Em maio de 1983 fui entrevistado por Mara Caballero (1950-2003) pelo Caderno B do Jornal do Brasil. Ela fazia uma matéria sobre livrarias da zona sul, ou melhor, em Ipanema e Leblon. Lembro que expus minha preocupação com a sobrevivência da Quarup, localizada em um centro comercial de Ipanema. Quando a jornalista entrou, reiniciava a leitura antes interrompida de Maternidade e Sexo, de autoria de Marie Langer (1910-1987) psicanalista austríaca, naturalizada argentina e publicado pela Editora Artes Médicas, uma casa publicadora situada
Interrompi mais uma vez minha leitura, quando Mara começou a fazer perguntas sobre as livrarias da zona sul. Minha livraria, aliás, comecei com dois sócios que depois abandonaram o barco. Dois exilados que voltaram ao Brasil e estavam dispostos a abrir uma livraria na zona sul. Juntou então a fome com a vontade de comer. Conheci os dois, Rogério e Jaime, quando trabalhávamos na Editora Achiamé, do meu querido Robson Achiamé Fernandes, que antes de montar sua editora, passou pela Editora da Fundação Getulio Vargas, como coordenador editorial. Gostava muito da Achiamé que começava a despontar com um bom catálogo na área de ciências humanas. Em sua produção editorial havia meus antigos colegas e professores do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Na ocasião eu atuava na área de divulgação editorial; circulava entres os departamentos das universidades, para apresentar as novidades e falar a respeito dos catálogos das editoras. Fui antes de montar a livraria, divulgador editorial como: Graal, Paz e Terra, Brasiliense, Hucitec, Summus e muitas outras editoras.
A Quarup foi criada logo após a inauguração da Dazibao em uma galeria. Nos anos 80, as pequenas livrarias estavam escondidas em centros comerciais. Com a minha formação de sociólogo, e os dois sócios exilados políticos, era o suficiente para dar uma tintura de esquerda para a livraria. Um ledo engano, não eram significativas à procura por livros de ciências sociais em uma área nobre da zona sul, havia uma tendência para área psi e de comunicação. A livraria de alguma forma abria espaços para formas alternativas de expressão, como a poesia intitulada de marginal. Nós viemos de experiência partidária. Quando os sócios saíram resolvi dar um outro desenho para a livraria. Concentrei na área psi e posters de Che, Chaplin, posters-poemas editados pela Civilização Brasileira, como os de Moacyr Felix, Ferreira Gullar, Thiago de Mello e outros poetas. Poesia e jornais alternativos, literatura infanto-juvenil, as ciências sociais, literatura brasileira compunham o acervo da livraria.
A morte da livraria começou a ser anunciada desde a sua inauguração, a opção em decorrência da grana foi estabelecer em um andar elevado e foi o determinante, uma vez que por falta de visibilidade e com pouca clientela, não era o suficiente para manter a livraria aberta. Clientes leitores-compradores davam preferência as livrarias localizadas em beira de rua. Nesta época lembro de algumas localizadas na rua: Francisco Alves,na Farme de Amoedo 57; Unilivros de Jorge Ileli, seu gerente Mario Jorge Matos em Ipanema, as lojas no Leblon, uma delas era sob os cuidados de Jorge Brito; Taurus no final do Leblon, do editor e livreiro Jorge Bastos, Tempos Modernos do Leblon, com filial em Recife, StudioLivros inspirada no modelo da Unilivros, com o mobiliário feito pelo mesmo carpinteiro. A Studio do livreiro Durval Garcia, ex-sócio da Entrelivros, com passagem pela Embrafilmes e assessorado pelo amigo jornalista e critico de cinema Valério Andrade para a gerência de vendas. A Studio deu de abrir filiais em diversos bairros.
Continua.
Um comentário:
Prezado Wilton,
sempre que visito sua "Quitanda" encontro prazer na leitura de seus textos, especialmente gosto de conhecer suas memórias de livreiros e editores, inclusive, naturalmente, as suas.
Um abraço,
Aníbal Bragança
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