sexta-feira, agosto 31, 2007

Conversa sobre editoras

Hoje li em um informe da Câmara Brasileira do Livro (CBL) que a Companhia das Letras, superou a concorrência na disputa (dentre elas a própria Record) pela publicação das obras completas do escritor baiano Jorge Amado (1912/2001), autorizada pelo primogênito do escritor, também escritor João Jorge Amado, serão editados 35 títulos escritos no período de 1931 à 1997.As novas edições estarão no mercado a partir de 2008 e um dos primeiros títulos será: País do Carnaval, a primeira obra editada de Jorge Amado, publicada e prefaciada pelo editor Augusto Frederico Schimdt, no ano de 1931.
Jorge Amado publicou livros, apenas para citar as editoras brasileiras: Schimdt, Ariel, Livraria Martins Editora (1937/1974), Editorial Vitória, José Olympio, Editora do Povo; anos depois vendeu os direitos com exclusividade para Record a partir de 1975, em co-edição com a Martins, que no ano anterior havia pedido concordata e encerrando as atividades em 1976. Na edição pela Record, em 1978, a capa é uma reprodução de um quadro de Di Cavalcanti, com ilustrações de Darcy Penteado, com foto do autor por Flávio de Carvalho e Zélia Amado, na quarta capa um texto de Octávio Tarquínio de Souza
Quando eu atuava em livrarias, Jorge Amado era um dos autores que sempre vendia, ora indicado em algum colégio, ora em lançamento ou para usar a gíria do mercado livreiro se dizia que seus livros estavam sempre “pingando”. Era uma referência de venda, seja pela oferta de títulos e pela popularidade que alcançava entre o público leitor, embora, houvesse para alguns leitores, certo cuidado, numa alusão ao conteúdo da obra, considerado por um segmento como um autor pornográfico e comunista, assim era estigmatizado por uma parte do leitor da zona sul carioca nos anos 80.
Só para esclarecer tive a livraria Quarup em Ipanema, trabalhei na Francisco Alves e na Unilivros. Nestas duas últimas havia sempre em estoque as obras de Jorge Amado e Zélia Gattai, sua esposa. Eu como um dos compradores dava preferência ao autor nacional, gostava de indicar, de expor, uma vez que, o espaço predominante é para o autor estrangeiro, sem dúvida, a preferência do público feminino e masculino. Há momentos em que se pode observar que a mulher, freqüenta mais livraria e compra mais livros do que o homem. Vi e ouvi muita gente rejeitar o autor brasileiro. Não gostavam mesmo. A literatura americana traduzida tem boa aceitação, não acredito que tenha mudado os hábitos de consumo do leitor que circulava pelas livrarias da zona sul.
Neste ponto a editora Record levava uma grande vantagem sobre as demais editoras. Dona de um catálogo imenso, diversificado, livros vendáveis e de sucesso (best-seller) ocupavam os espaços das livrarias da zona sul e outros pontos de vendas. Houve um momento em que montou uma empresa para vender para drogarias, supermercados e magazines. Antigamente para se ter acesso a um determinado magazine, teria de negociar com a empresa ligada a editora Record para vender. Ainda havia uma boa distribuição e um eficaz marketing direto. Mesmo para livreiro que tinha um verniz de esquerda, a editora Record como maior editora do país vendia e vendia muito. Sem dúvida para quem trabalha no livro percebia grandes encalhes em seu estoque, aliás, não é privilégio da editora, conheci depósitos de editoras e percebia pilhas e mais pilhas de determinados títulos. Há muito livro que fica um enorme tempo estacionado em uma prateleira, não sai nem dando, bastava olhar a etiqueta e verificar a data de compra e os exemplares adquiridos.
A Distribuidora Record de Serviço de Imprensa S.A, chegou a adquirir uma nova impressora como o novo sistema poligráfico Cameron de impressão e acabamento, no ano em que eu ainda trabalhava em livraria, se comentou muito, poderiam imprimir com rapidez uma quantidade de exemplares mais próximo da realidade, evitando tiragens elevadas.A Record surgiu em 1942 com os sócios Alfredo Machado e Décio Guimarães de Abreu, criador de uma rede de livrarias, como A Casa do Livro, no Centro e Flamengo, Livraria Eldorado, na Tijuca e Copacabana, a Livraria Lídice, esta localizada na Rua São José. Convém lembrar que Alfredo Machado foi um dos primeiros distribuidores de histórias em quadrinhos em nosso país. Nos anos 70, Alfredo Machado assumiu totalmente o controle acionário da empresa. Antes de surgir a editora Nova Fronteira (1965), a Record publicou o livro “O Poder das Idéias”, de autoria de Carlos Lacerda, que posteriormente veio a criar uma importante editora , de grande prestigio intelectual, com ótimo catálogo de autores brasileiros e estrangeiros. Nos anos 80 o panorama da produção editorial começa a ser alterado, com o surgimento de novas editoras, novas experiências editoriais, como a feita pela editora Brasiliense. Atualmente o mercado de livros está bem alterado com novas composições societárias e entrada de grupos editoriais estrangeiros, algumas editoras ganharam fôlego ao serem incorporadas a determinados grupos através de fusões e aquisições. Volto no próximo mês. Um grande abraço.
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Um comentário:

Laura_Diz disse...

Engraçado, estamos afiados, eu lhe perguntei sobre a Record hoje, bem antes de ler aqui :)
bjs
Laura
Eu gostei dos primeiros livros da Zélia,depois não li mais...