sexta-feira, agosto 31, 2007

Conversa sobre editoras

Hoje li em um informe da Câmara Brasileira do Livro (CBL) que a Companhia das Letras, superou a concorrência na disputa (dentre elas a própria Record) pela publicação das obras completas do escritor baiano Jorge Amado (1912/2001), autorizada pelo primogênito do escritor, também escritor João Jorge Amado, serão editados 35 títulos escritos no período de 1931 à 1997.As novas edições estarão no mercado a partir de 2008 e um dos primeiros títulos será: País do Carnaval, a primeira obra editada de Jorge Amado, publicada e prefaciada pelo editor Augusto Frederico Schimdt, no ano de 1931.
Jorge Amado publicou livros, apenas para citar as editoras brasileiras: Schimdt, Ariel, Livraria Martins Editora (1937/1974), Editorial Vitória, José Olympio, Editora do Povo; anos depois vendeu os direitos com exclusividade para Record a partir de 1975, em co-edição com a Martins, que no ano anterior havia pedido concordata e encerrando as atividades em 1976. Na edição pela Record, em 1978, a capa é uma reprodução de um quadro de Di Cavalcanti, com ilustrações de Darcy Penteado, com foto do autor por Flávio de Carvalho e Zélia Amado, na quarta capa um texto de Octávio Tarquínio de Souza
Quando eu atuava em livrarias, Jorge Amado era um dos autores que sempre vendia, ora indicado em algum colégio, ora em lançamento ou para usar a gíria do mercado livreiro se dizia que seus livros estavam sempre “pingando”. Era uma referência de venda, seja pela oferta de títulos e pela popularidade que alcançava entre o público leitor, embora, houvesse para alguns leitores, certo cuidado, numa alusão ao conteúdo da obra, considerado por um segmento como um autor pornográfico e comunista, assim era estigmatizado por uma parte do leitor da zona sul carioca nos anos 80.
Só para esclarecer tive a livraria Quarup em Ipanema, trabalhei na Francisco Alves e na Unilivros. Nestas duas últimas havia sempre em estoque as obras de Jorge Amado e Zélia Gattai, sua esposa. Eu como um dos compradores dava preferência ao autor nacional, gostava de indicar, de expor, uma vez que, o espaço predominante é para o autor estrangeiro, sem dúvida, a preferência do público feminino e masculino. Há momentos em que se pode observar que a mulher, freqüenta mais livraria e compra mais livros do que o homem. Vi e ouvi muita gente rejeitar o autor brasileiro. Não gostavam mesmo. A literatura americana traduzida tem boa aceitação, não acredito que tenha mudado os hábitos de consumo do leitor que circulava pelas livrarias da zona sul.
Neste ponto a editora Record levava uma grande vantagem sobre as demais editoras. Dona de um catálogo imenso, diversificado, livros vendáveis e de sucesso (best-seller) ocupavam os espaços das livrarias da zona sul e outros pontos de vendas. Houve um momento em que montou uma empresa para vender para drogarias, supermercados e magazines. Antigamente para se ter acesso a um determinado magazine, teria de negociar com a empresa ligada a editora Record para vender. Ainda havia uma boa distribuição e um eficaz marketing direto. Mesmo para livreiro que tinha um verniz de esquerda, a editora Record como maior editora do país vendia e vendia muito. Sem dúvida para quem trabalha no livro percebia grandes encalhes em seu estoque, aliás, não é privilégio da editora, conheci depósitos de editoras e percebia pilhas e mais pilhas de determinados títulos. Há muito livro que fica um enorme tempo estacionado em uma prateleira, não sai nem dando, bastava olhar a etiqueta e verificar a data de compra e os exemplares adquiridos.
A Distribuidora Record de Serviço de Imprensa S.A, chegou a adquirir uma nova impressora como o novo sistema poligráfico Cameron de impressão e acabamento, no ano em que eu ainda trabalhava em livraria, se comentou muito, poderiam imprimir com rapidez uma quantidade de exemplares mais próximo da realidade, evitando tiragens elevadas.A Record surgiu em 1942 com os sócios Alfredo Machado e Décio Guimarães de Abreu, criador de uma rede de livrarias, como A Casa do Livro, no Centro e Flamengo, Livraria Eldorado, na Tijuca e Copacabana, a Livraria Lídice, esta localizada na Rua São José. Convém lembrar que Alfredo Machado foi um dos primeiros distribuidores de histórias em quadrinhos em nosso país. Nos anos 70, Alfredo Machado assumiu totalmente o controle acionário da empresa. Antes de surgir a editora Nova Fronteira (1965), a Record publicou o livro “O Poder das Idéias”, de autoria de Carlos Lacerda, que posteriormente veio a criar uma importante editora , de grande prestigio intelectual, com ótimo catálogo de autores brasileiros e estrangeiros. Nos anos 80 o panorama da produção editorial começa a ser alterado, com o surgimento de novas editoras, novas experiências editoriais, como a feita pela editora Brasiliense. Atualmente o mercado de livros está bem alterado com novas composições societárias e entrada de grupos editoriais estrangeiros, algumas editoras ganharam fôlego ao serem incorporadas a determinados grupos através de fusões e aquisições. Volto no próximo mês. Um grande abraço.
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quinta-feira, agosto 23, 2007

Uma ida aos sebos: uma leitura.

Floriano Teixeira: (Floriano Araújo Teixeira) Nascido em 1923, na cidade maranhense de Cajapió e faleceu em Salvador no ano de 2000. Pintor, pesquisador, desenhista, ilustrador, gravador, escultor. Teve uma intensa atividade como convidado para capista em livros de Jorge Amado, Zélia Gattai e outros escritores.
Participou de vários grupos, formando núcleos, como os feitos na década de 40. Dirigiu o Museu de Arte da Universidade do Ceará (MAUC). Floriano Teixeira esta inscrito como um dos grandes artistas plásticos de nosso país e no exterior. Foi homenageado com nome em galeria, situada no Museu de Arte Sacra.

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Sem muita grana para comprar livros, o meu caminho tem sido os sebos. Gosto de freqüentar, de fuçar os livros, de garimpar, de achar os que eu procuro. Atualmente reduzi minhas incursões às livrarias de livros usados em outros bairros e, as livrarias que tenho visitado, são próximas de casa. São três sebos.

Hoje fui procurar algum livro que atendesse meu interesse imediato, que é o mercado editorial no Rio de Janeiro. Fui para uma seção em busca de uma preciosidade e encontrei o livro Livraria Ideal: do cordel à bibliofilia, editado pela Eduf, de autoria do pesquisador, professor da UFF e antigo livreiro Aníbal Bragança, cujo preço estava marcado em 22 reais. Como saí com pouca grana, aliás é o que eu sempre tenho. Ficou para a próxima visita. Eu estava na livraria Baratos da Ribeiro e caí na ingenuidade de perguntar ao atendente, em que local poderia haver livros que tratassem de editores, leitura, leitores, editoras ou livrarias e para meu espanto o rapaz de camisa amarela, ficou espantado com a pergunta, me indagou quem eu procurava, disse que seria uma obra de autoria de Moacir Félix, sobre Ênio Silveira, editor da Civilização Brasileira, eis que o jovem me responde que ali não tinha livros sobre este assunto. Fiquei calado e ao mesmo tempo, irritado, pois o atendente, não soube nem identificar que na loja em que eu e ele estávamos, havia um exemplar do livro Livraria Ideal. Depois deste esclarecimento percebi, tratar-se de um “profissional qualificado”: "a livraria é divida por assuntos e temas", respondeu do alto de sua sabedoria. Verdade que a livraria é bem organizada, limpa, um ambiente agradável, mas parece que compromete o atendimento desde do momento em que se percebe a ausência de um profissional que entenda, que tenha intimidade com o acervo da loja. Para quem faz uma outra leitura, identifiquei de imediato que o atendente não saberia identificar muita coisa. Encerrei naquele momento qualquer curiosidade a respeito dos livros. É o flagrante da constatação da mão-de-obra empregada em livraria, principalmente em sebos. Desconfio que muitos livreiros preferem recrutar um profissional para se trabalhar em livraria, despido de qualquer conhecimento/informação, quando muito dão prioridade a uma envernizada capa de cultura. Trabalhar com livros requer de imediato que seja escolarizado, que tenha uma mínima curiosidade intelectual.

Quem freqüenta uma livraria percebe após algumas indagações ao vendedor, se ele realmente conhece do ofício. Como são despreparados. Conheci sebos que não fazem questão alguma de ter um profissional qualificado, que prestasse um serviço ao cliente ou tivesse alguma familiaridade com a leitura. Acham que é um profissional caro. Há uma deficiência na formação do profissional de livrarias, claro que se identificam os bons profissionais no mercado, alguns com longa experiência, outros com formação intelectual mais esmerada. Uns que gostam de ler e muitos outros nem tanto. Sei de ajudantes de limpeza que alçaram a gerência de livrarias. Alguns não sabiam construir uma frase ou pronunciar nome de autor ou títulos de livros. Tinham dificuldades de fotografar as prateleiras e balcões. Houve no passado um curso para qualificar o profissional do livro, promovido pela Estação das Letras, me parece que é uma iniciativa singular em nossa cidade. Sobre livrarias (atendimento) foi dado por Marcelo, um rapaz que trabalha na Livraria da Travessa. Conheço este profissional, tem uma trajetória em ascensão na livraria. Há em São Paulo, um curso promovido pela Unesp - a UNIL.

Fui para outra livraria cuja escolha de um livro tem de se fazer um exercício de malabarismo, os livros são dispostos em pilhas no chão, o interessado em algum livro tem de tirar um por um e depois recolocar, vale um pouco de sacrifício, os preços são mais baratos do que os Baratos da Ribeiro. Embora eu tenha percebido um ligeiro aumento dos preços, usam um artifício de aumentar o valor do código do livro. O preço do livro é indicado por código alfa-numérico que corresponde à metade do valor marcado. Achei o livro de Zélia Gattai, um dos títulos que faltava para mim. Ao folhear o livro, dei uma lida no prefácio de Jorge Amado, encontrei mencionado logo no inicio ao nome de um livreiro e editor da Bahia, Dmeval Chaves (Dmeval da Costa Chaves), criador na década de 60 da editora Itapuã, também distribuidor de livros. Claro que eu não desejo que vendedores saibam quem é o amigo de Jorge Amado citado no livro. Para quem atua na Bahia, provavelmente teria identificado. Se eu não estivesse envolvido com livros há bastante tempo, não saberia responder. Fui também distribuidor de editoras que ele representava. Claro que não saber um assunto, não é impeditivo para alguém se transformar ou ser um bom profissional.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Capas de Livros: espaço para artistas

Marius Lauritzen Bern: (1930-2006) Autor do desenho de capa do livro de Mário da Silva Brito editado pela Civilização Brasileira, em 1968. O livro como pode ser observado está gasto pelo tempo, pelo uso e pelas mudanças que andei fazendo pela vida. Com as mudanças fui desfazendo de vários livros e revistas, e os antigos Lps que acabava vendendo em sebos preferencialmente os localizados no centro da cidade por um valor bem baixo, nem seria diferente, pois o alfarrabista revenderia por outro preço.
Este é um livro que comprei na queima de livros da Editora Civilização Brasileira. Bons tempos! Foi uma verdadeira festa para os leitores. A livraria ficava localizada na Rua Sete de Setembro, número 97. Depois de sofrer atentados e estrangulamentos econômicos a editora foi para uma loja lateral do Edificio Central, para a Rua da Lapa, 120 e creio que antes de ser vendida para Editora Bertrand Brasil, ficou por algum tempo em Botafogo, na Rua Muniz Barreto, próximo ao metrô Botafogo.

O capista Marius Lauritzen Bern, foi também fotógrafo, desenhista e ilustrador; com enorme contribuição a revolução visual promovida pela Civilização Brasileira, através de seu editor Ênio Silveira, que tinha um elenco de artistas gráficos como Roberto Pontual, Dounê, Léa Caulliraux e o grande destaque, apontado como introdutor destas mudanças e referência maior para o estudo da confecção de capas de livros, era o designer gráfico Eugenio Hirsch. Marius foi quem criou o logotipo das editoras Civilização e Paz e Terra, na época de propriedade de Ênio Silveira.

Para mim que sempre atuei no mundo dos livros, os nomes de capistas estavam incorporados como item de identificação das editoras. Ajudava em um balcão ou prateleira a distinguir ser de uma editora ou de outra. O elemento visual é instrumento aliado de um vendedor. Há pouco tempo, tive esta experiência em um sebo, quando um cliente pedia por um título ou autor, vinha de imediato em minha memória a capa e o formato do livro, mesmo afastado do convívio com os livros.

Acho a capa de um livro fundamental atrativo para o leitor, além de contarmos com a presença de importantes artistas e ilustradores em um livro. Se olharmos o livro Capitães da Areia, de Jorge Amado, por exemplo, em uma das edições publicados pela Record, há o desenho de capa de Aldemir Martins (1922-2006), ilustrações de Poty, retrato do autor por Jordão de Oliveira e foto do autor por Zélia Amado. O livro Sargento Getúlio, de João Ubaldo Ribeiro, publicado pela Civilização Brasileira, em 1971, com capa de Dounê e diagramação de Lea Caulliraux; ou um livro de autoria de Marisa Raja Gabaglia editado em 1973 pela Editora Sabiá, com capa de Yllen Kerr (1924-1981), ou pela mesma editora, o livro de José Carlos Oliveira, A Revolução das Bonecas, com capa de Ziraldo. A identificação da capa do livro Antologia da Lapa, de Gasparino Damata, editado pela Codecri, em 1978, de autoria de Nássara.(Antonio Gabriel Nássara:1910-1996). O livro de Patrícia Bins, editado pela Nova Fronteira, em 1986, com capa de Victor Burton, com foto óleo sobre tela de Aldo Malagoli, da coleção particular de Luiz Carlos Matte, ou o livro de Zuenir Ventura, intitulado Crônicas de um fim de século, editado pela Objetiva, em 1999, com capa e projeto gráfico de Victor Burton, com foto do autor por Márcia Kranz. Uma capa bonita como Sem Pecado de autoria de Ana Miranda, executada pela artista Moema Cavalcanti e publicado pela Companhia das Letras, em 1994.

Paro por aqui.


segunda-feira, agosto 13, 2007

Fragmentos da Memória: Vagas lembranças...

Na semana passada resolvi caminhar pela orla de Copacabana até o Posto 9 em Ipanema, entre uma passada e outra, tentava lembrar de algumas livrarias infantis. Não consegui ! Lembrava de editoras como a Ebal (Editora Brasil-América – criada em 1945, por um antigo funcionário de Roberto Marinho, Adolfo Aizen (1907/1991), dirigida após a morte do pai, por Paulo Adolfo Aizen e Naumin Aizen e a editora Vecchi criada por uma família de imigrantes italianos; pelos álbuns de figurinhas e revistas que editavam. Dos álbuns que colecionava, da disputa por uma figurinha carimbada, do bafo-bafo jogado com amigos. Das histórias em quadrinhos que circulavam de alguma forma em meu universo infantil. De ficar escutando o rádio para ouvir Jerônimo, o herói do sertão e Moleque Saci, do Sombra, da leitura de Fanstasma, Superman, de Mandrake, Recruta Zero, Bolinha e Luluzinha, Brasinha e Gasparzinho, Pato Donald, Mickey , Zorro e outros tantos heróis ilustrados nas revistas e almanaques dos anos 50 e 60. Dividia o meu tempo também com os seriados na televisão e os programas infantis como o Circo do Carequinha, interpretado pelo artista circense George Savalla Gomes(1915/2006), o teatrinho/vesperal Trol (Fabio Sabag, Norma Blum, Zilka Salaberry, Roberto de Cleto entre outros), Falcão Negro interpretado pelo ator Gilberto Martinho (1927/2001), de Rin Tin Tin e Rusty, a série do cão da raça Collie de nome Lassie, embora tenha sido uma “cadela”, sempre foi interpretado por cães machos.
As livrarias como escrevi, naquele momento fugiram da lembrança. Mas havia uma, que de algum modo contribuiu na minha formação de leitor. Em minha fase de garoto, estudante do curso primário do Instituto de Educação, na Tijuca, por estar pela localização em frente ao Instituto, a Livraria e Papelaria Casa Mattos, “amiga número um dos estudantes”, logo era minha amiga, assim eu imaginava, freqüentada por minha família, que na condição de alguns deles por serem professores, gozavam de um desconto de 10% na compra de material escolar. Dificilmente íamos ao centro da cidade comprar na Casa Cruz.
Minha madrinha, uma das professoras da família me presenteou com uma coleção de Monteiro Lobato (1882/1948), editado em 1960 pela Brasiliense com capa dura de cor verde, em meu aniversário de 11 anos. De minha outra tia, também professora, ganhei o livro Cazuza de Viriato Corrêa (1884/1967), editado pela Companhia Editora Nacional, o livro foi publicado pela primeira vez em 1938.
Acho que foi na criação desta relação com o cliente da papelaria, que se estabeleceu na cabeça do público que na compra de algum livro se obteria o desconto. Tornou-se um hábito bem arraigado. Durante estes anos ouvi de muito livreiro a reprovação do desconto para livros. Uma reclamação por parte dos livreiros e que crescia no inicio da feira do livro em praça pública, cujo desconto era de 20% obrigatório na compra de qualquer livro. Alguns livreiros acompanhavam a promoção dando destaque em suas lojas, outros efetivaram o desconto de 20% em todos os livros, caso da Livraria Ivo Alonso Nunes, uma boa livraria no centro da cidade, na Praça Monte Castelo. A livraria Ivo Alonso foi distribuidora da Atlas. Em plena efervescência de vendas chegaram abrir uma filial na Gama Filho, sob os cuidados do filho. Lembro que na loja do Ivo Alonso faleceu o historiador Manuel Mauricio de Albuquerque, habitual cliente da livraria, mestre e autor da Pequena Historia da Formação Social Brasileira, editada pela edições Graal. Estava em companhia de Eulalia Maria Lahmeyer Lobo, também professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais - IFCS-UFRJ.
Aqui no Rio surgiram livrarias para este distinto público e seus pais, poucas sobreviveram. Se não falha a memória na segunda metade da década de setenta e o inicio da seguinte. Lembrei de imediato de uma das melhores livrarias, a livraria Malasartes (1979) situada no número 367, do Shopping da Gávea dedicada ao público infantil, tendo como uma das sócias, a escritora imortal Ana Maria Machado, aliás, eu considero como uma das melhores escritoras, embora, não apenas dedicada ao publico infantil; com Claudia Amorim e sua mãe Yacy Mattos de Moraes.
Ana Maria Machado foi uma das sócias da Quinteto Editorial, vendida mais tarde para a editora FTD. Lembro que ao ser vendedor tive a oportunidade de conhecer a livraria Malasartes e o primeiro contato foi com a Claudia, dali nasceu uma identificação imediata, sem muitas elucubrações, eu estava diante de uma livreira. Uma boa livreira. Fui apresentado por um amigo de longa data, também vendedor, de nome Fabrício. Na ocasião a editora em que eu trabalhava havia uma pequena seção de livros infanto-juvenis, que não foi adiante, no caso era a editora Paz e Terra. A coleção era dirigida por Eliane Ganem, escritora, professora do Instituto de Arte e Comunicação da UFF, seu livro Coisas de Menino foi editado pela Paz e Terra, ilustrado por Jayme Leão e com orelha escrita por Michel Misse, meu colega do IFCS/UFRJ. Há uma edição pela José Olympio.
Na Quarup, uma livraria que eu tive em Ipanema, havia criado um espaço dedicado ao leitor infantil, recebia visita de algumas escolinhas e de um pequeno público da redondeza. Meu filho na condição de ouvinte gostava imensamente dos livros da Ática, da coleção Gato e Rato, do casal Mary França e Eduardo França. Pensei em criar e logo abandonei a idéia inspirada na Murinho, a livraria infantil pertencente a falida Muro do livreiro Rui Campos, uma carteirinha de sócio. O momento de dificuldades de manter a livraria estava timidamente sendo anunciado, resisti até o mês de agosto de 1984.
Pouco tempo depois de ter fechado, recebi um convite e fui trabalhar na livraria Unilivros de Ipanema, junto com uma boa equipe de vendedores sob o comando de Mário, o homem de confiança de Jorge Ileli. Ileli conhecido cineasta, sua livraria era freqüentada por diversos artistas. José Lewgoy tinha uma cadeira cativa na livraria, estava sempre por lá. José Wilker era um dos melhores leitores, apontaria na época sem sombra de dúvida como o maior comprador de livros, assim como a Fernanda Montenegro, era também uma grande leitora. Manoel Carlos também comprava muito. Lembro de vários artistas, uma das últimas vezes que vi junto com a sua filha, a atriz Lílian Lemmertz , pouco tempo depois veio a falecer prematuramente. Continua na próxima oportunidade.
Ps: Fui informado pela Office Book, o novo endereço da tradicional livraria Ivo Alonso Nunes, localizada na Rua das Marrecas, 11, no Centro do Rio de Janeiro. Pela foto enviada, vale uma visita.

segunda-feira, agosto 06, 2007

Globo: Uma Livraria e Editora para permanecerem na História.

João Fahrion: Professor do Instituto de Belas Artes de Porto Alegre, pintor, desenhista, ilustrador e gravador. Nascido em Porto Alegre em 4/10/1898 e falecido em 11/08/1970. Capista e ilustrador de livros publicados pela Editora Globo. Desenhou as capas de alguns números da Revista do Globo.

A partir de hoje penso em alternar as manifestações artísticas expostas neste espaço blogueiro. Vou pendurar neste mural, obras (capas) de artistas relacionados de alguma forma com a indústria do livro.
Tenho recentemente abordado como fio condutor minha experiência como um antigo profissional do livro, principalmente ligado ao comércio de livros e como leitor; deste modo penso em estar contribuindo de alguma maneira para reconstruir mesmo que por esta via, a história do livro. Não poderia ignorar a importância fundamental em um livro a participação do profissional das artes gráficas, ilustradores e desenhistas, daí que aos poucos colocarei em exposição, capas que me agradaram, ou que procuraram criar uma identidade visual nas editoras. Fui testemunha ao ouvir por parte do consumidor de livros, que através da capa, da beleza apresentada, foi o que estimulou para comprar este ou aquele livro. Uma bonita capa, atraente, é o primeiro impacto diante do leitor, realmente ajuda e muito em uma decisão na hora de comprar. Associados ou não à capa, está o autor, título ou assunto, elementos que são atrativos para um leitor.
De oitenta prá cá houve um número maior de editoras, livrarias e uma pluralidade de artistas produzindo capas de livros. Uma nova linguagem visual marcava presença nos espaços do livro. A impressão que tenho, é que a editora Companhia das Letras foi quem efetivamente deu enorme contribuição para este novo tratamento visual, a partir de seu surgimento no ano de 1986.
Segundo alguns intelectuais, o livro após a presença da Companhia passou a ser objeto de desejo. A midia impressa babava por novos titulos da editora, que produzia cada vez mais. Os cadernos "culturais", riam de ponta a ponta com cada livro resenhado. Eliminavam por princípio qualquer pequena editora. Eu trabalhei com editoras que tinham dificuldades enormes para obter um espaço em um destes cadernos e eram editoras de grife. Havia espaços cativos e pronto. Os editores destes cadernos demoravam em reconhecer sucesso fora dos parâmetros da editora que estava em moda. Tudo que envolvia a editora era sucesso, aliás quando estive em São Paulo nos anos 90, vi livrarias na Avenida São João vendendo ponta de estoque da editora, um repleto e variado saldo.
A mudança de formato se fazia presente em várias editoras. Antigamente, hoje é mais aceito, havia uma enorme resitência por parte do público e das livrarias, a edição de um livro impresso em papel jornal e o preço do exemplar mais barato. Não adiantava, o público era refratário. Encalhes e mais encalhes, o resultado venda para papeleiros.
Hoje fica pra mim mais difícil identificar de imediato qual seria a editora que estaria em exposição em um balcão de livraria, por exemplo. Quando atuei em livrarias eu percebia, talvez por ajuda de uma boa memória visual e com mais facilidade uma editora. Ali estavam: uma Zahar, Civilização Brasileira, Francisco Alves, José Olympio, Paz e Terra, Nova Fronteira ou outras editoras. Naquela época também identificava a editora por titulo, autor ou linha editorial.
Como o meu post trata da Livraria e Editora Globo, resolvi iniciar com um trabalho de um artista, dentre os vários que colaboraram com a editora gaúcha desde a sua criação, em 1930, com a participação de Henrique d`Avila Bertaso, filho mais velho de José Bertaso.
Li outro dia no mês de julho, em site de um jornal gaúcho noticiando que a Globo livraria, situada desde dezembro de 1883 na famosa Rua da Praia no centro de Porto Alegre, daria lugar a uma empresa de eletrodomésticos e móveis. Segundo a informação foi vendida uma parte do tradicional prédio da livraria, a outra foi destinada aos livros e a papelaria que seriam deslocadas para os fundos da loja. Uma pena! Sinto muito quando fecha ou é atingida uma livraria, editora ou distribuidora. Ali, apenas para citar passaram alguns escritores como: Mário Quintana (1906/1994), colaborador da Revista do Globo, poeta e tradutor; Lia Luft (1938) exercia o trabalho de tradutora da editora; Érico Veríssimo (1905/1975) um dos colaboradores mais efetivos da editora, como tradutor, escritor e conselheiro editorial além de ser editor da Revista do Globo; a jornalista, professora doutora pela ECA/USP pesquisadora Cremilda Medina, autora de “Notícia, um produto à venda”, editado em 1978 pela Alfa-Ômega e Maria da Glória Bordini, professora, pesquisadora no campo da leitura recentemente despedida da PUC/RS. Maria da Glória é também autora de um estudo editado pela L&PM, cujo titulo é: “Criação Literária em Érico Veríssimo”.
No caso da livraria foi determinante a situação de endividamento em que se encontrava. Atualmente quem preside a livraria é o bisneto Henrique Ferreira Bertaso. Nesta situação desenrolou uma cisão familiar que envolveu os irmãos Bertaso. A declaração do irmão, ao se recusar a participar da Feira do Livro de Porto Alegre: ”O senhor Cláudio disse que seria melhor a Globo ir vender suco de uva na feira, porque livro não dá dinheiro. Ele desprezou os livros”, tornou público o vice-presidente Gustavo. Brigas familiares têm sido a tônica de divergências e fechamento de empresas. Convém lembrar que um dos fundadores da Editora Globo, Henrique Bertaso (1906/1977) participou da criação da Feira do Livro de Porto Alegre.
Lembro da filial que a livraria Globo montou no Rio de Janeiro nos anos 80, na Rua São José em frente do terminal de ônibus. Não ficou muito tempo e cerraram as portas. Nesta ocasião trabalhava para Paz e Terra. Achei que a filial, não conheço o restante das lojas do sul, mas como estavam abrindo a loja, o acervo não me impressionou. A livraria uma empresa tradicional no ramo do livro, com concentração no sul do país, me parecia sinalizar dificuldades. Eu tinha uma facilidade, fotografava com os olhos, o acervo da livraria, percorria as estantes de ponta a ponta, dali eu identificava o material que a loja dispunha. A livraria atuava com o binômio: livraria e papelaria, combinações não muito freqüentes na praça do Rio de Janeiro. A distribuição da Editora Globo, até ser vendida para Rio Gráfica em 1986, era feita pela Catavento. A Rio Gráfica (RGE) foi uma empresa fundada por Roberto Marinho, em 1952.
Anos mais tarde em uma breve passagem pela livraria Beta de Aquarius, antes de minha saída, conversava com o proprietário da loja, o livreiro Antonio Seabra, a respeito de meu interesse em leituras sobre a historia do livro no Brasil, lembrou que tinha em seu acervo, dois títulos que me interessariam, acabou por ceder dois livros de autoria de José Henrique Bertaso sobre a livraria Globo. Uma referência para compreensão da história do livro, embalado por elementos de uma narrativa biográfica bem interessante; o que motivou a busca pelo título “Um Certo Henrique Bertaso – Artigos Diversos, editado, ou melhor, reeditado pela Globo, em 1997, de autoria de Érico Veríssimo. Encontrei em um sebo, após um ano de busca, foi localizado em uma prateleira por 5 reais. Abri de imediato o livro de capa dura para iniciar a leitura e li:”Mil novecentos e vinte e dois foi, sob muitos aspectos, um ano portentoso”. Até a próxima...
Fonte de Consulta: Traça Livraria e Sebo - especialmente Mostra da Revista do Globo (1929/1939) e Jornal de UFRGS