terça-feira, abril 25, 2006

O Jogo

Britto Velho : Carlos Carrion de - Artista nascido em Porto Alegre, em 1946. Residiu em Buenos Aires de 1957 a 1965 . Esteve morando em Paris para estudos e foi estagiário da gráfica Desjobert, na metade dos anos 70. Residiu em São Paulo e atualmente mora em Porto Alegre. Britto Velho um artista bem atuante no sul do país. Sua obra serve de inspiração para debates na área de Educação, como o promovido pela UNISINOS.Uma obra fascinante, merecedora de uma visita, uma olhada, é o seu momento mágico diante da obra de um talentoso e importante artista plástico sulino. Participou do livro em homenagem aos 90 anos do escritor gaúcho, psicanalista e humanista Cyro Martins, falecido em 1995, na cidade de Porto Alegre. Britto Velho, é também referência no panorama das artes plásticas e em livros que tratam da análise de sua obra, publicados por diferentes pesquisadores. (Fonte de Consulta : Bolsa de Arte, CELPCYRO/RS, Vanet.com.br, Universia Brasil, Garagem de Arte )
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Olá!
Meus caros amigos leitores e blogueiros, estou de volta para colocar um texto no mural deste espaço. Um texto em que, uso o recurso dos personagens travestidos de animais para desenvolver a história que pretendo contar para vocês. Acho que vocês repararam que eu gosto deste meio de comunicação, desta narrativa criada com as tonalidades de um gênero literário que remonta aos tempos imemorais, que é a fábula.
Fico muito grato pelas visitas. Deixo claro que também faço as minhas, embora, no momento não tenho alcançado o meu número ideal de visitas e que pretendo atingir em breve. Um grande abraço.
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Lula Lelé, acordou cedo, colocou um boné e o calção, fez alongamento e foi curtir o dia, era um domingo de sol. Estava sem muito o que fazer, as viagens programadas, só no mês seguinte, aconteceriam. Desde que, foi para o Reino da Bicholândia, vivia feliz que nem pinto no lixo. Tudo andava às mil maravilhas. Os poucos boatos que circulavam, não o incomodavam, pois, eram criados por elementos da oposição.Procuravam sarna para se coçar. Na verdade um grupelho liderado por quatro tucanos, dois ratos e seis porcos, que de uma hora para outra, passaram a dar entrevistas para um veículo de comunicação, espalhando maldosamente, que ele estava ficando lelé da cuca. Que vivia no mundo da lua. Pura intriga. Era falta do que fazer, invencionices dos adversários, argumentava, tranqüilizando os aliados, dentre eles, se destacavam, os crocodilos de papo amarelo.
O domingo era dedicado ao lazer.Lula Lelé não tava fazendo nada e os seus auxiliares também, achou que seria ótimo dia para bater uma pelada, chamou para formar o seu time: os amigos ursos e os amigos da onça.Teve alguma dificuldade devido o intempestivo interesse de um cordão de puxa-sacos, que insitiam em participar da partida.Na arquibancada estavam as torcidas organizadas, que aguardavam o inicio do jogo. Cinco policiais e vinte pastores tomavam conta do recinto.Um hipopótamo, empunhando uma bandeira de torcida, chegou atrasado, tentou pular a cerca levou logo uns catiripapos e foi posto pra correr.Um gavião chegou atrasado, mas pode entrar, sem nenhum incomodo. Alguém próximo, ouviu que o gavião se identificou como sendo do mesmo time de Lula Lelé, recebeu de imediato passe livre.Uma familia de polvos, foram afastados do local sem nenhuma explicação. Resignados foram parar em outra freguesia. Aliás, minutos depois do incidente, uma foca irritada, comunicava aos quatros ventos, que o cheiro de polvo, dava alergias a Lula Lelé, que desandava a espirrar e dar cambalhotas. Teriam que ficar a léguas de distância, por ordens da equipe de segurança.Um cavalo que não queria subir as escadas de acesso ao jogo, começou a soltar a torto e a direito, diversos coices. Entrou em cana.Foi direto para o xilindró.
Um princípio de tumulto, logo debelado, foi causado por um tamanduá, que andou batendo a língua nos dentes ao avistar sem querer, o bode Ludovico, que sumido, apareceu conduzindo uma maleta, todo serelepe acompanhado por uma dezena de burros militantes do partido. Disfarçados, entravam pela porta dos fundos.Ovacionaram a maior autoridade em campo.Em coro gritava em uníssono: o chefe é bom companheiro, o chefe é bom companheiro e ninguém pode negar. As salvas de palmas foram ouvidas em várias quadras. Lula Lelé abriu um largo sorriso, abraçado ao tamanduá.Uma ovelha negra a tudo assistia, escondida em um pé de manacá.Cinco cachorras entraram em campo para animar a festa. Seguidas por dez franguinhas, cinco hienas e meia dúzia de pererecas bailarinas foram convidadas para participaram na coreografia do evento.Assim, que as pererecas adentraram ao gramado, um grupo de pintos puseram-se de pé, em posição de sentido. Ficaram entusiasmados pelo que viram. Um mais afoito gritava: Linda! Linda! Gostoosaaa!A pererequinha do meio, sorridente, agradecia.
Hora de começar a partida. Meia dúzia de gatos pingados, funcionários em greve do lado de fora, juntos com as zebras que sairam do partido, ensaiaram uma ensurrecedora e barulhenta algazarra.No palanque instalado junto ao campo, o locutor com voz de taquara rachada, informava que encontraram agonizando um ganso afogado no lago.Prometeu instaurar um inquérito administrativo e uma cpi, o mais breve possível. Soltaram muitos traques e fogos de artifício, que foram ouvidos e sentidos por todo o ambiente. Os dois times davam voltas no gramado, aquecendo, com altas doses de pinga, alguns, ficaram tontos e foram mais cedo para o vestiário.Uma hiena foi convidada para arbitrar a peleja.Um pequeno e respeitável público ficou empoleirado na parte superior, muitos seguravam em cabide, pois, não havia mais lugar.Um orador pediu a palavra e não foi concedida. Impacientes pediam o incio da partida. O sol a pino. Ninguém entendia o atraso, foram feitas consultas e não sabiam a resposta.O silêncio foi interrompido por um sapo que de boca aberta e de barba feita, insistia em cantar.Bota a viola no saco.Bastou um rugido do leão, para a turma ficar em pé.
Macacos gritaram: Senta que o leão é manso.

Lula Lelé doido para dar uma bicuda,ficou impaciente. Sério pediu providências. Um estranho naquele ninho, gritou: cadê a bola? Muitos foram voluntários para procurarem a bola, saíram em disparada, alguém encontrou debaixo da cama. Toda embrulhada. Pegaram a bola e só então perceberam que ela estava murcha.Não houve jeito, tiveram que transferir o jogo.Muitos saíram reclamando, decepcionados, desiludidos.Assim, terminou o jogo promovido por Lula Lelé.Nada de prorrogação.Terminou, acabou o tempo, reclamou gritando o grande público que não partipou do jogo, estavam do outro lado, do lado de fora, como sempre assistindo o espetáculo.

10 comentários:

Jonas Prochownik disse...

Britto Velho, me pareçe um artista competente. Claro que apenas uma foto, nao permite uma analise maior. Um abraço do amigo Jonas.

Janaina disse...

Genial! Simplesmente genial.

Wilton Chaves disse...

Olá!
Ricarda, muito prazer em conhecer você, gostei de sua visita e agradeço pela dica de leitura.Conhecia o livro,li há muito tempo quando jovem, mas pretendo reler.Um grande abraço.

Wilton Chaves disse...

Janapina querida, muito obrigado pela visita e pelo entusiasmado comentário.Um grande abraço.

Wilton Chaves disse...

Meu Caro Amigo Jonas, agradeço pela visita e o comentário.
Partilho desta sua visão do artista Britto Velho, realmente muito competente.Um grande abraço.

Anônimo disse...

Pitoresca a sua fábula, Wilton, com muito de moral embutida nas linhas e nas entrelinhas... Gostei, deveras. Abraços interioranos de SP.

Jôka P. disse...

Passei na sua Quitanda para ver a nova exposição, ler seu texto lula-lelé e deixar um grande abraço para vocês !
Jôka P.

Marco Aurélio disse...

Wilton

Valeu ter lembrado Da Sônia Abraão. Realmente estão todos no mesmo nível.Estou divulgando no post de hoje um pouco de um material que está sendo elaborado por um grupo de alunos das escolas onde leciono que trata da física no cotidiano. Se tiver um tempinho, gostaria que olhasse. Mais uma vez, obrigado pela participação na eleição do Pior apresentador (programa) da televisão Brasileira.

Tudo de bom

Corélio

Saramar disse...

Wilton, bom dia.
O texto é simplesmente fenomenal e você, a cada dia está melhor.

Beijos e ótimo final de semana.

Vera F. disse...

Wilton, não conhecia o artista Brito Velho nem sua obra. Já Cyro Martins sim.
Que bom que voltou a postar seus textos. Adoro essas metáforas dos bichos.

Bom Feriadão.
Bjos.