Sérgio Lúcio Maria : "Depressão" - óleo s/tela. Artista, ganhador do Primeiro Prêmio Arthur Bispo Rosário, em 1999. Usuário do Hospital de Saúde Mental do Guarujá, no Estado de São Paulo. Não disponho de maiores informações sobre o artista.
(Fonte de Consulta: crpsp.org.br )
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Olá!
Passo pela Quitanda para deixar afixado no mural, um conto de minha autoria. Agradeço aos amigos leitores pela presença e o comentário deixado neste espaço.
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Lúcia acordou cedo, arrumou a casa, preparou o café para os meninos. Não comprou pão, estava com preguiça, ofereceu bolachas e pedaços de bolos, reclamaram...fingiu não ter escutado as costumeiras reclamações de Daniel e Susana. Os dois adolescentes, filhos do primeiro casamento. Não se candidatam para comprar o pão, fazem corpo mole e dizem sempre que estão, mais cansados do que eu . Para eles, eu nunca estou cansada, estou sempre disposta e pronta para qualquer coisa. Penso que mãe para eles, não têm vida própria, desejo, vontades ou mesmo ficar de papo para o ar. A padaria é próxima de casa, mas nem assim, algum deles se dispõe a sair e comprar o pão.
Faz tempo, mas ainda sinto falta de Horácio, desde que, sofreu um acidente de automóvel, inexplicável, acabando com a sua vida; fiquei só e em companhia de um casal de filhos. Ainda bem que estudam em escola pública, caso contrário, o dinheiro que ganho não daria para pagar mensalidade em escola particular. Volta e meia, ameaçam não ir para à escola, detestam, faltam professores e os colegas fazem brincadeiras cada vez mais agressivas. Outro dia, Daniel contou para mim, que um de seus colegas, ameaçou bater na professora, por ter tirado nota baixa. Foi um horror, que situação. Quando Daniel me contou, nem acreditei. Reconheço que está muito dificil trabalhar no magistério atualmente. Há todo momento subvertem valores, passando a valer a linguagem da violência, acompanhada muitas vezes por uso de drogas. Daniel, disse em conversa na hora da janta, que havia uma falta de respeito de ambas partes. Neste dia, ele não estava, faltou por estar muito acamado, mas soube, que um dos seus professores de geografia, tentou dar um tapa em uma menina e terminou tudo em pizza,como se diz hoje.
Tomaram café com pressa e foram para a escola. Todo dia faço tudo igual, me sinto assim, não sei, tenho sérias dúvidas, se esta rotina tem me dado felicidade.Acho que sou feliz,cuido dos filhos, da casa e recebo uma pensão. Tenho vivido sem muito gastos, livros quase não leio, assisto mais televisão e sou fanática pelas novelas. Não sei se poderia ser diferente.Não sou velha, tenho 48 anos, sei que as mulheres não gostam de revelar segredos, como a idade, não me importo. Nunca fui grilada com idade, mas conheço minha ex-cunhada que sempre foi, vivia enganando-se e enganada pelos elogios falsos recebidos pelas amigas.
Ontem, quando as crianças, é o hábito de assim chamá-las, foram ao cinema em um shopping, na parte da tarde ; me surpreendi ao ficar sentada diante do espelho do quarto. Olhei por alguns minutos e tive a coragem de reparar, estava despida, bem de frente,com os meus peitos caidos, uma barriga ligeiramente flácida e os quadris cheios de estrias. As coxas com celulite. Sou assim! Sou gorda e feliz. Estou envelhecendo, sinto-me bem, mas se eu encontrasse um novo amor e como fazer amor com ele, ao me ver assim, ao natural. Um receio tomou conta de mim, por pouco me vejo pensando em beleza e nas mulheres que sempre estão malhando os corpos em academias. Verdade, disse outro dia para Mariana, que não era acomodação, tinha consciência de meu estado, não vou me submeter as regras da ditadura do corpo bem torneado, da beleza dos salões e das passarelas.Estou fora!
Há tempos que venho pensando em conhecer outro homem, aliás, conheci o irmão de Paula, que é advogado, fomos apresentados e fiquei muito interessada em manter uma amizade.Disse da última vez, que nos encontramos, que iria a São Paulo, quando voltasse na quarta-feira, sairíamos para jantar fora.O telefone toca por volta de 20 horas, era Tiago, irmão de Paula, querendo confirmar o encontro.Confirmei! Ficou de passar aqui.Diante daquele mesmo espelho, me senti linda. Estava pronta!
9 comentários:
Wilton, vim agradecer o sua presença na festa e o seu carinho pelo Verdes. Adorei!!!
Tenho que vir depois para ler o conto(que sempre leio quando veio), estou na corrida.
Boa semana.
Bjos.
Wilton
Qual a verdadeira missão da escola? Me faço sempre esta pergunta. Leciono matemática no ensino secundário.Estou tentando ir além dos curriculos escolares. Esta é uma das missões que acho que a escola tem. Se tever um tempo me visite.
Um abraço
Marco Aurélio
Wilton, só vc mesmo para criar uma personagem gorda e feliz no espelho :)
ai ai
adolescentes são todos parecidos, mas aqui eles vão na padaria, senão ficam sem pão.
bjs querido, laura
Caro Wilton,
Há algum tempo não visitamos um ao outro, e é preciso visitar os amigos sempre, pois o mato cresce depressa em caminhos não percorridos.
Além de deliciar-me, como sempre - óbvio -, com a leitura dos seus textos, venho dar-lhe uma notícia.
É que estou encerrando o blog "Sábios de Sião". Fiz as duas últimas postagens: uma, explicando porque encerrei o blog; e outra para encerrar o blog de uma maneira que creio ser a correta.
Você, se me permite o pronome íntimo, foi um dos meus melhores leitores, e espero sua última visita no blog, seu último comentário.
... Mas não o último contato, pois continuarei visitando sua quitanda.
Abraços!
Wilton,
adorei a narrativa na primeira pessoa da mulher madura, obesa e absolutamente feliz.
Poderia ser ilustrada por um quadro do famoso artista Bottero !
Obrigado por sua visita sempre tão inteligente, elegante e bacana !
Tudo de bom pra você, marilene e o pequeno peralta, Ramon.
Abç,
Jôka P.
Wilton: gosto dessa mistura de ficção e realidade que encontro nas suas histórias...encanta a todos!
Beijos bemc arinhosos e boa noite de quarta-feira pra vc e sua linda família.
Wilton, bom dia.
Nem sabe, meu amigo, mas essa mulher tem muito a ver comigo. As mesmas dúvidas e a mesma repulsa à academias (rsrsrss). Tá bom, pode falar que é preguiça.
Mas, fora as brincadeiras, a história dela é a de tantas mulheres, solitárias, reféns dos filhos que deveriam ser seus amigos, empregadas domésticas de sim mesmas, escravas do lar, mesmo não havendo um homem a controlá-las.
Sabe Wiltom, eu creio que a felicidade e a liberdade começam dentro de nós. O resto é consequência.
Beijos para todos e um lindo domingo.
Incrível como eu gosto das coisas que você escreve...
Olá!
Janaína querida, obrigado pela visita e pela declaração de leitora, me deixa muito contente.
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