domingo, novembro 18, 2007

Papo sobre livrarias: descontos oferecidos













O mundo do livro sempre me despertou , desde garoto, uma curiosidade, uma vontade de me aproximar como leitor, pegar, examinar e ler. Em minha fase adulta, achei que poderia ingressar neste mundo, pela via comercial. Foi pela venda que dei os primeiros passos para a minha entrada neste universo. Circulei por algumas etapas nos diversos segmentos do mercado editorial, mas vou abandonar esta descrição, por estar inserida em muitos posts que publiquei neste espaço.

Na minha concepção, o blogueiro é uma atividade muitas vezes não remunerada, mas comungo da idéia de que é muito prazerosa e rica pelas oportunidades oferecidas. Uma das melhores, é a figura do leitor, seja na condição de anonimato ou da revelação de sua identidade, ou pelo espaço social que declara estar inserido. Eu identificava um leitor, aquele que tem por hábito a prática da leitura, a maneira de pedir um livro, seu conhecimento sobre livros, autores e até editoras, poderia haver outras configurações para o leitor, o de estar sempre comprando livros ou em busca de novidades. Sempre tive em mente respeitar o leitor, é o bem maior de quem atua com livros. Quando livreiro cheguei a emprestar livros, alguns foram convertidos em venda. Nunca criei dificuldades em vender livros, tanto para o leitor/comprador quanto para as livrarias quando fui proprietário da Obra Aberta.

Hoje quero comentar, a partir da leitura da coluna editada aos sábados no Segundo Caderno do jornal O Globo, de autoria do colunista Arnaldo Bloch, cujo titulo é: “Livreiros irados da Rio Branco.”publicado na página 12. Sua revelação de orgulho em ser carioca, está na existência da Livraria Leonardo Da Vinci, na Avenida Rio Branco, 185 localizada no sub-solo do edifício Marques de Herval, no centro da cidade.

A Da Vinci para inicio de conversa, é uma ótima livraria, com uma oferta variada de títulos; conheço como antigo profissional e leitor, os amplos espaços que ocupam os livros, melhor ainda, é uma livraria especializada em livros importados, com concentração na área de humanas. Em meu tempo de profissional do livro conheci bons vendedores, como: George Gould e Jorge Chaves naquela loja, tendo a frente à livreira Vanna Piraccini, proprietária da loja, que ainda tem como companhia os filhos. Recordo no momento o nome da filha Milena, soube que presidia a Associação Estadual de Livrarias (AEL-RJ).

A outra livraria que é mencionada no texto de Arnaldo Bloch é a livraria Camões, situada na parte lateral do Edifício Avenida Central, na Avenida Rio Branco 156, na verdade é localizada na Bittencourt da Silva, 12 especializada em livros portugueses, cujo responsável, é o livreiro José Manuel Estrela. A Camões é uma livraria pertencente à Imprensa Nacional Casa da Moeda de Lisboa, surgida entre nós lá pelos anos 70, criada com intuito de divulgar o livro e a cultura portuguesa. No momento em que chegava o jornalista, ele flagrou uma discussão de uma cliente com o livreiro, a respeito de desconto de 20% que pelas contas da cliente, não era deduzido em sua totalidade. Olhando daqui também concordo com a reclamação da cliente, se são 20% são 20% e não o arredondamento do valor do preço do livro em desconto, o que geralmente se atribui como o desconto oferecido. Em feiras do livro da época em que eu freqüentava nas duas condições, ou seja, de distribuidor ou leitor, fui testemunha desta prática em algumas barracas.

Pior do que este arredondamento está na conduta de diversos comerciantes de outros ramos em não devolver, não dar satisfação da inexistência de troco, quando o valor da mercadoria, é registrada pelos noventa e nove centavos. Algum sábio economista ou qualquer coisa semelhante convenceram os comerciantes, que a simples marcação em noventa e nove centavos, vai produzir no cliente uma compulsão incontrolável para consumir e nesta condição nem exigirão troco, aceitarão como normal, não ligarão que estão desrespeitando você, como consumidor. Ficam felizes por encontrarem mercadorias que possibilita a falta de troco.

Se há falta de troco por que insistir nesta prática generalizada que em principio para mim é desonesta. Eles mesmos não respeitam o valor anunciado, alteram e desprezam os centavos. Acham por bem passarmos enquanto consumidores por esta situação constrangedora, ou de sovina por cobrar o troco. Qualquer reclamação neste sentido ganha ares de censura de seu interlocutor que por sua vez ganha adeptos de seus pares, auxiliando com risinhos e deboches.

Não entro no mérito da cliente da livraria Camões em identificar o hábito praticado pelo livreiro como se fosse uma conduta do carioca, embora a identidade do livreiro, seja portuguesa. Acho que expõe uma conduta do comerciante, no meu entendimento de quem quer ganhar vantagens sobre o outro, mesmo que gere perda do leitor-consumidor-cliente. Uma das falas da cliente provocou no jornalista uma reação, como intervenção na situação em que envolvia o desconto, ele se viu afrontado quanto a concepção de judeu construída pela mulher, que parece ser nordestina, apontava como protagonistas destas cenas, a identidade do comerciante como judeu.

Arnaldo saiu dali, deixou os dois e voltou a Leonardo, para comprar o livro que motivou sua ida à livraria. Entregou o livro nas mãos da vendedora que ele classifica como uma das principais da casa. Dali para o diálogo estabelecido entre a vendedora e o jornalista, foi de um clima de desconfiança e de ira. Chegou o jornalista ser advertido por quem o atendeu que não tinha recebido o dinheiro pago pela compra do livro, indagando se ele pagou, o jornalista apontou onde tinha deixado o dinheiro, que ficou a frente do caixa.

Arnaldo neste caso, também como cliente está certo, se o livro havia dobras “esses sulcos feitos” por algum motivo segundo o autor, a melhor vendedora, se não tivesse autonomia para oferecer um desconto maior, conversaria com a proprietária mostrando as condições do livro e o desconto maior para ele, acredito seria oferecido. Antigamente algumas livrarias cediam para clientes especiais e sob forma de exame, levar livros com prazo para devolução. Há clientes que compram o livro e depois, devolvem alegando não ser este o livro.

A diminuição do valor do livro, geralmente afeta quem ganha comissão nas vendas. O livro pretendido por seu estado levaria a mesma situação que o jornalista passou, ao próximo cliente ao fazer a compra, ele solicitaria desconto, caso contrário, se houvesse negativa, ficaria estacionado na prateleira. Tudo depende da postura da livraria e do cliente.

Umas das condições do livro danificado ser comercializado pode acontecer se a edição estiver esgotado, neste caso o poder do comerciante (livreiro) pode prevalecer.Sou um sujeito com anos de estrada no mercado de livros, é de praxe entre os livreiros quando os livros estão comprometidos com alguma falha, se o cliente concordar em levar o livro, oferecer desconto maior. Claro que o livro importado requer mais trabalho, se foi um problema de acondicionamento no frete, poderia haver devolução para a editora. Recebia enquanto distribuidor, livros desta forma, tratava de imediato fazer a troca. Eu pegava o livro, trocava e depois passava pela livraria e deixava o novo livro. E a vida seguia.




Hermelindo Fiaminghi: Artista gráfico, pintor, desenhista, litógrafo, publicitário, professor, crítico e empresário; paulista nascido na capital, em 1920. Começou em 1935 como aprendiz de litógrafo na Editora Melhoramentos. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios, entre os de 1936 e 41. Conheceu Lothar Charoux. Trabalhou em indústrias gráficas, integrou o Grupo Ruptura, liderado por Waldemar Cordeiro.

2 comentários:

Lia Noronha disse...

Wilton: sua vida profissional é d euma riqueza imensa..o que o torna mais admir´vel,ainda!
Abraços bem carinhosos da amiga de sempre.

Anônimo disse...

Rapaz, que quiprocó. nem entendi direito...
Até ofensas teve? que feio...
bons tempos aqueles em qu eo livreiro era vc, meu querido, Bjs Elianne