quarta-feira, outubro 05, 2005

A Vida de um Galo.














Lula Cardoso Ayres: Trabalhadores do Eito, 1943 (Acêrvo:FJN/PE)- Óleo s/Eucatex - Artista Plástico pernabucano.Sua cidade está presente em sua obra, em qualquer seja a sua fase.Nasceu em 26 de dezembro de 1910. Começou a pintar aos 12 anos. Em 1925, após viagem à Europa, passa a residir em Paris.Estabelece os primeiros contatos com o modernismo, muda-se para o Rio de Janeiro.Foi aluno da Escola Nacional de Belas Artes. De 1929 a 1931, dedica-se aos cenários para teatro,como sua atividade principal. Em 1934, volta para Recife.O artista participa de diversas individuais pelo país, bem como, atua em bienais.Faleceu em Pernambuco em 1987. Seu nome é citado em diversos trabalhos sobre arte brasileira.Foi criado o Instituto Lula Cardoso Ayres, em sua homenagem, mantendo grande parte da obra do artista, que está sob os cuidados de seu filho, o engenheiro e pesquisador Lula Cardoso Ayres Filho e ao lado da esposa, administram o instituto.(Fonte: Pernambuco.com e Nordeste. web)



Olá! Passo para deixar este texto, em que uso o recurso de tomar os animais como protagonistas desta narrativa.


Zé Carijó adorava dormir com as galinhas, pois andava a toa na vida ciscando pelos terrenos alheios, sempre a procura de uma asa amiga. Levantava cedo, pulava do poleiro, a primeira coisa que fazia; escovar os dentes e dar uma bicada em uma porção de milhos verdes finos importados, que comprava na birosca da esquina. Gostava de esparramar o milho no terreiro alheio, em seguida, tomava dois copos de gemadas. Quando acabava o estoque de milhos, gostava de comprar a melhor marca..Como não sabia pronunciar o nome do produto, apontava sempre na direção da lata de milho. Geralmente, acabava com estoque da loja, que era apenas de uma unidade. Imaginava que era bom para o aparelho reprodutor, dava uma maior virilidade, uma potencialidade desmedida. Sua alimentação matinal diária; seguia os princípios de alimentação natural de sua família, que nem sempre bicava unida. Sua aparência jovial, o deixava feliz que nem pinto no lixo.
Recusava terminantemente a usar produto nacional. Desprezava as minhocas. Reclamava da qualidade dos grãos e do preço exorbitante. Estava convicto que os produtos, do exterior , eram de melhor qualidade, são superiores, aos produzidos em sua terra. Sentia muito orgulho quando, ingeria, vestia ou assistia qualquer produto importado principalmente da maior nação amiga, vizinha da Granja .
Gostava de vestir sempre com um paletó com as cores da nação amiga. Achava que tinha de ostentar no peito uma águia careca. Não gostava de voar, preferia sair montado em seu velocípede; ia rápido para ser o primeiro a chegar, para isto, avançava todos os sinais que via pela frente. Chegava cedo ao terreiro, para cantar de galo.
Criou com o seu Pinto, seu sócio, um aviário para exportação de frangos para macumba, acompanhado de um kit para despachos em encruzilhadas. Rendia além dos milhões; um enorme prestígio com as penosas da comunidade. Ao sair para depositar a féria do dia, depois do almoço, viu e cumprimentou o Galinho de Quintino, nutria por ele, uma admiração,mesmo sendo torcedor de clube adversário.
No horário de abertura do Banco Galo da Madrugada, coincidia de encontrar sempre com uma emperiquitada galinha choca, que não parava de atazanar sua paciência, implicava com ele toda vez, que avistava na fila do banco.Abria o bico para dizer que a fila dos idosos, ficava mais adiante. Neste dia, Carijó, estava de ovo virado, andava escutando maldosos comentários sobre a sua atual, e fiel companheira, estivesse parecendo uma Galinha Gorda, cheia de pelanca.
Bastava ouvir estas insinuações que o deixavam muito irritado; para partir de bicadas e pernadas no desafeto. Estava a fim de engrossar o caldo. Amo esta galinha do jeito que ela é; chego a sonhar com as suas coxas, noite e dia.Galinha velha é que dá boa canja.Gosto também do jeito meigo do olhar de galinha quando quer comer minhoca...Sonhava!
Certa vez, começou a matutar que a mistura de milho comprado para a sua companheira de nada adiantava. Que passava tormentosas e desgastantes horas diante da academia, daquele Marreco que, cismava de dar em cima de todas, considerado, como um verdadeiro, galinha. Um galinhólatra.
Mesmo que tivesse fazer uma dieta, seria as duras penas.Izildinha, companheira de fé, de Zé Carijó, não dispensava ficar ciscando diante do espelho, apreciando o embelezamento das penas.Um belo dia, voltou cacarejando feliz da academia.O ciúme de Carijó, começava a se manifestar. Brigas e bicadas surgiram na relação diária do casal.
Zé Carijó, sentia levemente que um galo em sua testa crescia. Postava-se também diante do espelho e examinava com muito cuidado sua testa. Lembrou da última vez que bateu com cabeça na quina da porta do galinheiro, acabou criando um galo, daí o cuidado, assim, justificava para os amigos íntimos que perguntavam pelo crescimento da ligeira proeminência, pois era reparada à distância, por toda a comunidade galinácea .
Izildinha, ficou convencida, tinha engordado porque achava que de grão em grão ela enchia o papo e ganhava uns quilinhos a mais.Não resistia, ficar muito tempo sem comer; os olhinhos revirados para aqueles diversos grãos caramelizados, que comprava no camelô da esquina, três vezes por semana, a deixavam de água na boca.Uma delicia!
Preocupada comprou uma balança em liquidação. Nos finais de semana, durante a madrugada, descia às pressas do poleiro e ia escondido para o quintal, para verificar se houve aumento de peso. O alivio, era que acusava apenas o acréscimo de algumas gramas.
Nada de importante. Encomendava os cremes de última geração, que a mantivesse sempre na linha e escondesse os pés-de-galinha, que cismavam em aparecer em seu rosto. Tinha uma obsessão, a que pudesse alcançar o poleiro o mais rápido possível, para isto não só bastava bater asas, mas ter uma agilidade maior nas pernas, precisava pular a cerca.
Em uma noite fria, logo após longas e quentes cacarejadas, resolveu dar um basta neste relacionamento. Revelou de uma vez, que estava mantendo um namorico, com um frangueiro, que conheceu em uma partida de várzea, numa tarde de domingo. Naquele mesmo domingo, quando bateram de bico e por teimosia dele, não quis acompanhá-la. Ele preferiu ficar divertindo-se com o pinto, filho da vizinha, brincando, que enganou um bobo na casca do ovo. Caía na gargalhada em seguida, dava cambalhotas de contentamento. Foi só, antes só, do que mal acompanhada. Desapareceu!Não se arrependeu.Aprendeu a pular!Dizem que depois de alguns tombos, aprendeu até ciscar para frente.
Carijó ficou chocado! Desanimado, que começou a cantar a marchinha: “Có, Có, Có, Có, Có, Có, Ró! Có Có, Có, Có, Có. Có, Ró! O galo tem saudade da galinha carijó!" Tempos depois, circulou a noticia, que ela pariu três lindos pintinhos, de uma só vez. Um dia, Izildinha, parou para observar o crescimento de seus peitos; estavam enormes. Distraída pisou em um dos seus filhotes, mas ficou aliviada, pois, pé de galinha não mata pinto.Ficou preocupada se tinha pisado em ovos. Era só o que faltava.
Izildinha, lembra depois da separação amigável com Carijó, que ela, mais duas amigas e a prima, adoravam brincar e provocar os pintos musculosos que pintavam na academia. Suas companheiras, estavam doidas para soltar a franga.
Carijó adquiriu um novo hábito...depois, de incansavelmente procurar cabelo em ovo. Segundo os comentários de botequim, nos poleiros de aposta, nas brigas de galo, sempre, após o expediente, no frigir dos ovos, encontrava sob disfarce. com o seu Peru. Iam dividir um galeto e tomar cachaça., bebiam até cair.
O Pinto José, filho do casal, nascido de chocadeira, é o que se comentava; passou a ter um relacionamento com uma galinha D`Angola que conheceu em uma sessão de descarrego.Quem poderia afirmar a veracidade desta informação era Chico Garnisé, mas encontrava-se ausente.Chico, foi o seu colega de poleiro. Aprenderam a soletrar: Eva viu o ovo e na hora do recreio a cantar: “A galinha do vizinho bota ovo amarelinho...”
Havia um galo, o mais forte de todos, na comunidade, que adorava distribuir rabo de galo para o adversário. Mas todos que enfrentava, cacarejava alto, isto para mim é pinto e partia para bicadas e unhadas. Nunca foi levado muito a sério, se vangloriava de ser um peso galo; o que constava era que gostava de babar o ovo do chefe da Granja. Depois de alguns goles, espalhava que andava comendo umas galinhas. Outra fama que tinha, era de ejaculação precoce, outras diziam, que não passava de um ladrão de galinhas.Os boatos pipocavam a torto e a direito, inclusive que era muito intimo de um papagaio que morria de ciúmes dele.
Zé Carijó cultivou o hábito de assistir, a brigas de galos. Como não gostava de ficar só, acabou escolhendo para ficar com a galinha da sua vizinha, uma carioca da gema. Uma galinha dos ovos de ouro. Enchia o peito todo orgulhoso.A outra para mim, é uma galinha morta. Acabou! Meditando, quieto no poleiro, vendo a vida passar, assim pensou, em passar o resto de seus dias, antes de ir para a panela.

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