segunda-feira, setembro 19, 2005
As Duas Garças
Romero Brito - Achei muito interessante este artista que tem como caracteristica em sua arte, alegres e coloridas telas.O artista em entrevista para a Revista Época, menciona que a sua arte, faz parte da decoração de diversas celebridades.Declara nesta mesma entrevista que:"Quero que a minha arte seja consumida por todos". Seu trabalho tem sido muito solicitado por empresas de vários segmentos industriais e comerciais, como : a Grendene para desenvolver uma linha de sandálias, com a sua art pop que agrada a jovens de diferentes classes sociais. É um artista gráfico, que merece sempre atenção do público, inclusive sendo referendado pelo título do artista plástico brasileiro mais bem sucedido no exterior. Romero um artista pernambucano, que mora em Miami. Um artista de renome internacional.São cores vivas e passam muita alegria, assim, vejo as suas telas.
O sol estava sumindo na hora em que eu começava a escolher o texto que iria ficar exposto no varal.O texto que segue sofreu pouca alteração para exposição.Espero que gostem. Desejo um ótimo dia para vocês leitores e blogueiros.
Celso Tuiuiú, vestido com uma camiseta da banda que ele mais curtia, dirigia uma moto toda turbinada de cor vermelha.Isto fazia crescer o bico de umas passarinhas, gatas e lebres, ligadonas no reggae e na moto. Seguidor do movimento rastafari, desde os tempos em que passou por uma visita de três meses na Jamaica. Quando conheceu Bob Marley, Jimmy Cliff, Peter Tosh , Gregory Issacs e outros jamaicanos. Celsinho, como as gatas, lebres e passarinhas o chamavam, logo que surgia no meio da pista, era sinal de um tremendo agito. Um escândalo! Assim, que desligou a moto, teve uma assanhada, comentou quase sussurando, Lili, a gata malhada para Lina, uma gata sarada que estava fazendo hora, para prestar atenção que uma lambisgóia passarinha, começou a cantar mesmo desafinada: ” Vital e sua moto mas que união feliz. Corria e viajava era sensacional A vida em duas rodas era tudo que ele sempre quis...” Maior azaração!Algumas mais assanhadas ainda, tiravam as peças íntimas e jogavam para que ele desse autógrafo.
Celso Tuiuiú fingia que não ouvia, o que elas diziam ou cantavam. Tinha fama de querer ficar com todas, na verdade não pegava uma sequer, embora, sempre rodeado de belas passarinhas, lebres e gatas.Era o que fazia questão de comentar, o velho macaco Tião, para quem estivesse interessado em ouvir histórias, contadas por ele, sentado em um galho de arruda.Havia muita coisa a ser revelado de Celso Tuiuiú, tudo que podia ser contado por um preço de banana, bastava, para tanto, pagar.ou melhor, depositar no caixa dois, que ficava em seu lado direito. Não havia necessidade de ser comprovado o depósito.
Do outro lado, da Lagoa da Capivara, Dona Graça Garça, solteira, cheia de graça, vivia se engraçando para o primeiro que aparecesse naquele pedaço. Andou arrastando as asas para aquele Sapo Cururu que mora na lagoa. Mesmo sabendo que ele estava muito afim de uma perereca do brejo seco.
Graça, desconfiava ser aquela, conhecida por todos lá no brejo.Uma namoradeira, que vivia dando mole para todo mundo. Bastava alguém olhar para a perereca, que pensava ser uma paquera. Para ficar. Graça, achava a perereca muito vulgar. Não gostava nenhum um pouco da perereca. Uma oferecida, isto sim, reclamava aos quatros ventos.
Graça Garça, cheia de Graça, achava que Celso Tuiuiú, gostava mesmo era de aparecer. Ficava se admirando através do espelho da moto, que comprara de segunda mão e a prestação.Era o que mais queria. Tuiuiú tinha planejado trabalhar por conta própria, um antigo sonho, ser entregador de pizzas. O que parecia ter conseguido. Tinha o habito de colocar as músicas de reggae bem alto próximo da moto, principalmente as da Banda Afroreggae, que era amarradão.Formava logo um círculo vicioso em sua volta, além de barraquinhas de comes e bebes; tudo a preço popular, a noventa e nove centavos, com direito a troco de um centavo.
Graça Garça na parte da tarde, tinha recebido uma carta, da Garça Vaqueira, sua prima, dona da pousada La Luna, situada lá pros lados de Planalto Novo, convidando-a para passar um fim-de-semana. Na carta por linhas tortas, escreveu que havia muitos babados para contar. Inclusive segredos, guardados até então por sete chaves, daquele ingrato Boi Voador. Resolveu adiantar algumas coisas que teria de conversar com a prima através da carta que enviara. Estou arrasada! disse grafado em vermelho, lido no terceiro parágrafo da carta. Querida prima: eu como você e o resto do mundo, sabe, abandonei toda a família para acompanhá-lo, pelos pastos do mundo, desabafava. No final da carta,lembrava magoada, que pegou muita poeira nos olhos pelas estradas e campos afora... atravessou riachos, passou por lameiras, pinguelas, vilas e aldeias. Ela, uma verdadeira companheira, sempre por perto, contentava-se em comer alguns insetos, carrapatos, o que aparecesse pela sua frente.Arrumou muitas vezes a cama, pois, nem isto ele fazia. Até que, descobriu em uma noite de lua cheia, ainda sem sono, por meio de uma pomba-gira, que o companheiro era um boi de piranha
Nestas ocasiões, lembra ao ler suas reminiscências, com os olhos marejados, que sua mãe pretendia batizá-la de Amélia, aquela sim, era uma garça de verdade. Estava conformada pois, sua infância não lhe traz boas recordações. Recordou, por instantes, dos momentos em que ficava implicando com a cabra-cega, que ficava presa junto a um poste de lâmpada queimada. Teve uma infância triste e pobre, que não conseguia sair da memória.Agora tinha riquezas em detalhes para ser contado para a prima, que fazia algum tempo, não lhe visitava.Fofocas e noticias acumuladas e atualizadas.
Paciente e submissa como a maioria das garças da comunidade do Morro da Sacola do Pastor, situado em um dos conjuntos do complexo dos alagados. Um local conhecido por sua alta periculosidade. Toda essa história de vida, estava registrada em sua agenda cor de rosa., juntou para provar para a prima que não estava mentindo.Nem apagou quando viu por acaso, registrado no mês de abril, que tinha sido paquerada por um elegante porco-do-mato, que morava nas moitas vizinhas e que viveu por muito tempo, com uma porquinha-da-india , que por sua vez, o abandonou para viver com aquele cara de fuinha..
Garça Graça, vivia só, somente só, abandonada por Tuiuiú, seu antigo companheiro, que até com fé chegou a contrair núpcias. Nestas ocasiões lembra, os sacrifícios que passou, comeu o pão que o diabo amassou e pequenos invertebrados em seu período mais difícil de sua vida conjugal. Sacrificou, muito a sua vida, para ficar junto ao idolatrado amado Celso Tuiuiú e não valeu a pena, como contou para a sua prima, em conversas de fim de tarde, na varanda da pousada. As duas garças, tinham muitas coisas em comum, mais do que imagina a vã filosofia.
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