sábado, maio 14, 2005

Orides Fontela: A Poetisa Esquecida


Fernand Léger Posted by Hello

Quando fui distribuidor de livros,nos anos 90, aqui na cidade do Rio de Janeiro, fui representante da Editora Duas Cidades, uma pequena editora paulista,dona de um bom catálogo .Tenho uma enorme simpatia pelo pessoal desta casa publicadora. Depois da morte do editor, Professor SantaCruz, estava sendo conduzida por Maria Antônia. A Livraria Duas Cidades, tinha um perfil de tonalidade religiosa. Foi nesta livraria e sede da editora, que nos "anos de chumbo", que Carlos Marighella, expoente dirigente comunista, muito procurado, ou melhor, caçado, pelos órgãos repressores. A imprensa vivia censurada, as noticias que circulavam, era de modo confuso, muitas vezes codificadas. O resultado, dado como morto, baleado em tiroteio. O que se sabe. que após a prisão de frades dominicanos no Rio de Janeiro,os agentes através de escuta telefonica, agentes policiais prepararam uma cilada, para Marighella ir ao ponto de encontro. Ele estava sendo vigiado pelos policiais, que monitaravam seus passos.
A Duas Cidades, é o que no mercado, chama-se uma boa editora para se trabalhar(vender). Alguns livros publicados são imprescíndíveis no panorama das ciências humanas. Pingava sempre, era uma expressão do meio livreiro.Um livrinho aqui, outro ali.As novidades eram poucas. Mas houve um momento em que eles tentaram editar poesia brasileira.Editar livros no nosso país não é fácil, mais ainda, o segmento de poesias.Acho que se deva editar poesias, mas primeiro tem de remover alguns preconceitos dos livreiros e do público, de que poesia não vende. Vende, Sim!É uma vendagem lenta, a de maior velocidade, são os legitimados pela cultura livresca, pela mídia, os nomes que circulam pela informação do leitor. Creio que foi dirigida por Augusto Massi, a coleção Claro Enigma - Uma justa homenagem a Carlos Drummond de Andrade(1902/1987)para a sua obra editada em 1951 - Esta coleção foi dedicada à poesia brasileira.Muito bem editado, uma boa apresentação,com bom preço, tudo conjugando para dar acesso ao leitor. Não durou muito tempo, mas o suficiente para que eu pudesse achar um livrinho da coleção que havia sempre pedido.Era de uma poetisa, seu nome Orides Fontela, paulista do interior de São Paulo, nascida em 1940 e morreu em 1998, aos 58 anos em um sanatório em Campos do Jordão.Morreu na miséria. Ganhadora do Prêmio Jabuti de Poesia, em 1983, pela CBL, mais tarde pela APCA, em 1996, foi premiada pelo livro Teia Editado pela Geração de Luis Fernando Emediato.Fui distribuidor da Geração, aqui no Rio de Janeiro.Havia mais um distribuidor, a Irradiação Cultural, que também fechou.
Sua trajetória era muito conturbada, tentou algumas vezes o suicídio. Mas deixou uma legião de fãs e admiradores de sua obra poética.Vou escolher para mostrar o que está editado em Teia (1996)

Desejos
Um gato
e um girassol
feliz.
Uma nudez sem nome

Um imaculado
vinho.

Vesper
A estrela da tarde está
madura
e sem nenhum perfume.

A estrela da tarde é
infecunda
e altissima.

depois dela só há
o silêncio.

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