terça-feira, julho 19, 2005

Manhã Chuvosa


Sérgio Ricardo - "Sem Título", Óleo e acrílica sobre tela, 1990 - Cantor, Instrumentista, Cineasta, Compositor, Ator, Escritor . Nasceu em Marilia, São Paulo, em 1932.Descendente de uma familia libanesa. Atuou como substituto de Tom Jobim, em 1952, como pianista; ano de sua mudança para o Rio de Janeiro.Considero como um artista completo.Realizou exposições individuais em diversos lugares, com MIS em São Paulo, Centro Cultural do Banco do Brasil, em Niterói. Um artista em que composição musical e plásticidade, são elementos importantes. Artista popular, roteiriza os seus filmes e de outros diretores.Principalmente os que atuaram no chamado Cinema Novo. Participou dos movimentos de bossa-nova, um dos líderes da canção de protesto, com composições que sâo referências históricas para se compreender a música popular brasileira. Sua música Zelão, ficou muito famosoa e ganhou várias gravações. No Festival da Record, ganhou uma estrondorosa vaia, que o deixou irritado, fazendo quebrar o seu violão, mais tarde virou título de seu livro.Participou de Festivais da Canção. Autor de um livro muito importante;"Quem Quebrou o Meu Violão: Uma análise da cultura brasileira nas décadas de 40 a 90", editado pela Record, em 1991. O artista mantém uma página na internet.Uma pena! Ocupar tão pouco espaço na mídia, poderíamos descobrir melhor este talentoso artista. A temática de sua pintura, há uma forte presença do corpo feminino, pintando bundas e seios.Baseou um longa-metragem, em um trabalho que fez com o poeta Carlos Drummond de Andrade, a História de João-Joana( cordel musical) mas a Embrafilme,é encerrada no governo Collor, fechou-lhe às portas e a produção.Criou a SOMBRAS, uma organizão de luta pelos direitos autorais e de interpretes. ao lado de Chico Buarque e Jards Macalé Posted by Picasa

Hoje, cheguei mais tarde neste espaço.Passei, para recolher alguns papéis e deixar pendurado no varal um texto, que estava engavetado; escondido na última prateleira, misturado com outros sortimentos.


Naquela manhã chuvosa, avistei escondido no espelho refletido dos meus olhos,onde brilhava, uma linda imagem desenhada de uma mulher desnuda, envelhecida e de lábios rubros. Exalava o aroma dos perfumes dos jardins de outrora, das flores e dos amores.
Abri uma das portas e caminhei... por onde? Não sei! Apenas sei, que pulei a cerca que envolvia o meu corpo. E parti em sua direção para colar meus beijos em seus belos seios coloridos de carmim. Com um sorriso estampado abraçou o tempo. Fitou meu corpo e algemou meu braço nos contornos de seu corpo esbelto.Fechei bem os olhos abertos. Teci o sonho.Tive o desejo.
Convidei-a para dançar nos salões de meus pensamentos delirantes.É um convite? Sim! é um convite. Seus cabelos presos ao vento, deslizavam em minha face molhada por respingos suados do seu corpo ardente. Eram movimentos desordenados e descontraídos.Ainda. lembro! Não poderiam ser esquecidos. Desmanchava os lençóis feitos de retalhos que cobriam os meus desejos. Das janelas emperradas e desbotadas, que pintei e deixei na moldura exposta dos muros da sala que.decoravam o vazio Dali, recortei os acordes soluçantes que suspiraram ao sabor daquelas rimas mal escritas em Garamond, no calor das tardes insones.Rascunhei meu inconsciente. Coloquei na vitrola defeituosa o ritmo portenho de Gardel, “El dia que me quieras// endulzará sus cuerdas// el pájaro cantor, Florescerá la vida // No existirá el dolor.// La noche que me quieras.” por Astor Piazzola, viajei. Tingi o tempo em cores transparentes. Juntei cacos pontiagudos deixados ao léu.
Reminiscências guardadas no escaninho da vida remoída, dissolviam no tempo. Folhas mortas escritas e espalhadas ao vento, remendavam os traços de minha existência. Balançava aquele corpo diante de mim. Tateava os traços dos contornos definidos pelos dedos ofegantes
Vamos! Aproveite os instantes e rasgue o chão de meu coração, pavimentado pela ilusão. Derrube os tijolos das paredes de meu corpo. Coloque o Gato Negro Sauvignon perto daquelas taças.
Exausto, adormeci nos braços da noite vazia, depois, de ser alimentado das tardes enluaradas esquecidas em meu prato vazio. Nas prateleiras de meus pesadelos divertidos, cochilei. Desperto, desconecto meu sexo de meus dedos. Beijo o sonho guardado onde visto o meu agasalho de aço. Protejo das incertezas, os meus desejos entrelaçados pela minha vontade pintada nas cores daquela mulher envelhecida. Acompanhei o seu tempo, envelhecido também estou. Os objetos secretos arremessados no vazio de meu quarto de despejo. Ali, o espaço solene das lamúrias do tempo, recôndito da intimidade costurada na felicidade dos encontros clandestinos, pendurados nos cabides do armário.
Caminhei cambaleante pelas estradas sinuosas de seu corpo. Encontrei o meu destino carregado na boléia de seus braços. Para dar apertados abraços. Nos desencontros marcados no momento das horas daquele velho relógio sem ponteiros. Debrucei na esperança. Embrulhei as rugas temerosas e inquietantes no meu corpo envolto de papel celofane. Atados, em nós de nossas pernas, dos dedos e troncos, cruzamos em nossos lábios, os prazeres alcançados em gritos e sussurros. Entre quatro paredes exilei este momento.
Olho a lua minguante pelas frestas que iluminam os descaminhos de meus passos.Acendo a luz e apago a “máquina de fazer doidos”, que está ligada ao meu cotidiano.Quando olhei à noite, virou dia. Saio em busca do sol, que derrete meu corpo marcado pelo tempo. Atravesso as ruas transversais, vazias de gentes e carros. Olá, com vai? Paulinho, “me perdoe à pressa, vou pegar meu lugar no futuro”. Assim, por caminhos, que faço ao andar.Esbarro nos encontros oníricos e dos desejos que, passaram a fazer parte do meu ser.

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