terça-feira, setembro 13, 2005

Meditações de um Boi.


Flávio Império - O trabalho do artista, nascido em São Paulo, faz parte da coleção "Artistas Brasileiros", editada pela EDUSP, resultado de um trabalho da Sociedade Cultural Flávio Império, criada em 1987, com intuito de divulgar a obra deste talentoso artista.A criação desta Sociedade, foi realizada após a morte do autor, em 1985. É presidida por Renina Katz e diversos outros conselheiros, dentre eles, está a sua irmã Amélia Império Hamburguer.O artista nasce em 1935, que em sua definição, declarava:"Não sou pintor, nem cenógrafo, nem professor, nem arquiteto, ando na contramão das profissões, sou só um curioso".Foi professor da FAU/USP e demitido pela ditadura militar, sob o conteudo de seu trabalho politico, voltou a lecionar no ano de 81 até a sua morte.Sua obra é imensamente conhecida na área de teatro.Trabalhou com grupo amador Comunidade de Trabalho de Cristo Operário, na segunda metade da década de 50. Participou no Teatro Oficina e Teatro de Arena, onde também apresentou seus figurinos e cenários.Flávio, um importante nome no panorama do teatro brasileiro, uma referência nas artes.Sua primeira exposição foi realizada na Galeria Goeldi, em 1966, no Rio de Janeiro.Trabalhou com artistas, diretores e cantores, como : Maurice Capovilla, Ruy Guerra, Maria Bethânia e muitos outros. Recebeu diversos prêmios. Morre aos 50 anos. É muito vasto o trabalho do artista.No ano de sua morte, recebeu prêmio APETESP e Governador do Estado, em homenagem póstuma  Posted by Picasa


Hoje, não deu para dar a minha caminhada matinal, chove muito aqui em Copa. Fiquei em casa, aproveitei para rever um texto e colocar parte dele, no varal.

Ge Boi, passou grande parte de sua infância, dentro das cercas e pastos da Fazenda Modelo do Vale das Cabras, ao norte de Mundo da Lua. Ali, aprendera as primeiras lições de sua vida campestre; não na escola, que teve de abandonar, para poder trabalhar nas terras de onde nunca ouviu falar. Da realidade do campo, do trabalho bovino que ia desempenhar.Pensava em ficar na sombra.
Recordava dos bons tempos em que sua mãe, entoava longos e agudos mugidos. para uma de suas canções preferidas, na hora de dormir, no dias ímpares: ”Quem foi quem foi // Que falou no Boi Voador // Manda prender esse Boi.// Seja o que esse boi o que for // O Boi ainda dá Bode // Qual é a do boi que revoa // Boi não pode// Voar à toa //¨Nos dias pares, repetia : ”Boi // Boi da Cara Preta ...” Foram os tempos em que não deixava de mamar na vaca, sua prestimosa e querida mãe.Um senhora de divinas tetas.
Depois que mamãe contava algumas histórias pra boi dormir, eu caia em sono profundo, chegava a babar... Todas as noites, ela fazia tudo igual. Espantava às mutucas que insistiam em ficar junto a mim.Era um fim de semana, lembro muito bem, Camélia, uma cabra vadia, deu de espirrar, logo depois, um pé d`água fazia maior estrago nas estradas que passavam perto da fazenda, naquela manhã de inverno. A força da água derrubou a pinguela que tinha sido inaugurada pelo prefeito; era considerada a mais importante obra de sua administração. Era passagem obrigatória para chegar até Mundo da Lua. Ficamos isolados.Muito lixo surgia por todos os lados. Apareceram alguns gatos pingados na ocasião, para aplaudir e colocar faixas, o prefeito sorridente, agradecia. Comentava-se, à boca pequena, que até a Banda Podre, compareceu para tocar . Nicota, a vaca malhada de coxão mole, de tanto balançar ao som da banda, acabou indo para o brejo. O Sapo Boi e Sapo Barbudo, acharam uma graça, depois, de sapearem a vontade, aos pulos, comemoraram o ocorrido..
Noutro dia, Zeca, o filho do vaqueiro, que ficava sempre na porteira, escutando o galo cantar e não sabia aonde; mesmo um pouco desafinado. cismava em cantar, dizia para o pessoal que, quando crescer queria ser, cantor de churrascaria. Dava uma palhinha para quem estivesse disposto ao ouvir: “Toda vez que eu viajava // Pela estrada de Ouro Fino // De longe eu avistava // A figura de um menino...”, algumas pessoas certamente aplaudiam, verdade, que eram parentes e amigos. Zeca, era gozado pelo primo caçula, ficava mangando dele, assim, que acabava de cantar; corria atrás dele, até alcançar, pois o menino , corria tão ligeiro quanto uma gazela... quando alcançava, dava-lhe, uns bons cascudos; este chorava e ia correndo reclamar para tia Zelinha, que lavava uma trouxa de roupa.De tão trouxa, que sempre tinha roupa para lavar.Benedito, um matuto que não tirava os olhos de cima de Zelinha, disse uma vez,na vendinha, que ela todo dia, dizia que, aquilo que fazia era uma tremenda agonia.
Zeca, tinha vontade deixar esta vida e partir para os palcos da vida, ir atrás das luzes da cidade, das moças exibidas com as pernas de fora, que via em fotos da Gazeta, que Dona Natalina Gordino emprestava para ler. Natalina, viúva do cabra mais macho que passou por estas redondezas. Valente, temido por todos, sempre com um facão colado na cintura, morreu de enfarto fulminante. Deixando para Natalina, uma vendinha de secos e molhados, dividas de jogo e do comércio. Natalina, distraída não percebeu o tempo passar e reparou apenas,para o relógio, quando o telefone tocou de modo insistente. Ao atender, ninguém respondeu, um silêncio sepulcral e foi desligado em seguida.Natalina ficou perplexa, estática, sem entender muito bem, ficou desconfiada que alguém queria dar um recado, mas prefiriu ficar mudo.

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