quarta-feira, novembro 07, 2007

Distribuidores de Livros: Uma Obra Aberta













" Um país se faz com homens e livros"

“Entre os mais humildes comércios do mundo está o do livreiro. Embora sua mercadoria seja á base da civilização, pois que é nela que se fixa a experiência humana, o livro não interessa ao nosso estômago nem a nossa vaidade. Não é portanto compulsoriamente adquirido. – O pão diz ao homem: ou me compras ou morres de fome; - O batom diz á mulher: ou me compras ou te acharão feia. E ambos são ouvidos. Mas se o livro alega que sem ele a ignorância se perpetua, os ignorantes dão de ombros, porque é próprio da ignorância sentir-se feliz em si mesma, como o porco com a lama. E, pois o livreiro vende o artigo mais difícil de vender-se.

Qualquer outro lhe daria maiores lucros; ele o sabe e heroicamente permanece livreiro. E é graças a esta generosa abnegação que a árvore da cultura vai aos poucos aprofundando as suas raízes e dilatando a sua fronde. Suprimam-se o livreiro e estará morto o livro – e com a morte do livro retrocederemos á idade da pedra, transfeitos em tapuias comedores de bichos de pau podre. A civilização vê no livreiro o abnegado zelador da lâmpada em que arde, perpetua, a trêmula chamazinha da cultura”.
Monteiro Lobato.
Hoje resolvi publicar, ou melhor, reproduzir o texto acima, mas confesso que não consegui identificar em qual publicação de Monteiro Lobato imprimiu esta definição de livreiro. Lembro que em forma de folheto, ganhei da ABL (Associação Brasileira do Livro) à época em que eu atuava em feiras de livros nas praças públicas de minha cidade. Quando li na ocasião, no inicio dos anos 80 e foi na data de nascimento (18 de abril) de Monteiro Lobato que a entidade que controla a feira do livro distribuiu o folheto para os participantes da feira na Cinelândia, Apareceu o livreiro Santana, dono de um sebo na Visconde de Inhaúma, próximo ao Colégio Pedro II , sempre trajando camisa social e gravata, talvez por representar a classe, era o presidente da associação de livreiros. Não sei qual o tempo em que presidiu e foi por muitos anos e nem a data de seu falecimento. E foi apenas deste modo, que largou a presidência da entidade. Foram criados movimentos de oposição e não obtiveram êxito; alguns deles foram cooptados,com cargos de direção.
Atuei na feira em barracas das Edições Graal e Achiamé no anos 80, na maioria das praças em que eram realizadas as feiras, que tinham por obrigação oferecer 20% de desconto para o consumidor, uma exigência da associação para que se pudesse utilizar as praças. Todas as barracas pagam um preço para expor na praça, que é cobrado pela entidade e que há variação de valor em função da praça. Há também um pagamento como filiação a entidade. Quando fui distribuidor no inicio dos anos 90, o dono da Irradiação Cultural, uma das maiores distribuidoras de livros no Rio, (uma soma imensa de editoras para fazer a distribuição) o que se poderia chamar de "concorrente" engavetou minha proposta de associado, usou das armas que dispunha para atingir um profissional do livro. Não teve a percepção de que o mercado não tinha dono, e achava que ele era um dos poucos a ter este privilégio e não permitia quem quisesse montar um negócio e trabalhar no ramo do livro. Eu que vim do livro, tenho toda a trajetória ligada ao ramo editorial. Como não havia muita editora com exclusividade de distribuição, estaria nesta condição aberto para quem tivesse distribuidora, oferecer na praça as editoras que representava. Havia casos em que editoras insatisfeitas com o gigantismo da distribuidora, abriam para outras distribuidoras.Era comum editoras possuírem na praça de uma mesma cidade outro distribuidor. Eu particularmente não aconselhava, cria um ambiente de desconforto e confusão para o livreiro. Creio que alguns editores gostavam de estimular esta concorrência, viam o circo pegar fogo. Vendi sempre muito bem, havia uma editora que eu vendia muito e tinha um perfil universitário com ótimos títulos em catálogo, era a Unesp. Fui atingido pela inadimplência. Cheguei a distribuir cerca de 50 editoras. Com a crise do mercado editorial algumas distribuidoras foram perdendo o gás, tanto eu (Obra Aberta) quanto a Irradiação Cultural, cerramos as portas. Uma distribuidora arca com a maioria das despesas da comercialização como frete, entrega da mercadoria para as livrarias, funcionários, todas as despesas de ecritório, passagens, tudo sobre os seus encargos, Fica muito difícil de sobreviver uma distribuidora, com 50% ou um pouco mais, dependendo do editor e fazer uma praça e repassar o desconto para as livrarias com 40%. Uma margem para trabalhar em torno de 10%. Nem sempre os livros de um catálogo circulam com rapidez. Muitos lançamentos não são repostos pelos livreiros. Vi livreiros que vendem os livros e criam a maior dificuldade em repor. Meus livros em estoque foram todos sob faturamento, não recebi sob consignação, embora, em alguns casos, eu enviava consignação para os livreiros. Volto ao papo em próxima oportunidade.

4 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, 83... eu vivia um momento de vida intenso internamwente- apaixonada.
ai ai
saudades
bjs Elianne

Lia Noronha disse...

Wilton: vc é um cara especial..que tem histórias pra contar...faz a grande diferença!
Bjus diretamente do meu Cotidiano.

http://andandoeuvi.blogspot.com/ disse...

Eu tenho quase certeza de que o Monteiro disse isso numa intrevista ou crônica de Jornal, lembro da vovó me falando isso quando me obrigou a ler bem cedinho (com 6 anos) pois ela era analfabeta e queria que alguém lesse p/ ela e diminuisse a ignorância dela... Enfim essa frase e vovó são responsáveis pela minha paixão pelos livros...

Adorei sua visita, por favor sinta-se a vontade!

bjus

http://andandoeuvi.blogspot.com/ disse...

har e eu passei pelo outro blog, mas a bandeira do Vasco me espantou rsrsrsrs Sou tricolor Paulista!