domingo, julho 22, 2007

Homenagem ao Poeta: Carlos Drummond de Andrade

Escultura do poeta Carlos Drummond de Andrade, criada pelo artista mineiro Leo Santana. Instalada em Copacabana, em frente à rua em que o poeta morou, no dia 31 de outubro de 2003 - Centenário do Poeta. Fonte de consulta: (http://www.gospeltv.com.br/)

Pela primeira vez , decidi que republicaria um texto produzido por mim aqui neste espaço. Peço desculpas para aqueles que eventualmente tiveram oportunidade de ler o texto em 2005, estou repetindo com poucas alterações. Acrescento como um dos homenageados o meu neto Ricardo, nascido em 31 de outubro de 2006. Aliás, o mesmo dia e mês de nascimento do grande escritor.

Caminhava conversando com o vento pelo calçadão seguindo sem lenço e com documentos com os olhos cheios de cores, vidrados naquela maravilha de cenário, bonito por natureza.
Vi
Os corpos dourados das mulheres de Copacabana deitadas como sereias, nas areias banhadas de sol, beijadas por homens, ondas e ventos.Dos homens e crianças sorridentes sem dentes da cola que cheiram e brincam indiferentes.
Pega! Pega Ladrão! Pega Ladrão!
Grita aflito alguém chorando a carteira voava entre pivetes, facas e canivetes. Armas do desejo de possuir.Roubam e atravessam sorridentes e triunfais.
sou di menor, tio me dá um real.
Vou seguindo em direção ao Posto Seis. Sob o céu azul de Copacabana.
Nada no bolso ou na mão. Peço uma licença poética, ao Meu Amigo Poeta para um dedo de prosa.
Meu amigo, respeito o seu silêncio, mas a infância está perdida. A mocidade está perdida, mas a vida não se perdeu...ainda.
Naquela avenida abraçada pelo mar os hotéis sorriem de felicidade. Turistas perdidos procuram as damas da noite e os gays da vida, na vida, perdidos na noite, paqueram aqueles que vivem aqui em Copa e de Copa. Olha o Poeta, em seu silêncio a paisagem encarnada e ventilada pelos odores dos corredores, dos caminhantes, dos ciclistas e golpistas; Copacabana você não me engana, não disse assim Fontoura, mas disse Caetano e Torquato, nesse país que me engana, aí de mim, Copacabana, aí de mim,ai de mim, ai de mim...
Copacabana virou filme da Carla Camurati, Ai de ti, Copacabana! Dizia Rubem Braga, porque a ti chamaram Princesa do Mar.Porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera de teu dia...estás perdida e cega no meio de tuas iniqüidades e de tua malícia.
E agora, Carlos?Você sentado eternamente neste banco poetando este mundo caduco.Sei que no meio do caminho tinham aquelas pedras do calçadão e bicicletas na contra-mão.Tinha a policia descansando, porque ninguém é de ferro.Carlos, eu confesso, nunca esquecerei desses acontecimentos:Tinha um corpo estendido no meio do caminho no meio do caminho tinha um corpo drogado.Um menino revoltado.
Meninas vendendo balas. Alugando corpos.
Das gaivotas em cambalhotas. Mar me fez amar Copacabana pra se amar, um só lugar, Copacabana cantava Lúcio Alves em 1951;Princesinha do Mar Só a ti Copacabana eu hei de amar.
E agora, Carlos? Lula , esqueceu que foi operário e foi viver no Paraíso virou amigo de reis e príncipes e afastou os mendigos. A festa não acabou , a miséria continuou.. As luzes da cidade estão acesas nos quiosques, na praia, nos faróis. A bebida rola e outras coisas que nem queira saber.
Copacabana sempre nos engana. Do Leme ao Posto 6. Lembro, Carlos quando você passava por mim, nos anos 80 de braços dados com Maria Julieta pelas calçadas de Ipanema. Soube que você ficou muito triste com a partida de sua filha, ela foi pra não voltar e você, depois, seguiu seus passos...Eu estava do outro lado do balcão de uma livraria daquele cineasta que dirigiu: Amei um bicheiro. Ele também foi embora, deixou um livro escrito pela Rosana Cardoso, que começa, citando seus versos: É preciso que a lente mágica Enriqueça a visão humana e do real de cada coisa. Um mais seco real extraia para que penetremos fundo. No puro enigma das figuras, está escrito em Amar se aprende amando.
E agora, Carlos? A festa não acabou, mal começou...Copacabana me enganou e um anjo meio torto, destes que colocam o boi na sombra disse: Vai, Wilton, ser de esquerda na vida militante dos sonhos, dos protestos estudantis, acabei Carlos sendo sociólogo, livreiro, distribuidor e editor. Até uma locadora de filmes criei de nome Sagarana. Lá no Catete.
Vou te contar, Carlos. Dona Vanna Piraccini, uma grande livreira, você conheceu muito, sei que você estava sempre por lá... Leonardo, era sua passagem, continua sendo uma excelente livraria, em companhia da filha Milena. Faz parte da história do livro. Lembra da campanha que você fez através do JB? Conclamando os clientes a pagarem as contas por causa daquele incêndio criminoso na livraria, queimando tudo, arquivos e livros, foi no ano de 1973.
Eu solidário, fui um deles.Você chegou a fazer poema em homenagem a livraria: Ao termo da espiral que disfarça o caminho com espadanas...
Quem quiser saber mais que leia as Impurezas do Branco. Meus olhos e os seus seguem As bundas bronzeadas, as boas de bunda. Uma bela bunda, Não sei se seria da Raimunda. Que além de ser rima é solução. Aquelas que parecem sorrir. São engraçadas. Esferas harmoniosas sobre o caos. A bunda são duas luas gêmeas. Em rotundo meneio. A bunda é a bunda. Sabe meu querido poeta elas nos divertem...Sei que você dedicou Um Amor Natural para elas.
Lembra Carlos, daquela que pelo rádio da polícia, mandou o seu recado, a Kátia Flávia, gostosona que só usa calcinhas comestíveis e calcinhas bélicas. A Godiva de Irajá que se escondeu aqui em Copa.Uma Louraça Belzebu, provocante, disse a Fernanda Abreu, uma vascaína igual a nós. Lembro Carlos que você publicou vários assuntos sobre futebol. Quando é dia de futebol, virou título de um livro. Quem reuniu esta seleção de textos, foram os seus netos, achei muito legal esta iniciativa. O nosso time esta um vexame só. É governado pelo Tirano da Colina.
Poeta, quantas pessoas sentam ao seu lado passam aqui para conversar e ouvir poesia ou apenas fotografar.Carlos, a Rosa ainda não é do povo, continua com os espinhos mas elas falam, reclamam, protestam. Carlos, a coisa aqui, tá preta como disse outro poeta. O outro, poeta-cantor largou a Marieta. Mas o que queria lhe dizer; é que continuamos na luta, na luta... sem pedir licença. Os poderosos estão cada vez mais ricos. Os idosos, estes que tiram fotos de você ainda continuam penando nas filas dos postos da previdência, nos hospitais. Cresce o número de moradores de rua. Sei que os seus olhos não perguntam nada, apenas olham para as pernas brancas, pretas e amarelas. Por que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Pois é poeta, pernas pra que te quero? Olha poeta, que rabo muito gira, é de uma portuguesa com certeza, reparei no sotaque enquanto caminhava olhando Las Muchachas de Copacabana. Mamãe pro mês lhe mando umas economias. Lembrança da filha Que brilha aqui na capital. É uma estrela internacional. Esta é de autoria do Chico, que continua cada vez melhor...escrevendo livros e composições, fazendo show e indo à praia do Leblon.
Poeta adivinhe, onde? Na praia, até uma Inocente do Leblon. Foi ouvir bem de perto, parece que era um papo animado.O Arnaldo, sim, o Jabor, anda fazendo meditações diante de um bumbum. O bumbum da Juliana Paes, você meu querido poeta acho que não conheceu é uma celebridade da tv, uma artista de novela. Foi capa de revista Playboy.
E agora, Carlos? Continuamos morando em Copa, você em um posto, eu, em outro. Moro na metade do seu. Carlos, quase que ia esquecendo de lhe contar: Há mulheres colocando silicone, no considerado patrimônio nacional fazem cirurgia pra aumentar os glúteos, mas prefiro bunda ao natural, acho melhor.Quero lhe apresentar a puta da cidade, que você falou certa vez.Ouvi dizer que João amava Pedro Que amava Teresa que não amava Raimundo. Raimundo que amava Maria Que saiu da casa da tia e Joaquim que não estava nesta história, acabou mesmo suicidando, se jogando de um prédio na esquina de Figueiredo com Domingos.
Um escrito na sala do apartamento de Copacabana, escrito que não engana. Arregalou os olhos de Sebastiana, assim, cantava Eduardo Dusek. Carlos, quem está distante de nós, é a doce e querida amiga Elianne, trocou Ipanema por Cabo Frio, voltou para Ipanema e foi para Natal., levando livros e filhos...Deixou lembranças...É o nosso amor antigo, nada exige e nem pede...
Carlos, agora, meu caro poeta, vou para casa. Pretendo acordar sem sofrimento. A dor que deveras eu sinto, é a dor de não ser um poeta, nem prosador do mundo.Sou apenas um leitor e agora blogueiro. Com o abraço de sempre desse quitandeiro, velho apreciador de livros e poesias. Seu grande admirador.
Obs: Foram consultadas algumas poesias de Carlos Drummond de Andrade em páginas na web como: Drummond: Alguma Poesia e Casa do Bruxo. Versos de Drummond foram inseridos na elaboração deste texto, assim, como os autores citados e suas composições musicais. Esclareço que é uma homenagem singela e sincera ao poeta que sempre via passar por mim e que hoje passo por ele, em sua forma de escultura na Praia de Copacabana, posto 6. O que escrevi,dedico para Marilene, minha companheira por mais de 30 anos, ao filho Raoni, aos seus filhos, meus netos Ramom e Ricardo e, a minha querida amiga, a psicanalista Elianne Abreu.

5 comentários:

Anônimo disse...

Querido, vc é tão querido, Wilton... saudades.
Que bom que tem mais um netinho para curtir.
E Carlos ando nas nuvens olhando o que aprontam por aqui. Agora não precisa mais dos oóculos e nem é mais tímido :)
bjs em todos. Elianne

Anônimo disse...

Não se desculpe por repetir, é sempre bom ler vc, sabe que a gente esquece...
eu adorei ler de novo. :)
bjss

Marta Bellini disse...

Lindo texto, caro!

Bjs

Lia Noronha disse...

Wilton: td que se refere a Drummond é sempre bem vindo...afinal ele é o mestre eterno da nossa poesia...não é mesmo?Abraços mil!!!

Anônimo disse...

Oi Wilson! ok, agora vamos ter que colocar a memoria para funcionar. Algumas vezes atraído pelas minhas memòrias do passado ,como muitas vezes me acontece, e em possesso desse instrumento chamado Internet, digito nos motores de procura da rede o nome de alguns amigos meus de infancia adolecencia etc, meses atras digitei Raoni que è o teu filho, me lembravo claramente do seu nome completo e o achei em alguns concursos publicos de direito , faculdade de direito etc...chegando a conclusao que meu grande amigo Raoni se tornou um advogado! fiquei muito feliz mas nao podia saber mais nada, mas ja bastava...Outro dia sonhei com ele, obviamente com o mesmo rosto de quando o conhecia, entao essa semana fiz uma outra pesquisa e me deparei com o teu Blog! Me lembro muito bem que o senhor trabalhava com livros e ate hoje sou traumatizado do episodio em que raoni me emprestou o livro "Todos os caes" e o devolvi com a capa um "pouquinho" destruida... o senhor me deu uma bronca que penso que fiquei uns dois meses sem andar na casa de vcs por pura vergonha! Lendo o teu blog agora descobri que o Raoni tem dois filhos e fiquei muito emocionado!
Atualmente moro na italia ja fazem 5 anos, trabalho como designer grafico, vivo ha tres anos com minha namorada (sem filhos he he) em uma cidade que se chama Sanremo ,isso, aquela do festival da musica italiana...O meu nome è o mesmo de um dos teus netos , Ricardo, lembra de mim ? moravo no segundo andar do edificio 65 da Raul Pompeia em copacabana e eu era o melhor jogador de botao das redondezas he he , cheguei a ir varias vezes na casa de vcs na voluntarios da patria qdo vcs se mudaram, voluntarios da patria? hummm agora nao me lembro bem, fazem mais de 20 anos , hoje eu tenho 32 anos...lembro do Kim meu cachorro preferido! Ahhh quando a Marilene fazia pao plusvita com requeijao cremoso e biscoitinhos sao luis recheados acompanhados de nescau com leite tb eh inesquecivel! Fico por aqui se o senhor puder faça o Raoni ler esta mensagem e mando tantos abracos a todos, e espero tb que o teu proximo netinho seja uma "bambina" muito saudavel! se quiserem me contatar o meu email è: gama2005@libero.it, abracs de 10.0000 kms de distancia!!!