terça-feira, agosto 26, 2008

Agradeço ao Livreiro Alberto Pereira, o Filósofo


Estou como vocês perceberam, ausente deste blog e do outro. O outro para quem não sabe, é o blog Esquinas do Tempo, um espaço que criei para escrever o que vier na telha; também desempenho vez por outra, o papel de colaborador com comentários sobre a política do Vasco, clube pela qual torço, no site Supervasco. Se quase não tenho tempo para um, quanto mais para escrever em três, o tempo ficou escasso, pois no momento, me transformei em livreiro de rua e livreiro virtual, atividade que tenho curtido muito.
Minha passagem junto ao livreiro Vavá foi efêmera e decepcionante, da empolgação inicial e o agradecimento pela oportunidade de voltar ao livro, sem dúvida, reconheço e mantenho meu agradecimento. Com o decorrer da convivência pude perceber claramente o comportamento dúbio, claudicante, escorregadio do livreiro Vavá, acrescentaria também, a dificuldade que tem de cumprimentar alguém, percebo que há ausência total no trato urbano. Acho muito deselegante, na convivência com outro colega de trabalho, o sujeito, não se dignar a cumprimentar, dar um Bom dia, ou, até mais...Acrescento o hábito deselegante de, sem mais nem menos, deixar a pessoa falar sozinha, que dizer, sai da conversa sem comunicar nada, simplesmente sai, quando notam, sumiu. A falta de compromisso com o outro, é a linguagem permanente de comunicação em seu cotidiano. Vi pessoas que ele marcava para comprar livros, aparecerem na hora combinada, ele como parte interessada, não comparecia. Um vez "combinou" com um livreiro morador de Santa Teresa para comprar seus livros, o homem veio com duas enormes e pesadas sacolas, quando ali chegou, constatou que Vavá sumira, deixou o cara a ver navios, o homem (César - descobri mais tarde em conversa com o próprio, o seu nome) ficou possesso, dizendo que gastou com passagem para nada.Para mim, não me comunicou nada, respondi e fiquei tão perplexo quanto, só não fiquei irado como o homem da sacola.
Pelo tempo de trabalho com livros, Vavá formou uma boa clientela, um segmento de leitores dos quais muitos gostam de comprar livros por um real. Ali, entra tudo, desde livros sem capa, com defeito, faltando páginas, qualquer livro sobre qualquer assunto, são despejados naquele espaço.Tem sido a promoção permanente que faz em sua bancada. O convidativo preço, não diria, a preço de banana, pois a fruta está cada vez mais cara, pois superou o valor de um real, que hoje é vendida, ainda mais a peso e não à dúzias como se comprava no passado.
Talvez, tenha me precipitado ao qualificar sua composição no perfil de livreiro, cabe mais a de vendedor de livros, um bom vendedor de livros, trabalhador, pega no pesado, sempre com a carga nobre prá lá e prá cá. Vava´se autoproclama um conhecedor da vida de Monteiro Lobato, pode até ser. Aliás, vende esta idéia de pesquisador da obra de Monteiro Lobato, de ter o maior acervo sobre Monteiro Lobato. Não fiquei muito convencido, para mim, a impressão que tive, foi um conhecimento envernizado da biografia de Monteiro Lobato, aliás desconheço qualquer trabalho de cunho intelectual provindo do livreiro Vavá. Em seu curriculum acrescenta a de escritor infantil, publicou e encontra-se esgotado um livro infantil cujo título é Risadinha, montou uma livraria em sua terra natal, é membro da Academia Cearense.
Percebi quando comentei, que não sabia que Monteiro Lobato, foi quem apresentou em 1944, Ênio Silveira um estudante de Sociologia a Octalles Marcondes Ferreira, ex-sócio de Monteiro Lobato, na ocasião, Octalles era dono da Companhia Editora Nacional (CEN) que veio no futuro a ser sogro de Ênio, que casa com Cléo Marcondes Ferreira. Octalles convidou para trabalhar na Companhia Editora Nacional, mais tarde, entregou a Civilização Brasileira, que havia comprado em 1932, de um grupo, dentre eles, os sócios: Gustavo Barroso, escritor integralista, o livreiro integralista Getúlio M. Costa, o escritor Ribeiro Couto e o jornalista Hildebrando de Lima, irmão do poeta Jorge de Lima. A mudança de perfil da editora Civilização, acontece quando Ênio Silveira em 1951 ao voltar de viagem feita aos Estados Unidos, foi fazer um curso de editoração com Alfred A. Knopf. Voltarei ao assunto em uma próxima oportunidade, mas voltando ao "livreiro" Vavá...
Acho mesmo que os personagens de sua predileção não são os do Sitio do Picapau Amarelo e sim do escritor italiano Carlo Collodi, do velho carpinteiro Gepeto, do Grilo Falante, etc... Vavá foi para o Ceará, ficou ausente por mais de um mês, quando voltou, empregou a cunhada, antes deixou a filha, uma adolescente para tomar conta da bancada. O grande estoque que dizia ter, não foi mostrado; quando voltou de viagem, muito pouco livro foi oferecido pra vender. Nem alimentou a filha com livros durante a sua ausência. Notava-se à distância, falta de material, o que veio a confirmar quando voltou a exibir uma baixa oferta. Não tocou uma palavra sequer do que foi combinado, ou seja, ao voltar, eu reassumiria a minha função de vendedor. Não pretendo me prolongar no assunto, encerro, aqui.
De repente me vi, de imediato para aonde ir? Eis que surge, a presença do livreiro-filósofo Alberto Pereira, dono de um espaço, de um mini-espaço, vizinho ao de Vavá, que abriu generosamente um espaço para este livreiro expor seus livros, aproveito para tornar público meu agradecimento a Alberto Pereira, filósofo formado pela UERJ, e pela Livraria do Povo, uma pequena livraria localizada na esquina da Rua México, com Araújo Porto Alegre, que foi criada pelo antigo livreiro-gerente da Leonardo Da Vinci, George, que mantinha simpatia pelo MR8.
O livreiro Alberto foi quem acolheu este sociólogo por formação e livreiro. O diálogo com Alberto, o Filósofo flui com mais facilidade, conhece os livros, e é um leitor. Ali, foi o meu pontapé inicial para me transformar em livreiro virtual, faço parte da comunidade de livreiros que trabalham com livros usados na internet, em uma página que abriga sebistas de todo o país, o badalado site Estante Virtual, ali, me transformei em Banca da Carioca.
Naquele espaço identificado como tenda cultural, abriga um grupo de livreiros, um destes grupos, é comandado por uma familia que dividiu o espaço público ao seu bel prazer, que inclui o vendedor de livros Francisco Olivar, em uma ponta, há o livreiro Júlio, cujo pai é do ramo e atua há décadas com livros, um senhor bem idoso; em outro extremo, há a presença de Domingos, sempre de boné, um "livreiro", iniciado em uma livraria, na época, uma das poucas livrarias do Méier, na Dias da Cruz, a livraria Panno, que priorizava a venda de jornais e revista, aliás, esta é a sua origem. Domingos se revelou amigo, ficou contente em saber de minha história, lembramos que nos conhecemos quando trabalhei como pracista da Paz e Terra, mas revelou sua face, tirou a sua máscara e em pouco tempo, mostrou ser um "colega" extremamente individualista, sem ética. De baixa instrução, aliás, uma das características do pessoal de livraria, sua base intelectual é apoiada em um índice muito baixo de informação. Monocórdico ao divulgar os livros de sua banca, repete sempre: "Está sempre chegando novidades, tem sempre novidades, todo dia tem novidades". O quem vem a ser novidade em um banca com livros usados? Qualquer titulo pode ser considerado como novidade. Outro dia, cometeu um grande equívoco, fui testemunha, uma cliente pediu um livro de Freud, ele apresentou um livro sobre Freud, a moça ao ver o livro dispensou, disse que ela perguntou se tinha um livro de Freud, eu mostrei, ficou irritado, mas só percebeu o engano, quando chamei a sua atenção para o livro, que era sobre Freud e não do autor, ficou sem graça."Trata os clientes como ilustre, ou meu rei" com uma entonação de um baiano.
Domingos relaciona com clientela muitas vezes de modo brusco, rude, chamando atenção dos incautos clientes que por ventura abram o livro do modo em que ele não gosta, chega a advertir o cliente contra o modo com que manuseia as folhas do livro.
Atualmente parte do grupo de "livreiros" fazem a campanha de um candidato a vereador, uma das mulheres da familia Gários, chegou a propor recolher grana para a campanha do candidato Lúcio Costa, lembro que Alberto rechaçou de imediato em colaborar, o pequeno grupo no momento distribui santinhos, e expõe um banner na rua. Os livreiros não se engajam claramente, deixam por conta de zelosos e dedicados funcionários tal militância.
Volto a conversar sobre livros, tenho de ir à luta e sem pedir licença. A imagem exposta neste post, foi o logo de minha livraria, aproveitada na distribuidora e agora resgatada para vincular a imagem exibida, com a minha identidade de livreiro de rua e livreiro virtual. Um abraço e até breve.

3 comentários:

Sonia Regly disse...

Amigoooooo Wilsom ,
VC nunca mais me deu a honra da sua presença lá no Compartilhando as Letras. Apareça por lá, estou sentindo falta dos seus comentários.

Jôka P. disse...

Caramba, Wilton ! Quantas informações interessantes nessa narrativa, li tudinho, tim-tim por tim-tim !
Adorei a sua descrição dos personagens reais e nem sempre boa-praças que o cercam no espaço dos livreiros ! Muito legal a sua franqueza !
Há um tempo não vinha aqui e aproveito pra lhe desejar saúde, felicidade, boas leituras e bons negócios !
abç
JÔKA

Sonia Regly disse...

Wiltom,
Como vai?? muito trabalho?? Espero que estejas bem e tudo na santa paz com vc e toda a sua família.Abraços,