Ontem, pensava na morte da bezerra, quando Marilene lia os classificados do jornal O Globo, leitura obrigatória para nós em busca de uns trocados para dar uma ajuda nas despesas. Ao abrir uma página nem sempre encontramos alguma coisa de compatível com o nosso perfil. Sabemos que a idade pesa um pouco nesta busca, às vezes são postas como barreiras de acesso para as oportunidades oferecidas pelo mercado. Continuamos na luta para conseguir este complemento, dentro de nossas limitações como profissionais.
Sou interrompido pela leitura de um anúncio encontrado por Marilene. Você conhece a Editora Nova Razão Cultural? Conheço, respondi. Está sendo colocada à venda. “Empresa de médio porte”, deste modo é identificada no anúncio. Não cheguei a conhecer a dona da editora, a escritora Clair de Mattos, sei que tem uma boa produção na área de literatura. Foi nos anos 80 que tive contato com um dos livros da escritora, nesta ocasião eu tinha a livraria Quarup, na Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema.
Freqüentava a minha livraria, a escritora e amiga Vera Moll, que lançava pela Antares o livro Teias de Aranha. Uma das poucas resenhas que escrevi, foi o seu livro, em um jornal de bairro de Ipanema. Em uma das nossas conversas mencionou o nome da escritora Clair de Mattos, que ela conhecia e que lançava um livro pela Antares. Lembro que fiz o pedido do livro de Clair pela Antares, aproveitei e comprei outros títulos da editora. Conheci, não lembro quem me apresentou a editora Maura Ribeiro Sardinha, uma das sócias da editora Antares, eu achava muito interessante o catálogo, que incluía alguns títulos premiados em literatura infantil, a editora era localizada na Rua Visconde de Pirajá, 82, depois parece que passou para o Jardim Botânico.
Vendi enquanto profissional do livro, alguns títulos de Clair de Mattos, não tenho muita certeza, se eu tive em mãos alguma obra de Clair, quando eu trabalhei pelas Edições Achiamé, do incansável editor Robson Achiamé Fernandes, mas lembro que ele fazia alusão a autora. Anos depois, quando voltei a morar em Copacabana, conheci uma livraria que Clair montou em Copacabana, altura do Posto 6, nos fundos de uma galeria. Uma loja espaçosa, mas com uma baixa freqüência de leitores/clientes, pelo menos foi o que constatei ao passar mais vezes pela loja. Tempos depois a livraria deixou de funcionar, cerrando as portas. Nos anos 90 fui distribuidor, criei a Obra Aberta, mas a Razão Cultural, depois, passou a ser Nova Razão Cultural, tinha um distribuidor. Fui também um dos compradores da Francisco Alves, Ipanema e Unilivros Cultural, em Ipanema, eu dava uma força para o autor nacional e comprava alguns títulos da autora.
Tempos depois de ter encerrado a distribuidora, fechei também a locadora Sagarana de fitas no Catete e parti em busca de trabalho, encontrei um anuncio da editora Nova Razão Cultural pedindo vendedores, me apresentei para o cargo, fui entrevistado em Copacabana, no oitavo andar, por uma moça que no decorrer da entrevista percebi que estava muito longe de ter um currículo igual ou parecido com o meu, mas detinha o poder de contratar um vendedor. Na conversa mostrei minha passagem como profissional do livro, terminada a entrevista, ficou de ligar, nunca ligou.
Fico chateado com pessoas que se acham o máximo no mercado de livros, arrogantes, que de posse de um cargo, ficam inchados. Não me foi dado nenhuma resposta, como um profissional experiente em vendas no varejo e no atacado; parece não preencher os requisitos para ser um vendedor de uma editora. Se fui, por exemplo: durante quatro anos vendedor da Paz e Terra, pracista no Rio de Janeiro de diversas editoras, criei uma distribuidora, e profissional com experiência na praça de São Paulo. Pior no caso da editora Nova Razão Cultural a pessoa que me entrevistou não conseguiu perceber se eu vendia em outras situações os livros da dona da editora, como não preencho o cargo para ser um vendedor pracista, são razões que desconheço.
Desconheço as razões que motivaram à venda da editora Nova Razão Cultural, prefiro apenas constatar que mais uma editora pode sair de circulação, o que é uma pena.
Alcir Dias: O artista nasceu em Jacarepaguá, em 1946. Formado em Belas Artes, professor do Colégio Pedro II, morador do bairro de Santa Teresa. Participou do Projeto no bairro da Lapa, em homenagem a Zumbi, intitulado "Celebração da Consciência Negra"organizado pelo Recordatório - Cultura, Educação e Artes
Um comentário:
Prezado Wilton Chaves,
Quero expressar meu encanto com seu blog. Seus textos mostram um mundo que para mim foi sempre envolto em nuvens, o da editoração e comercialização de livros. Quando me formei em Letras, em 85, pela UFRJ, tive interesse em trabalhar em uma editora. Falava muito bem o francês e o inglês e lia muito e de tudo. Achava que seria fácil. Enviando meu currículo para várias editoras, apenas uma me respondeu, uma editora que produzia enciclopédias e que precisava, na verdade, não de alguém ligado à editoração, mas sim, de um vendedor de enciclopédia. Depois disso, comecei a dar aulas de francês na Alianca Francesa. Mais tarde, voltei à UFRJ para estudar Direito e hoje trabalho como advogada e tenho interesse em voltar ao magistério para ensinar Direito.
Ao longo desses últimos 20 anos, nunca esqueci o interesse pelos livros e nunca perdi a vontade de trabalhar nessa área. Agora, com as edições eletrônicas, com a internet e as megalivrarias, acaba por ser desestimulante pensar em ser livreiro, mas a área de edição, penso que ainda oferece algum conforto. Há uns dois anos, cheguei a pensar em ter uma pequena editora que pudesse aliar as possibilidades de editar livros de grande vendagem, como os de direito, aliado a outros não tão comerciais, mas nem por isso menos atraentes, como os de literatura e poesia. Desisti, porque fiquei com medo de entrar em um território tão desconhecido e com histórias nem sempre animadoras.
Continue com seu blog. Ele é o relato muito importante, além de belo, de uma arte que está se perdendo.
Cordialmente,
Edsa Farias de Mello
edsamello@gmail.com
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