sexta-feira, setembro 02, 2005

Um Encontro


Gonçalo Ivo - (Gonçalo Ivo de Medeiros). Pintor, Aquarelista, Ilustrador e Gravador, nasceu no Rio de Janeiro em 1958, filho do escritor imortal Ledo Ivo.Em sua infância convive com escritores e artistas.Iniciou os seus trabalhos no MAM, em 1975. Professor visitante da Escola de Belas Artes da UFRJ. Ilustrador muito solicitado pelas editoras, entre elas: Global e Record.No ano de 2000, fez cenários para o programa Metrópole, da TV Cultura.Segundo informações da Revista Museu, vive e trabalha em Paris.O artista é egresso da Geração 80. O Jornal do Brasil, fez uma interessante entrevista com autor, na ocasião da comemoração dos 25 anos de atividade, com exposição na Barra da Tijuca e Leblon.A pintura do artista est� exposta na Galeria Murilo Castro, em Belo Horizonte. Posted by Picasa

Estou deixando esticado no varal um novo texto que estou experimentando. Uma nova narrativa que espero que seja do agrado dos meus leitores amigos.

Sérgio aguardava ansioso, o dia da partida de futebol entre casados e solteiros que o pessoal do bairro fazia todo o final de semana, estava chegando. Sérgio, era quem junto com Valdecir, tratavam de alugar o campo, de preparar e comprar os comes e bebes, para o final do jogo. Afinal, ninguém é de ferro. Pelada, além de divertimento, é prazer, melhor ainda, se o time de Sérgio, formados, pelos casados, obtinham as vitórias. Neste dia do jogo, entrava em silencio no quarto, apenas para avisar em voz baixa a Simone, que estava saindo para ir ao encontro do pessoal da pelada. Ela ainda, sonolenta, respondia de modo positivo, pois era rotina na vida do casal. Ele saía para divertir com os amigos e ela em casa com os filhos. Há muito tempo que Sérgio, deixou de levar em sua companhia, os filhos e a mulher.Ela e os filhos em casa; ele na rua com os amigos. Simone nem tinha mais noção de quanto tempo, esta relação tomou conta da rotina do casal.Simone ainda continuava muito bonita, mesmo não olhando para o espelho, porém por preguiça,ou de achar que estava feia. Percebia que havia engordado bastante, as roupas denunciavam os quilinhos adquiridos. Estava muito além do peso e era sedentária. Quando passava, homens e mulheres, admiravam o seu sorriso e a beleza, no entanto, alguns comentários, surgiam sempre para confirmar, a cada vez, que ela estava muito gorda. Faziam entre si e começavam a rir. Sempre havia uma chacota, mas não chegava aos ouvidos de Simone, ou pelo menos, fingia não ser com ela. Os vizinhos além dos comentários, observavam que Simone, estava sempre desacompanhada. A presença dos filhos, segurados pelas mãos, acontecia quando os levava para a escola e mais tarde, para apanhá-los. Simone, outro dia sentada, assistindo a novela preferida, deixou escapar algumas lágrimas que escorriam pelo rosto. Parecia, estar distante do que assistia, estava mais ligada em sua vida. Sempre só, mas na companhia dos filhos pequenos. Ficava dedicada ao marido que não se dedicava mais a ela. Sérgio do trabalho para o encontro com os amigos; nenhum convite era feito para Simone, nenhum jantar, nenhuma diversão ou qualquer outra coisa que alterasse a rotina do casal. Nem com os filhos, Sérgio incluia para qualquer passeio. Era Simone com os filhos e os filhos com Simone.Preparava a comida, mas não arrumava a cama. Há quanto tempo, Sérgio não me dá um beijo? Perguntava e respondia, mais calada ainda. Simone, pensava calada em mudar de vida, mas ficava subordinada, por medo ao modo de vida do marido.Ficava assustada com os pensamentos subversivos que passavam vez por outra em sua mente. Vontade tinha e muita, projetos também...Queria retomar o trabalho que abandonou por causa do casamento e do pedido de Sérgio, para apenas cuidar da casa e dos filhos. Desconfiava que a sua morte começava com este tipo de vida. Isolada e com pouco contato com o mundo externo. além dos poucos parentes, que visitava.
Simone,pensou e vestiu a roupa que ela achava a mais bonita, a que ficava bem, mostrava o corpo como realmente estava, era um pouco antiga, há tempos que não comprava nada , nenhuma blusa, ou vestido, até mesmo qualquer produto de beleza ou peça íntima. Pegou as crianças, vestiu os uniformes, preparou o material escolar e saiu, para levá-los. Chegou um pouco mais cedo, ficou do lado de fora da escola, aguardando a entrada, nisto, Marina, coleguinha de turma dos filhos, chegava acompanhada pelo pai. Cumprimentaram-se como nunca fizeram, estava discontraidos. Celso, o pai de Marina, ficara encantado com a beleza daquela mulher, entusiasmado, pensando em fazer um convite.Sempre chamava sua atenção, aquela mãe dos meninos colegas de sua filha.Imaginava coisas, quando a encontrava. Nem pensou em ser ela casada ou não.Aproveitou a primeira oportunidade que surgiu, para marcar um encontro.Simone, pensou em recusar, como eu iria, se sou casada? Sérgio se souber ou desconfiar, pode se tranformar em um homem violento.Todos se enganavam com ele, parecia ser um homem de paz, mas não sabiam que transformava a minha vida em um inferno. De que adianta um marido, se estou só, não é meu companheiro.Ele na dele, eu na minha, como dizem os jovens.Cada um, na sua. Com tudo isto, avaliado, Simone, não temeu e tremeu. Deixaria os filhos com a vizinha, uma vez que o marido quase sempre, não estava em casa e sim na rua em companhia dos amigos.Ao chegar em casa, o marido não tinha chegado,achou que o momento era aquele, telefonou para Arlete e acertou em deixar os filhos por um curto período, depois, viria buscá-los.
O relógio marcava 19:30 e no exato momento do combinado, o telefone toca, era Celso, combinando o encontro, tudo acertado para o primeiro encontro. Simone, voltou a olhar para o relógio,chegou a dar uma olhadela no espelho, muito rápido, é verdade. Estava se aproximando do momento. Examinou portas, janelas, o gás, apagou as luzes e saiu trancando a porta. Um pouco hesitante, pensou, pensou, mas decidiu, vou me encontrar com Celso. Fez sinal para o taxi, passou o endereço para o motorista e seguiu em direção ao encontro marcado. Ao se aproximar do local, ouviu barulho de sirene da ambulância e da policia, pedindo passagem. Mais adiante um carro parecido com o de Celso, estava batido em um poste. O taxi se aproximou e de dentro do taxi, viu que o homem morto ao volante, era o pai de Marina. Celso tinha acabado de morrer, vitima de uma bala perdida.O carro desgorvenado acabou por bater no poste com violência. Perdida, também ficou Simone, que teve de achar o seu caminho de volta; que era o que menos desejava, ir ao encontro da rotina de seu casamento. A felicidade estava apenas na presença dos filhos que apanhou na casa da vizinha Arlete. Simone continua muito bonita, sentou-se no sofá e as lágrimas diante da tevê, voltaram a passear naquele rosto. A campaínha estava tocando e do lado de fora, a voz de Sérgio, querida cheguei.

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