segunda-feira, agosto 06, 2007

Globo: Uma Livraria e Editora para permanecerem na História.

João Fahrion: Professor do Instituto de Belas Artes de Porto Alegre, pintor, desenhista, ilustrador e gravador. Nascido em Porto Alegre em 4/10/1898 e falecido em 11/08/1970. Capista e ilustrador de livros publicados pela Editora Globo. Desenhou as capas de alguns números da Revista do Globo.

A partir de hoje penso em alternar as manifestações artísticas expostas neste espaço blogueiro. Vou pendurar neste mural, obras (capas) de artistas relacionados de alguma forma com a indústria do livro.
Tenho recentemente abordado como fio condutor minha experiência como um antigo profissional do livro, principalmente ligado ao comércio de livros e como leitor; deste modo penso em estar contribuindo de alguma maneira para reconstruir mesmo que por esta via, a história do livro. Não poderia ignorar a importância fundamental em um livro a participação do profissional das artes gráficas, ilustradores e desenhistas, daí que aos poucos colocarei em exposição, capas que me agradaram, ou que procuraram criar uma identidade visual nas editoras. Fui testemunha ao ouvir por parte do consumidor de livros, que através da capa, da beleza apresentada, foi o que estimulou para comprar este ou aquele livro. Uma bonita capa, atraente, é o primeiro impacto diante do leitor, realmente ajuda e muito em uma decisão na hora de comprar. Associados ou não à capa, está o autor, título ou assunto, elementos que são atrativos para um leitor.
De oitenta prá cá houve um número maior de editoras, livrarias e uma pluralidade de artistas produzindo capas de livros. Uma nova linguagem visual marcava presença nos espaços do livro. A impressão que tenho, é que a editora Companhia das Letras foi quem efetivamente deu enorme contribuição para este novo tratamento visual, a partir de seu surgimento no ano de 1986.
Segundo alguns intelectuais, o livro após a presença da Companhia passou a ser objeto de desejo. A midia impressa babava por novos titulos da editora, que produzia cada vez mais. Os cadernos "culturais", riam de ponta a ponta com cada livro resenhado. Eliminavam por princípio qualquer pequena editora. Eu trabalhei com editoras que tinham dificuldades enormes para obter um espaço em um destes cadernos e eram editoras de grife. Havia espaços cativos e pronto. Os editores destes cadernos demoravam em reconhecer sucesso fora dos parâmetros da editora que estava em moda. Tudo que envolvia a editora era sucesso, aliás quando estive em São Paulo nos anos 90, vi livrarias na Avenida São João vendendo ponta de estoque da editora, um repleto e variado saldo.
A mudança de formato se fazia presente em várias editoras. Antigamente, hoje é mais aceito, havia uma enorme resitência por parte do público e das livrarias, a edição de um livro impresso em papel jornal e o preço do exemplar mais barato. Não adiantava, o público era refratário. Encalhes e mais encalhes, o resultado venda para papeleiros.
Hoje fica pra mim mais difícil identificar de imediato qual seria a editora que estaria em exposição em um balcão de livraria, por exemplo. Quando atuei em livrarias eu percebia, talvez por ajuda de uma boa memória visual e com mais facilidade uma editora. Ali estavam: uma Zahar, Civilização Brasileira, Francisco Alves, José Olympio, Paz e Terra, Nova Fronteira ou outras editoras. Naquela época também identificava a editora por titulo, autor ou linha editorial.
Como o meu post trata da Livraria e Editora Globo, resolvi iniciar com um trabalho de um artista, dentre os vários que colaboraram com a editora gaúcha desde a sua criação, em 1930, com a participação de Henrique d`Avila Bertaso, filho mais velho de José Bertaso.
Li outro dia no mês de julho, em site de um jornal gaúcho noticiando que a Globo livraria, situada desde dezembro de 1883 na famosa Rua da Praia no centro de Porto Alegre, daria lugar a uma empresa de eletrodomésticos e móveis. Segundo a informação foi vendida uma parte do tradicional prédio da livraria, a outra foi destinada aos livros e a papelaria que seriam deslocadas para os fundos da loja. Uma pena! Sinto muito quando fecha ou é atingida uma livraria, editora ou distribuidora. Ali, apenas para citar passaram alguns escritores como: Mário Quintana (1906/1994), colaborador da Revista do Globo, poeta e tradutor; Lia Luft (1938) exercia o trabalho de tradutora da editora; Érico Veríssimo (1905/1975) um dos colaboradores mais efetivos da editora, como tradutor, escritor e conselheiro editorial além de ser editor da Revista do Globo; a jornalista, professora doutora pela ECA/USP pesquisadora Cremilda Medina, autora de “Notícia, um produto à venda”, editado em 1978 pela Alfa-Ômega e Maria da Glória Bordini, professora, pesquisadora no campo da leitura recentemente despedida da PUC/RS. Maria da Glória é também autora de um estudo editado pela L&PM, cujo titulo é: “Criação Literária em Érico Veríssimo”.
No caso da livraria foi determinante a situação de endividamento em que se encontrava. Atualmente quem preside a livraria é o bisneto Henrique Ferreira Bertaso. Nesta situação desenrolou uma cisão familiar que envolveu os irmãos Bertaso. A declaração do irmão, ao se recusar a participar da Feira do Livro de Porto Alegre: ”O senhor Cláudio disse que seria melhor a Globo ir vender suco de uva na feira, porque livro não dá dinheiro. Ele desprezou os livros”, tornou público o vice-presidente Gustavo. Brigas familiares têm sido a tônica de divergências e fechamento de empresas. Convém lembrar que um dos fundadores da Editora Globo, Henrique Bertaso (1906/1977) participou da criação da Feira do Livro de Porto Alegre.
Lembro da filial que a livraria Globo montou no Rio de Janeiro nos anos 80, na Rua São José em frente do terminal de ônibus. Não ficou muito tempo e cerraram as portas. Nesta ocasião trabalhava para Paz e Terra. Achei que a filial, não conheço o restante das lojas do sul, mas como estavam abrindo a loja, o acervo não me impressionou. A livraria uma empresa tradicional no ramo do livro, com concentração no sul do país, me parecia sinalizar dificuldades. Eu tinha uma facilidade, fotografava com os olhos, o acervo da livraria, percorria as estantes de ponta a ponta, dali eu identificava o material que a loja dispunha. A livraria atuava com o binômio: livraria e papelaria, combinações não muito freqüentes na praça do Rio de Janeiro. A distribuição da Editora Globo, até ser vendida para Rio Gráfica em 1986, era feita pela Catavento. A Rio Gráfica (RGE) foi uma empresa fundada por Roberto Marinho, em 1952.
Anos mais tarde em uma breve passagem pela livraria Beta de Aquarius, antes de minha saída, conversava com o proprietário da loja, o livreiro Antonio Seabra, a respeito de meu interesse em leituras sobre a historia do livro no Brasil, lembrou que tinha em seu acervo, dois títulos que me interessariam, acabou por ceder dois livros de autoria de José Henrique Bertaso sobre a livraria Globo. Uma referência para compreensão da história do livro, embalado por elementos de uma narrativa biográfica bem interessante; o que motivou a busca pelo título “Um Certo Henrique Bertaso – Artigos Diversos, editado, ou melhor, reeditado pela Globo, em 1997, de autoria de Érico Veríssimo. Encontrei em um sebo, após um ano de busca, foi localizado em uma prateleira por 5 reais. Abri de imediato o livro de capa dura para iniciar a leitura e li:”Mil novecentos e vinte e dois foi, sob muitos aspectos, um ano portentoso”. Até a próxima...
Fonte de Consulta: Traça Livraria e Sebo - especialmente Mostra da Revista do Globo (1929/1939) e Jornal de UFRGS







6 comentários:

Laura_Diz disse...

Meu querido, vc precisa contar estas coisas num livro, né?
Eu adoro ler.
Li o de baixo tb.
Este texto que circulou tem um jeito baiano do Ubaldo, não acha?
eu achei...
Bjs Laura

Lia Noronha &Silvio Spersivo disse...

Wilton: adorei a nova temática do quitanda...vc sempre faz sucesso!!!
Precisa divulgar mais essa novidade,ok?
Beijos de bom fim de semana pra vc.

Lia Noronha disse...

Abraços carinhosos diretamente do meu Cotidiano...onde vc tem cadeira cativa....

Lia Noronha &Silvio Spersivo disse...

Wilton: estou aguardando o Esquina ficar pronto...pra convidar amigos pra conhecê-lo...livros ...é uma ssunto interessante pra muito mais gente do que podemos imaginar!
Abraços de boa semana pra vc.

Aníbal Bragança disse...

Prezado Wilton,
sua bela postagem (como sempre) sobre a Globo e seu capista João Fahrion, veio ao encontro de um interesse que me surgiu meio de repente. Você conheceu o Érico, capista de quase tudo que a antiga Zahar publicou?
O que acho mais admirável no caso é ele ter sido um capista que anos a fio se dedicou a essa editora.
Não o conheci nem sei a história dele. Talvez você possa contribuir para conhecermos esse personagem meio apagado da história do livro, que merece algum destaque.
Um abraço,
Aníbal

Geni Oliveira disse...

Estou pesquisando sobre a Livraria e Editora Globo. Fiquei encantada ao ler o seu texto. Obrigada pela contribuição.