terça-feira, novembro 15, 2005

O Sonho de Teobaldo.


Elpídio Malaquias - Nasceu em Cariacica, Espirito Santo, em 1923. Participou de diversas exposições individuais, no período de 1977 a 1983, nas galerias da UFES e Homero Massena.Há uma galeria com o seu nome, onde foi instalada uma exposição de artistas plásticos do Espírito Santo,localizada na Assembléia Legislativa. Fonte:Caderno 2, Século Diário//Diário de Vitória. Posted by Picasa
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Olá! Agradeço inicialmente aos meus queridos amigos leitores e blogueiros, com a importante presença nesta página.Estivemos envolvidos com a presença encantadora e sapeca do neto Ramom.Aproveito e deixo um texto para ser saboreado ao sabor do vento.
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Havia um bom tempo, que Teobaldo não pensava em outra coisa, desde que leu o anúncio em uma revista esquecida no escritório em que trabalha. Ficou muito empolgado com a idéia e passou a reservar parte de seu salário para conseguir o seu intento.Não ganhava muito em seu trabalho no escritório de advocacia, no centro da cidade. No entanto, todos os meses, separava uma parte do salário e guardava no armário de seu quarto.
Fazia um trabalho de rotina, do escritório ao tribunal e no final do expediente, encontrava-se com a namorada Lizete, uma paulista, de cabelos tingidos de louro, antiga moradora do Parque Santo Antonio, no Capão Redondo, que veio transferida para trabalhar no bairro da Lapa, na filial da editora, no Rio de Janeiro. Passou de secretária, para ser a gerente de vendas.
No último dia do mês, Teobaldo presenciou ao andar pela rua Uruguaiana, esquina de Presidente Vargas, um pivete, arrancar do braço de uma senhora, uma bolsa que trazia junto ao corpo. Foi tão ligeiro, que em disparada, atravessou à pista, sem dar importância para o policial, que apitava de modo estridente o trânsito.Os gritos de Pega! Pega! Pega Ladrão, de nada adiantaram, ficaram perdidos entre os carros e pedestres. Teobaldo fora pagar a última prestação do crediário, depois, entrou em uma pastelaria, comeu pastéis de carne e tomou caldo de cana. Dalí, seguiu para o escritório. Dona Marilda, a secretária boazuda do Dr. Gomes Junqueira, estava doente e não apareceu. Pela parte da manhã, telefonara avisando que iria ao médico.O escritório estava sem movimento, era freqüentado por poucos e antigos clientes. Passava grande parte do dia, vazio.
Ninguém por perto, aproveitou para pegar a revista e mais uma vez ler o anúncio e imaginar com a possibilidade de realizar o sonho.O seu grande sonho. Foi interrompido pelo sinal do telefone, era Lizete, que pedia emprestado, uma grana para comprar um liqüidificador em promoção. O aparelho anterior, disse ela, ao telefone, acabou deixando para a mãe, na mudança.Teobaldo, ouviu calado. Concordou em emprestar, contou o dinheiro no bolso. Contou por duas vezes, iria contar uma terceira vez, mas desistiu; acabou depois, marcando um lugar para entregar o dinheiro para Lizete. Afinal, havia planos com Lizete, para o futuro. Um futuro que Lizete imaginava no passado e no presente. É o sonho de toda mulher, dizia sempre para Teo, era como chamava o seu namorado, na intimidade.
Esta ajuda não estava nos planos de Teobaldo, que acabava sempre concordando com a namorada. Pensativo, começou mais uma vez a folhear a revista e percebia o sonho esvaecer entre os dedos. O telefone, mais uma vez, interrompe o seu momento. Atendeu o telefonema, era Marilda, perguntando por Dr. Gomes Junqueira, respondeu, que ele tinha ido ao foro e não voltaria para o escritório. Voltou a leitura da revista, depois de ter anotado que a secretária telefonara. Aguarde, você vai ver o que pode lhe acontecer, pensou baixinho, em silêncio, mas empolgado. Não quero que reclame, vou trazer felicidade, vou deixar você louca. Marilda, vou transformar a sua vida, a minha e das demais mulheres. Serei o maior comedor deste prédio, quiçá, do mundo. Esta empolgação acontecia, ao lembrar de ter lido em uma livraria da rua Miguel Couto, o livro Pastores da Noite, de Jorge Amado, bem na página 11: “Não se pode dormir com todas as mulheres do mundo mas deve-se fazer um esforço”.Aquela japonesinha, do sexto andar que me aguarde, vibrou Teobaldo. Começou a fazer as contas, mais as duas do escritório vizinho, uma coroa de óculos do terceiro andar, a secretária do Dr Brandão do oitavo, mais....
Dr. Gomes Junqueira, chegou cedo ao escritório, na quinta-feira, ficou trancado em uma saleta, revendo alguns papéis. Eu e Marilda, percebemos, que ele deve ter encontrado ontem, com a sua ex-esposa, nos corredores do tribunal. Ficava arrasado, depois de um casamento de vinte anos; Leda, sua única mulher, o abandonara para viver com Margarida, sua colega de faculdade. Há mais de um ano, que o doutor, passou a ser um ávido consumidor de revistas masculinas da redondeza.Teobaldo ao comprar as revistas, a pedido do patrão, sempre pensava, que o dia em que uma mulher, uma celebridade, ou mesmo uma artista, me conhecer, não vão se arrepender, não me esquecerão jamais. Nem sei se vou atender a todas, pois, vão acabar desistindo de sairem com jogadores e pagodeiros...
Outro dia, conversava com Guto no elevador, quando entrou uma moreninha, que é uma gatinha, parece trabalhar naquela firma de exportação, do nono andar.Guto, você nem reparou, que seios maravilhosos, toda perfumosa, deve ter saído do banho e vindo trabalhar.O celular toca, era Lizete, marcando para encontrar na Cinelândia, em frente ao antigo cinema Pathé, às 18:30, para juntos comprarem, um presente de casamento dos amigos.Uma mulher carregando uma criança no colo, pedindo para comprar remédio, interrompe a caminhada de Teobaldo, este responde de modo negativo. A mulher vai embora reclamando, xingando.
Teobaldo, levantou cedo e retirou o dinheiro guardado em seu armário.Esboçou um sorriso de contentamento, de felicidade. Recortou desta vez, o anúncio, colocou no bolso da calça, junto com o dinheiro. Pegou o metrô, algumas estações depois, despediu, dando dois beijos em Lizete, que saltou na estação da Glória, ele seguiu até a estação do Largo da Carioca. Assim que saiu, foi surpreendido por um grupo de pivetes, que levou todo o seu dinheiro.Era um assalto! Não adiantava reclamar. Ficou com o sonho e anúncio que prometia aumentar o tamanho de seu pênis em até 24 centimetros.

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