quarta-feira, abril 20, 2005

Um escrito perdido em uma gaveta.

Olá!

Abri uma das gavetas, situadas no corredor do lado esquerdo, onde geralmente, guardo lembranças, rascunhos e outras miudezas. Marilene, chamou minha atenção, para esta gaveta, parecia, disse ela, estar emperrada, não vejo você abrindo e muito menos, limpando. Pelo tempo, afirmava ela, deve estar precisando de uma arrumação. É verdade! Confessei silencioso, tá precisando...Quando entrei na Quitanda, pela parte da manhã, encontrei uma placa com os dizeres"Negros Verdes Anos 70", inspirados em uma expressão usada por Heloísa Buarque de Holanda, caida bem junto aos livros, que um poeta deixou consignado. Era um poeta da geração mimeógrafo. Quando tive uma livraria em Ipanema, a Quarup, situada no lado oposto da Editora Imago, no edificio Top Center, na Rua Visconde de Pirajá, 550, 3º piso, com Anibal de Mendonça. Ali, procurei sempre acolher o que se convencionou chamar "Poesia Marginal". Recebia e era uma das grandes possibilidades de ter o livro na livraria era deixar sob forma de consignação. Acho que andava na contra-mão do mercado livreiro. Fechei no final de 84. Não estar localizado na rua ou no térreo do shopping, foi um dos fatores determinantes para o fechamento de uma livraria que se propõs aberta para várias manifestações literárias. Colocar as ciências sociais onde pelas caracteristicas do bairro, dispensava o consumo desta ciência. O pessoal preferia comprar e ler, a ciência da moda, a psicanálise. No final da Quarup, tentei fazer uma mudança do perfil de minha loja, mas já era muito tarde. O público acomodado preferia ir a um lugar que estava mais imediato a ele, ou seja,a livraria de rua. Sempre admirei o esfôrço desta turma que procurava explorar - criar a poesia de qualquer jeito, seja em papel, jornal, revistas, manuscritos livros editados de forma artesanal, com pequenas tiragens. Jornais eram editados, como "Bondinho", "Flor do Mal", O Pasquim e outros jornais considerados como alternativos. Havia um grupo imenso de jovens envolvidos com esta narrativa.Lembro no momento, de Torquato Neto, Wally Salomão, Cacaso(Antonio Carlos de Brito-1944/1988), Chacal, Leila Mícolis, Pedro Lyra, Paulo Nassar. Enfim, muita gente boa. Editoras como a Trote, não recordo agora se a escritora-poetisa Leila Micolis, era a proprietária. Uma editora em Copacabana, pertencia à Christina Oiticica, mulher de Paulo Coelho, Raul Seixas, tinham livros editados por ela. Muita gente. Lembro de Angela Melin, consignando livros comigo. Como estou puxando pela memória e há claro, falhas. Uma pena, não ter registrado, além dos contatos, a presença destes escritores em busca de seu espaço. Penso em outra oportunidade, conversar mais a respeito deste assunto.Quando ainda mantinha a livraria, uma noticia que causou grande repercussão, foi no dia da morte de Ana Cristina César, cometendo suicidio(1952/1983). Onze anos antes, um outro poeta tinha dado fim a sua trajetória, nome que eu cito em um post escrito neste mês.
Agora pretendo, mostrar algo que eu escrevi. mas não há nenhuma associação do que mostro com o período em que falo acima. Foi escrito em um dia de domingo.
Sonhos
Sonhos desbotados
silenciosos
Invadem
As horas noturnas
de minha manhã.
Um sopro remexe sua imagem
Uma letra rabiscada nos traços
sonoros da melodia de seu corpo
Levam o meu corpo ao seu
Minha alegria toma posse
Nos contornos das
Lembranças arredias
que asfixiam a ilusão
daqueles
Momentos de movimentos
desordenados de nossos corpos
Guardados
Nos aposentos
Alojamentos de meus
desejos loucos
roucos, perdidos
na busca de seu
Sorriso.
Calado ando nos passos
perseguidos de minha
sombra.
Levanto, abro os olhos
e leio o jornal.
Olho para o lado e
vejo, que estava apenas
Só.

















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