sábado, abril 30, 2005

A Poesia Engajada de Thiago de Mello

O poeta amazonense Amadeu Thiago de Mello, nasceu em 30/03/1926, na cidade de Barreirinha.Voltou anos mais tarde, a morar em sua cidade natal. De intensa obra poética, todas de fundamental importância no panorama da poesia brasileira. Thiago de Mello, é um poeta sensível, com uma escrita expressiva com o canto de seu povo, Foi preso politico, conheceu o exilío. Viveu no Chile, foi amigo de Pablo Neruda, tradutor de diversos poetas latinos, entre eles: Ernesto Cardenal, Cesar Vallejo, Nícolás Guillén, Pablo Neruda. Autor premiado, com o Prêmio Jabuti, em 2001 com "Campo de Milagres". Voltou do exilio em 1978. Suas obras foram editadas pela Civilização Brasileira, uma das editoras perseguidas pelos militares.Ênio Silveira,esteve preso e foi dirigente do PCB.Houve um período em que ele fundou a editora Philobiblion,mas teve vida curta; serviu para co-edições, era esta a impressão que tenho. Ênio vendeu depois para a DIFEL e posteriormenete vendida para Editora Record, um dos maiores grupos editoriais do nosso país. Fundada em 1942, incialmente por Alfredo Machado(morre em 1991) e Décio de Abreu(Livaria Eldorado/Casa do Livro, também falecido). Depois de alguns anos, Alfredo Machado assume o controle acionário da editora Record.Atualmente é o filho de Alfredo quem assumiu a editora. Vi algumas vezes o poeta andando, vestido sempre de branco, a cor preferida do poeta e citada no Os Estatutos do Homem. Nos anos 80, foi produzido pela Civilização Brasileira uma coleção de poster-poema, dentre eles, estava Thiago de Mello.Foi uma fase de poster nas livrarias.Os livros editados pelo Edições Populares,com predominancia em seu catálogo os livros de Che Guevara, eram acompanhados de cartazes.Havia semanas que eu vendia mais poster do que livro.Apareceram os de Charles Chaplin.Era o começo do meu fim, enquanto,livreiro. A Livraria Quarup, situada em Ipanema, encerra as atividades em junho de 1985.


Os Estatutos do Homem
- Ato Institucional Permanente -
A Carlos Heitor Cony, Santiago do Chile. Abril de 1964

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII

Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

quinta-feira, abril 28, 2005

Bruna Patricia Maria Teresa Romilda Lombardi - Uma Bela Poetisa

Bruna Lombardi - Poetisa e Atriz Posted by Hello

Olá!
Em conversa recente, com uma freguesa desta Quitanda, uma habitual leitora das revistas femininas e do jornalismo cor- de - rosa.Assiste a todos os programas na televisão, ficou frustada quando a filha do dono da SBT, acabou o programa de fofocas sobre artistas e celebridades.Adora ler Quem e Caras, pede emprestado a revista Contigo, no salão de beleza de Matilde, sua vizinha e ex-colega do curso de informática.Lindaura, matriculou-se no curso, apenas para aprender a utilizar a internet. Curtia mandar e receber os e-mails para seu numeroso grupo de mulheres, alguns homens que conheceu em chats, para visitar os portais de fofoca, tipo: Fuxico, Babado, Dirce A conversa rolava com a freguesa, que em dado momento citou o nome de uma atriz, há muito sumida do cinema e da televisão. Seu último trabalho conhecido foi em uma participação em uma minissérie, da Rede Globo, "O Quinto dos Infernos", no ano de 2002.Desconhecia quando perguntada,minha amiga, que sabe quase tudo sobre novelas, se há algum parentesco do autor de novelas com a atriz e poetisa Bruna Lombardi.Seu pai,um italiano, sim teve participação como cineasta, na companhia Vera Cruz.Bruna, nasceu em São Paulo, no ano de 1952.Sua estréia em televisão, aconteceu na novela de Mário Prata Contou para mim, que ela está morando nos Estados Unidos, casado com o ator Carlos Alberto Riccelli e um filho de nome Kim, filho do casal.Que se conheceram fazendo a novela Aritanta, de Ivani Ribeiro na Tv Tupi. É esta mulher, atriz, escritora-poetisa. Roterizou recentemente "Stress, Orgasm and Salvation", um filme de produção independente e com um elenco americano, sendo Bruna, a protagonista.
Bruna, foi musa de Mário Quintana.Quero mostrar para vocês, uma poesia que escolhi incluída em seu livro, O Perigo do Dragão. A edição que possuo, é do Círculo do Livro, uma editora que em parceria com a licença da edição original, tinha o propósito de só vender os livros aos sócios e todos eram editados em capa dura.Não há referência ao ano da edição. Parece que encerrou suas atividades, pelo menos era a informação que circulava no mercado.


Uma mulher

Uma mulher caminha nua pelo quarto
é lenta como a luz daquela estrela
é tão secreta uma mulher que ao vê-la
nua no quarto pouco se sabe dela

A cor da pele, dos pêlos, o cabelo
o modo de pisar, algumas marcas
a curva redondada de suas ancas
a parte da carne onde é mais branca

Uma mulher é feita de mistérios
tudo se esconde: os sonhos, as axilas,
a vagina
ele envelhece e esconde uma menina
que permanece onde ela está agora

O homem que descobre uma mulher
será sempre o primeiro a ver a aurora.

segunda-feira, abril 25, 2005

Foi tão bonita aquela festa, pá!

Revolução dos Cravos - 25 de abril de 1974 Posted by Hello


Aquela linda festa já passou.Trago ainda no peito, a lembrança daquele momento, onde a liberdade, alegria; uma alegria revolucionária que embalaram as mudanças reivindicadas pela imensa população portuguesa. Lembro das manifestações, embora, não estivesse presente, me fiz como se estivesse, partilhando, comungando da transformação que foi simbolizada por uma canção que tomou conta de Portugal. Cantatada por portugueses, como se fosse o hino de sua Revolução, "Grândola, Vila Morena",composta e cantada na voz de Zeca Afonso(1929/1987),ouvida no programa "Limite", da Rádio Renascença, como senha para desencadear o processo revolucionário. Ele, Zeca Afonso, foi escolhido como um dos protagonistas, pelo MFA- Movimento das Forças Armadas, que foram responsáveis pelo golpe militar que terminou o Estado Novo, um regime instaurado desde 1926. Era o desejo de liberdade negada ao povo português.No bojo deste movimento de capitães. Surge a figura de Otelo Saraiva de Carvalho, que fez parte da Junta de Salvação Nacional.O levante militar, ainda contava com a presença do general Antonio Spínola, Mário Soares, secretário-geral do Partido Socialista, veio do exilio em Paris.No primeiro momento uma convergência de forças progressistas e de esquerda estiveram presentes, depois, o desdobramento, as reformas....mudanças. Bom, isto é, papo para outro dia.Lá, o movimento frenético das multidões...Aqui, um período em que vivíamos sob a ditadura e a censura nas redações dos jornais.Obscurantismo próprio das ditaduras militares...Aqui, também havia resistências, apelamos para a nossa singular critividade para sobreviver e divulgar a nossa arte.Aquele dia para mim, foi um acontecimento.Aqui, ainda sobrevivia o aparelho de estado extremamente repressor e exercido em toda sua plenitude.Arbritariedades, apelo "democrárico" deste estado ditatorial brasileiro.Convivemos com isto e muito mais...Aqui, recebemos os asilados politicos:o ultraconservador Marcelo Caetano(1906/1980) e Américo Thomás, chefes do regime salazarista.Um deles, ainda ganhou a vaga de professor na Universidade Gama Filho.Lá, a PIDE, já dava sinais de derrocada do sistema que a sustentava.Houve fugas.Para Portugal enviaram o embaixador o general Carlos Alberto Fontoura, que era um dos responsáveis pelo SNI, órgão de informação semelhante a Policia Internacional e de Defesa do Estado(PIDE), criada em outubro de 1946.Enfim, era a policia politica do antigo regime.
A Revolução dos Cravos, promoveu para várias gerações o sentido de liberdade e dignanidade.Derrubaram o regime fascista que dominava com truculência por quase 50 anos, a vida lusitana.A liberdade para os povos subjugados pelo colonialismo português.
Hoje, Avenida da Liberdade,em Lisboa, estará repleta para as comemorações.Os cravos de abril,a Revolução dos Cravos, será o simbolo desta nova forma de vida dos portugueses.
Vou transcrever a canção que ficou marcada neste período;Mais fontes sobre o movimento, consultar:Wikipedia, enciclopédia livre, também indico o Centro de Documentação 25 de abril de Universidade de Coimbra

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Importante lembrar da canção de Chico Buarque de Holanda dedicada ao movimento de abril.Transcrevo a primeira versão de Tanto Mar, que houve a intervenção da censura, lá foi editado e gravado na integra, no ano de 1975

Tanto mar
Sei que estás em festa,pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo pra mim

Eu queria estar na festa,pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor em teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também que é preciso,pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim

Chico Buarque, redesenha a nova letra, com as observações da mudança dos rumos da revolução... É a confirmação da inteligencia e a genialidade do nosso compositor.

Tanto Mar -
Foi bonita a festa,pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Canta a primavera,pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim

domingo, abril 24, 2005

América Latina - um falar poético de sua alma

Olá!

Cheguei hoje, para apresentar algumas frases, que recolhi em uma agenda, na época em que eu tinha uma Editora e Distribuidora. Mantinha esta agenda em uma gaveta. Aqui, nesta Quitanda, há um espaço dedicado ao falar latino-americano. Sua cultura, sua gente, a produção intelectual, sua música, são permanentes ingredientes que fazem parte do ambiente da Quitanda. De portas abertas para a América Latina.

"Minha pátria, pela qual luto, tem por fronteira a América Latina" - Sandino

"O mexicano não é uma essência e sim uma história" - Octávio Paz

"O intelectual colonizado que decide lutar contra as mentiras coloniais luta em escala continental" - Franz Fanon

"O homem, animado com os progressos que realiza dentro da prisão, esquece a prisão" - Leonardo Boff

"Somente quem se aceita pode acolher os outros" - Pedro Casaldáliga

"Quando há muitos homens sem dignidade, há sempre outros que têm em si a dignidade de muitos homens." - José Marti

"Quero escrever, mas me sai espuma...quero dizer multissimo e me atolo...Quero escrever, mas sinto-me puma." - César Vallejo

"O cisma pode vir tanto do pastor quanto dos fiéis." - Pedro Casaldáliga

"A felicidade existe sobre a terra e é conquistada com a prática constante da generosidade." - José Marti

"Ninguém morre na véspera", "Somente os porcos morrem na véspera". - Ditado nicaragüense

"A poesia é uma palavra cujo sabor é a essência" - César Vallejo

"A literatura é mentir bem a verdade." - Juan Carlos Onetti

"Todos somos feitos do mesmo barro, mas não do mesmo molde." - Provérbio mexicano

"Não há pior luta do que aquela que não se faz". - Provérbio hondurenho

"A poesia é o ponto de intercessão entre o poder divino e a liberdade humana." - Octavio Paz

"A guerra é a obra de arte dos militares, coroação de sua formação, o máximo de sua profissão. Não foram criados para brilhar na paz." - Isabel Allende

"Quem vive entre coiotes aprende a uivar" - Refrão nicaragüense

"Penso que, com o passar dos tempos, mereceremos não ter governos". - Jorge Luis Borges

"Quem tem terra, tem guerra." - Ditado popular hondurenho

"A pergunta sobre nós revela-se sempre como uma pergunta sobre os outros" - Octávio Paz

"Em literatura não existem temas bons ou temas ruins. Existem temas bem ou mal tratados". - Julio Cortázar

"Se não somos diálogos, nada somos." - Ernesto Gardenal

"Desligar-se da realidade não é nada; heróico é desligar-se de um sonho" - Rafael Barreti

"O trabalho do novelista é tornar visível o invisível através das palavras." - Miguel Angel Asturias

"O amor é tão importante quanto a comida, mas não alimenta." - Gabriel Garcia Márquez


quinta-feira, abril 21, 2005

Habemus Barão do Humor!

Olá!
Pretendo ser breve. Andava de um lado para o outro, ou mesmo, em círculos...Distraído, pensando na vida... acabei dando uma canelada na quina da prateleira em que fica exposta a seção de humor. Precisava ter este momento,um pouco de riso pois, a batida, não foi de brincadeira. Doeu e acabei rindo do meu gesto. Não sei se choro, ou se rio. Prefiro rir, melhor ainda, quando se localiza perdido, umas anotações que um velho amigo de infância, me presenteara. Ele deu-se ao trabalho de copiar algumas das antológicas frases revestidas de humor, com pitadas de sarcasmos, de autoria de um gaúcho, nascido em 29/01/1895. Seu nome: Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé.Há uma vida muito interessante pelo seu envolvimento com a imprensa. Foi eleito vereador pelo PCB, em 1947 e depois cassado. Deixou para nós, uma curiosa frase, após a saída de prisão, declarando:"Saía da vida pública para entrar na privada." Trabalhou em O Globo, A Manhã, de Mário Rodrigues. Fundou seu próprio jornal A Manha no ano de 1926. Apparício tinha um grande senso de humor. Foi perseguido no governo Vargas. Espero ainda a qualquer momento voltar colocar aqui na parede da Quitanda, mais pitadas, sobre o nosso Barão do Humor. Um homem muito inteligente, sarcástico e combatente. Em sua campanha para vereador, tinha sacadas geniais, como: "Mais água e mais leite. Mas menos água no leite". Na década de 50, lembro das filas do leite, do caminhão do leite, e dos vidros de litros de leite que comprávamos, também em padarias e nos incipientes supermercados, como por exemplo: Casas Gaio Marti, Pague Menos. Casas da Banha. Uma das reclamações da população era sobre à agua no leite. Pretendo retomar a conversa sobre Barão de Itararé, brevemente. Por enquato, ficam com este, que coloco na vitrine da Quitanda.
O material exposto pode ser encontrado em livros sobre o autor. Recomendo "Máximas e Mínimas do Barão de Itararé", editado pela Record e autoria de Afonso Félix de Sousa", 1985. Há também um bom livrinho editado pela Brasiliense(editora Danda Prado), na coleção "Encanto Radical", de autoria de Leandro Konder. Há páginas e livros que abordam o autor. Livros de sua autoria, ainda encontram-se no circuito dos sebos.
Transcrevi algumas das frases que meu amigo me presenteou:
"Nunca desista de seu sonho. Se acabar em uma padaria, procure em outra."
"De onde menos se espera, daí é que não sai nada"
"A sobrancelha é o bigode do ouro"
"O Brasil é feito por nós. Só falta desatar os nós"
"Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato"
"Cada um dança com as pernas que tem"
"O homem que se vende recebe sempre mais do que vale".
"Que faz o peixe, afinal?...Nada
"O feio da eleição é se perder"
"Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa"
"O fígado faz muito mal à bebida"
"Deus dá peneira, a quem não tem farinha"
"Com dois olhos todos deveria ver em dobro"
"Só o que bota pobre pra frente é empurrão."
"Quem inventou o trabalho não tinha nada o que fazer"
"Mais vale um galo no terreiro do que dois na testa"
"Pobre, quando tira a mão do bolso, só tira os cinco dedos"

Ontem, não consegui escrever, postar alguma coisa para ser lida. O Blogger, parece que estava em manutenção. Não havia como conectar. Consultando os rascunhos da lembrança, surgiu de imediato o nome de uma grande escritora, que ficou à margem do mercado editorial. Lidei com muitas editoras, trabalhei diretamento com editores. Atuei por mais de 20 anos. Andei, enquanto, distribuidor, distribuido várias editoras; uma delas, editora paulista, Paulicéia(Perosa editores - um pessoal muito simpático).Trabalhei com Beatriz da Hipocampo - uma pequena editora que ficava em sua casa, no bairro de Botafogo, no inicio dos anos 80. No catálogo dos Perosas(Paulicéia), constava título de Hilda.Voltei a entrar em contato, desta forma com esta escritora, natural de Jaú, em Sâo Paulo. Nasceu nesta cidade em 21 de abril de 1930 e vei a falecer em Campinas de infecção, em 4 de fevereiro de 2004, aos 73, após uma cirurgia. Estive em contato de seus livros também, pela Massao Ohno e por uma outra editora Roswita Kempf. Lembro que foi nos anos 80. Na livraria Quarup, em Ipanema, onde fui livreiro, arrumei um espaço para poesias e outros assuntos. Hilda sempre ocupava um espaço dentro da livraria.
Vou deixar apenas este verso de quem, Hilda, segundo comenta-se, recusou seu amor. Este poeta era um homem apaixonado. Assim, como o nosso grande compositor Chico Buarque, Drummond, esbarrava com mulheres e olhares apaixonados pelas ruas do Rio. Há casos e sei disto, por ser uma amiga dileta. Acho que vale a pena ler o que tem para contar...Para maiores detalhes, de uma mulher ipanemense e psicanalista que manteve um relacionamento amoroso com o poeta Carlos Drummond de Andrade. Faça uma visisita a um blog muito interessante, para saber de detalhes inéditos, deste envolvimento, da autora do blog com o poeta. Leiam Laura
Aqui, nesta Quitanda, vocês vão curtir um poema de Carlos Drummond de Andrade para Hilda Hilst.

"Abro a folha da manhã
Por entre espécies grã-finas
Emerge de musselinas
Hilda, estrela Aldebarã.

Tanto vestido enfeitado
Cobre e recobre de vez
Sua preclara nudez
Me sinto mui pertubado

Hilda girava boates
Hilda fazendo chacrinha
Hilda dos outros, não minha
Coração que tanto bates

Mal chega o Natal
e chama a ordem Hilda
Não vez que nesses teus girofês
Esquece quem tanto te ama?

Então Hilda, que é sab(ilda)
Manda sua arma secreta:
um beijo em morse ao poeta.
Mas não me tapeias , Hilda.
Esclarecemos o assunto.

Nada de beijo postal
No Distrito Federal
o beijo é na boca e junto"

Mais sobre escritora, leia aqui, nesta página oficial de Hilda Hilst

quarta-feira, abril 20, 2005

Um escrito perdido em uma gaveta.

Olá!

Abri uma das gavetas, situadas no corredor do lado esquerdo, onde geralmente, guardo lembranças, rascunhos e outras miudezas. Marilene, chamou minha atenção, para esta gaveta, parecia, disse ela, estar emperrada, não vejo você abrindo e muito menos, limpando. Pelo tempo, afirmava ela, deve estar precisando de uma arrumação. É verdade! Confessei silencioso, tá precisando...Quando entrei na Quitanda, pela parte da manhã, encontrei uma placa com os dizeres"Negros Verdes Anos 70", inspirados em uma expressão usada por Heloísa Buarque de Holanda, caida bem junto aos livros, que um poeta deixou consignado. Era um poeta da geração mimeógrafo. Quando tive uma livraria em Ipanema, a Quarup, situada no lado oposto da Editora Imago, no edificio Top Center, na Rua Visconde de Pirajá, 550, 3º piso, com Anibal de Mendonça. Ali, procurei sempre acolher o que se convencionou chamar "Poesia Marginal". Recebia e era uma das grandes possibilidades de ter o livro na livraria era deixar sob forma de consignação. Acho que andava na contra-mão do mercado livreiro. Fechei no final de 84. Não estar localizado na rua ou no térreo do shopping, foi um dos fatores determinantes para o fechamento de uma livraria que se propõs aberta para várias manifestações literárias. Colocar as ciências sociais onde pelas caracteristicas do bairro, dispensava o consumo desta ciência. O pessoal preferia comprar e ler, a ciência da moda, a psicanálise. No final da Quarup, tentei fazer uma mudança do perfil de minha loja, mas já era muito tarde. O público acomodado preferia ir a um lugar que estava mais imediato a ele, ou seja,a livraria de rua. Sempre admirei o esfôrço desta turma que procurava explorar - criar a poesia de qualquer jeito, seja em papel, jornal, revistas, manuscritos livros editados de forma artesanal, com pequenas tiragens. Jornais eram editados, como "Bondinho", "Flor do Mal", O Pasquim e outros jornais considerados como alternativos. Havia um grupo imenso de jovens envolvidos com esta narrativa.Lembro no momento, de Torquato Neto, Wally Salomão, Cacaso(Antonio Carlos de Brito-1944/1988), Chacal, Leila Mícolis, Pedro Lyra, Paulo Nassar. Enfim, muita gente boa. Editoras como a Trote, não recordo agora se a escritora-poetisa Leila Micolis, era a proprietária. Uma editora em Copacabana, pertencia à Christina Oiticica, mulher de Paulo Coelho, Raul Seixas, tinham livros editados por ela. Muita gente. Lembro de Angela Melin, consignando livros comigo. Como estou puxando pela memória e há claro, falhas. Uma pena, não ter registrado, além dos contatos, a presença destes escritores em busca de seu espaço. Penso em outra oportunidade, conversar mais a respeito deste assunto.Quando ainda mantinha a livraria, uma noticia que causou grande repercussão, foi no dia da morte de Ana Cristina César, cometendo suicidio(1952/1983). Onze anos antes, um outro poeta tinha dado fim a sua trajetória, nome que eu cito em um post escrito neste mês.
Agora pretendo, mostrar algo que eu escrevi. mas não há nenhuma associação do que mostro com o período em que falo acima. Foi escrito em um dia de domingo.
Sonhos
Sonhos desbotados
silenciosos
Invadem
As horas noturnas
de minha manhã.
Um sopro remexe sua imagem
Uma letra rabiscada nos traços
sonoros da melodia de seu corpo
Levam o meu corpo ao seu
Minha alegria toma posse
Nos contornos das
Lembranças arredias
que asfixiam a ilusão
daqueles
Momentos de movimentos
desordenados de nossos corpos
Guardados
Nos aposentos
Alojamentos de meus
desejos loucos
roucos, perdidos
na busca de seu
Sorriso.
Calado ando nos passos
perseguidos de minha
sombra.
Levanto, abro os olhos
e leio o jornal.
Olho para o lado e
vejo, que estava apenas
Só.

















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terça-feira, abril 19, 2005

A Utopia Urbana em O Edificio Master!

Outro dia peguei em uma boa locadora aqui do bairro, um dvd, que há muito tempo tinha selecionado para assistir. Quando passou na tela grande, não pude ir. Ficou arrolado na imensa lista de filmes que, sempre adiciono após a leitura de uma sinopse. Sugestão de Marilene, minha companheira, muito bem informada, referência qualificada. É um dos critérios que somo ao escolher um filme, levo também, em consideração, a indicação de minha amiga blogueira Laura. Uma mulher atualizada em matéria de filmes e livros...e outros assuntos.

Morador de Copacabana, sempre me tocou qualquer coisa que tenham escolhido, para falar, sobre o meu bairro e seus moradores, desperta em mim, um interesse imediato. Estou na fase de pegar material que aborde temas pertinentes a este bairro da zona sul do Rio de Janeiro.Uma curiosidade que começou em 1973, quando aluno do Professor Gilberto Velho. Lembro que, fui o primeiro aluno a possuir o livro que ele, ficou surpreso de ter saído naquele dia. Não esqueci, que ele me pediu para mostrar, o sorriso de felicidade, percebi na face do grande mestre em Antropologia Social. Aquele livrinho de capa azul, editado pela Zahar, “A Utopia Urbana”, foi comprado naquele dia, pois eu tinha que pagar um crediário na livraria Ler(livreiro: Ernesto Zahar, irmão de Jorge Zahar). A livraria, ficava em frente à editora, tinha prioridade, de ser a primeira, de imediato, como tivesse chegado do "forno", para receber os livros editados pelo irmão. Dei sorte naquele dia, o vendedor tinha mostrado as novidades. Dentre elas, o livro de Gilberto. Comprei e fui direto para o IFCS, assistir as aulas daquele dia. Este livro foi a tese de Gilberto, defendida em 1970, na época era casado com a antropóloga Yvonne Maggie, ( foi diretora do IFCS e editora da UFRJ)editou um livro pela Zahar, “Guerra de Orixá: Um estudo de ritual e conflito) Moraram no prédio que serviu de material para a tese, embora, para um trabalho de curso, ele cita o então famoso Barata Ribeiro, 200; hoje sofreu alteração numérica com o intento de remover o estigma. Passou a ser 194.

Gostei do filme que assisti, do cineasta-documentarista Eduardo Coutinho, que eu via sempre em Ipanema, geralmente sozinho.Além da livraria que eu tive em Ipanema, depois que fechei, recebi um convite para trabalhar em uma livraria que pertencia ao cineasta Jorge Iléli, a Unilivros, situada na Rua Visconde de Pirajá, 207. Quero dizer, que estar em Ipanema, é conviver de alguma forma que este segmento de artistas transitando pelas ruas, ou até mesmo em livrarias, que é o ambiente ideal para encontrar com este pessoal. Aqui, passa o meu olhar para as pessoas e o universo ipanemense.

O filme por mais que tenha o olhar de Coutinho e sua equipe, não me foge da lembrança o livro de Gilberto Velho, que desconfio que ignoraram como indicação bibliográfica. Embora, esteja colado na memória de quem leu, de modo que, acho que serviu como um guia para a construção do filme. Pois para mim, há os dois olhares, quando estudam o mesmo caso. Usaram a lente de Gilberto, mesmo que o tratamento seja diferente.O olhar do antropólogo com as lentes do cineasta. Uma via que conduziu para observar os moradores de um prédio com elevado número de apartamento e de antigas situações que o colocaram no hall da fama, de um prédio problemático, com respostas resolvidas, através da delegacia e da justiça.Acho que o filme tem a sua importância como documentário, ele capta com sensibilidade a diversidade humana, fraga seus momentos, codifica o dia-a-dia, expresso nos depoimentos e gestos ao serem abordados pela equipe. O filme tem Copacabana como pano de fundo, recorta uma das realidades urbanas de um grande bairro, para mostrar os conflitos existenciais, para as histórias de vida narradas nos minutos limites do tempo para ser filmado. Conseguiu revelar um retrato ¾ de um segmento da classe média urbana, moradora de uma grande metrópole como o Rio de Janeiro. Um bom filme, um bom documentário, Eduardo Coutinho apenas confirma a sua condição de ser um dos nossos grandes documentaristas. “Edifício Máster, mesmo que encontre algumas restrições, pertence sem dúvida a filmografia nacional. Vale a pena!

segunda-feira, abril 18, 2005

Um Pouco deTorquato Neto, O Anjo Torto

Boa Tarde!

Outro dia conversava aqui na Quitanda, sobre a minha fase de morador da Tijuca. Citei que morava próximo de um artista, muito brilhante, compositor, jornalista. Seu nome: Torquato Pereira Araújo Neto – Torquato Neto - nascido em Teresina, no Piauí, em 09/11/1944.Morava no quarteirão anterior ao meu. Eu morava em frente ao América Futebol Clube e ele em uma vila da rua Campos Salles.Tenho impressão que era com os pais. No inicio da década de 70, cometeu o suicídio , se não estou enganado, no prédio da esquina de Mariz e Barros com a rua Ibiturana. Um dia após o seu aniversário, em 10/11/1972. Fiquei sem compreender bem, aquele gesto. Lembro que houve uma grande festa nesta vila, com a presença de diversos artistas, entre eles:.Marieta Severo, vi de longe. Realmente uma bonita mulher. Ela fazia o papel de “Rato”, na novela “Sheik de Agadir”, de Gloria Magadan, exilada autora cubana e de grande popularidade e que foi abalada com a entrada de Janete Clair(1925/1983). Glória, ainda chegou a supervisionar a nossa "Maga das 8". Há dois livros interessantes para serem lidos que tratam da trajetória de Janete Clair. O primeiro de Artur Xexéo, editado pela Relume Dumará(editor Alberto Dumará) na coleção perfis. o segundo, é de autoria de Mauro Ferreira, Nossa Senhora das Oitos, pela Mauad( editora Isabel Mauad). Glória, depois sai da Globo e vai para a Tupi, fracassa e vai escrever em outra freguesia, ou seja em Miami. A novela foi feita sob a direção de Régis Cardoso (1935/2005), na Rede Globo, no ano de 1966. Como declarei, conhecia de vista, não tenho certeza, se já era casado e se tinha filhos nesta ocasião. Nesta época, já cursava o curso de ciências sociais.
Li que ele colaborou como jornalista no suplemento O Sol, do Jornal dos Sports – que se caracterizava pela cor rosa de sua folha de rosto.Um dos poucos jornais que o noticiário esportivo dominava. Nos fins de semana, havia um suplemento, trazendo os resultados dos vestibulares e outros assuntos ligados a educação. A censura, acabou muito rápido , com esta experiência de um grupo de jornalistas. Caetano menciona o “o sol nas bancas de revista me enche de alegria e preguiça...Quem lê tanta noticia”, composta, em Alegria, Alegria. Ou será que é equivoco de minha interpretação? Torquato também tem composição em parceria com Caetano Veloso, Gilberto Gil e manteve uma coluna no jornal Ultima Hora, de Samuel Wainer (1912/1980). Wally Salomão ( 1944/2003 poeta premiado, amigo de Torquato, participou com ele do movimento tropicalista, lançou um livro bastante raro, que se chama: Os últimos dias de Paupéria . Conheci Wally Salomão na editora da filha da proprietária da Forense, herdou de seu pai, a senhora Regina Bilac Pinto Zingoni,. A filha era quem cuidava da Forense Universitária.Conversamos sobre livros e distribuição. Nesta época eu tinha a Distribuidora Editora Obra Aberta. Wally, uma pessoa que era sensível aos problemas do mercado editorial, um bom papo. Mostro agora para vocês a letra abaixo: Passo agora um pouco deste grande e sensível poeta. Para muitos, O Anjo Torto


Geléia Geral – (Gilberto Gil e Torquato Neto)

Um poeta desfolha a bandeira e a manhã tropical se inicia
Resplandente, cadente, fagueira num calor girassol com alegria
Na geléia geral brasileira que o Jornal do Brasil anuncia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

A alegria é a prova dos nove e a tristeza é teu porto seguro
Minha terra é onde o sol é mais limpo e Mangueira é onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem, Pindorama, país do futuro
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

É a mesma dança na sala, no Canecão, na TV
E quem não dança não fala, assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala as relíquias do Brasil:
Doce mulata malvada, um LP de Sinatra, maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano, superpoder de paisano, formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela, carne-seca na janela, alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade, hospitaleira amizade, brutalidade jardim
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

Plurialva, contente e brejeira miss linda Brasil diz "bom dia"
E outra moça também, Carolina, da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos e a saúde que o olhar irradia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

Um poeta desfolha a bandeira e eu me sinto melhor colorido
Pego um jato, viajo, arrebento com o roteiro do sexto sentido
Voz do morro, pilão de concreto tropicália, bananas ao vento
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi

Deixo mais esta letra, que faz parte do panorama da música popular brasileira.

Pra dizer Adeus (Edu Lobo e Torquato Neto)

Adeus

Vou pra não voltar

E onde quer que eu vá

Sei que vou sozinho

Tão sozinho amor

Nem bom pensar

Que eu não volto mais

Desse meu caminho

Ah, pena eu não saber

Como te contar

Que o amor foi tanto

E no entanto eu queria dizer

Vem, eu só sei dizer

Vem, nem que seja só

Pra dizer adeus.

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domingo, abril 17, 2005

Lembrando de Sidney Miller

Boa Tarde! Hoje, foi dia de manhã chuvosa, trovoadas e de aguardar esta chuva passar. A sugestão de colocar uma música, me agradou muito e foi a pedida de meus ouvidos. Quando faço isto, estou ciente de que minha voz, para desespero do pessoal de casa, é desafinada. Recomendam ir para o banheiro... De modo que, acho melhor deixar de cantar e passar a ser ouvinte.Sempre será a minha condição. Preferi apanhar no expositor do salão , em que coloco as músicas da trilha sonora desta Quitanda. Quando se coloca música, o ambiente sempre fica melhor.Foi o que eu fiz. Nos corredores deste espaço que abriga diversos gêneros musicais, está sempre presente, de modo eterno, uma cantora que para mim, ainda, desde daqueles tempos de bossa nova, dos festivais estudantis, da música de protesto, foi classificada como a minha Musa. Gostava de ver e ouvir Nara.Claro, que eu divido com os demais ouvintes. Ouvir Nara Leão, é repartir o tempo, resgatar a boa música, os compositores esquecidos. Situar-se na história da música popular brasileira. Dificil escolher uma preciosidade que Nara gravou. São todas da melhor qualidade. Sua voz é ímpar. Onde quer que estejamos, identificamos de imediato sua sonoridade. Ouvir MPB sem ouvir a voz de Nara, é ruim da cabeça ou doente dos ouvidos.
Escolhi um compositor que marca sua presença na história da MPB. Foi homenageado com o seu nome um espaço múltiplo de manifestação artistica. A diretora da sala, é Ana de Hollanda, o espaço situado na Funarte, chama-se Sala FUNARTE Sidney Miller. É este compositor, que volta e meia, coloco para ouvir. E agora, transcrevo duas músicas de sua autoria. Gravado também pelo Quarteto em Cy, MPB 4 e outros cantores.
Sidney Miller, um carioca que nasceu em 1945 e morreu cedo aos 35 anos, em julho de 1980. Não tenho informação se há algum cd apenas cantado por ele. As suas músicas foram registradas pela gravadora Elenco, de propriedade de Aloyzio de Oliveira(1914/1995) . Interessante é o livro que foi editado recentemente. Um belo trabalho, para ficar na história, que são as capas da gravadora, que são inconfudiveis. Há uma página que abriga diversas capas da gravadora Elenco

Pois é, Prá Quê?

O automóvel corre a lembrança morre

O suor escorre e molha a calçada

Há verdade na rua, há verdade no povo

A mulher toda nua, mais nada de novo

A revolta latente que ninguém vê

E nem sabe se sente, pois é, prá quê?

O imposto, a conta, o bazar barato

O relógio aponta o momento exato

Da morte incerta, a gravata enforca

O sapato aperta, o país exporta

E na minha porta, ninguém quer ver

Uma sombra morta, pois é, prá quê?

Que rapaz é esse, que estranho canto

Seu rosto é santo, seu canto é tudo

Saiu do nada, da dor fingida

Desceu a estrada, subiu na vida

A menina aflita ele não quer ver

A guitarra excita, pois é, prá quê?

A fome, a doença, o esporte, a gincana

A praia compensa o trabalho, a semana

O chope, o cinema, o amor que atenua

O tiro no peito, o sangue na rua

A fome a doença, não sei mais porque

Que noite, que lua, meu bem, pra quê?

O patrão sustenta o café, o almoço

O jornal comenta, um rapaz tão moço

O calor aumenta, a família cresce

O cientista inventa uma flor que parece

A razão mais segura pra ninguém saber

De outra flor que tortura, pois é prá quê?

No fim do mundo há um tesouro

Quem for primeiro carrega o ouro

A vida passa no meu cigarro

Quem tem mais pressa que arranje um carro

Prá andar ligeiro, sem ter porque

Sem ter prá onde, pois é, prá quê?

O Circo

Vai, vai, vai começar a brincadeira
Tem charanga tocanda a noite inteira
Vem, vem, vem ver o circo de verdade
Tem, tem, tem picadeiro de qualidade
Corre, corre, minha gente que é preciso ser esperto
Quem quiser que vá na frente, vê melhor quem vê de perto
Mas no meio da folia, noite alta, céu aberto
Sopra o vento que protesta, cai no teto, rompe a lona
Pra que a lua de carona também possa ver a festa
Bem me lembro o trapezista que mortal era seu salto
Balançando lá no alto parecia de brinquedo
Mas fazia tanto medo que o Zezinho do Trombone
De renome consagrado esquecia o próprio nome
E abraçava o microfone pra tocar o seu dobrado
Faço versos pro palhaço que na vida já foi tudo
Foi soldado, carpinteiro, seresteiro e vagabundo
Sem juízo e sem juízo fez feliz a todo mundo
Mas no fundo não sabia que em seu rosto coloria
Todo encanto do sorriso que seu povo não sorria
De chicote e cara feia domador fica mais forte
Meia volta, volta e meia, meia vida, meia morte
Terminando seu batente de repente a fera some
Domador que era valente noutras feras se consome
Seu amor indiferente, sua vida e sua fome
Fala o fole da sanfona, fala a flauta pequenina
Que o melhor vai vir agora que desponta a bailarina
Que o seu corpo é de senhora, que seu rosto é de menina
Quem chorava já não chora, quem cantava desafina
Porque a dança só termina quando a noite for embora
Vai, vai, vai terminar a brincadeira
Que a charanga tocou a noite inteira
Morre o circo, renasce na lembrança
Foi-se embora e eu ainda era criança

Sidney Miller - Compositor Carioca - (18/04/1945 / 16/7/1980) Posted by Hello

sábado, abril 16, 2005

SolanoTrindade: O Esquecido Poeta Negro

Olá!
Minha escolha para ser mostrado para vocês, é a poesia de um militante comunista. Ligado as questões raciais, à cultura popular, com participação em filmes. Nasceu em Recife, no bairro São José, em julho de 1908. Seus pais foram o sapateiro Manuel Abílio e Emereciana, quituteira e operária. Seu nome: Francisco Solano Trindade. Apontado por muitos, como o criador da poesia assumidamente negra. Expressou-se também como pintor. Casou três vezes e teve quatro filhos. Hoje, sua filha Raquel Trindade continua com o trabalho do pai. Um poeta com uma biografia muito rica, mostrando toda a dimensão de um ser valente e sensível aos problemas sociais e da cultura brasileira.
Uma trajetória de luta, de articulação com as questões raciais. Esteve ao lado de Haroldo Costa e Abdias Nascimento,quando criou o Comitê Democrático Afro-Brasileiro, na década de 40. Nesta mesma década, edita "Poemas de uma Vida Simples". Um observador das danças populares e o folclore. Criou em 1950, com sua esposa Margarida Trindade e junto com o folclorista Edson Carneiro, o Teatro Popular Brasileiro(TPB). Criou com Abdias, o Teatro Experimental do Negro. Dedicado e profundo conhecedor da cultura negra.
Carlos Drumond de Andrade, que no dia 02/12/1944 em carta a Solano, teceu um comentário sobre seus poemas, registrando: "Há nesses versos uma força natural e uma voz natural rica e ardente que se confunde com a voz coletiva". Uma composição musical feita por João Ricardo,"Tem gente com fome", foi gravada em 1979 por Nei Matogrosso, no LP "Seu Tipo" do poema de Solano Trindade. Só foi possivel de ser gravada, apenas neste ano, pois, sofrera censura. Inicalmente , era para ser gravado pelos Secos & Molhados.Um trecho da letra pra vocês:
"Tem gente com fome"
Trem sujo da Leopoldina
Correndo, correndo, parece dizer
Tem gente com fome, tem gente com fome
Tem gente com fome, tem gente com fome
Tem gente com fome, tem gente com fome
Tem gente com fome
Piiiiiii
Estação de Caxias
De novo a correr
De novo a dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bonssucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá....
Solano Trindade, um homem multiplo e atuante. Faz parte do elenco de A Hora e a Vez de Augusto Matraga, baseado em um conto incluido em Sagarana, livro de contos de João Guimarães Rosa, editado pela Nova Fronteira. O filme foi realizado por Roberto Santos(1928/1987)um dos nossos maiores cineastas, Considerada ocmo uma obra-prima da filmografia brasileira. No elenco, além de Solano, o músico Geraldo Vandré, atuou e compõs a trilha para o filme que para citar alguns autores como: Jofre Soares, Flávio Migliaccio, Leonardo Villar, Mauricio do Vale e muitos outros. Participa da peça Gimba, de Gianfrancesco Guarnieri. Foi também ator na primeira versão de Orfeu,de Vinicius de Moraes, em 1956. Co-Produtor do filme "Magia Verde", premiado em Cannes, no ano de 1953 sob a direção de Gran Gaspare Napolitano e Pietro Maria Bardi.
Mudou para Embú e ficou apaixonado pela cidade, teve uma efetiva participação, contribuindo para o fluxo turistico da região. Sua casa, tornou-se um núcleo artistico. Ficou conhecido como "o patriarca do Embu". Orgulhava-se de ser chamado de "Poeta Negro". Sua descendência afro está presente em sua obra e sua militancia. Mesmo com esta trajetória, ele é esquecido no panorama da poesia brasileira e na vida ao morrer em 20/02/1974 como indigente, num hospital do Rio.
Aqui deixo para vocês o que recolhi em um livro editado na primeira fase da Editora Paz e Terra, depois ela foi adquirida pelo empresário Fernando Gasparian. O Livro tem a diagramação e supervisão gráfica de Roberto Pontual. Canto Melhor: Uma Perspectiva da Poesia Brasileira, autoria de Manoel Sarmento Barata,1969
"Poema do Homem"
Desci à praia
para ver o homem do mar
e vi que o homem
é maior que o mar
Subi ao monte
para ver o homem da terra
e vi que o homem
é maior que a terra
Olhei para cima
para ver o homem do céu
e vi que homem
é maior que o céu.

sexta-feira, abril 15, 2005

Adélia! De corpo e alma.Uma cidadã de Divinópolis.

Adelia Prado - Poetisa Mineira Posted by Hello
Uma Poetisa para ser lida a qualquer hora. Sempre vale a pena ter momentos em nossa vida, a companhia desta sensível poeta da alma feminina.

quinta-feira, abril 14, 2005

A mineirice de Adélia Prado e outras conversas...

Olá!

Pela manhã ao entrar na Quitanda, esbarrei em uma prateleira de um dos corredores, que por suas características, batizei como Minas Gerais. Um espaço peculiar, com elementos da cultura mineira.Em especial a literatura mineira. O espírito de Minas, toma conta deste espaço. Sempre mantenho afixado em uma parede, retratos, escritos de pessoas que eu gosto, aprecio mesmo e se tiver algum que eu não goste, coloco também. Ali, bem na minha frente, na parte superior, a imagem de uma mulher mineira, que permanece em minha memória.Seu riso e seus cabelos, são características marcantes desta elegante e simpática escritora, Há uma caracteristica de sua narrativa, é a presença do universo religioso. da sexualidade reprimida...Meu contato primeiro está em seus livros. Hoje, um elenco de obras importantes que fazem reluzir o panorama da literatura feminina, mineira de excepcional qualidade. Conheci seu primeiro editor, fazia parte do meu ciclo de adolescente. Moramos em uma mesma rua da Tijuca, na Campos Salles. Minha primeira namorada foi sua prima. Homem de grande trajetória no mercado editorial e apontado como um dos melhores editores do país. De grande formação intelectual, esteve engajado na criação de cineclubes, e uma passagem por uma congregação religiosa. lembro deste período no final dos anos 60.
Fazíamos parte de um segmento de moradores do bairro da Tijuca, localizada, na zona norte do Rio de Janeiro. Bairro com forte presença da classe média, com um enorme número de estudantes e colégios. Eu mesmo, fui aluno do colégio estadual Orsina da Fonseca, hoje escola municipal.Bons tempos do ensino público no Brasil. Mais tarde fui para o Instituto La Fayette, na Rua Haddock Lobo. Houve um tempo em que se fazia a opção pelo clássico ou cientifico. Naturalmente o clássico foi escolhido. Tempo de descobertas. Onde entrei em contato com o movimento secundarista, com o núcleo na escola. Foi o momento que despertou uma imensa curiosidade intelectual e o meu começo de militante partidário. Antes de começar com a leitura predominante nos movimentos de esquerda, passei pela fase existencialista.Iniciava em seguida na filosofia marxista, pelas releituras da obra do materialismo histórico e dialético. Pela primeira vez tive contato, com a sonhada literatura e foi na biblioteca de Pedro Paulo de Senna Madureira, poeta com livro editado pela Imago, hoje proprietario da editora A Girafa. Seu irmão Nelson, me passava as informações e os livros. Tínhamos um grupo muito grande, vários tomaram rumos bem diferentes, alcançando status de notoriedade no cenário brasileiro. Fomos de um mesmo grupo ou sub-grupos: Maria José Polessa - Zezé Polessa, atualmente exercendo a profissão de atriz e suas irmãs, Ana Maria e Maria Luiza, e a caçula que me foge o nome. Também deste período, o médico sanitarista José Gomes Temporão, autor de um livro editado pela Graal. Destas celebridades, tinha um, que apenas conhecia de vista, morava na Campos Salles, era poeta e compositor que anos depois, nos inicios dos anos 70, suicidou-se. Ainda não li, pretendo comprar é o livro em dois volumes do jornalista Paulo Roberto Pires (recentemente foi editor da Planeta, um novo grupo editorial no país), mas o livro foi editado pela Rocco (editora com o nome do proprietário(muito comum, dar o nome da casa editorial ao seu dono) e com passagem pela Editora e Livraria Francisco Alves).
Saí empolgado e vibrando com as Obras Escolhidas de Marx & Engels em 3 volumes, tomadas emprestadas. A editora foi fechada na época da ditadura. Seu catálogo era cobiçado por nós, era sorte encontrar algum título encontrávamos perdidos os livros publicados pela combatente editorial Vitória, aqui no Rio de Janeiro, em algum sebo, esbarrávamos na dificuldade localizar livro publicado. Encontrei em uma queima de livros, promovidos, pela Livraria Civilização Brasileira., antes do atentado à bomba que destruíram a loja no centro da cidade, na rua Sete de Setembro,97. Seu editor Ênio Silveira, foi militante do PCB. Os grupos de direita sempre ensandecidos nestes episódios, manifestavam de modo violento com atentados contra a liberdade de opinião. Tanto a Editora e Livraria eram no mesmo prédio.Explosão em banca de jornais e shows. Foi na busca por determinados autores, que entrei pelo fascinante mundo dos sebos.Era cliente da Livraria São José, na rua de mesmo nome.Tornou-se um hábito, minha ronda pelos sebos do centro da cidade. Olhava os livros nas prateleiras e balcões do começo ao fim. Passava vista em todos eles, para garimpar a minha preciosidade. Lembro que havia uma coleção dirigida pelo escritor baiano Jorge Amado, “Romances do Povo”, Editorial Vitória, com vinculos com intelectuais do "Partidão", como era também conhecido o PCB;reunindo romancistas socialistas, entre eles: Ilya Eherenburg, Ostrovsky, Pavlenko .Foi nesta editora, que Jorge Amado, publicou o seu livro “O Mundo da Paz”, que levou o escritor a ser enquadrado e processado na lei de segurança nacional. Não recordo se o editor chamava-se Calvino.
O consumo desta literatura e preocupações sociais e políticas me levaram a fazer Ciências Sociais no inicio da década de 70, no Largo de São Francisco, no IFCS/UFRJ, mudado pra lá, depois da saída repentina da rua Marques de Olinda, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Quando prestei o vestibular, neste dia, houve uma demora inexplicavel para iniciar as provas. Apenas boatos...Isto aconteceu no final de 1970. Éramos vigiados constantemente, por zelosos“faxineiros” preocupados com limpeza dos corredores e banheiros. Dispersavam os vários (cada um pela colaração ideológica)grupos formados pelos andares, justamente, passando a vassoura, onde os grupos se reuniam.. Não paravam de circular pelos andares. Ali, estavam distribuídos os cursos de Filosofia, História, Ciências Sociais e de rápida passagem a turma da Geografia. Lembro deste período fazendo Geografia, o ator Luiz Armando Queiroz, morreu aos 53 anos, vitima de câncer.Participou nos anos 70, do seriado A Grande Família, direção de Paulo Afonso Grisolli , com texto de Armando Costa e Oduvaldo Vianna Filho(1936/1974), exibido pela Rede Globo, Foi o período conhecido como os “Anos de Chumbo”. O afastamento de professores desta instituição de ensino, quero dizer, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Posso citar, no momento, mas registro que vários deles foram para a PUC/RJ, no bairro da Gávea, zona sul do Rio de Janeiro. Vou apenas mencionar alguns mestres: Maria Yedda Leite Linhares, Marina São Paulo de Vasconcellos ( homenagearam com o seu nome a biblioteca da faculdade), Mauricio Vinhas de Queiróz., José Luiz Werneck da Silva, Mirian Limoeiro Cardoso Lins, Moema Eulália de Oliveira Toscano, Eulália Marias Lahamayer Lobo, Manuel Mauricio de Albuquerque, autor do importante livro “Pequena História da Formação Social Brasileira” - muito útil para a compreensão da sociedade brasileira e para a formação intelectual do estudante brasileiro. Foi editado em 1981, pela Edições Graal – inicialmente a editora pertenceu ao deputado Max da Costa Santos, com a morte do deputado cassado, o seu filho, foi quem vendeu para o editor Fernando Gasparian, da Editora Paz e Terra. O professor Manuel Mauricio(morreu dentro da livraria Ivo Alonso, no centro, fechada nos anos 90) foram muitos. Vários exilados e perseguidos.
Vivíamos um momento de efervescência cultural, de censura cultural, de atentados em livrarias e teatros, aos artistas, movimentos sindicais, da militância estudantil, a desconfiança desperta para os colegas suspeitos de dedos-duros, também de professores que colaboraram com os militares. Tempo de prisões e desaparecimento de presos políticos. Tempo de tortura! O Instituto foi dirigido pelo historiador ultra-conservador, professor Eremildo Luiz Vianna; que é sempre bom lembrar, teve uma “triste” passagem como diretor da Rádio MEC. Um tempo conturbado, de obscurantismo. Resolveram mudar a Faculdade Nacional de Filosofia que em 1965 foi fundida ao Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Brasil, hoje Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, pertencente à Universidade Federal do Rio de Janeiro. O homem era famoso por suas perseguições aos professores mais críticos ao sistema. Depois foi escolhido como diretor um professor de orientação católica,o filósofo Eduardo Prado de Mendonça. Há um livro de Márcio Moreira Alves, que menciona a fase negra da universidade, conta passagens do historiador medievalista Eremildo Vianna,está em O Cristo do Povo, publicado pela editora Sabiá, de Fernando Sabino, que mais tarde, se não falha a memória, vendeu à editora para José Olympio, que passou adiante, o editor não fazia mais parte da casa editorial. foi vendida ao casal Gregory, que morre em acidente aéreo. Anos mais tarde foi incorporada ao grupo editorial Record. Interessante a politica de absorção desta que é considerada a maior editora do país.
Meus Caros, desculpe, mas vou interromper esta narrativa, para retomar e falar na poetisa nascida em 13 de dezembro de 1935, na cidade de Divinópolis, em Minas Gerais. Seu nome: Adélia Luiza Prado Freitas – Adélia Prado . O seu primeiro livro indicado por Carlos Drumond de Andrade, não se deve esquecer a participação de Affonso Romano de Santana e ao meu de infância, Pedro Paulo de Senna Madureira, que trabalhava nos anos 70 na Editora Imago de Jayme Salomão, de formação em psiquiatria.Um bom catálago na área psi.
O primeiro livro editado de Adélia, foi Bagagem em 1976, com o selo da editora Imago, depois O Coração Disparado(Prêmio Jabuti em 1978), o editor Pedro Paulo, acabou levando-a para a Nova Fronteira, em 1978 e três anos mais tarde, lançou Terra de Santa Cruz. Este, é o livro que escolhi para extrair uma poesia que vou transcrever para vocês. A edição que disponho é por uma outra editora, que foi desativada, chama-se Editora Guanabara(Dois), uma divisão da Editora Guanabara Koogan, especializada na área médica. O acervo, foi vendido para Zahar Editora, que mais tarde, acabou sendo desativada e passando a ter o nome de seu proprietário, um dos maiores editores brasileiros, Jorge Zahar(1920/1998) Editor pioneiro em nossa área. Referência obrigatória nas leituras de Ciências Sociais, embora o catálogo, contemple com várias coleções as diferentes disciplinas das ciências humanas.
Vamos ao que interessa, é fazer o registro desta poesia, cujo titulo é:
“Trottoir”
Minhas fantasias eróticas, sei agora,
eram fantasias do céu....
Eu pensava que sexo era a noite inteira
E só de manhãzinha os corpos despediam-se.
Para mim veio muito tarde
a revelação de que não somos anjos.
O rei tem uma paixão – dizem à boca pequena –
regozijo-me imaginando sua voz,
sua mão desvencilhando da fronte da pesada coroa:
Vem cá, há muito tempo não vejo uns olhos castanhos,
tenho estado em guerras...”
O rei dasataviado,
com o seu sexo eriçável mas contido,
pertinaz como eu em produzir com voz,
mão e olhos quase estáticos , um vinho,
um sumo roxo, acre, meio doce,
embriaguez de um passeio entre as estrelas.
A voz apaixonada mais inclino os ouvidos,
aos pulsares, buracos negros no peito,
rápidos desmaios,
onde esta coisa pagã aparece luminescente:
com ervas de folhas redondinhas
um negro faz comida à beira do precipício.
À beira do sono, à beira do que não explico
brilha uma luz. E de afoita esperança
o salto do meu sapato no meio-fio
bate que bate.
Adélia Prado, Terra de Santa Cruz, Editora Guanabara, 2ª edição, RJ, 1986 : 15

terça-feira, abril 12, 2005

Cora Coralina -(1889/1985) - Poetisa Goiana Posted by Hello

Aninha da Ponte da Lapa, a linda Cora Coralina

Olá!
Passando hoje no período da tarde, para cumprimentar você queridos leitores, aproveitei para procurar algum texto que tinha guardado nos cofres desta imensa Quitanda. É algo de muito interessante, de uma singeleza, que não se pode deixar de entrar em contato com o rico material deixado por esta goiana de Goiás Velho, nascida em 1889, de nome Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas. Era conhecida por mais dois nomes: Aninha da Ponte da Lapa e o que se tornou mais popular, após a publicação de seu primeiro livro, aos 75 anos. O nome que faz parte do inventário da literatura brasileira, parte de nosso patrimonio intelectual. É Cora Coralina. Uma doceira de profissão. Sua obra traça a observação com sensibilidade do povo goiano. Mistura de ingredientes para o seu outro fazer, o fazer poético, com delicada sabedoria, com doçura e encanto, vamos nos aproximando deste universo, desta região de nosso país.
Cora Coralina, uma linda senhora, que o nosso poeta Carlos Drumond de Andrade, manteve contato e tornou pública esta grande poetisa. O apreço do poeta era demonstrado em correspondênciaNesta época eu tinha uma livraria em Ipanema, comprava sempre seus livros, editados pela Global. Tinha um público cativo de suas poesias. Era venda certa. Faleceu com 96 anos, em 10 de abril de 1985, na cidade de Goiania . Dois anos antes, em 1983, foi escolhida como a intelectual do ano, obtendo o prêmio máximo da União Brasileira de Escritores, o badalado Juca Pato. Foi a primeira mulher a receber tal premiação, editando neste ano, "Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha"
Ler Cora, Ler Aninha da Ponte da Lapa, é estar em um momento mágico, é penetrar em seu coração, como ela explica o seu pseudônimo: "Cora vem de coração, e coralina é a cor vermelha", assim explicava ...
Transcrevo a seguir:

Todas as vidas

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d'água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera
das obscuras!

---------------------------"Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais", Global Editora, SP, 1983

sábado, abril 09, 2005

Conversas de Sanita

Olá! Como é do costume deste quitandeiro, assim que vou para trás do balcão, o primeiro exercicio matinal, que faço após a leitura do noticiário, é conhecer os blogs situados neste vasto mundo da internet. Sempre encontramos algo de muito interessante, como este que visitei hoje. Confesso que andei pelos caminhos que me levaram a Portugal, volta e meia, cá estou na terrinha. O Doendes & Duentes, foi um deles. Alí, foi onde pesquei este texto que passo para vocês. Preservei o encantador idioma lusitano, com a sonoridade própria que nos diferencia. Gosto de estar sempre visitando um blog, tornou-se um hábito salutar, que adquiri há bastante tempo. Adoro, admirar esta paisagem. É um terreno que com certeza, ainda tenho dificuldades em tatear, pisar e mesmo caminhar. Construi, juntando pedaços e fatias de sonho, transformados nesta Quitanda. Sinto como novato, que ainda tento alcançar o primeiro piso. Passei por uns atalhos e cheguei neste, que indico o link: Praça da Republica:http://praçadarepublica.weblog.com.pt/
Desejo para você, leitor eventual deste blog, um ótimo sábado.

Interrogada pelo Espumante sobre o motivo porque as mulheres demoram muito mais tempo nas casas de banho públicas do que os homens (aqui abro uma parenteses para vos informar que tudo começou com este hilariante post), a Hipatia dá-nos a explicação que passo a transcrever:Eu explico a demora, Espumante. É muito fácil:Uma mulher vai à casa de banho e precisa passar pelo espelho. Aproveita, vê o batom; depois vê também as olheiras e que tal está o cabelo. De seguida - enquanto vai falando da vizinha do andar de baixo com a amiga que, necessariamente, a acompanha - espera que uma casa de banho fique vaga. Finalmente lá aparece uma. A mulher entra. Inspecciona a sanita. Vê se há papel. Nunca há. Abre a mala e procura os lenços de papel. Porra! Ficaram no carro. Esvazia a mala para os bolsos para ver se não haverá um lenço de papel perdido. Não há. Esvazia os bolsos para a carteira. Encontra um lenço de papel no fundo do bolso. Volta a pôr a mala pendurada no cabide. Abre as calças, baixa as calças, baixa os collants, baixa a cueca. Faz equilibrismo sobre a sanita, mantendo em média 5 cm entre o corpo e a borda do vaso. Tendo uma bexiga mais pequena do que a masculina (porque há muito mais coisas a ocupar espaço "do lado de dentro") é com alívio que começa a urinar. As pernas começam a ficar cansadas da posição. Finalmente acaba. Usa o lenço de papel. Procura o balde do lixo. Não há balde do lixo. Deita para dentro da sanita o lenço. Levanta a cueca. Baixa novamente a cueca porque o pensinho diário ficou enrugado. Sobe a cueca. Sobe o collant. Sobe as calças. Fecha as calças. Ajeita a roupa toda e ainda dá mais um arranjo ao collant no dedo grande do pé esquerdo. Foda-se! Acabou de rasgar o collant. Tira o verniz da mala e põe no collant para evitar que a malha alastre. Espera que seque o verniz. Calça o sapato. Guarda o verniz. Abre a porta e sai em direcção ao lavatório. Vê o cabelo. Vê o batom. Vê as olheiras. Tira os anéis todos. Guarda-os no bolso. Lava as mãos. Não há papel para secar as mãos, só aqueles secadores horríveis que não secam nada. Grita pela amiga "tens um lenço de papel?". A amiga grita de volta "usei o último agora". Seca as mãos às calças. Enfia os anéis. Volta a arranjar o cabelo e compõe o batom. Sai finalmente do WC linda e espampanante, sem ter molhado a sanita e de mãos bem lavadinhas, porque as mulheres lavam SEMPRE as mãos e é aí que desperdiçam um tempo precioso.

Quintana na Quitanda


POEMINHA DO CONTRA
Todos esses que aí estão
atravancando meu caminho,
eles passarão...
eu passarinho!

Boa Tarde! Dia ensolarado aqui no Rio de Janeiro, dei uma ligeira caminhada em direção da Quitanda, para procurar algum texto de nosso poeta nascido no Rio Grande do Sul, na cidade de Alegrete, em 30 de julho de 1906 e falecido em 05 de maio de 1994, aos 87 anos em Porto Alegre. Sempre quando aqui apareço, encontro e desta vez, na gaveta do lado esquerdo do peito, os escritos deste poeta encantador. Escolhi mesmo sendo por demais conhecido, mas é sempre bom relembrar, quem me traz e desperta em mim, um caminho de sensibilidade para compreensão das coisas humanas.Como é muito bom, bom demais, este poetaço. Peguei alguns fragmentos de sua vasta obra.

"A VELHICE É QUANDO UM DIA AS MOÇAS COMEÇAM A NOS TRATAR COM RESPEITO E OS RAPAZES SEM RESPEITO NENHUM"

Do mal da velhice

Chega a velhice um dia...E a gente ainda pensa
Que vive ...E adora ainda mais a vida!
Como o enfermo que em vez dar combate à doença
Busca torná-la mais comprimida...

"Quando a idade dos reflexos, rápidos, inconscientes, cede lugar à idade das reflexões - terá sido a sabedoria que chegou? Não! Foi apenas a velhice."



O AUTO-RETRATO
No retrato que me faço
- traço a traço -
Às vezes me pinto nuvem,
Às vezes me pinto árvore...
Às vezes me pinto coisas
De que nem há mais lembrança...
Ou coisas que não existem
Mas que um dia existirão...
E, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
Minha eterna semelhança,
No final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!

Mário Quintana Posted by Hello

quinta-feira, abril 07, 2005

Coisas que o Povo Diz

Olhando a nova pintura da Quitanda, gostei muito das cores empregadas. Uma nova roupagem. Vida nova! Nesta arrumação, empurra de um lado para o outro, que acabei encontrando em uma parede por trás do balcão, algumas frases que um dos fregueses assíduos deste espaço pregou com pedaços de adesivos, no painel do Coisas que o Povo Diz:


"Mais vale chegar atrasado neste mundo...do que chegar adiantado no outro."

"Não deixe que nada te desanime, pois até mesmo um pé na bunda te empurra pra frente."

"Há duas palavras que abrem muitas portas: Puxe e Empurre."

"Existe um mundo melhor, mas é muito caro!"

"A mulher que não tem sorte com os homens não sabe a sorte que tem."

"Canela: dispositivo para encontrar objetos no escuro!"

"Antes tarde do que mais tarde."

"Não leve a vida tão a sério, afinal ninguém sairá vivo dela!"

"Mate-se de estudar e serás um cadáver culto."

"O lobo perde os dentes, mas não o costume."

"Antes dentes que parentes."

"Se saíres de casa e notares que um pombo cagou em tua cabeça. relaxa e pensa na perfeição da grande Mãe Natureza que deu asas aos pombos e não as vacas..."

Na Tela

Bom dia!
Andando pelos corredores da Quitanda, encontrei pregado nas paredes de meu coração, um escrito feito no ano passado. Mostrei para pessoas amigas e agora penso colocar em exposição bem na porta de entrada o que vou postar. Aqui, eu tenho uma parede em que vou pregando recados, bilhetes, rascunhos, pedacinhos de sonhos e doces lembranças...

Na tela
Aquarela colorida de meu sonho
Desenhei com traços de meus desejos
Acetinados.
Emoldurados por um corpo
Despido
Atrevido
Imaginado
Desconhecido
Reprimido
Colo os sabores de meus beijos.
No corpo sedento, desbragado
Nos leves toques de meus dedos
Excedo.
Cedo meus segredos.
Esboço de minha intimidade,
Afasto os medos que defloram minha vontade
Acendo nossos corpos ilustrados por pincéis oniricos
Tingidos no lume do brilho das cores.
Cubro meu pensamento neste momento,
Cenário
Do encontro de sua língua
Liberto os caminhos do prazer
Derreto entre pernas entreabertas
Meus atos desatinados.
Mamilos crescidos,
Esquecidos em minha boca
O falo aquecido pelas caricias
Calo excitado
Respiro
Suspiro
Rasgo o desenho delineado
Desalinhado
Fantasiado de nanquim.
Navegante de meu sonho.
Rabiscado na tela desbotada
Caída no chão.

terça-feira, abril 05, 2005







Florbela Espanca - Poetisa Portuguesa (1894/1930) Posted by Hello

A Bela Florbela Espanca

Olá! Meus Caros Amigos, estive ausente desta Quitanda, simplesmente, por não conseguir, mesmo que eu tenha feito insistentes e vãs tentativas de se postar algo interessante para ser repartido com os possiveis leitores da Quitanda. Acho que vai ser a última tentativa de se tentar postar e preservar este espaço. Criei, como uma forma de dizer, de conversar, exibir nas prateleiras o que tenho feito. São escritos e gerados no envolvimento do cotidiano, das leituras que eu faço e refaço. Se tudo der certo, tentarei colocar o que foi postado anteriormente e mesmo assim, vi frustrado na condição de blogueiro. Não logrei êxito. Para abrir uma das frestas emperradas desta Quitanda, depois de alguma escolha, resolvi mostrar uma poesia de uma escritora alentejana, poetisa nascida em Vila Viçosa, de nome Florbela D`Alma da Conceição Lobo Espanca - Bela, como era chamada pelos íntimos. O dia 8 de Dezembro, é muito marcante na trajetória desta mulher, que soube traduzir de forma sensível o universo feminino lusitano. A referência marcante destas datas: O dia 8 de dezembro de 1894, dia do nascimento, o dia 08 de dezembro de 1913, casa-se no civil com Alberto Moutinho e no dia 8 de dezembro de 1930, aos 36 anos, deu fim à vida, cometendo o suícidio ao ingerir dois frascos de Veronal, remédio que utilizava para dormir, encontrados posteriormente , embaixo de sua cama. Futuramente publicarei mais escritos desta grande poetisa. No momento, vou escolher este: Ser Poeta, publicado em 1930, no livro Charneca em flor
Achei muito interessante a biografia desta mulher portuguesa, onde se desvenda o registro do surgimento de sua neurastenia. Dos casamentos, de sua vida familiar. Foi uma trajetória bem rica no seu fazer poético. Futuramente postarei mais coisas sobre ela, a Bela Florbela Espanca. É um convite permanente à leitura. Uma fatia do sonho que faz parte da Quitanda.
Ser Poeta
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens ! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino Animal de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome , é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insastifeita!

domingo, abril 03, 2005

Pedaços de Sonho

Olá! Hoje bem cedo, deu tempo de passar pela Quitanda e remexer com calma em uma das gavetas. Confesso! Estava um caos, mas aproveitei o tempo e procurei um texto escrito por mim, que gostaria imensamente de ser mostrado. Naturalmente, depois de achado, coloco sempre de forma meio desorganizada os papéis na gaveta.
Imagino, que um local apropriado, onde se coloca um pouco de fantasia, sonho, além, dos que são feitos na padaria da Quitanda,( quem experimenta, diz ser uma delícia, pois, possui o poder de levar pessoas ao delicioso prazer de sonhar). Há sempre uma maneira de transformar algo escrito, na realização e no prazer de fazer, deste quitandeiro. Livros, leituras diversas e escritos rascunhados, com pitadas de sonhos, e uma colorida ilusão, são ingredientes que estão presentes e estocados no imenso salão da Quitanda. Vou revelar um deles...espero que gostem. Desejo que vocês tenham um ótimo domingo, principalmente para os leitores desta Quitanda, de porta aberta e sempre para aguardar sua simpática visita. Desde já, agradeço muito, a esta distinta freguesia.

Retoquei sua maquiagem
Desenhada em meu coração,
Agora sorridente.
Nos movimentos
Acelerados e camuflados de minha
Ilusão. Despi em silêncio meu corpo.
Então,
Olhei para o quarto da lua embranquecida.
Estrelas cambaleantes pintavam o céu.
Entrelaçadas aos meus desejos contorcidos
Olhei para os contornos da esperança de um encontro marcado.
Aparecia apenas um brilho tênue de
Doidivanas imagens que dançavam ao meu redor.
Abracei o vento que passava ligeiro pelas
Frestas molhadas daquelas janelas.
Lambuzadas pelo tempo amarelecido
Presentes em meus sonhos de valsa
Embrulhados no velho travesseiro.
Fechei os olhos,
Dormi, sonhando o sonho sonhado
De minha eterna companhia.
A solidão. Ela! Sim! Veio dialogar,
Silenciosa e em voz alta.

Ainda com tempo para selecionar um poeta, um grande poeta. Escolhi um dos poemas, dos vários criados pelo nosso poeta recifense Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho - Manuel Bandeira, nascido em 19/04/1886 e morreu no Rio de Janeiro, em um hospital situado no bairro de Botafogo em 13/10/1968. Pertenceu à Academia Brasileira de Letras. Foi prosador, historiador da literatura, ensaísta e cronista. O seu primeiro livro editado foi "A Cinza das Horas"(1917) e o último," Estrela da Vida Inteira", em 1966 pela Editora José Olympio, no ano em que comemorava os 80 anos. De sua imensa produção literária, escolhi um, que me sensibilizou de imediato. Embora, eu veja que há uma circulação bem ampla pela internet, este poema, sempre continua bem atual. Muitas vezes nos deparamos com esta realidade da sobrevivência do homem. Passo a seguir, vale uma leitura...

O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa.
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
O bicho meu Deus, era um homem. - in Poesias- Livraria José Olympio, RJ, 1955