sábado, abril 30, 2005

A Poesia Engajada de Thiago de Mello

O poeta amazonense Amadeu Thiago de Mello, nasceu em 30/03/1926, na cidade de Barreirinha.Voltou anos mais tarde, a morar em sua cidade natal. De intensa obra poética, todas de fundamental importância no panorama da poesia brasileira. Thiago de Mello, é um poeta sensível, com uma escrita expressiva com o canto de seu povo, Foi preso politico, conheceu o exilío. Viveu no Chile, foi amigo de Pablo Neruda, tradutor de diversos poetas latinos, entre eles: Ernesto Cardenal, Cesar Vallejo, Nícolás Guillén, Pablo Neruda. Autor premiado, com o Prêmio Jabuti, em 2001 com "Campo de Milagres". Voltou do exilio em 1978. Suas obras foram editadas pela Civilização Brasileira, uma das editoras perseguidas pelos militares.Ênio Silveira,esteve preso e foi dirigente do PCB.Houve um período em que ele fundou a editora Philobiblion,mas teve vida curta; serviu para co-edições, era esta a impressão que tenho. Ênio vendeu depois para a DIFEL e posteriormenete vendida para Editora Record, um dos maiores grupos editoriais do nosso país. Fundada em 1942, incialmente por Alfredo Machado(morre em 1991) e Décio de Abreu(Livaria Eldorado/Casa do Livro, também falecido). Depois de alguns anos, Alfredo Machado assume o controle acionário da editora Record.Atualmente é o filho de Alfredo quem assumiu a editora. Vi algumas vezes o poeta andando, vestido sempre de branco, a cor preferida do poeta e citada no Os Estatutos do Homem. Nos anos 80, foi produzido pela Civilização Brasileira uma coleção de poster-poema, dentre eles, estava Thiago de Mello.Foi uma fase de poster nas livrarias.Os livros editados pelo Edições Populares,com predominancia em seu catálogo os livros de Che Guevara, eram acompanhados de cartazes.Havia semanas que eu vendia mais poster do que livro.Apareceram os de Charles Chaplin.Era o começo do meu fim, enquanto,livreiro. A Livraria Quarup, situada em Ipanema, encerra as atividades em junho de 1985.


Os Estatutos do Homem
- Ato Institucional Permanente -
A Carlos Heitor Cony, Santiago do Chile. Abril de 1964

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII

Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

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