quinta-feira, setembro 15, 2005

O Amor de Silvio


Clovis Graciano - "Músicos",óleo s/ tela, 1974. (Fonte: Murilo Castro) Nasceu na cidade de Araras, no interior de São Paulo, em 1907.Descendentes de imigrantes italianos.Iniciou o sua carreira ao pintar tabuletas e postes da Estrada de Ferro Sorocabana, em 1927.Nos anos 30, começa a pintar na condição de autodidata.Em 1934, apresenta suas primeiras pinturas em óleo e aquarela; passando a freqüentar, por orientação de Portinari, o ateliê de Valdemar da Costa e o curso livre da Escola Paulista de Belas Artes. Ligou-se mais tarde ao Grupo Santa Helena, em que faziam parte Rebôlo e Zanini, no ano de 1935.Em 1941, realiza a sua primeira individual no Centro Paranaense, na cidade de São Paulo.Participa de coletivas e torna-se um dos fundadores do 1º Salão da Família Artistica de São Paulo. Faz exposições em diversos salões, ganha o prêmio de uma viagem à Europa, pelo Salão de Belas Artes, ficando por dois anos no exterior, de 1949 a 1951.A partir da década de 50, envolve-se com a cenografia e a indumentária teatral, trabalhando para o Grupo de Teatro Experimental, o Grupo Universitário de Teatro e o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC).Foi ilustrador da Editora Martins, de várias obras literárias, como o "Cancioneiro da Bahia", de Dorival Caymmi. Ilustra em 1987, para a Editora Record, o livro "Terras sem Fim", de Jorge Amado.Experimenta uma nova manifestação artistica, através do muralismo, executando cerca de 120 painéis para o Estado de São Paulo.Foi diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 1971 e adido cultural em Paris.Falece no ano de 1988, em São Paulo.  Posted by Picasa


Silvio, caminhava pela rua Siqueira Campos, em Copacabana. Uma vontade de beber, mudou o seu trajeto. Entrou em uma das ruas laterais de um grande shopping e naquele velho bar conhecido, pediu a bebida de sempre. Provocou, o garçom flamenguista, pediu uma porção de batatas fritas e um maço de cigarros. Disse para Eduardo, vizinho de copo, que estaria comprando, depois de várias promessas , pela ultima vez, um maço de cigarros.
Mal acabara de revelar a promessa ao vizinho; entrava no bar, uma mulata, uma linda mulata, que bem poderia ter trabalhado em algum show em casa noturna do Sargentelli,aquele sambista botafoguense, do ziriguindum, do telecoteco, do balacobaco. Uma daquelas rebolantes mulatas que ele assistia pela televisão.
Ele olhou de cima a baixo, ela de baixo para cima.Um encontro de olhares e o inicio de uma conversa.Conversas e mais conversas, papo rolando, bebidas e comidas oferecidas.Troca de olhares silenciosos. Mais conversas, mais alguns goles. Teresa e Silvio, combinaram para o dia seguinte, no mesmo bar, no mesmo horário, não sabiam se seria a mesma bebida.
No dia seguinte, a mesma provocação, ao garçom flamenguista, mais ainda por seu time ter perdido para o rival.Passada meia hora e nada da mulata aparecer. Ansioso pediu um maço de cigarros. Olhou para o relógio diversas vezes e o ponteiro parecia não andar, tal a morosidade. Esticou a cabeça para fora do bar e nada, olhou de um e do outro lado e nenhum sinal daquela mulata, que parecia ter balançado seu coração.Passados alguns minutos e mais quatro cigarros fumados e um pedido de mais uma cerveja, logo em seguida, percebeu que aproximava um carro.
Parou um táxi em frente ao bar, no interior do carro, uma voz feminina chamando por Silvio. Soltou do táxi e foi ao seu encontro, pediu desculpas pelo atraso. Troca de beijos e troca de olhares. Bebida servida e papo reiniciado. Horas e meias horas de conversas e um convite feito e aceito. Teresa foi com Silvio para o apartamento, continuar a conversa e continuar com a bebida. Silvio morava próximo, apenas algumas quadras dali. Silvio morava só, desde que separou de Maria Celina, que mudou e levou os filhos.
A partir desse dia, o que mudou, foi a sua vida, a sua rotina. A presença de Teresa, a mudança de Teresa, a bebida entregue em casa. Os amigos de Teresa iam desaparecendo, desaparecidos estavam os amigos de Silvio. Surgiu o amor de Teresa por Silvio, o amor de Silvio por Teresa. Vivia um para o outro, grudados, suados. Teresa uma mulata bonita, sorriso encantador, alta, cabelos longos, pernas torneadas, olhos negros. Ciúme surgido e adoecido.
Algumas mudanças feitas no apartamento por Teresa. Silvio concordava com tudo que Teresa fazia. Ele cada vez, queria mais e mais de Teresa. Juntos, para qualquer lugar, foi apenas um momento, no inicio do namoro. Rarearam as idas aos bares, aos lugares.Mais tempos juntos em casa, na cama, na sala, na cozinha e no banho.Qualquer lugar, qualquer hora, era a hora de fazer amor.
Teresa falava ao telefone, quando Silvio acordou. Reclamou, ficou zangado. Teresa com poucas palavras, disse apenas ser um amigo.Acabaram fazendo amor, ali mesmo, no chão . Silvio levantou as roupas de Teresa como se fosse a primeira e última vez.Teresa foi à padaria. De binóculos, da janela, Silvio controlava Teresa. Reparou no exato momento, em que Teresa parou ao ser abordada por um homem. Na volta com os pães, vestida com uma linda blusa azul, de bermudas e sandálias havaianas, Teresa, esbanjava sensualidade. Silvio, ruborizado, irritado, não ficou satisfeito com a resposta de Teresa, dizendo que o homem pedia apenas uma informação de uma rua, que ela também ignorava.
O sorriso de Teresa estava sumindo, muito raro aparecia, o encanto para o desencanto. Silvio, cada vez mais apaixonado e possessivo. O amor de Teresa estava mais ausente, o de Silvio mais presente. Na noite em que não teve mais amor, Teresa cansada, virou de lado na cama. Silvio levantou , deu alguns passos em direção da gaveta do armário, apanhou o que estava guardado.Voltou para a cama, deu dois beijos, olhou fixamente para aquele esbelto corpo, falou baixinho que amava Teresa, Teresa não respondeu, continuava dormindo, inerte. Um forte barulho de chuvas, seguidas de trovoadas e relâmpagos, atrapalharam ouvir um estampido.Silvio, deixou o apartamento como estava, desceu rápido para a garagem, pegou o carro e foi embora. A única certeza que tinha, era que o seu amor estava vivo.

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