terça-feira, julho 17, 2007

Papo sobre Livrarias: Uma Conversa sem Fim.

Não fico espantado, não fico surpreso com pesquisas a respeito do consumo de livros em nosso país, como a que foi publicada em O Globo, em matéria assinada por Maiá Menezes, no dia 4 de julho de 2007. Apenas confirma a minha visão a respeito do baixo consumo de livros por parte do público identificado como universitário. Esse era o meu público alvo, uma vez que, sempre trabalhei para este universo de leitores, seja através da divulgação, comercialização e distribuição de editoras em que predominavam em seus catálogos, o livro universitário e com alguma concentração na área de ciências humanas. Meu termômetro muitas vezes foram livrarias abrigadas em universidades, bienais, feiras de livros nas praças da cidade, livrarias localizadas nos bairros e outros espaços onde eu pudesse atuar. Era o meu segmento predileto, a oportunidade de rever professores e colegas da universidade, sempre encontrava com alguém. Deixo claro que como profissional, representei como vendedor, através de distribuidoras, editoras que eram especializadas em literatura infantil,como a Memórias Futuras, uma editora situada em Laranjeiras, ou astrologia, como a editora Hipocampo. localizada em Botafogo, de Beatriz em parceria de alguns títulos com Massao Ohno.
Minha condição de antigo vendedor pracista, ou distribuidor; possibilitou e deu garantias para que eu pudesse visitar diversas livrarias no Rio de Janeiro e uma parte da praça do centro de São Paulo e de alguns bairros da capital, quando atuei por lá no inicio dos anos 90 pela Editora Paz e Terra/Edições Graal. Foi sem dúvida um aprendizado. São praças bem distintas. Aqui no Rio de Janeiro, como profissional, eu compunha muito bem o perfil de um vendedor/leitor da Paz e Terra, sempre fui identificado como da Paz e Terra /Graal não só como divulgador enquanto trabalhei na área universitária ou mais tarde como pracista das editoras na praça do Rio de Janeiro. Foram as editoras que estive por mais tempo como profissional, assim, como tinha um bom transito com Marcus Gasparian, que fui convidado para ir para São Paulo. Os irmãos Laura e Marcus Gasparian, gerenciavam a simpática livraria no final do Leblon, depois, a livraria ocupou o espaço da antiga biblioteca pública do Leblon. A livraria do Rio ficava mais sob os cuidados de Laura, as lojas (Argumento e Livre) de São Paulo, sob a gerência da matriarca Dalva Gasparian. Marcus era mais ligado a editora, ajudava o pai, Fernando Gasparian. Nesta ocasião ajudei na montagem da livraria Poiesis em Ipanema de Denise Emmer, era no mesmo prédio em foi situada a minha livraria.
Acho que o contato direto que se estabelece entre o pracista e o livreiro, ainda vejo como o mais credenciado para visualizar e detectar o comportamento de vendas de uma editora, muito diferente daqueles que se arvoram em se pronunciar a respeito de livros.
O pracista é um profissional que lida com a observação direta, o pedido (compra) por parte do livreiro, seja ele um livreiro badalado ou não, dono de uma pequena livraria ou comprador de uma rede de livrarias.
Observei que muitos compradores não tinham a menor noção do livro que eu apresentava ou de outros colegas, representantes de editoras Aqui cabe registrar que muitos vendedores pracistas, desconhecem também o seu objeto de venda, muitos o fazem de modo mecânico; condicionados pegam os livros (novidades) e vão rodar a praça, estão atrelados a metas de vendas.
Há muitos obstáculos para um livro não ser comprado por um livreiro e destaco um deles: é a participação das editoras, na exigência de mínimo de compras para se formalizar a emissão de uma nota fiscal. Muitas editoras usam a linguagem consensual, de não fornecer o pedido se não cumprir o mínimo, muitas vezes condicionados ao salário mínimo. Sempre fui flexível nesta relação, enviava sob forma de vale provisório, em primeiro lugar estava o atendimento aos clientes: leitor e livreiro, isto gerava em mim uma grande satisfação.
Engraçado muitos vendedores/editoras que eram intransigentes, reclamavam das vendas. Algumas lançavam mão da presença de gerentes para verificar o comportamento da praça e se possível com as mais modernas técnicas de venda e persuasão, convenceriam o cliente a comprar. Muitos editores esquecem que a simples presença deste representante não implica em aumento de vendas ou mesmo que se efetue alguma venda; salvo, se vier com alguma proposta promocional e se estiver na projeção de compras do livreiro, vi colegas constrangidos com a presença a tiracolos de gerentes em suas visitas diárias, monitorando o vendedor. Uma grande editora monitorava o vendedor, telefonando em seguida para a livraria visitada, além de registrar o horário de entrada e saída do vendedor da loja, confirmado pela assinatura do responsável pelo atendimento.
O quadro de vendas estava se alterando, a figura do vendedor e ou do distribuidor no inicio dos anos 90, distribuidoras e pequenas livrarias entrando em colapso, estavam desaparecendo. Novos recursos de vendas são acionados, algumas livrarias são maquiadas para serem transformadas em distribuidoras, gozando do desconto de praxe.
Um novo desenho estava sendo criado pelas livrarias, estavam surgindo megas livrarias, novas roupagens e combinações são introduzidas nas livrarias sobreviventes. As livrarias tradicionais ficaram asfixiadas e longe dos benefícios que as megas são contempladas, insistem bravamente e teimam em disputar com as redes. Sua sobrevivência implica muitas vezes na preservação do livreiro, um atendimento mais personalizado.
Uma nova arquitetura, novas opções sofisticadas são oferecidas aos clientes. As redes de livrarias oriundas no Rio de Janeiro, não sobreviveram como: Unilivros, Entrelivros e Studiolivros , ou a Sodiler, a ultima grande rede de livrarias no Rio de Janeiro, agora sendo gerida pela Laselva Bookstore, uma grande rede paulistana. Enquanto por um lado circula boatos na imprensa, dando conta de que a rede Siciliano, pode ter o controle passado para a Ediouro, que vivenciou esta experiência nos anos 80, abrindo e fechando lojas, como a Curió.
Bem volto a conversar sobre livrarias, livros e editoras o mais breve possível. Até a próxima oportunidade. Um grande abraço.

3 comentários:

Marta Bellini disse...

Adoro chegar aqui para ouvi-lo falar de livros. Os maiores papos que tive, sem dúvida, foram nas livrarias. Uma brincadeira: o nome La Selva me sugere uma selva urbana, apressada, sem livros....

Wilton Chaves disse...

Olá!
Marta obrigado pela visita.Livrarias são espaços excelentes para um bom papo, embora, eu tenha visto alguns livreiros serem intolerantes com conversas no interior das lojas.A La Selva ocupa espaços importantes da Sodiler.Aqui no Rio de Janeiro era um dos maiores compradores de livros. Engraçado que começou com jornais e revistas.Um grande abraço.

Lia Noronha disse...

Wilton: os livros são minha paixão...e a Literatura o meu amor...talvez por isso sejamos amigos de verdade,não é mesmo?
Abraços bem carinhosos da amiga de sempre.