quarta-feira, junho 01, 2005

Espelho do Tempo: Um Dizer Silencioso


Raoul Duffy - 1877/1953 - Pintor Frances Posted by Hello



Diante do espelho, recolhi às cinzas
do passado. Cenas embalsamadas de
minha adolescência.Tempo costurado
com os retalhos tingidos de amarelo.

Olhei para a minha face, vi apenas,
aquele, que parecia ser eu.
O eu dividido, partido.
Dentro de mim o texto decorado,
ornado e desencontrado.

Soneto de minhas dores
reverso de meus amores
contornos das imagens
envelhecidas nos presentes
embrulhados pelas lembranças.

O barulho na esquina,
da máquina esquartejando
as calçadas. Fico incomodado.
Debruçado na paisagem,
Escutava o som inquieto,
estridente no vaivém
dos passos em compassos
da espera.

A sombria iluminação
desenhava a minha felicidade
clandestina.

Os risos marcados nas agendas
datadas, gestos repetidos e
consentidos.
na busca da utopia.
Brincando com o presente,
esquecia o futuro.
Passando o passado.

Ali, no fundo do meu mundo,
agonizava a poesia em
preto e branco das letras
escritas em meu peito.

Solidão, solitário, sólida
passagem para o encontro
burocrático, vestido de
lágrimas que limpavam a
minha face.

Olhei para o corpo deitado
embriagado da mulher retida,
refletida na miséria do
nosso tempo.
Perto daquele rosto,
os traços que a vida
tinha sido esquecida.

Ando em passos acelerados
Vejo e desvio do menino da cola
colada no futuro da ilusão
perdida e da infância
abandonada
procurada
no pedido de esmola.

Os guardas na esquina
atrapalhando o trânsito,
transito em direção de um
momento, perdido no fim do
caminho.

De mãos dadas ao vento, deixo
o medo guardado no bolso.
Tremo, temo e teimo
em continuar a juntar
fragmentos do passado.

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