Antônio Dionísio: "Bar Vermelho", Óleo s/ tela. Nasceu em Pitangui, Minas Gerais, em 1937 - Marcineiro, Escultor e Pintor Autodidata. Artista Premiado em diversos salões nos vários estados em que atua.Concentra grande parte das exposições e premiações no Estado de Minas Gerais. Com grande destaque na arte primitiva.Fonte: Arte Visual
Olá! Meus queridos amigos leitores e blogueiros.Passo para deixar este texto, que está apresentado como forma de homenagem a minha madrinha de casamento, que faleceu há mais de um ano.Fomos colegas de faculdade, eu e Marilene, ela e o seu companheiro. Uma grande historiadora e uma excelente professora do ensino público.Foi muito rica a convivência com o casal, isto é, ela e o seu companheiro, sociólogo e mestre em sociologia.Um dedicado profissional na docência.Dedicamos parte de nossa trajetória intelectual, ao estudo das populações indigenas.Depois, tomamos rumos diferentes.Ele foi para o magistério e fui para o ramo editorial e livreiro. Ontem, o meu neto veio passar a parte da tarde comigo e com a avó.Ficamos contentes com a visita, realmente preenche a casa com a sua inesgotável alegria.Um menino sorridente, curioso e melhor ainda, muito inteligente. Chega aqui em casa, chamando por Vô.É muito grudado ao avô e também curte muito, a sua querida avó. Continua com resfriado e com a garganta inflamada, foi medicado, resta apenas aguardar, em silêncio... Um bom final de sábado e um excelente dia de domingo. Um forte abraço.
Maria D`O, uma nordestina, que andava distraída olhando as vitrines das lojas na Rua da Quitanda. Ir ao centro da cidade, era uma das coisas que , preferia evitar; não suportava o barulho, o tumulto, de muita gente andando, é um vaivém constante, frenético, esbarrando em você, como você, não fosse nada, nem um objeto, apenas um obstáculo., que a pessoa transpõe com muita facilidade, inclusive não ser gentil, educado, condições básicas, de quem transita desta forma entre os seus pares. Assim, me parece, atropelam, vão de encontro e fica por isto mesmo, estão sempre com uma pressa, rara são as pessoas que se desculpam. Seguem triunfantes ao seu destino, carregando trofeus de lições de individualismo.Nesta segunda terça-feira do mês de agosto, depois de protelado por diversas vezes, combinei com a querida amiga portuguesa de longa data, um encontro no centro da cidade, no Real Gabinete Português de Leitura, na Rua Luis de Camões, no Centro, a maior biblioteca de autores portugueses fora de Portugal.Um bonito prédio.
Fiquei pensando, enquanto caminhava e desviava de um carrinho lotado de caixas de cervejas, que pedia passagem, emitindo um som gutural, por quem o conduzia. As pessoas em sua frente, se encolhiam e ficavam assustadas com a impaciência daquele jovem. O rapaz, me pareceu mal educado, atestei por meu olhar de reprovação.Acha que por estar carregando um material pesado, quem estiver em sua frente, tem a obrigação de deixar o espaço livre, não importando, se há ou não condições para isto. Em qualquer rua de diversos bairros, ou de qualquer cidade, com estas caracteristicas; aparecem este comportamento, com sinais graves das neuroses urbanas se manifestando e reproduzindo. São impacientes, irritadiços, sem senso de humor, embora, o morador do Rio,tenha algumas peculiaridades inerentes ao humor. Mas, é no centro da cidade, a grande atração, o verdadeiro palco aberto para as diferentes representações do cotidiano. Algumas servem mesmo para o sustento, para a sua sobrivivência. Imagino que exerce um poder de transformação no individuo, tanto o pedestre, quanto, aos que se locomovem por qualquer veículo. Estão afoitos, em um exarcebante individualismo com ares de grosseria explicita.Algumas discussões são presenciadas pela platéia, ávida de novidades exibicionistas.Há sempre alguém fazendo alguma coisa e em torno dele, diversas pessoas, o grupo de assistentes, está criado.Malandros e heróis, improvisam uma convivência.
Dobrei a Rua Sete de Setembro, cheia de pessoas trabalhando e sujeiras produzidas também pelo comércio informal, um caos, colocam as mercadorias como se a calçada, aquele espaço, pertencesse ao individuo que está ali exercendo o seu digno trabalho.Ele tem de trabalhar, você necessarimente, alí não tem de transitar, preferencialmente, o de comprar as mercadorias que estão expostas.Você tem de ter a compreensão, alí, naquele espaço que é tomado, apropriado, é melhor ele está alí, do que estar roubando, como muitos alegam. Outro dia, ouvi de um trabalhador de rua, em Copacabana, reclamando, segundo ele, com a madame, como assim identificou, uma senhora indignada, com a falta de respeito.
Entrei pela Travessa do Ouvidor, também muito movimentada e de um fétido odor de esgôto. Neste espaço há uma insignificativa presença dos trabalhadores de rua, poucos se fazem presentes, os que se fixam, é para aqueles que estejam protegidos por licença, obtida na prefeitura. Entrei em uma livraria, para fazer hora., uma vez, que voltaria para casa um pouco mais tarde, devido ao encontro. Lembrei, enquanto, dava uma paquerada nos livros, recordo que esta livraria, vivia às moscas, mas o que eu soube, por um velho amigo, que foi meu namorado, no começo da faculdade, disse ao telefone, que ele arrumou grana e novos sócios. O dono, é mineiro, com fortes vinculos em uma familia do antigo governador de Minas Gerais, no final dos anos 40. O dono desta badalada livraria, foi um livreiro falido nos anos 70, conseguiu derrubar os muros de uma livraria de prestigio em Ipanema, na Praça General Osório, em um subsolo de uma galeria., freqüentada pela esquerda festiva ipanemense.
Deixei para comprar o livro em uma próxima oportunidade, aliás, é um autor que gosto muito. Em minhas caminhadas pelo bairro de Ipanema, sempre o encontrava, próximo a Rua Canning, onde morava e vivia sozinho, desde que separou de Lígia, a sua segunda mulher. Um dos nossos grandes prosadores, o cronista e escritor mineiro Fernando Sabino, que foi casado, nos anos 40, com Helena Valadares, filha do governador de Minas Gerais, Benedito Valadares. Sabino foi também dono de editora, junto com Rubem Braga e Walter Acosta, a Editora do Autor. Desfez a sociedade e montou com o cronista Rubem Braga, em 1966, a Editora Sabiá, vendida posteriormente.
A guarda municipal estava dispersando com muito rigor e com cassetetes, os ambulantes, assim que saí da livraria, percebi uma grande correria do pessoal que colocam suas mercadorias na calçada, seja no solo ou em caixotes improvisados.O ambiente, até a pouco utilizado pelo pessoal, dono da rua, era de muita imundice, uma falta de cuidado com o espaço que se pressupõe, não ser dele. Muitos poucos adquirem a consciência de limpeza. Andei mais um pouco e atravessei a caótica Avenida Rio Branco, um motorista distraido, falando ao celular, avançou o sinal, o guarda de trânsito em conversa, trabalhava. Quando eu pensava no ato deste motorista, passou por mim, um antigo colega, um militante do Partidão (PCB), estava sempre com David Capristano, que na época, era um estudante de medicina.Admirava muito o David e sua irmã Carolina. Tempos dificieis eram aqueles, de repressão e censura em todos os níveis. Nós que estudavamos ciências sociais, éramos visados por agentes do Dops.Alguns colegas, foram perseguidos. Andei pelo centro, passeando pelos fragmentos de minhas memórias. Fui até ao Largo de São Francisco, neste local, está o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS/UFRJ) onde fiz minha graduação.
Nesta área do centro da cidade, há uma grande concentração de pessoas, um variado comércio e muitos escritórios e empresas. Também biscateiros e garçons. O Largo, é via de acesso aos diversos pontos de ônibus, para diferentes bairros da zona norte e do subúrbio. Qualquer dia destes, vou falar sobre a Praça Tiradentes, de grande passado histórico-cultural da nossa cidade maravilhosa e de encantos mil. Ao dizer deste modo, não quero, ignorar a situação sócio-econômica, não estou disposta a mascarar a realidade, enfeitando-a, para distorcer as lentes que a observo e vivo o seu dia-a-dia.
No Largo de São Francisco, algumas vezes, tornou-se abrigo do pessoal sem-teto , do sem-terra, de vários grupos sociais; é uma parte da história da arquitetura e da biografia da cidade. Há a Igreja São Francisco de Paula., uma criação, em que a presença da arte colonial, se manifesta com trabalhos do Mestre Valentim. No meu tempo, havia uma grande concentração de mendigos e bebados e nem poderia deixar de fazer parte deste cenário urbano, a grande pivetada, que vez por outra, em nossas salas de aulas, ouviamos, um grito desesperado de Pega Ladrão! Pega! Pega! Ou, as intermináveis brigas e xingamentos entre mendigos.
Em frente ao prédio em que estudei, muito mal conservado, diga-se de passagem, passou por diversas fases, houve um momento, que pertenceu à Academia Militar, no periodo do Império, depois, Escola Central, mais tarde Escola Politécnica, que passou a ser a Escola Nacional de Engenharia do Brasil, que na década de 60, era chamada de Universidade do Brasil - UB. No final dos anos 60, mudou-se para aquele prédio a Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais, a primeira era no centro – Faculdade Nacional de Filosofia, esteve também, junto a Faculdade de Comunicação no prédio antigo do Instituto de Eletrotécnica, na Praça da Republica, no centro da Cidade, depois a Comunicação, é transferida para a Praia Vermelha, em 1971, houve a separação destas unidades. A Faculdade de Ciências Sociais, veio transferida do bairro de Botafogo, ou melhor, a antiga Faculdade de Filosofia – FNFi, estava situada em um casarão da Rua Marquês de Olinda, convém lembrar que era um momento de tremenda agitação intelectual.Tivemos vários professores mantidos sob suspeitas, uma de nossas maiores historiadoras Eulália Lobo, foi presa por uma semana, na ocasião da visita de Rockfeller em nosso país. Nesta rua situava, a Livraria e Editora José Olympio. O movimento estudantil, estava presente nas ruas, manifestando-se em passeatas...em palavras de ordem: Fora FMI, Fora Acordo MEC/USAID, Mais Vagas.,Liberdade para os presos , Um dois, três, gorila no xadrez, Yankees Go Home, as barricadas e greves em vários segmentos.
Passeando pela memória, esbarrei com o periodo em que eu residia na Tijuca, à parte em que eu morava, era conhecida como Engenho Velho, há muito foi transformada em Tijuca; eu era aluna do Instituto de Educação. Recordo que a área construida da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (antiga UEG), existia uma favela, a Favela do Esqueleto, que foi incluida naquele periodo de forte politica de remoção dos anos 60, nesta leva, foram incluídas a Praia do Pinto (Leblon) e a Catacumba (Lagoa). Vários estudos de diferentes disciplinas, se debruçaram sobre o assunto. O papo do atual prefeito, passa por esta discussão, de controle das favelas, da favelofobia, sobre alternativas a favelização; alimentaram, o noticiário recente sobre remoção de favelas. Parece que os politicos, gostaram do resultado obtido com as favelas de Cidade de Deus e Vila Kennedy, estranho, muito estranho o nosso país.
Uma curiosidade em passear por alguns lugares que transitei por muito tempo me levou a fazer uma visita nesta parte do centro da cidade e da minha memória.. Foi muito bom o encontro, saímos para lanchar na Confeitaria Colombo, na rua Gonçalves Dias, de longa tradição na cidade, foi inaugurada em 1894, um exemplo típico da belle époque carioca, com a sua arquitetura art nouveau, pedimos o cardápio e iniciamos uma conversa em volta do tempo, um tempo, presente em nossos olhos, em nossos ouvidos em nossa mente e nos corações de sobreviventes da cidade do Rio de Janeiro.
sábado, outubro 15, 2005
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