sexta-feira, maio 13, 2005
Poesia na Prisão - Poemas do Povo da Noite
Livreiro
Tempo de Bienal, festa para o pessoal que atua no mercado livreiro. Sorriso da cabeça aos pés. Neste mês de maio, geralmente próximo a segunda semana do calendário, foi incorporado aos grandes eventos na cidade do Rio de Janeiro, a festa do livro e dos autores, tornou-se uma tradição. Momento de interação do leitor com o autor e naturalmente a casa publicadora, faz parte desta intimidade... a outra Bienal é, em São Paulo.O momento de grande oportunidade dos editores mostrarem os seus catálogos por inteiro, isto é, os livros editados,são expostos nos estandes Por diversas situações, fica muito difícil de se encontrar em algum espaço, senão este, para expor as diversas editoras.Ali, você vê e reencontra com aquela obra que você está cansado de pedir e não consegue.Há um bom fluxo de pessoas, mas entendo, que não há uma tradução perfeita para consumidores ou formação de leitores.É um agito! Para formação e surgimento de um leitor, é feito por um processo que congrega, vários elementos, a escola,sem dúvida é o agente condutor principal desta identidade.As dicas informais, de ouvido em ouvido...O ideal, é desde pequeno, quando ele é ainda um ouvinte.Em outra fase, na sua fase de adolescente e posteriormente de adulto, um dos auxiliares importantes para conduzir este leitor, seria os cadernos literários, mas muitos deles, trazem determinados vícios, como o culto às grandes editoras e autores. Não vejo mal algum, ter uma editora (jornalista) de um caderno de livros, casada com um escritor-poeta-tradutor. Não vejo comprometimento dele ou dela com editoras ou livros simpáticos a ambos. Ela, uma experiente e inteligente jornalista, ele dispensa comentários, é por demais conhecido. Parece que ela não coordena este suplemento,pediu demissão ou foi afastada.
De qualquer forma, acho Interessante observar, são os convites feitos para estes jornalistas, de modo geral, são alçados a condição de editores, ou membro de conselho consultivo(editorial) ou “leitores”, indicando títulos, alguns, com direito a edição de sua obra. Há sempre um por perto. Muitas editoras,principalmente as menores, sofrem neste “culto” processo seletivo de se publicar resenhas ou qualquer outro tipo de informação de uma obra editada ou reeditada, a tendência é de colocar selos de editoras de ponta.Livros e mais livros são editados e nem são, de alguma forma informados, não merecem nenhuma linha.Claro, que há outros elementos que pesam para que o livro não seja publicada nenhuma resenha. Há um programa de televisão, comandada, por uma veterana jornalista, onde há presença de amigos está sempre assegurada, membros efetivos com cadeira cativa.Quantas vezes os mesmos, estão presentes..dando uma forcinha ...Quando o momento de apresentar o lançamento de um livro, ela faz uma questão enorme de omitir, a outra identidade de um livro, ela “esquece” que é a editora, parte integrante de uma obra. São três elementos: título, autor e editor.. Para ser falado de modo correto esta apresentação, só acontece, quando a editora é “camarada “ com a apresentadora.Chega a mencionar seus nomes durante ao programação.Coloquei esta situação, por ser este programa, um espaço para debates e novidades que rolam e são produzidas pelas pessoas, que ali comparecem.para divulgarem o que andam fazendo.
Há muitos livros que o público, nem vai ficar sabendo e talvez nem apareça nas prateleiras e expositores de uma livraria. A vida de um pequeno, editor, livreiro, distribuidor ou ainda um autor, não é fácil.
Vi livrarias novas ou antigas em situação de extrema dificuldade , distribuidoras e editoras fechando.Livros e muito livros encalhados em estoque,Há livros com vida muito curta, de difícil reposição.O livro tem de haver dois processos: venda e reposição. Isto faz com que ele ganhe vida e circule pelos pontos de venda, o comércio em geral. Fico preocupado com a dificuldade de editores que não conseguem espaços nas chamados mega-livrarias, pior e muito pior mesmo, é quando assume o status como rede ou cadeia de livrarias. Não se consegue grandes coisas, salvo, se o livro virar fenômeno de vendas.Cada proprietário de livraria tem um modo e sabe o que comprar, mas...deixa pra lá...vou abordar mais adiante, em outra oportunidade. Quando houver procura significativa de algum titulo, não é condição do livreiro ter este livro em sua livraria. A compre de um livro, mesmo que ele venha embalado por alguma credencial, não é uma resposta imediata, pois surge fatores que interferem na ausência de um livro em livrarias, por exemplo, a negociação de prazo, desconto e algumas editoras colocam nota mínima de faturamento, assim. como livrarias exigem desconto e prazo maior. Vender livros não é tão fácil assim, como se apregoa....A venda de um livro é composta por vários fatores...Podem ter certeza, meus caros e raros leitores. O autor , ou mesmo o seu livro não estará, pelas vias normais de comercialização, estar presente nestas livrarias, nem sob a forma de consignação,este espaço, com certeza, não é de vocês.Quando acontece, veja onde o livro de vocês foram parar... Falo ou escrevo por ter uma trajetória neste mercado por mais de duas décadas, vivenciando vários segmentos deste ramo.Finalizando, pois o momento é de festa, de boas vendas e sucesso para novos e velhos autores. nesta ocasião as vendas pululam. Uma intensa propaganda, uma boa cobertura da mídia, informando lançamentos e eventos, é uma via para conduzir o leitor a Bienal. Esta repleta de acontecimentos, autógrafos,visitas de autores estrangeiros. A França, foi eleita como o país homenageado...naturalmente, autores brasileiros, também comparecem..A que se iniciou ontem, foi a 12ª Bienal Internacional do Livro, o local é o mesmo, no distante pavilhão de exposições do Riocentro. Acho que esta distância, põe distância nisto, principalmente para quem vai de ônibus...promove de algum modo, um deslocamento do público até a Bienal, mas convém registrar que é um dispêndio de tempo.A Bienal, é um encontro, um chamamento aos leitores, com vários atrativos. Assim, como há autores inesquecíveis, há também editoras inesquecíveis, como as pequenas por exemplo.Uma delas, chama-se Editorial Livramento.Participei de várias bienais, até a metade da década de 90. Montei uma livraria no inicio dos anos 80, em Ipanema.Nos dois primeiros anos tive dois sócios que vieram do exílio.Um deles, recentemente participou como secretário de estado, do governo da Rosinha , mas desligou-se muito rápido, alegando motivos de saúde, o outro, não tive mais noticias, creio ter mudado de cidade.Eles acabaram saindo da sociedade.Eu optei para ficar com a livraria; os outros dois, tomaram rumos diferentes.
A livraria tinha um perfil de esquerda, de acordo com a minha formação em ciências sociais e com a trajetória dos sócios, de militantes da luta armada,não poderia ser diferente. Para uma Ipanema, não querendo muito, consumir livros considerados de esquerda, naquela época o maior consumo, era os da área psi.Conheci pessoas maravilhosas, clientes que se transformaram em amigos. Por falar em amigos, mantenho contato com uma querida e consumidora voraz de livros, que criou um blog, muito bom, de ótima qualidade, com assuntos envolventes e inteligentes. Vale a pena, uma visita no blog Caminhar, da Laura.
Voltando para o Editorial Livramento, lembrei de dois livros editados por esta pequena editora de esquerda, um deles, chama-se Poemas do Povo da Noite, de autoria de Pedro Tierra, pseudônimo de Hamilton Pereira da Silva, militante da ALN. O outro livro, Escritos de Carlos Marighella, fundador e dirigente da ALN, assassinado pela ditadura militar em 1969. Quero colocar aqui, no mural da Quitanda, um dos poemas feitos na prisão de autoria de Pedro Tierra. Gostava de vender este livrinho de capa verde escura e distribuído pelos meus amigos da Distribuidora Século XXI, situada em São Paulo, também fechada no final da década de 80.A Livramento funcionou da metade da década de 70 e inicio dos anos 80.Sempre o colocava em posição de destaque nas livrarias por onde atuei, os livros de editoras que produziam este material.Gosto de ter estas lembranças como contribuição para a história do livro no Brasil. Vou selecionar este poema, espero que gostem.
A Palavra sepultada
Hoje eu queria dizer-lhe muitas coisas,
De resto, ninguém mais poderia ouvir-me
Seu coração receba o vento de minha dor.
A porta do calabouço cerrou os dentes
Sobre meus ossos.
A morte visita minha boca
Num murmúrio sepultado e inútil
Sinto enorme o peso das palavras.
É quando a mudez se tornou vício
É quando o muro não cercou corpo apenas
E há coisas necessitando explodir
É quando a palavra dita não vem do cerne
E se perde na cinza.
Eu queria dizer-lhe muitas coisas
Não há como faze-lo.
Na cela ao lado, um companheiro morto
Algo a dizer sobre isso?
O que pode o grito se não se perpetua?
As palavras estão gastas, mortas por dentro
Meu corpo será meu grito
Embora hoje permaneça mudo
E sem esperança de compor um canto urgente. –
(Fonte Consultada : Flamarion Maués)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário