segunda-feira, outubro 15, 2007

Pequeno livreiro - um ser em extinção.














Não tenho visitado as novas livrarias, portanto, desconheço as modernas livrarias que aliadas ao bom gosto, combinam com inovações arquitetônicas, criando em seus espaços territoriais, novos lugares de sociabilidade no interior destas lojas. Parece que tem havido boa receptividade, dada a acolhida que a mídia faz sobre estas novas ou antigas livrarias convertidas em modernas. Os jornalistas efusivos reverenciam este novo comportamento no mundo dos livros. O consumo de livros parece existir apenas nos novos espaços, a impressão que passa vende-se livros como água, para usar uma expressão antiga do mercado editorial, onde são promovidos lançamentos, palestras e badalados eventos; veiculando que aquele local é o da moda. Fora dali, autores e leitores estão alijados do espaço cultural. Livreiros e editores de outros estados enaltecem a beleza desta ou aquela livraria. Creio que há uma boa disputa para ganhar visibilidade e conquistar algum quinhão no novo templo da cultura.
Algumas trataram de agregar uma concepção de grandeza aos seus novos espaços, batizando como megalivrarias. Contratam um pessoal qualificado para atender e consultar o terminal, constata-se que poucos possuem intimidade com a leitura, ou mesmo o livro em seus diversos formatos, casa publicadora, assunto ou autor. Os tempos mudaram, na verdade são outros, desarrumaram o conceito tradicional de livrarias, substituindo talvez pelos sofisticados supermercados da cultura, tal a diversidade oferecida, como dvds, cds, papelarias, exposições de artes e poltronas confortáveis. Não percebi com clareza se diminuiu os espaços de exposição ocupados pelos livros, até mesmo por limitações físicas de um imóvel, acredito que sim.
Acho que o livreiro deve encontrar os meios de sobrevivência, diversificando sua comercialização, procurando alternativas além das convencionais, oferecendo novas opções e produtos, se há público para tanto, que vá em frente.
Com minha experiência por mais de 20 anos, fui também livreiro posso dizer que a presença de público nas livrarias nem sempre é traduzido por compradores-leitores, muitos aparecem para ver as novidades e serem vistos, outros simplesmente apareciam para dar uma lida em algum livro. Eu identificava alguns leitores deste tipo, volta e meia, apareciam, liam e saiam, raramente compravam.
O que me leva a pensar, se conheço um pouco do mercado de livros, será que alterou tanto o comportamento dos leitores para que surjam cada vez mais livrarias desta natureza, para citar algumas, como: Livraria Cultura, Saraiva, Fenac, Argumento e Travessa. Deixo claro que não invalida a idéia que tenho delas como boas livrarias para determinados segmentos do mercado.
Sei que no passado muitas lojas tradicionais ou não, que vendiam apenas livros, passam hoje por situação preocupante, claro que não afeta a todas. Por um lado fico muito contente, melhor termos livrarias do que os templos religiosos e outros tipos de comércio.
Lembrei neste momento de Jorge Ileli, um dos maiores livreiros do Rio de Janeiro. dono da Unilivros Paulista, uma livraria na Barão de Itapetininga em São Paulo; famoso também por ser cineasta, dono da Entrelivros e Unilivros, sendo que possuía os melhores pontos de lojas da cidade, muitas delas bem amplas, como a do final do Leblon, que acabou sendo vendida nos anos 80 para a Drogaria Popular. Todas durante os anos seguintes foram vendidas, deixaram de existir até a segunda metade dos anos 90.
Convém registrar que no Rio e em Niterói, algumas boas livrarias que combinavam uma versão moderna, oferecendo um café no interior da loja como a Pasárgada, na praia de Icaraí, em uma casa de esquina, em Niterói; pertenceu ao ex-Secretario de Cultura de Niterói, livreiro, professor e pesquisador Aníbal Bragança, pioneiro em dividir estes espaços de sociabilidade. O livreiro Anibal foi um grande gerador de leitores, formador de um público ávido pela cultura e de um bom papo com um livreiro que conhece do oficio, desde dos anos 60 com a criação da livraria Encontro. A livraria Pasárgada de Aníbal estimulou iniciativas, como a Bookmarker na Gávea da livreira e jornalista Edna Pallatnick, seu espaço no fundo da loja, ou a Argumento de Marcus e Laura Gasparian, com a inauguração do Café Severino, um espaço gastronômico surgido na segunda metade da década de 90, quando a Argumento assume a antiga biblioteca do Leblon, ou a Marcabrú de um dos maiores críticos de literatura, professor, autor e livreiro Luiz Costa Lima, seu filho e a mulher Rebeca.
É verdade que preciso sair em tour pelos bairros conhecer as livrarias revestidas com as novas roupagens, dividindo os espaços com outros bens culturais de consumo. Acredito que hoje seja mais fácil de vender dado aos inúmeros atrativos sempre sedutores oferecidos para os leitores e congêneres, freqüentadores das livrarias. Lojas expandiram, houve investimento, como a LaSelva, Nobel, em compensação circula boatos de que a poderosa rede de livrarias Siciliano por uma questão de conflito doméstico pode ser passada adiante.
Na condição de ter experiência como pracista de editoras de ponta no mercado livreiro e ter sido distribuidor de livros de editoras com perfil universitário no mesmo mercado, fico muito confuso com este novo quadro que se apresenta dentro do panorama da venda de livros.
Um dado importante, o nível do consumo de leitura per capita por ano, é apenas para sermos generosos de 1 (um) exemplar para quem tem domínio da leitura e escrita em nosso pais. Megalivrarias sem dúvida despontam com sucesso, mas as pequenas livrarias que são importantíssimas neste elo de consumo e criação de leitores adultos, jovens e crianças muitas assumem um caráter individualizado no atendimento podem por desestímulos, encerrando seus ciclos de existência.
Acho que uma livraria deve ter uma concepção plural no atendimento. A figura do livreiro está diluída nas grandes redes, em espaços suntuosos; o antigo livreiro, conhecedor muitas vezes dos livros que compõe o seu acervo, desapareceu para dar lugar as sorridentes atendentes. Sobreviventes os pequenos livreiros e editores vão tentando arrumar novas formas de vendas, ganhando fôlego como podem, mesmo que percam os ares de livrarias de bairro.
Estou preocupado com a nova geração de leitores surgidos nas escolas principalmente as públicas, basta não saber ler que tem garantia de aprovação. Serão estes os futuros leitores? Se alguns com a mínima intimidade e interação com a leitura ou com os livros, passam a léguas de distância de uma livraria, o que podemos esperar deles?
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Francisco da Silva: Francisco Domingos da Silva, nascido em 1910, no Alto Tejo/Acre e faleceu no Ceará em 06 de dezembro de 1985- Sapateiro, Pintor, Desenhista e Ajudante de marinheiro.
Fonte de Consulta: Acrilica sobre tela. uma boa página sobre pintura brasileira

Um comentário:

Anônimo disse...

Já assinei o RSS.
Muito bom, gostei do blog! Parabéns