminuição do número de livrarias, além de reduzirem bibliotecas, ainda bem, que a antiga biblioteca pública do Leblon, virou uma livraria, a Argumento, que era na Dias Ferreira, número 199 e foi para aquele local, ganhando um novo desenho, ampliando e convivendo com outros espaços e públicos. Argumento atualmente abriu novas filiais. No local da Freitas Bastos, no centro da cidade, assumiu a Ciência e Cultura, também com filiais. Há um crescimento da Travessa, do livreiro Rui Campos. Com esta nova configuração, houve ocupação de novos espaços e surgimento de redes de livrarias, mas será que houve aumento de leitores?

Claro que não ignoro as livrarias de Niterói, as que sobrevivem e as que não estão mais entre nós leitores e clientes, mas tiveram papel importante na formação de leitores, na comercialização e edição de livros, tampouco, as livrarias em outras cidades do interior do Rio de Janeiro, como a Veredas, da livreira Solange.

Até a próxima.

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Kennedy Bahia: (Patrick Maderos Kennedy Dito) Nascido em Valparaiso no Chile, em 1929, falecido em 2005. Tapeceiro chileno. Elegeu como tema de sua arte, a flora e a fauna amazônicas e o folclore da Bahia. Sua arte é de grande importância, uma referência no panorama das artes em nossa terra. Amigo de vários intelectuais, como Carybé, Jorge Amado, Carlos Bastos. Autor do livro "Uma arte, um esforço. uma luta", sem indicação de editor.

sexta-feira, agosto 31, 2007

Conversa sobre editoras

Hoje li em um informe da Câmara Brasileira do Livro (CBL) que a Companhia das Letras, superou a concorrência na disputa (dentre elas a própria Record) pela publicação das obras completas do escritor baiano Jorge Amado (1912/2001), autorizada pelo primogênito do escritor, também escritor João Jorge Amado, serão editados 35 títulos escritos no período de 1931 à 1997.As novas edições estarão no mercado a partir de 2008 e um dos primeiros títulos será: País do Carnaval, a primeira obra editada de Jorge Amado, publicada e prefaciada pelo editor Augusto Frederico Schimdt, no ano de 1931.
Jorge Amado publicou livros, apenas para citar as editoras brasileiras: Schimdt, Ariel, Livraria Martins Editora (1937/1974), Editorial Vitória, José Olympio, Editora do Povo; anos depois vendeu os direitos com exclusividade para Record a partir de 1975, em co-edição com a Martins, que no ano anterior havia pedido concordata e encerrando as atividades em 1976. Na edição pela Record, em 1978, a capa é uma reprodução de um quadro de Di Cavalcanti, com ilustrações de Darcy Penteado, com foto do autor por Flávio de Carvalho e Zélia Amado, na quarta capa um texto de Octávio Tarquínio de Souza
Quando eu atuava em livrarias, Jorge Amado era um dos autores que sempre vendia, ora indicado em algum colégio, ora em lançamento ou para usar a gíria do mercado livreiro se dizia que seus livros estavam sempre “pingando”. Era uma referência de venda, seja pela oferta de títulos e pela popularidade que alcançava entre o público leitor, embora, houvesse para alguns leitores, certo cuidado, numa alusão ao conteúdo da obra, considerado por um segmento como um autor pornográfico e comunista, assim era estigmatizado por uma parte do leitor da zona sul carioca nos anos 80.
Só para esclarecer tive a livraria Quarup em Ipanema, trabalhei na Francisco Alves e na Unilivros. Nestas duas últimas havia sempre em estoque as obras de Jorge Amado e Zélia Gattai, sua esposa. Eu como um dos compradores dava preferência ao autor nacional, gostava de indicar, de expor, uma vez que, o espaço predominante é para o autor estrangeiro, sem dúvida, a preferência do público feminino e masculino. Há momentos em que se pode observar que a mulher, freqüenta mais livraria e compra mais livros do que o homem. Vi e ouvi muita gente rejeitar o autor brasileiro. Não gostavam mesmo. A literatura americana traduzida tem boa aceitação, não acredito que tenha mudado os hábitos de consumo do leitor que circulava pelas livrarias da zona sul.
Neste ponto a editora Record levava uma grande vantagem sobre as demais editoras. Dona de um catálogo imenso, diversificado, livros vendáveis e de sucesso (best-seller) ocupavam os espaços das livrarias da zona sul e outros pontos de vendas. Houve um momento em que montou uma empresa para vender para drogarias, supermercados e magazines. Antigamente para se ter acesso a um determinado magazine, teria de negociar com a empresa ligada a editora Record para vender. Ainda havia uma boa distribuição e um eficaz marketing direto. Mesmo para livreiro que tinha um verniz de esquerda, a editora Record como maior editora do país vendia e vendia muito. Sem dúvida para quem trabalha no livro percebia grandes encalhes em seu estoque, aliás, não é privilégio da editora, conheci depósitos de editoras e percebia pilhas e mais pilhas de determinados títulos. Há muito livro que fica um enorme tempo estacionado em uma prateleira, não sai nem dando, bastava olhar a etiqueta e verificar a data de compra e os exemplares adquiridos.
A Distribuidora Record de Serviço de Imprensa S.A, chegou a adquirir uma nova impressora como o novo sistema poligráfico Cameron de impressão e acabamento, no ano em que eu ainda trabalhava em livraria, se comentou muito, poderiam imprimir com rapidez uma quantidade de exemplares mais próximo da realidade, evitando tiragens elevadas.A Record surgiu em 1942 com os sócios Alfredo Machado e Décio Guimarães de Abreu, criador de uma rede de livrarias, como A Casa do Livro, no Centro e Flamengo, Livraria Eldorado, na Tijuca e Copacabana, a Livraria Lídice, esta localizada na Rua São José. Convém lembrar que Alfredo Machado foi um dos primeiros distribuidores de histórias em quadrinhos em nosso país. Nos anos 70, Alfredo Machado assumiu totalmente o controle acionário da empresa. Antes de surgir a editora Nova Fronteira (1965), a Record publicou o livro “O Poder das Idéias”, de autoria de Carlos Lacerda, que posteriormente veio a criar uma importante editora , de grande prestigio intelectual, com ótimo catálogo de autores brasileiros e estrangeiros. Nos anos 80 o panorama da produção editorial começa a ser alterado, com o surgimento de novas editoras, novas experiências editoriais, como a feita pela editora Brasiliense. Atualmente o mercado de livros está bem alterado com novas composições societárias e entrada de grupos editoriais estrangeiros, algumas editoras ganharam fôlego ao serem incorporadas a determinados grupos através de fusões e aquisições. Volto no próximo mês. Um grande abraço.
Fonte de consulta:

quinta-feira, agosto 23, 2007

Uma ida aos sebos: uma leitura.

Floriano Teixeira: (Floriano Araújo Teixeira) Nascido em 1923, na cidade maranhense de Cajapió e faleceu em Salvador no ano de 2000. Pintor, pesquisador, desenhista, ilustrador, gravador, escultor. Teve uma intensa atividade como convidado para capista em livros de Jorge Amado, Zélia Gattai e outros escritores.
Participou de vários grupos, formando núcleos, como os feitos na década de 40. Dirigiu o Museu de Arte da Universidade do Ceará (MAUC). Floriano Teixeira esta inscrito como um dos grandes artistas plásticos de nosso país e no exterior. Foi homenageado com nome em galeria, situada no Museu de Arte Sacra.

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Sem muita grana para comprar livros, o meu caminho tem sido os sebos. Gosto de freqüentar, de fuçar os livros, de garimpar, de achar os que eu procuro. Atualmente reduzi minhas incursões às livrarias de livros usados em outros bairros e, as livrarias que tenho visitado, são próximas de casa. São três sebos.

Hoje fui procurar algum livro que atendesse meu interesse imediato, que é o mercado editorial no Rio de Janeiro. Fui para uma seção em busca de uma preciosidade e encontrei o livro Livraria Ideal: do cordel à bibliofilia, editado pela Eduf, de autoria do pesquisador, professor da UFF e antigo livreiro Aníbal Bragança, cujo preço estava marcado em 22 reais. Como saí com pouca grana, aliás é o que eu sempre tenho. Ficou para a próxima visita. Eu estava na livraria Baratos da Ribeiro e caí na ingenuidade de perguntar ao atendente, em que local poderia haver livros que tratassem de editores, leitura, leitores, editoras ou livrarias e para meu espanto o rapaz de camisa amarela, ficou espantado com a pergunta, me indagou quem eu procurava, disse que seria uma obra de autoria de Moacir Félix, sobre Ênio Silveira, editor da Civilização Brasileira, eis que o jovem me responde que ali não tinha livros sobre este assunto. Fiquei calado e ao mesmo tempo, irritado, pois o atendente, não soube nem identificar que na loja em que eu e ele estávamos, havia um exemplar do livro Livraria Ideal. Depois deste esclarecimento percebi, tratar-se de um “profissional qualificado”: "a livraria é divida por assuntos e temas", respondeu do alto de sua sabedoria. Verdade que a livraria é bem organizada, limpa, um ambiente agradável, mas parece que compromete o atendimento desde do momento em que se percebe a ausência de um profissional que entenda, que tenha intimidade com o acervo da loja. Para quem faz uma outra leitura, identifiquei de imediato que o atendente não saberia identificar muita coisa. Encerrei naquele momento qualquer curiosidade a respeito dos livros. É o flagrante da constatação da mão-de-obra empregada em livraria, principalmente em sebos. Desconfio que muitos livreiros preferem recrutar um profissional para se trabalhar em livraria, despido de qualquer conhecimento/informação, quando muito dão prioridade a uma envernizada capa de cultura. Trabalhar com livros requer de imediato que seja escolarizado, que tenha uma mínima curiosidade intelectual.

Quem freqüenta uma livraria percebe após algumas indagações ao vendedor, se ele realmente conhece do ofício. Como são despreparados. Conheci sebos que não fazem questão alguma de ter um profissional qualificado, que prestasse um serviço ao cliente ou tivesse alguma familiaridade com a leitura. Acham que é um profissional caro. Há uma deficiência na formação do profissional de livrarias, claro que se identificam os bons profissionais no mercado, alguns com longa experiência, outros com formação intelectual mais esmerada. Uns que gostam de ler e muitos outros nem tanto. Sei de ajudantes de limpeza que alçaram a gerência de livrarias. Alguns não sabiam construir uma frase ou pronunciar nome de autor ou títulos de livros. Tinham dificuldades de fotografar as prateleiras e balcões. Houve no passado um curso para qualificar o profissional do livro, promovido pela Estação das Letras, me parece que é uma iniciativa singular em nossa cidade. Sobre livrarias (atendimento) foi dado por Marcelo, um rapaz que trabalha na Livraria da Travessa. Conheço este profissional, tem uma trajetória em ascensão na livraria. Há em São Paulo, um curso promovido pela Unesp - a UNIL.

Fui para outra livraria cuja escolha de um livro tem de se fazer um exercício de malabarismo, os livros são dispostos em pilhas no chão, o interessado em algum livro tem de tirar um por um e depois recolocar, vale um pouco de sacrifício, os preços são mais baratos do que os Baratos da Ribeiro. Embora eu tenha percebido um ligeiro aumento dos preços, usam um artifício de aumentar o valor do código do livro. O preço do livro é indicado por código alfa-numérico que corresponde à metade do valor marcado. Achei o livro de Zélia Gattai, um dos títulos que faltava para mim. Ao folhear o livro, dei uma lida no prefácio de Jorge Amado, encontrei mencionado logo no inicio ao nome de um livreiro e editor da Bahia, Dmeval Chaves (Dmeval da Costa Chaves), criador na década de 60 da editora Itapuã, também distribuidor de livros. Claro que eu não desejo que vendedores saibam quem é o amigo de Jorge Amado citado no livro. Para quem atua na Bahia, provavelmente teria identificado. Se eu não estivesse envolvido com livros há bastante tempo, não saberia responder. Fui também distribuidor de editoras que ele representava. Claro que não saber um assunto, não é impeditivo para alguém se transformar ou ser um bom profissional.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Capas de Livros: espaço para artistas

Marius Lauritzen Bern: (1930-2006) Autor do desenho de capa do livro de Mário da Silva Brito editado pela Civilização Brasileira, em 1968. O livro como pode ser observado está gasto pelo tempo, pelo uso e pelas mudanças que andei fazendo pela vida. Com as mudanças fui desfazendo de vários livros e revistas, e os antigos Lps que acabava vendendo em sebos preferencialmente os localizados no centro da cidade por um valor bem baixo, nem seria diferente, pois o alfarrabista revenderia por outro preço.
Este é um livro que comprei na queima de livros da Editora Civilização Brasileira. Bons tempos! Foi uma verdadeira festa para os leitores. A livraria ficava localizada na Rua Sete de Setembro, número 97. Depois de sofrer atentados e estrangulamentos econômicos a editora foi para uma loja lateral do Edificio Central, para a Rua da Lapa, 120 e creio que antes de ser vendida para Editora Bertrand Brasil, ficou por algum tempo em Botafogo, na Rua Muniz Barreto, próximo ao metrô Botafogo.

O capista Marius Lauritzen Bern, foi também fotógrafo, desenhista e ilustrador; com enorme contribuição a revolução visual promovida pela Civilização Brasileira, através de seu editor Ênio Silveira, que tinha um elenco de artistas gráficos como Roberto Pontual, Dounê, Léa Caulliraux e o grande destaque, apontado como introdutor destas mudanças e referência maior para o estudo da confecção de capas de livros, era o designer gráfico Eugenio Hirsch. Marius foi quem criou o logotipo das editoras Civilização e Paz e Terra, na época de propriedade de Ênio Silveira.

Para mim que sempre atuei no mundo dos livros, os nomes de capistas estavam incorporados como item de identificação das editoras. Ajudava em um balcão ou prateleira a distinguir ser de uma editora ou de outra. O elemento visual é instrumento aliado de um vendedor. Há pouco tempo, tive esta experiência em um sebo, quando um cliente pedia por um título ou autor, vinha de imediato em minha memória a capa e o formato do livro, mesmo afastado do convívio com os livros.

Acho a capa de um livro fundamental atrativo para o leitor, além de contarmos com a presença de importantes artistas e ilustradores em um livro. Se olharmos o livro Capitães da Areia, de Jorge Amado, por exemplo, em uma das edições publicados pela Record, há o desenho de capa de Aldemir Martins (1922-2006), ilustrações de Poty, retrato do autor por Jordão de Oliveira e foto do autor por Zélia Amado. O livro Sargento Getúlio, de João Ubaldo Ribeiro, publicado pela Civilização Brasileira, em 1971, com capa de Dounê e diagramação de Lea Caulliraux; ou um livro de autoria de Marisa Raja Gabaglia editado em 1973 pela Editora Sabiá, com capa de Yllen Kerr (1924-1981), ou pela mesma editora, o livro de José Carlos Oliveira, A Revolução das Bonecas, com capa de Ziraldo. A identificação da capa do livro Antologia da Lapa, de Gasparino Damata, editado pela Codecri, em 1978, de autoria de Nássara.(Antonio Gabriel Nássara:1910-1996). O livro de Patrícia Bins, editado pela Nova Fronteira, em 1986, com capa de Victor Burton, com foto óleo sobre tela de Aldo Malagoli, da coleção particular de Luiz Carlos Matte, ou o livro de Zuenir Ventura, intitulado Crônicas de um fim de século, editado pela Objetiva, em 1999, com capa e projeto gráfico de Victor Burton, com foto do autor por Márcia Kranz. Uma capa bonita como Sem Pecado de autoria de Ana Miranda, executada pela artista Moema Cavalcanti e publicado pela Companhia das Letras, em 1994.

Paro por aqui.


segunda-feira, agosto 13, 2007

Fragmentos da Memória: Vagas lembranças...

Na semana passada resolvi caminhar pela orla de Copacabana até o Posto 9 em Ipanema, entre uma passada e outra, tentava lembrar de algumas livrarias infantis. Não consegui ! Lembrava de editoras como a Ebal (Editora Brasil-América – criada em 1945, por um antigo funcionário de Roberto Marinho, Adolfo Aizen (1907/1991), dirigida após a morte do pai, por Paulo Adolfo Aizen e Naumin Aizen e a editora Vecchi criada por uma família de imigrantes italianos; pelos álbuns de figurinhas e revistas que editavam. Dos álbuns que colecionava, da disputa por uma figurinha carimbada, do bafo-bafo jogado com amigos. Das histórias em quadrinhos que circulavam de alguma forma em meu universo infantil. De ficar escutando o rádio para ouvir Jerônimo, o herói do sertão e Moleque Saci, do Sombra, da leitura de Fanstasma, Superman, de Mandrake, Recruta Zero, Bolinha e Luluzinha, Brasinha e Gasparzinho, Pato Donald, Mickey , Zorro e outros tantos heróis ilustrados nas revistas e almanaques dos anos 50 e 60. Dividia o meu tempo também com os seriados na televisão e os programas infantis como o Circo do Carequinha, interpretado pelo artista circense George Savalla Gomes(1915/2006), o teatrinho/vesperal Trol (Fabio Sabag, Norma Blum, Zilka Salaberry, Roberto de Cleto entre outros), Falcão Negro interpretado pelo ator Gilberto Martinho (1927/2001), de Rin Tin Tin e Rusty, a série do cão da raça Collie de nome Lassie, embora tenha sido uma “cadela”, sempre foi interpretado por cães machos.
As livrarias como escrevi, naquele momento fugiram da lembrança. Mas havia uma, que de algum modo contribuiu na minha formação de leitor. Em minha fase de garoto, estudante do curso primário do Instituto de Educação, na Tijuca, por estar pela localização em frente ao Instituto, a Livraria e Papelaria Casa Mattos, “amiga número um dos estudantes”, logo era minha amiga, assim eu imaginava, freqüentada por minha família, que na condição de alguns deles por serem professores, gozavam de um desconto de 10% na compra de material escolar. Dificilmente íamos ao centro da cidade comprar na Casa Cruz.
Minha madrinha, uma das professoras da família me presenteou com uma coleção de Monteiro Lobato (1882/1948), editado em 1960 pela Brasiliense com capa dura de cor verde, em meu aniversário de 11 anos. De minha outra tia, também professora, ganhei o livro Cazuza de Viriato Corrêa (1884/1967), editado pela Companhia Editora Nacional, o livro foi publicado pela primeira vez em 1938.
Acho que foi na criação desta relação com o cliente da papelaria, que se estabeleceu na cabeça do público que na compra de algum livro se obteria o desconto. Tornou-se um hábito bem arraigado. Durante estes anos ouvi de muito livreiro a reprovação do desconto para livros. Uma reclamação por parte dos livreiros e que crescia no inicio da feira do livro em praça pública, cujo desconto era de 20% obrigatório na compra de qualquer livro. Alguns livreiros acompanhavam a promoção dando destaque em suas lojas, outros efetivaram o desconto de 20% em todos os livros, caso da Livraria Ivo Alonso Nunes, uma boa livraria no centro da cidade, na Praça Monte Castelo. A livraria Ivo Alonso foi distribuidora da Atlas. Em plena efervescência de vendas chegaram abrir uma filial na Gama Filho, sob os cuidados do filho. Lembro que na loja do Ivo Alonso faleceu o historiador Manuel Mauricio de Albuquerque, habitual cliente da livraria, mestre e autor da Pequena Historia da Formação Social Brasileira, editada pela edições Graal. Estava em companhia de Eulalia Maria Lahmeyer Lobo, também professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais - IFCS-UFRJ.
Aqui no Rio surgiram livrarias para este distinto público e seus pais, poucas sobreviveram. Se não falha a memória na segunda metade da década de setenta e o inicio da seguinte. Lembrei de imediato de uma das melhores livrarias, a livraria Malasartes (1979) situada no número 367, do Shopping da Gávea dedicada ao público infantil, tendo como uma das sócias, a escritora imortal Ana Maria Machado, aliás, eu considero como uma das melhores escritoras, embora, não apenas dedicada ao publico infantil; com Claudia Amorim e sua mãe Yacy Mattos de Moraes.
Ana Maria Machado foi uma das sócias da Quinteto Editorial, vendida mais tarde para a editora FTD. Lembro que ao ser vendedor tive a oportunidade de conhecer a livraria Malasartes e o primeiro contato foi com a Claudia, dali nasceu uma identificação imediata, sem muitas elucubrações, eu estava diante de uma livreira. Uma boa livreira. Fui apresentado por um amigo de longa data, também vendedor, de nome Fabrício. Na ocasião a editora em que eu trabalhava havia uma pequena seção de livros infanto-juvenis, que não foi adiante, no caso era a editora Paz e Terra. A coleção era dirigida por Eliane Ganem, escritora, professora do Instituto de Arte e Comunicação da UFF, seu livro Coisas de Menino foi editado pela Paz e Terra, ilustrado por Jayme Leão e com orelha escrita por Michel Misse, meu colega do IFCS/UFRJ. Há uma edição pela José Olympio.
Na Quarup, uma livraria que eu tive em Ipanema, havia criado um espaço dedicado ao leitor infantil, recebia visita de algumas escolinhas e de um pequeno público da redondeza. Meu filho na condição de ouvinte gostava imensamente dos livros da Ática, da coleção Gato e Rato, do casal Mary França e Eduardo França. Pensei em criar e logo abandonei a idéia inspirada na Murinho, a livraria infantil pertencente a falida Muro do livreiro Rui Campos, uma carteirinha de sócio. O momento de dificuldades de manter a livraria estava timidamente sendo anunciado, resisti até o mês de agosto de 1984.
Pouco tempo depois de ter fechado, recebi um convite e fui trabalhar na livraria Unilivros de Ipanema, junto com uma boa equipe de vendedores sob o comando de Mário, o homem de confiança de Jorge Ileli. Ileli conhecido cineasta, sua livraria era freqüentada por diversos artistas. José Lewgoy tinha uma cadeira cativa na livraria, estava sempre por lá. José Wilker era um dos melhores leitores, apontaria na época sem sombra de dúvida como o maior comprador de livros, assim como a Fernanda Montenegro, era também uma grande leitora. Manoel Carlos também comprava muito. Lembro de vários artistas, uma das últimas vezes que vi junto com a sua filha, a atriz Lílian Lemmertz , pouco tempo depois veio a falecer prematuramente. Continua na próxima oportunidade.
Ps: Fui informado pela Office Book, o novo endereço da tradicional livraria Ivo Alonso Nunes, localizada na Rua das Marrecas, 11, no Centro do Rio de Janeiro. Pela foto enviada, vale uma visita.

segunda-feira, agosto 06, 2007

Globo: Uma Livraria e Editora para permanecerem na História.

João Fahrion: Professor do Instituto de Belas Artes de Porto Alegre, pintor, desenhista, ilustrador e gravador. Nascido em Porto Alegre em 4/10/1898 e falecido em 11/08/1970. Capista e ilustrador de livros publicados pela Editora Globo. Desenhou as capas de alguns números da Revista do Globo.

A partir de hoje penso em alternar as manifestações artísticas expostas neste espaço blogueiro. Vou pendurar neste mural, obras (capas) de artistas relacionados de alguma forma com a indústria do livro.
Tenho recentemente abordado como fio condutor minha experiência como um antigo profissional do livro, principalmente ligado ao comércio de livros e como leitor; deste modo penso em estar contribuindo de alguma maneira para reconstruir mesmo que por esta via, a história do livro. Não poderia ignorar a importância fundamental em um livro a participação do profissional das artes gráficas, ilustradores e desenhistas, daí que aos poucos colocarei em exposição, capas que me agradaram, ou que procuraram criar uma identidade visual nas editoras. Fui testemunha ao ouvir por parte do consumidor de livros, que através da capa, da beleza apresentada, foi o que estimulou para comprar este ou aquele livro. Uma bonita capa, atraente, é o primeiro impacto diante do leitor, realmente ajuda e muito em uma decisão na hora de comprar. Associados ou não à capa, está o autor, título ou assunto, elementos que são atrativos para um leitor.
De oitenta prá cá houve um número maior de editoras, livrarias e uma pluralidade de artistas produzindo capas de livros. Uma nova linguagem visual marcava presença nos espaços do livro. A impressão que tenho, é que a editora Companhia das Letras foi quem efetivamente deu enorme contribuição para este novo tratamento visual, a partir de seu surgimento no ano de 1986.
Segundo alguns intelectuais, o livro após a presença da Companhia passou a ser objeto de desejo. A midia impressa babava por novos titulos da editora, que produzia cada vez mais. Os cadernos "culturais", riam de ponta a ponta com cada livro resenhado. Eliminavam por princípio qualquer pequena editora. Eu trabalhei com editoras que tinham dificuldades enormes para obter um espaço em um destes cadernos e eram editoras de grife. Havia espaços cativos e pronto. Os editores destes cadernos demoravam em reconhecer sucesso fora dos parâmetros da editora que estava em moda. Tudo que envolvia a editora era sucesso, aliás quando estive em São Paulo nos anos 90, vi livrarias na Avenida São João vendendo ponta de estoque da editora, um repleto e variado saldo.
A mudança de formato se fazia presente em várias editoras. Antigamente, hoje é mais aceito, havia uma enorme resitência por parte do público e das livrarias, a edição de um livro impresso em papel jornal e o preço do exemplar mais barato. Não adiantava, o público era refratário. Encalhes e mais encalhes, o resultado venda para papeleiros.
Hoje fica pra mim mais difícil identificar de imediato qual seria a editora que estaria em exposição em um balcão de livraria, por exemplo. Quando atuei em livrarias eu percebia, talvez por ajuda de uma boa memória visual e com mais facilidade uma editora. Ali estavam: uma Zahar, Civilização Brasileira, Francisco Alves, José Olympio, Paz e Terra, Nova Fronteira ou outras editoras. Naquela época também identificava a editora por titulo, autor ou linha editorial.
Como o meu post trata da Livraria e Editora Globo, resolvi iniciar com um trabalho de um artista, dentre os vários que colaboraram com a editora gaúcha desde a sua criação, em 1930, com a participação de Henrique d`Avila Bertaso, filho mais velho de José Bertaso.
Li outro dia no mês de julho, em site de um jornal gaúcho noticiando que a Globo livraria, situada desde dezembro de 1883 na famosa Rua da Praia no centro de Porto Alegre, daria lugar a uma empresa de eletrodomésticos e móveis. Segundo a informação foi vendida uma parte do tradicional prédio da livraria, a outra foi destinada aos livros e a papelaria que seriam deslocadas para os fundos da loja. Uma pena! Sinto muito quando fecha ou é atingida uma livraria, editora ou distribuidora. Ali, apenas para citar passaram alguns escritores como: Mário Quintana (1906/1994), colaborador da Revista do Globo, poeta e tradutor; Lia Luft (1938) exercia o trabalho de tradutora da editora; Érico Veríssimo (1905/1975) um dos colaboradores mais efetivos da editora, como tradutor, escritor e conselheiro editorial além de ser editor da Revista do Globo; a jornalista, professora doutora pela ECA/USP pesquisadora Cremilda Medina, autora de “Notícia, um produto à venda”, editado em 1978 pela Alfa-Ômega e Maria da Glória Bordini, professora, pesquisadora no campo da leitura recentemente despedida da PUC/RS. Maria da Glória é também autora de um estudo editado pela L&PM, cujo titulo é: “Criação Literária em Érico Veríssimo”.
No caso da livraria foi determinante a situação de endividamento em que se encontrava. Atualmente quem preside a livraria é o bisneto Henrique Ferreira Bertaso. Nesta situação desenrolou uma cisão familiar que envolveu os irmãos Bertaso. A declaração do irmão, ao se recusar a participar da Feira do Livro de Porto Alegre: ”O senhor Cláudio disse que seria melhor a Globo ir vender suco de uva na feira, porque livro não dá dinheiro. Ele desprezou os livros”, tornou público o vice-presidente Gustavo. Brigas familiares têm sido a tônica de divergências e fechamento de empresas. Convém lembrar que um dos fundadores da Editora Globo, Henrique Bertaso (1906/1977) participou da criação da Feira do Livro de Porto Alegre.
Lembro da filial que a livraria Globo montou no Rio de Janeiro nos anos 80, na Rua São José em frente do terminal de ônibus. Não ficou muito tempo e cerraram as portas. Nesta ocasião trabalhava para Paz e Terra. Achei que a filial, não conheço o restante das lojas do sul, mas como estavam abrindo a loja, o acervo não me impressionou. A livraria uma empresa tradicional no ramo do livro, com concentração no sul do país, me parecia sinalizar dificuldades. Eu tinha uma facilidade, fotografava com os olhos, o acervo da livraria, percorria as estantes de ponta a ponta, dali eu identificava o material que a loja dispunha. A livraria atuava com o binômio: livraria e papelaria, combinações não muito freqüentes na praça do Rio de Janeiro. A distribuição da Editora Globo, até ser vendida para Rio Gráfica em 1986, era feita pela Catavento. A Rio Gráfica (RGE) foi uma empresa fundada por Roberto Marinho, em 1952.
Anos mais tarde em uma breve passagem pela livraria Beta de Aquarius, antes de minha saída, conversava com o proprietário da loja, o livreiro Antonio Seabra, a respeito de meu interesse em leituras sobre a historia do livro no Brasil, lembrou que tinha em seu acervo, dois títulos que me interessariam, acabou por ceder dois livros de autoria de José Henrique Bertaso sobre a livraria Globo. Uma referência para compreensão da história do livro, embalado por elementos de uma narrativa biográfica bem interessante; o que motivou a busca pelo título “Um Certo Henrique Bertaso – Artigos Diversos, editado, ou melhor, reeditado pela Globo, em 1997, de autoria de Érico Veríssimo. Encontrei em um sebo, após um ano de busca, foi localizado em uma prateleira por 5 reais. Abri de imediato o livro de capa dura para iniciar a leitura e li:”Mil novecentos e vinte e dois foi, sob muitos aspectos, um ano portentoso”. Até a próxima...
Fonte de Consulta: Traça Livraria e Sebo - especialmente Mostra da Revista do Globo (1929/1939) e Jornal de UFRGS