terça-feira, maio 24, 2005
Lena Frias:Jornalista e Pesquisadora - Hoje lembrei de você!
Pablo Picasso - 1881/1973
O mês de maio,seus dias estão em minhas lembranças, registrados em aniversários de familiares e amigos,ótimas recordações e outras nem tanto.Andava à toa na vida, quando olho para a banca da esquina e resolvo comprar, experimentar o "novo" caderno do JB,como é conhecido o Jornal do Brasil motivado pela nova equipe de jornalistas, que voltaram para o caderno B, que lembra aos leitores,ser o jornal do Rio.Não sei como explicar,mas de imediato, surgiu a recordação de uma jornalista que atuou por muito tempo naquela casa.Lembrei, que no dia 12 de maio de 2004, falecia a jornalista, pesquisadora e mangueirense Marlene Ferreira Frias, mas que assinava como Lena Frias, em sua casa, no bairro de Vila Isabel, de cancêr na mama.Fui leitor por muitos anos do Jornal do Brasil, vivenciei várias mudanças das equipes de jornalismo.Vários nomes que trabalharam no jornal, ainda, lembro.De longe, mesmo não conhecendo pessoalmente nenhum deles, ficava entristecido e solidário, com que eu lia a respeito do que andava acontecendo, principalmente, após, a aquisição do jornal pelo senhor Nelson Tanure. O meu jornal preferido,desde dos anos 60, para mim, vinha se definhando,reduzindo cadernos, suprimindo outros. perdendo aquele vigor dos velhos tempos.Uma economia de custos e de leitores, sustentada por sábios marqueteiros e consultores.Os ares de mudanças,acredito, que foram para pior.Hoje, perdi a vontade de ler e deixei de ser assinante.O noticiário, perdeu as caracteristicas que me vincularam e me transformaram em seu leitor.Recordo de uma crônica de despedida de Carlos Drummond de Andrade,parece que foi no segundo semestre de 1984.Lembro quando fui entrevistado por Mara Caballero para o caderno B,uma matéria em que falava sobre as livrarias da zona sul.Quando ela entrou na livraria, eu estava lendo, Maternidade e Sexo,de Marie Langer,obra publicada pela Artes Médicas, editora de Porto Alegre, com excelente catálogo.Mara voltou para o jornal que começara como estagiária,tornou-se editora do caderno Ela de O Globo, quando faleceu em outubro de 2003, vítima de parada cardio-respiratória. Muitos e muitos jornalistas, foram dispensados e desprezados pela direção, experiências feitas, por exemplo, com a entrada de Mario Sérgio Conti, foram abortadas.O noticiário esportivo que era o meu fio condutor incial para às páginas seguintes,aos sábados com as resenhas de livros, editado por muitos anos por Mário Pontes,o caderno Idéias. Eles, conseguiram com tanta eficiência fazer uma redução,ou melhor, uma reestruturação, que foi traduzida em uma cobertura pífia, logo me desestimularam.Fiquei entusiasmado com a mudança recente do caderno B, comentado por mim anteriormente.Continuo pensando, ser apenas uma espuma que fazem para atrair leitores distraídos.A queda do JB, acredito que se mantém, vejo jornaleiros com poucos exemplares colocados à venda.É um indicador bem preciso de que o jornal, não tem grandes vendas.No JB, fogem anunciantes e leitores, todos comungam de uma mesma vontade.Para quem utiliza o retrovisor para o passado e lembra dos cadernos de classificados , olha para hoje, percebe com clareza a mentalidade destes novos gestores. Creio que perderam o rumo.
Como leitor, não deixo de vincular a situação de consumo do povo brasileiro, cada vez, este poder diminui, o desemprego permanece com índices elevados, Se há queda no consumo de jornal, imagine, no mercado editorial...Isto tudo, para mostrar que a leitura do texto abaixo, na ocasião, fiquei muito chocado, a situação narrada na exposição dos motivos de sua demissão. Aqui, transcrevo esta declaração para ficar na memória de brasileiros e leitores de um jornal...Como disse alguém Recordar é viver, eu hoje lembrei de você, Lena Frias, que eu também, assistia em algumas participações no programa Sem Censura, comandada pela prima do jornalista Fernando Gabeira, a jornalista Leda Nagle.
“Sete anos depois do meu retorno à casa da condessa Pereira Carneiro, acabo de deixar o Jornal do Brasil, onde vivi os episódios mais intensos da minha carreira jornalística. Uma relação que se iniciou ainda nos anos 70, teve momentos de destaque e não merecia encerrar-se melancolicamente, razão pela qual pedi que me demitissem. Há pouco mais de um ano eu me vi afastada do caderno de cultura por um desses equívocos inexplicáveis, esses acidentes de percurso meio doidos que vão atrapalhando a gente. Coisas de poder e traição. Como vocês sabem, quando a então editora do Caderno B e minha amiga Regina Zappa foi derrubada numa manobra interna, eu também me vi atingida. Mas a questão é que depois de longas conversas com a direção do JB, apesar da deferência e evidente consideração com que me distingue o Flávio Pinheiro, executivo do jornal e pessoa com a qual dialogo bem, senti que o equívoco ainda se manteria, afetando as minhas atividades nessa área na qual tenho tanto a realizar."
“A dificuldade reside no fato de que o saber e a experiência que acumulei ao longo de três décadas não interessam ao JB. Ou não interessam ao meu olhar e a minha abordagem, expressão de um efetivo compromisso jamais traído com a cultura brasileira, que nunca tratei com curiosidade ou exotismo, mas como valor de identidade. A minha terra e a minha gente estão no cerne do meu interesse de profissional da cultura e da minha emoção como criadora e como intelectual. Seja a multiplicidade e diversidade da cultura, seja a capacidade que nós brasileiros temos de reinventar o viver, dentro de um cotidiano de desvalia e desvalorização daquilo que nos é fundamental como povo. Meu compromisso é com tudo aquilo que revela e exprime as matrizes de nossa verdade e da nossa integridade e brasileiros. Por isso escrevo com tanta paixão sobre o cantador Azulão da Feira de São Cristóvão, sobre Patativa de Assaré, Ariano Suassuna, Antônio Nóbrega. Sobre Gilberto Freyre e Câmara Cascudo. Sobre superstições e lendas do nosso fabulário. Sobre cordel e grial, batucadas e batuques, músicas e sons. Sobre as raízes pré-ibéricas do boi amazônico, os mistérios caboclos dos caruanas, os barros de Adauto e de Tracunhaém, as cerâmicas de Caicó, os torés dos índios, a ancestralidade e a tradição religiosa dos negros ou qualquer outra expressão ou manifestação desse amplo espectro que me explica e nos explica. Enfim, sobre as células do nosso tecido nacional que é também tão universal pelo fato simples de sermos todos humanos e partilhamos os mesmos instintos e sentimentos."
“Por isso mesmo, e pelo contraditório que se instalou, considerei ser a hora de deixar o jornal com que tenho laços tão vivos de afeto: os donos da verdade nos meios de comunicação não parecem sensibilizados ou mesmo interessados em tão profunda brasilidade. Preferem tratar a cultura brasileira como curiosidade, exotismo ou eventualidade."
“Bem, é com essa brasilidade que eu sigo e é ela que me conduz. Estou livre e pronta para oferecer consultoria, criar, orientar e executar projetos, escrever minhas crônicas e artigos. Tudo sobre Brasil. Afinal, foi a missão que recebi de Deus. Ainda este ano desejo publicar meu livro sobre jornalismo cultural, atendendo a cobranças e apelos nesse sentido com que sou honrada Brasil a fora."
“Mas francamente, acho um despudor o Jornal do Brasil me negar espaço no segmento cultural porque a minha voz e o meu talento estão a serviço do que o país tem de melhor, que é seu povo. Eu até podia ficar no JB ganhando o parco salário que ganhava, quietinha num canto, esperando pela oportunidade de assinar uma crítica de disco ou um comentário sobre isso ou aquilo. Anulada."
“Mas... quietinha, eu? Num cantinho. Eu? Anulada, eu?"
“Nunca! Eu até caio, mas de pé, denunciando a falta de vergonha que é a desqualificação da cultura que eu represento, desde a cor sépia da minha pele, até o saber bebido diretamente nas fontes populares e apurado em muito estudo, muita leitura, muita crítica, muito empenho intelectual. Considerei meu dever informar aos meus amigos e aos meios culturais e jornalismo o porquê da minha decisão As minhas relações profissionais com o JB podem até mesmo se restabelecer – o que parece bastante possível – mas, em outras bases. Por outro lado, os meios culturais e de comunicação, informados da minha atitude, estão me respondendo com enfática solidariedade e aprovação ao meu gesto, o que me desvanece, anima e conforta."
“Um abraço cordial da
Lena Frias”
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