domingo, abril 03, 2005

Pedaços de Sonho

Olá! Hoje bem cedo, deu tempo de passar pela Quitanda e remexer com calma em uma das gavetas. Confesso! Estava um caos, mas aproveitei o tempo e procurei um texto escrito por mim, que gostaria imensamente de ser mostrado. Naturalmente, depois de achado, coloco sempre de forma meio desorganizada os papéis na gaveta.
Imagino, que um local apropriado, onde se coloca um pouco de fantasia, sonho, além, dos que são feitos na padaria da Quitanda,( quem experimenta, diz ser uma delícia, pois, possui o poder de levar pessoas ao delicioso prazer de sonhar). Há sempre uma maneira de transformar algo escrito, na realização e no prazer de fazer, deste quitandeiro. Livros, leituras diversas e escritos rascunhados, com pitadas de sonhos, e uma colorida ilusão, são ingredientes que estão presentes e estocados no imenso salão da Quitanda. Vou revelar um deles...espero que gostem. Desejo que vocês tenham um ótimo domingo, principalmente para os leitores desta Quitanda, de porta aberta e sempre para aguardar sua simpática visita. Desde já, agradeço muito, a esta distinta freguesia.

Retoquei sua maquiagem
Desenhada em meu coração,
Agora sorridente.
Nos movimentos
Acelerados e camuflados de minha
Ilusão. Despi em silêncio meu corpo.
Então,
Olhei para o quarto da lua embranquecida.
Estrelas cambaleantes pintavam o céu.
Entrelaçadas aos meus desejos contorcidos
Olhei para os contornos da esperança de um encontro marcado.
Aparecia apenas um brilho tênue de
Doidivanas imagens que dançavam ao meu redor.
Abracei o vento que passava ligeiro pelas
Frestas molhadas daquelas janelas.
Lambuzadas pelo tempo amarelecido
Presentes em meus sonhos de valsa
Embrulhados no velho travesseiro.
Fechei os olhos,
Dormi, sonhando o sonho sonhado
De minha eterna companhia.
A solidão. Ela! Sim! Veio dialogar,
Silenciosa e em voz alta.

Ainda com tempo para selecionar um poeta, um grande poeta. Escolhi um dos poemas, dos vários criados pelo nosso poeta recifense Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho - Manuel Bandeira, nascido em 19/04/1886 e morreu no Rio de Janeiro, em um hospital situado no bairro de Botafogo em 13/10/1968. Pertenceu à Academia Brasileira de Letras. Foi prosador, historiador da literatura, ensaísta e cronista. O seu primeiro livro editado foi "A Cinza das Horas"(1917) e o último," Estrela da Vida Inteira", em 1966 pela Editora José Olympio, no ano em que comemorava os 80 anos. De sua imensa produção literária, escolhi um, que me sensibilizou de imediato. Embora, eu veja que há uma circulação bem ampla pela internet, este poema, sempre continua bem atual. Muitas vezes nos deparamos com esta realidade da sobrevivência do homem. Passo a seguir, vale uma leitura...

O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa.
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
O bicho meu Deus, era um homem. - in Poesias- Livraria José Olympio, RJ, 1955

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