Atualmente nem nos sebos tenho passado para xeretar algo de interessante para ler. O jornal impresso também desisti de ler, apenas pego emprestado com a vizinha o caderno de classificados para localizar alguma oportunidade de trabalho, aliás, estão cada vez mais escassas, mais ainda, quando a idade é superior aos cinqüenta anos.
Fico em casa como se estivesse internado, diante do computador, fico horas pesquisando, mergulhado na leitura da produção intelectual das ciências sociais. Voltei após longos invernos a ficar interessado em minha área de formação acadêmica, que abandonei para me dedicar ao mundo dos livros. Claro que pela atividade que exercia com os livros, obtinha informações do que as ciências sociais estava produzindo. Fui distribuidor e editor na cidade do Rio de Janeiro e o perfil da empresa, era alinhado com as editoras universistárias.
Algumas destas editoras em seus catálogos havia algum conhecido do meu tempo de estudante, ou de quando atuei como profissional de divulgação editorial nas universidades. Lembro que fui divulgador de editoras com uma tintura de esquerda nos anos 80, trabalhava com distribuidores ou diretamente com os editores. Haviam editoras que eu não considerava como de esquerda, por exemplo: Ibrasa/Ibrex, Papelivros, Documentário e outras que agora não lembro. Eram representadas pela Vários Escritos, um distribuidor que representava também: Alfa-Ômega, Summus/Ágora, Avenir, Vega. Divulguei pela Quadrelli, as editoras Brasiliense, Global e Alhambra. Fui divulgador das editoras Paz e Terra e Edições Graal. Bons tempos eram aqueles, em que eu tinha bastante editora para divulgar como a Hucitec e Livramento, representadas pela Século XXI, e finalmente as Edições Achiamé.
Foi um trabalho de suma importância para as editoras, um momento de interação entre editor e autor/professor que passou de alguma forma atuar como um agente de vendas, ao indicar títulos para adoção. Para a Brasiliense neste período foi uma mão na roda, estavam arejando a o catálogo e lançando diversas coleções, como os Primeiros Passos. Uma época de efervescência cultural, títulos e mais títulos eram lançados.
A Brasiliense surgiu no inicio dos anos 40 com vários sócios, dentre eles: Caio Prado Júnior, o pai de Caio, Lenadro Dupré, Hermes Lima e Arthur Heládio Neves. Monteiro Lobato foi um dos seus sócios.A editora Brasiliense detinha os direitos da obra de Monteiro Lobato desde 1945. O autor, amigo de Caio de longa data assinou antes de morrer um contrato de validade "ad infinitum", até cair em dominio público, o que não aconteceu. Outro dia li pela internet que houve uma disputa judicial com os herdeiros de Lobato e a Brasiliense , que acabou perdendo os direitos, quem saiu beneficiada foi a Editora Globo que passa a publicar todos os títulos de Monteiro, com nova apresentação visual da obra do grande autor da literatura infantil.
Caio Prado passou o bastão para o seu filho Caio Graco Prado nos anos 70. A editora passou por um período em que esbarrava com o cerceamento dos militares e os segmentos conservadores, tanto que em 1964 fecharam a Revista Brasiliense editada desde 1955 e dirigida por Elias Chaves Neto. Quem examinasse o catálogo da editora poderia identificar uma produção de esquerda. Luiz Schwarcz atuou na editora, passando por estagiário até ser diretor editorial, cuja saída em 1986, montou a sua própria editora, a Companhia das Letras. Caio Graco fundou em 1978 com Claudio Abramo o jornal Leia Livros, deixou de funcionar nos anos 90. Hoje a editora está sob os cuidados da filha Yolanda Prado, a Danda, que assumiu a editora após a morte do irmão Caio Graco em 1992 em acidente de moto.
O mercado de livros mudou bastante, determinados espaços de exposição livros que assumem posição de destaque nos espaços de uma livraria, ou melhor, nas grandes livrarias, são comprados para que ocupem determinados lugares estratégicos, logo com maior visibilidade para o cliente. O preço varia entre um pedaço de vitrine, ou pilha de livros, tudo estabelecido pelos livreiros das grandes redes. Lembrei que nos anos 90 fui à Livraria da Vila, havia se mudado há pouco tempo para um novo local. Os donos eram um casal, lembro que o livreiro, de nome Aldo, fui apresentado por Marcus Gasparian. Nesta época estava em São Paulo.pela Paz e Terra, quando fui informado de havia um espaço na parede da loja, uma enorme loja, em que os espaços ocupados por propagandas das editoras, eram pagos.
A noticia que rolou na semana passada é que a Saraiva adquiriu a totalidade das ações da rede de livrarias Siciliano, criada em 1928 e a maior do país; mais os quatro selos editoriais: Arx, Futura, Caramelo, ArxJovem. Depois de longa negociação chegaram aos finalmentes. A Siciliano estava em crise financeira e familiar, envolvida em uma disputa judicial entre o senhor Oswaldo Siciliano e a filha mais velha. Volto a conversar sobre livros em próxima oportunidade.
* Adélio Sarro - Pintor, Escultor e Muralista
Um comentário:
Adélio...
Quem fala é uma lobatóloga de Brasília, muito achegada ao saudoso Cassiano Nunes.
Tenho guardado o que escreveste para a Quitanda do Chaves. Comentas a passagem da obra do nosso amigo Lobato para a Globo, como simples passagem...
Eu te pergunto: Já leste ao menos UMA das obras que estão sendo editadas pela Globo EM NOME de Lobato?
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