terça-feira, setembro 20, 2005

Um Texto Para Ramom


Bruno Pedrosa - Um artista cearense, que é pintor, joalheiro, escritor e escultor radicado na Itália, em Veneza. Nasceu em 1950. Um artista de estilo contemporâneo, que realizou mais de cem exposições individuais em diversos países.Tem conquistado e muito admiradores de sua arte.Existe uma página oficial do artista na internet.O artista foi monge do Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro.  Posted by Picasa

Resolvi hoje colocar no varal um texto datado que escrevi no embalo do nascimento de meu neto. Algumas pessoas amigas tiveram a oportunidade de ler na ocasião.Revendo e pensando na importância de sua presença em nossas vidas. A partir do que escrevi para o neto, me abriu a possibilidade de reiniciar a crença de que sei escrever, narrar, contar histórias. Naquele momento amadureci a idéia de se criar um blog e o que foi feito. Na minha concepção foi gesto necessário para o encontro de uma fase do meu passado, em que eu como jovem, insistia por teimosia em escrever poesias de cunho social. No engajamento politico e estudantil. Depois abandonei a idéia de ser escritor. Virei cientista social com opção para a Antropologia. Fiquei ligado a causa indigena, passei pelo Museu do Indio e pela Comissão Pró-Índio aqui no Rio de Janeiro. Fiquei interessado por outros temas, mas logo abortei para me dedicar ao mercado de livros. Uma opção que durou por mais de 20 anos. Tive uma trajetória bem singular neste ramo, passei por diversas fases, desde um simples auxiliar de balconista, divulgador editorial até ser livreiro nos anos 80. Editor e distribuidor nos anos 90. Estive envolvido com esta produção intelectual em várias editoras, estabeleci contato com autores e trabalhei com os variados editores e distribuidores.Hoje, estou fora do mercado.Com uma extensa bagagem, a opção que o mercado faz, é pelo jovem sem experiência, com pouco ou nenhum contato com o livro. Hoje muitos deles pela forma de consulta através de terminal não tem noção da estrutura fisica do livro. Afirmo, pois tenho a visibilidde dos bastidores da comercialização, tenho uma visão bem ampla ao estabelecer uma leitura deste universo do livro, principalmente no Rio de Janeiro. Na condição de distribuidor mantive contato com diferentes vendedores de livros, com livrarias de diferentes perfis. Observei que muitos deles, não possuem nenhuma intimidade com a escrita, com a leitura, já ouvi depoimentos de vendedores que não suportam ler. Fui pracista e distribuidor no Estado de São Paulo, no Rio de Janeiro e parte do interior.Com toda a sinceridade, qual destes vendedores( vou recortar o universo da venda, apenas o segmento do pessoal de livraria) tem esta experiência, se alguns deles que tenham o nome como editor, ou como produtor editorial.Passei por barraqueiro em feira do livro nas praças da cidade.Tive por alguns anos a exploração da barraca das Edições Graal. Participei e atuei em bienais do Rio e São Paulo. A resposta do mercado para mim, é que sou um profissional caro, eles preferem a mão-de-obra barata.Muitos vendedores ignoram o que estão vendendo, são refratários ao conhecimento. Há livreiros badalados que preferem as moças e os jovens de boa aparência.Reconheço que tem de dar oportunidade ao jovem, o mais importante não é levado em conta, que é a formação do profissional do livro.Sei da existência da Unesp,com a Escola do Livro.Um grande abraço.Ps: Retornei ao assunto, pois é um dos temas tratados por esta Quitanda.


Cornetas, atabaques, miados de gatos, latidos de cachorros, tambores e uma orquestra de grilos anunciaram que nasceu o Pequeno Grande Príncipe Ramom. Sim! Havia dois meses, que esta noticia estava estampada na Gazeta de Copa. Escolhido, por votação democrática como o mais lindo daquele reino. As fotos nas copas das árvores alegravam a todos e confirmava a noticia , que se espalhava aos quatro ventos. Ramom, vem aí.
No Reino Não Muito Distante, a Rainha Carla, sempre encantadora, naquela manhã, embalava sua Alteza, O Príncipe Ramom no seio maternal. O Rei pançudo de pouco riso e muito siso, não parava de rir, contagiando súditos e familiares. O avô Barbudo fazia o papel de bobo da corte, de tão feliz que estava. Imagine! correu a noticia vindo pela boca da foca Maroca, que a avó Marilene Bonitona pra chuchu diminuía o cigarro depois de uma séria crise. Mas a Mosca Lili, apostava que aquilo era uma invencionice; ela, lembrou, que chegou uma vez apostar todos os seus tostões e perdeu; aquela avó Bonitona, esqueceu e voltou a fumar. O esquilo Babu e a anta Serelepe, convocaram a macacada para ir à festa de comemoração pelos dois meses do príncipe. Rufaram os tambores, acordando o Galo cego no poleiro.A cobra Isaura, com um curativo na língua, aprontou-se, vestindo uma bermuda. O sapo Arthur,aparava os bigodes , olhava no espelho e coaxava bem alto. O Bem-te-vi Nestor avisava que tinha visto sua Alteza todo bonito em trajes da realeza, ainda, sonolento no trono. Bastavam alguns minutos, ali, estaria em carne e osso, agora, bem mais carne do que osso, estaria pronto.
O Rei pançudo Raoni, de babador emprestado e lambuzado de chocolate, temeroso de levar um jato quente de água, ficava se protegendo na primeira pessoa que passasse pela sua frente. Os habitantes do reino, entre eles a apaixonada Camila, maravilhada com o som produzido no banheiro pelo desafinado cantor da multidão P. Mariano, que lembrava para muitos, o de uma maitaca rouca. Muito mais magra, a apaixonada Camila, curtia muito enquanto o dela não chegava. Aproveitou o momento solene para encantar a platéia, dizendo: “ Batatinha quando nasce se esparrama pelo chão . Menininha quando dorme põe a mão no coração” e piscava os olhinhos sonhando com o cantor... Vai chegar com certeza, dizia ela para amigas e os namorados das amigas. Mãe Ângela, mãe guerreira , lutadora e sorridente, ficava com um olho no príncipe e outro na charmosa filha, que abraçava com o ardor maternal o Pequeno Grande Príncipe, que tinha chegado, carregado no colo pela multidão ensandecida que aguardava na entrada do castelo. Berravam e gritavam! É lindoooooooooo! É um baraaatoooooo!Bonito e gostosão!Ramom! Ramom!Ramom!
Enquanto o cachorro Mimoso, dava cambalhotas, o pardal Severino, primo do professor Pardal, batia as asas e ensaiava, os canoros pigarros para saber: ” Cadê o toicinho daqui? O gato comeu. Cadê o gato? Foi pro mato. Cadê o mato? O fogo queimou. Cadê o fogo? A água apagou. Cadê a água? O boi bebeu. Cadê o boi? Foi amassar o trigo. Cadê o trigo? A galinha espalhou. Cadê a galinha?Foi botar ovo. Cadê o ovo?O padre bebeu. Cadê o padre? Foi rezar a missa. Cadê a missa? Já se acabou!” . O coelho Shaolin sorria de um lado para outro, tropeçando no pé da BISAVÓ. Todos dançavam o forró, naquele momento, todos não! Interrompeu, lembrando, a pombinha Leonor: o Rei, não tolera este som...Todos ficaram receosos. Ficava furioso em ouvir tamanho lixo cultural. Hei de fazer meu filho um verdadeiro metaleiro! Gritava e espumava. A plebe manteve-se calada e soturna, diante das ameaças da majestade. Hei de fazer o meu herdeiro, um metaleiro ! Bisava o Rei. Hei de fazer... Com tudo isto, vovô Barbudo dançava, balançando o esqueleto de tão desajeitado que o príncipe assustado, começou abrir um berreiro que não havia ninguém que pudesse parar. Chupetas de todos os tamanhos, mamadeira de cores variadas, foram oferecidos e nada amenizava aquele choro. Depois de pensar , matutar e dar algumas tragadas no cigarro baforento, no canto da sala, em um estalo só, descobriu que apenas bastava o avô parar com aquela coisa esquisita, que assustava o nosso Pequeno Grande Príncipe Ramom. O que foi feito rapidamente. Sorridente e aliviado por não ver mais o avô naquela situação.
Chegou a hora da despedida, os pais do príncipe voltariam para o castelo principal. O rei pomposo de pertencer ao oficio do Dotô Arcasso do outro lado do reino, ia alguns passos a frente da comitiva, um enorme séqüito, seguia atrás bem devagarzinho, comportados, os passos de sua majestade. A Sábia Sabiá, cantava em despedida, encerrando aquele singular momento.
Na carruagem cinza prateado em que era transportado, abria outro berreiro,ouvidos à distância; era o sinal do momento mais aguardado por ele, o príncipe. Chegou o grande momento da mamada no seio da mãe, a Rainha Carla. Dois meses se passaram e, o príncipe a cada vez que era visto, era aplaudido. Para a festa ser realizada, bastava, o sorriso singelo de uma linda criança aparecer para ser presente de todos naquela festa. Uma festa que jamais o reino esquecerá....pois, veio junto com a felicidade e alegria de uma criança, que só ela, pode trazer.
Passada a hora , todos foram para os seus quartos e o salão festivo apagava a luz. O brilho maior acabava de sair e adormecer no colo dos pais. A vovó Bonitona de tão cansada que estava, acabou adormecendo e roncando perto do vovô...
Acabou se o que era doce, quem quiser que conte outra...
Era uma vez, no Reino Não Muito Distante..............

Wilton Chaves – pai do pai do Lindo Ramom – RJ, segunda-feira, 13 de setembro de 2004

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